31 de dez. de 2018

Minhas descobertas do ano

2018 foi um ano de renovação. Sim, isso é bem clichê. Muita gente fala isso. Mas eu posso afirmar que me renovei desde ano passado.

Comparando meu eu do ano passado com o de agora tem diferenças gritantes.

Foi tudo um processo em sequência: não-binariedade, multissexualidade e poliamor. Não preciso explicar isso para quem acompanha os conteúdos daqui. Porém ressalto que meu processo diz respeito apenas a mim e que minhas vivências não são tudo parte da mesma salada.

Primeiro, após ter muito contato com pessoas não-binárias e fazer autorreflexão, percebi que eu estava fora do binário de gênero. Após isso, fui percebendo também que muitas pessoas fora do binário também me atraiam por isso, que a não-binariedade poderia ser atraente e que é uma atração possível. E, por fim, eu percebi logo que eu poderia e tenho capacidade de me relacionar com várias pessoas ao mesmo tempo.

Posso dizer que uma coisa foi puxando a outra. Logo me senti mais deslocade dos grupos que eu achava fazer parte, em especial o segmento G.

Tive uma leve crise de identidade com a descoberta da multissexualidade. Acabei escolhendo a identidade polissexual. E posso dizer que sua visão das coisas muda quando você muda de identidade e de segmento.

Com toda essa questão do gênero também decidi adotar neolinguagem para mim. Adotei o conjunto -/elu/e. Aceito também -/éle/e e -/elz/e. Só suporto o/ele/o como auxiliar. Esteve sendo uma experiência interessante e estressante.

E mesmo gostando da minha identidade de gênero atual, fiz várias descobertas sobre meu gênero. E talvez eu faça mais outras.

Eu, num sentido apenas político, me identifico como queer. Sou pessoa queer enquanto homem não-binárie, não-conformista de linguagem, polissexual, transexpressive, poliamorista, e fetichista. Amo a identidade queer e pretendo trazer mais uma cultura queer para cá.

É incrível como mudamos em questão de meses. Se eu pudesse voltar no tempo, encontrar meu eu de dezembro de 2017 e dizer tudo que sou agora, ele provavelmente daria uma risada alta (algo que dificilmente faço).

Somos uma metamorfose ambulante, estamos sempre aprendendo, crescendo, mudando. Por isso finalizo dizendo que não tenham medo de mudar de identidade, de se descobrir e redescobrir. Faz parte da vida. Identidades não devem ser absolutas.

Que venha 2019!



29 de dez. de 2018

Leiam isso, aliades

Ocorreu uma polêmica recente no Facebook que me fez pensar na questão des aliades das causas sociais, em especial a LGBTQIAPN+.

Grupos aliados podem ser compostos por "simpatizantes", amigues e familiares das pessoas, e toda pessoa de fora do grupo marginalizado que deseja apoiar a causa.

Acredito que haja pessoas aliadas de verdade, por mais que possam não ser tão desconstruídas, por mais que possam não fazer o suficiente ou o ideal às vezes. Pessoas podem ser movidas por altruísmo e querer ajudar a acabar com opressões que não as atingem.

Mas ainda há muites aliades (ou pessoas que acham que são) que precisam entender o seguinte:

- você não está fazendo nenhum favor ou alguma caridade aqui

- ser aliade não te faz magicamente uma pessoa desconstruída e livre de preconceitos

- local de fala existe. Não é que você não pode falar da causa, a questão é que quem tem a vivência tem preferência

- se vai entrar ou entrou na causa achando que vai salvar o grupo oprimido, esquece. Isso não é apenas egocêntrico como também... impossível

- você definitivamente não é alvo das opressões, direta ou indiretamente. Sofrer pela outra pessoa não é opressão. E não, você não sofre junto com ela

- você não perde amizades ou contatos só por "apoiar a causa". Se considera o afastamento de gente escrota como perda, reveja seus conceitos. E as possíveis perdas nunca serão maiores que a das pessoas marginalizadas

- ou você é aliade, ou você mantém relações com pessoas que são contra a causa que você diz defender. As duas coisas não dá

- não precisa se martirizar, não foi você que inventou os sistemas opressivos

- dizer que "odeia" seu próprio grupo é... forçado. E desnecessário

- em vez de "ficar com medo" de falar besteira ou de perguntar as coisas que não sabe, você pode pesquisar antes ou ler conteúdos de pessoas ativistas

- sim, você tem o direito de ter dúvidas e de perguntar o que não sabe ou não entende. Só que nem todo mundo vai ter paciência ou didática pra explicar. De novo, pesquise

- colocar filtro na foto de perfil da rede social não prova que você é aliade

Obrigade. De nada.



26 de dez. de 2018

Minha experiência com a neolinguagem

AC: exorsexismo, maldenominação constante.



Foi esse ano que decidi adotar neolinguagem no meu cotidiano e também adotá-la pessoalmente. Percebi que eu gostava dessa nova linguagem e fui me adaptando. No âmbito pessoal está tudo bem. Meu desafio foi o âmbito social. Já escrevi um texto sobre isso, mas tenho mais coisas para contar agora.

Se preparem que agora vou soltar todas as bombas. E quero mais gente vestindo a carapuça.

Como esperei, minha experiência foi estressante. E não foi por que pessoas aleatórias na rua não acertam meu pronome. Foi por que pessoas próximas ou conhecidas se recusaram a me respeitar ou demoraram pra fazer isso.

Quando o assunto é neolinguagem, ou as pessoas são bem lentas pra entender a questão, ou são preguiçosas/desinteressadas demais pra entender a questão, ou apenas não fazem questão e odeiam neolinguagem e quem a usa.

E isso já fica de aviso pra todes que pretendem ainda adotar neolinguagem pra si. Você vai explicar com toda educação e didática e a pessoa vai continuar te maldenominando, como se você nem tivesse explicado. As pessoas vão inventar mil desculpas pra não se policiar e não rever conceitos. E pessoas vão se afastar de você unicamente por isso. É uma merda.

Nem todas as redes sociais me oferecem espaço suficiente pra explicar minha linguagem. No Instagram e no Twitter só consigo colocar o conjunto. No Facebook e alguns outros lugares consigo explicar o que significa cada elemento. 

Mas acho que colocar ou não o conjunto não faz diferença já que as pessoas não leem perfil. Até aquelas que dizem ter interesse não se dão o luxo de ler o que você escreveu na bio. Então quase todo mundo em todas as redes chega me maldenominando.

No Instagram postei muito sobre linguagem nas histórias, prestei muita atenção em quem as visualizava, e mesmo assim uma grande parte dessas pessoas continuava me maldenominando. Parecia de propósito até. Mas acreditem ou não, tem gente que simplesmente não entende a importância do assunto.

Sinceramente, nem consigo mais desculpar as pessoas quando a conversa é virtual. É evidente que falo diferente, que coloco E no final das palavras. Se a pessoa não acha isso peculiar o suficiente pra indagar sobre isso, eu apenas entendo que ela não se importa em como falo; logo não se importa comigo e minhas particularidades.

Cheguei a corrigir pessoas sobre isso. Milagrosamente, ninguém tentou contestar ou fez discursos contra a neolinguagem. Mas essas pessoas não continuaram a conversa também. Uma ou outra cortou contato logo em seguida.

Escrever pronome em plaquinha também não adianta não. Tive essa experiência em rodas de conversa de um coletivo e numa empresa na qual fiz parte de um programa de projetos empreendedores. Escrevi meu pronome nas plaquinhas e ainda teve gente me maldenominando, e pessoas bem na minha frente. Isso vai além de neolinguagem: as pessoas continuam pressupondo sua linguagem pela sua apresentação.

Passei muito estresse com as pessoas de um coletivo porque elas pareciam cagar e andar pra essa questão. Agora, e para minha surpresa, quase todas se atentam em como me tratar. Tem apenas uma pessoa, que até então era meu contato mais próximo, que segue me maldenominando e ainda debocha quando falo disso. Minha vontade de manter esse contato é nula agora. Pior é que essa pessoa também é não-binária.

Entrei em alguns grupos e na minha apresentação falei e expliquei a linguagem. Mesmo assim teve gente na própria postagem me maldenominando. E nem adianta ser grupo LGBT+ ou grupos que dizem ser contra "todo tipo de discriminação". Exorsexismo é tão naturalizado que ou nem é considerado discriminação ou é relevado mesmo, até pela própria administração do grupo.

Ah, teve ainda gente admitindo na minha cara que está ciente que uso neolinguagem, e segue me maldenominando como se não fosse nada. Assim como gente que presenciou eu explicando esse tópico (roda de conversa e curso) e segue da mesma maneira. Quero mais que essa gente se foda.

Esses dias mesmo participei de uma brincadeira, coloquei uma frase usando neolinguagem, e o primeiro comentário foi me maldenominando. Se isso não é arbitrário então não sei o que é. Assim, era só ter copiado e colado a frase. Mas nem isso...

Minha última experiência negativa foi o término do meu namoro, que durou pouco tempo. A pessoa disse que não achava neolinguagem besteira e admitiu ter dificuldade. Decidi dar tempo a ela. Pouco tempo depois disse que "não se identificava com isso", que não queria ser obrigada a usar, e que não iria. Pois bem, não sou obrigade a namorar alguém exorsexista. Terminei o namoro e sigo firme e plene. Não fará falta.

Engraçado que amigues dessa pessoa não demoraram pra tentar me respeitar e entender essa questão. Por isso e outros motivos que concluí que o que falta nas pessoas é somente uma coisa: esforço. Esforço pra tentar, esforço pra aprender, esforço pra ser um ser humano decente. Cada ume tem um tempo? Claro que tem. Tem gente que tem real dificuldade? Claro que tem. Mas nós percebemos também quem se esforça e quem não se esforça. Dispenso o segundo grupo.

Ah, então não tenho nada de bom para contar? Bem, ter até tenho. Não vou mentir que me sinto muito bem quando alguém se interessa pelo assunto e tenta usar o conjunto comigo. Teve sim pessoas receptivas e compreensivas. Porém, né, respeito é obrigação de todes. Mesmo assim, eu agradeço imensamente a quem se importou comigo e com essa questão. É muito satisfatório pensar que preparei pessoas para conviver com quem usa neolinguagem.

Com certeza ainda terei que enfrentar e engolir muita maldenominação. Mas com toda essa experiência aprendi quando ter paciência, quando explicar, quando cobrar, e quando desistir de uma presença exorsexista que não pode conviver comigo. Vida que segue, mis lindes.



22 de dez. de 2018

Qualidades e concepções de gênero

Dentro de toda a questão do gênero se fala muito em qualidades que definem as identidades e/ou as expressões das pessoas. Noções de gênero variam de cultura em cultura, algumas aceitando gêneros definidos por papeis sociais, outras pela expressão e orientação sexual. Mesmo assim, sempre existiram ideias de qualidades, principalmente masculinas e femininas, em todas as culturas, com percepções e relevâncias variadas.

Visões de masculinidade e feminilidade mudaram de tempos em tempos e de culturas em culturas. Nossa visão atual tem uma forte base ocidental eurocêntrica. Por causa disso e outras construções sociais estamos discutindo muito sobre masculinidade tóxica e os direitos da mulher, sobre o que é ser homem e o que é ser mulher.

O que quero falar hoje aqui são das qualidades mais faladas e caracterizadas até então. Por mais subjetivas que possam ser, ainda são conceitos que existem e permeiam muito pelas sociedades e nos campos mental e social das pessoas.

Masculinidade: qualidade muito associada ao ser homem ou com a hombridade, que são questões culturais, subjetivas em si, e particulares dentro das experiências de vida de homens (totais ou parciais), pessoas que já foram/se identificaram como homens, ou pessoas não-binárias ligadas de alguma forma com o gênero homem/essa qualidade.

Masculinidades ainda são associadas com força, liderança, agressividade, entre outros atributos que podem estar presentes em todas as pessoas.

A masculinidade esteve sendo muito questionada nos tempos atuais. O patriarcado em conjunto com influências eurocêntricas criaram um fenômeno chamado masculinidade hegemônica, que discute muitos tipos de masculinidade e apontando que existe uma idealizada e mantida como um estado de poder. Muitos homens marginalizados estão redefinindo a masculinidade, tornando-a uma manifestação mais saudável e diversa.

(Descrição de imagens: três fotos de pessoas designadas homem, duas lado a lado e uma maior abaixo delas. A pessoa da primeira foto é da Europa do século XVIII, usando peruca e roupas da época. A pessoa da segunda foto é de uma tribo sul-americana que fala Quechua vestida com uma roupa colorida. E a pessoa da terceira foto é uma atleta moderna.)


Feminilidade: qualidade muito associada ao ser mulher ou com a mulheridade, que são questões culturais, subjetivas em si, e particulares dentro das experiências de vida de mulheres (totais ou parciais), pessoas que já foram/se identificaram como mulheres, ou pessoas não-binárias ligadas de alguma forma com o gênero mulher/essa qualidade.

Feminilidades ainda são associadas com delicadeza, calma, submissão, entre outros atributos que podem estar presentes em todas as pessoas.

A feminilidade foi e ainda é historicamente colocada numa posição de marginalização, porque é sempre subjugada pela masculinidade num jogo de poder político. Porém, é interessante notar também que existem muitas identidades de gênero restritas de culturas que são consideradas ou podem ser lidas como femininas/ligadas com feminilidade. De fato, a feminilidade já foi consagrada há muito tempo, bem antes da instauração do patriarcado.

(Descrição de imagem: quatro fotos. A primeira é de Marilyn Monroe, considerada um ícone feminino da época. A segunda de é Duda Salabert, a primeira travesti a se candidatar senadora em Minas Gerais. A terceira é de uma pessoa fa'afafine, um gênero exclusivo da cultura de Samoa. E a quarta são de três pessoas hijra, um gênero exclusivo da Índia.)


Androginidade: essa qualidade é muito definida como a combinação de masculinidade e feminilidade, o que faz com que dependa desses conceitos para existir ou fazer algum sentido. No entanto não deixa de ser subjetiva, pois o que enxergamos como andrógino aqui pode ser comum ou mesmo sagrado em outras culturas.

(Descrição de imagem: uma pessoa "two-spirit" designada homem com uma apresentação que misturas aspectos considerados masculinos e femininos.)

Muitas vezes, dentro da concepção eurocêntrica, androginidade pode parecer sinônimo de neutralidade. Isso pode ser melhor visualizado em peças de modas ditas unissex/agênero ou neutras. No entanto, neutralidade tem várias interpretações que podem diferenciá-la da androginidade, que tem uma interpretação mais sólida.

Há de se notar que no "Ocidente" a androginia é muito usada por pessoas ou grupos movides contra o sistema e as normas sociais, algo notável entre pessoas queer e homens roqueiros, o que a coloca como uma marca histórica de transgressão.

(Descrição de imagem: uma pessoa vestida com um tipo de terno e segurando um cigarro na mão direita.)


Neutralidade: uma qualidade palpável e entendível, mas que ainda pode ter muitas interpretações. Enquanto pode ser vista como a mesma coisa que androginidade, também pode ser vista como uma qualidade única ou mesmo a ausência de qualidades. Sendo uma qualidade única, ela pode ser vista como: equilíbrio entre masculino e feminino ou o equilíbrio entre todas as qualidades existentes, ou como uma terceira qualidade ao lado de masc e fem.

(Descrição de imagem: conjuntos de círculos coloridos representando quatro interpretações de neutralidade: um círculo azul escrito 100% M, um rosa escrito 100% F, e um cinza escrito 50% M e 50% F; um círculo azul, um rosa, e um branco escrito "nulo"; um círculo azul, um rosa, e um amarelo; e um círculo multicolorido com um círculo branco menor no meio escrito "neutro".)


Outerinidade: o termo se refere a qualidades totalmente novas, separadas de masculino e feminino, e distintas das quatro citadas acima; uma quinta, sexta, sétima etc qualidade. Se masculino é azul, feminino é rosa, andrógino é roxo, e neutro é cinza, as qualidades outerinas são amarelo, verde, laranja, etc.

Nossas percepções atuais são tão centradas nas quatro qualidades comuns que é muito difícil imaginar como seriam as qualidades outerinas. A existência de identidades e elementos de gênero definides por essas qualidades desafiam essas percepções, por mais subjetivas que sejam, abrindo espaço para novas subjetividades, ou mesmo nos faz questionar mais se no fim são apenas nossas concepções e visões pessoais que definem essas qualidades ou que nomes daremos a elas (exs: uma pessoa com leitura social totalmente masculina se considerar neutra; uma pessoa com leitura social totalmente feminina se considerar outerina).

(Descrição de imagem: dois conjuntos de círculos coloridos simbolizando as qualidades masculina, feminina, andrógina e neutra, e as qualidades outerinas. O primeiro conjunto tem círculos roxo, rosa, cinza e azul. O segundo conjunto tem círculos vermelho-escuro, amarelo, laranja, verde, salmão e turquesa.)


Acredito que qualidades outerinas também podem definir qualidades que podem ser fluídas entre as quatro anteriores ou mesmo serem misturas delas. Mesmo que a pessoa as utilize como parâmetro, pode fazer mais sentido dizer que ainda é uma qualidade única, assim como a androginidade depende de feminilidade e masculinidade e continua sendo uma qualidade própria, ou assim como misturar as cores azul e cinza ainda dará uma nova cor.


Xeninidade: termo referente a qualidades totalmente fora das concepções humanas. Ou seja, tais qualidades não podem ser explicadas pelos conceitos acima, que, por mais que possam ser subjetivos, ainda são ideias comuns. Aqui as qualidades estão envolvidas com objetos, emoções, sensações, cores, fenômenos da natureza, etc. Ainda é possível ser uma pessoa xenina e ligada de alguma forma com as outras qualidades citadas.

(Descrição de imagem: dois conjuntos separando as qualidades dentro das concepções comuns [masculina, feminina, neutra, andrógina e outerinas] daquelas fora das concepções comuns [xeninas]. O primeiro conjunto tem todos os círculos usados no gráfico anterior. O segundo conjunto tem formas geométricas diferentes assim como cores diferentes.)


Ainda falta muitas discussões e pesquisas sobre as demais qualidades além da masculina e da feminina. Comunidades não-binárias acabam produzindo certo conteúdo a respeito com suas vivências e experiências de gênero (conhecimento empírico). Porém esse conteúdo ainda é pouco e sua visibilidade é baixa.

Precisamos tocar mais nesses tópicos, para assim redefinir o que é gênero e abrir portas para uma infinidade válida de identidades e expressões.



19 de dez. de 2018

Terminologias problemáticas na saúde

AC: saúde, ISTs, estigma, linguagem excludente, cissexismo, monossexismo, diadismo.



Eu descobri que adoro a área de prevenção. Nunca tive tanto contato como estive tendo desde ano passado. É uma área muito rica e ao mesmo tempo necessitada de pessoas.

Porém a área da saúde ainda utiliza termos problemáticos, critérios questionáveis para avaliações, e fazem uns formulários ruins. Já critiquei muito concepções médicas atuais, e aqui não poderia ser diferente, ainda mais no Brasil onde a informação é precária.

Camisinha masculina e feminina ainda são termos muito usados e disseminados para falar de preservativos penianos e vaginais. Eu e mais um tanto de pessoas estivemos tentando desconstruir isso, apontando a importância de incluir pessoas trans e o quanto não faz sentido chamar um objeto por palavras subjetivas.

Quando falam em populações mais vulneráveis segundo as estatísticas de infecção, ainda se usa por aí "grupos de risco". Colocar essas populações nessa posição só coopera com o estigma e enxerga toda a complexidade da situação de forma simples. Não é a existência das pessoas que as colocadas em riscos específicos, apenas suas práticas sexuais.

Ainda separam muito esses grupos em: gays, HSH, travestis e transexuais, profissionais do sexo e usuáries de drogas. Focando nas pessoas da comunidade, não é difícil notar que quando falam "gays" estão falando apenas de homens cis, e muito possivelmente colocando todos os homens aquileanos como gays.

O termo HSH poderia não ser problemático, pois é um termo que define apenas um homem que teve relação com outro homem sem rotulá-lo com alguma identidade sexual. Mas, na prática, é um termo que só se refere a homens cis. E há relatos de mulheres trans e travestis sendo colocadas nesse grupo. O mesmo ocorre com MSM, termo para as mulheres e muito pouco citado, como se mulheres sáficas sexualmente ativas não tivessem seus riscos.

Existem formulários, como um que preenchi para pegar um autoteste de HIV, que são feitos para auxiliar no levantamento de estatísticas de infecção e vulnerabilidade e acesso à saúde. No entanto, acho questionável como exatamente utilizam nossas informações; gênero/sexo e atração.

Parece que dizer que você é um homem e que se relaciona só com homens é o suficiente para pressupor todas as possibilidades de infecção que você tem. Frequentemente os discursos que vejo/ouço fazem parecer que ser um homem aquileano é sinônimo de praticante de sexo anal.

Assim, se querem realmente avaliar riscos e falar sobre eles, deveriam focar nas práticas sexuais em si, não em pressuposições baseadas em gênero/sexo e atração. Mesmo que um homem cis diga que se relaciona com homens, ele terá riscos diferentes de acordo com a anatomia da outra pessoa e com sua modalidade de sexo. Ele pode: praticar sexo anal (fazendo um ou ambos papeis), praticar sexo vaginal (com um homem trans), praticar gouinage, enfim.

Separar pessoas travestis e trans de pessoas cis também não faz sentido em relação a práticas sexuais. Corpos diferentes têm probabilidades diferentes, e, novamente, tudo depende das práticas sexuais. A mulher trans operada pode transar com a vagina apenas, a travesti pode ser apenas passiva em relação anal, o homem trans pode fazer apenas sexo oral, etc. Claro que discussões mais amplas sobre esses segmentos levam em conta contextos sociais. Mas, ainda assim, a medição de riscos só depende das relações praticadas.

E, além de tudo isso, continuo sem ver qualquer material sobre ou preocupação com a população intersexo. Conhecemos bem os riscos trazidos pelas vias oral e anal, sabemos os riscos nos órgãos peniano e vaginal. Mas qual o risco das genitálias intersexuais? Tem alguém em algum lugar pesquisando isso? Saúde é para todes, né?

Não quero soar arrogante e que sei muito mais que todes es profissionais da saúde. Estou apenas questionando os termos e métodos que usam para coletar e disseminar as informações. Se bem que, profissional ou não, continuaria tendo o direito de questionar. Não é absurdo pensar que a área da saúde está equivocada, afinal ela é formada por seres humanos.

Enfim, essas foram minhas pontuações sobre a área da saúde. Quando eu puder também divulgarei aqui materiais inclusivos sobre prevenção e saúde.



15 de dez. de 2018

O que é exorsexismo

Não acho que preciso colocar aviso de conteúdo porque o título já é o próprio aviso. Sim, vou falar melhor sobre a opressão específica contra pessoas não-binárias. Parece que muita gente - especialmente cis - ainda não entendeu a extensão do exorsexismo.

Por esse conceito resumido, acredito que não preciso dizer que, de uma visão geral, dizer que pessoas não-binárias não existem, invalidá-las de qualquer forma, e aplicar a elas a lógica cissexista de "nascer homem/mulher" são atitudes exorsexistas.

Mas exorsexismo engloba muito mais que isso. Também inclui:

- implicar com identidades menos conhecidas/mais específicas/"esquisitas", achando que a pessoa tem que "facilitar" para ser entendida;

- exigir que pessoas n-b expliquem seus gêneros para assim decidir se são ou não válidos;

- afirmar que gêneros não podem ser influenciados por corporalidade, cultura, ou experiências de vida;

- dizer que pessoas n-b terão sempre "leitura de homem ou mulher";

- ditar como pessoas n-b devem parecer/se apresentar/se vestir pra "provarem" sua identidade;

- afirmar que só podem existir identidades n-b centradas em homem-mulher ou nas concepções comuns de gênero (que só é possível ser: agênero, gênero neutro, andrógine, bigênero H/M, ou gênero-fluído H/M);

- dizer que identidades relacionadas com os gêneros binários "reforçam estereótipos";

- duvidar que a pessoa pode ser não-binária por achar que ela apenas não se reconhece nos estereótipos e papéis sociais de homem e mulher;

- achar que falar de não-binariedade vai confundir as pessoas e ainda "torná-las não-binárias por engano" (como se isso também fosse algo ruim);

- fazer pessoas n-b de mascote quando elas não concordam com determinadas identidades e/ou neolinguagem para assim legitimar essas atitudes;

- achar que está incluindo pessoas n-b quando usa as linguagens "feminina" e "masculina" juntas (ex: todas e todos).

Não aceitar/respeitar neolinguagem ou mesmo ter relutância pra usá-la também é exorsexismo. Mesmo que neolinguagem esteja acessível a pessoas cis, gênero designado e linguagem designada são questões intimamente ligadas e parte do cissexismo.

A ideia de que não pode existir mais de duas opções de linguagem não deixa de ter um viés que nega a possibilidade de mais qualidades e manifestações além de feminine e masculine. A neolinguagem por si só é um mecanismo que garante a validação não-binária.

O foda é que toda essa onda de invalidação das identidades e experiências e das linguagens só fazem pessoas não-binárias se esconderem. E mais e mais ficamos recluses a espaços virtuais onde podemos ser nós mesmes e sermos tratades decentemente. Por isso que tem tanta gente lá no Tumblr (que agora está ameaçado). Mas quem parou pra pensar nisso, né?

Tenho uma sociedade inteira pra me invalidar e me maldenominar. Pessoas próximas que dizem gostar de mim fazem isso. Pessoas nas redes sociais que visualizam e/ou curtem postagens que falo sobre isso também cometem essas coisas. Na boa, falando por experiência e na terminologia popular: é de cair o c* da bunda!

Podemos falar nossas vivências, fazer vídeos e textos didáticos, procurar explicações completas, até mesmo recorrer a apelos como esse. Mas, sinceramente, cansei de tentar convencer as pessoas a respeitarem a não-binariedade. Se tudo isso aqui não te convenceu, talvez você esteja no lugar errado e não seja uma companhia indicada para pessoas não-binárias.

Não é errado não entender e fazer perguntas para tirar dúvidas. O errado é estar sempre tentando invalidar a pessoa. Não sejam exorsexistas de merda. Paz.



8 de dez. de 2018

Pornô e Tumblr

AC: censura, pornografia, menção a pedofilia, marginalização sexual.



Recentemente o site Tumblr anunciou que baniria todo conteúdo pornográfico e gerou muita polêmica. O que pode parecer um ato justo e heroico para muites (*cof cof* reaças e moralistas), na verdade consiste numa grande onda de censura cujos alvos maiores são grupos marginalizados.

Usaram como desculpa o combate a pessoas e conteúdos envolvides com pedofilia. Em vez de procurarem adotar políticas eficientes contra isso, decidiram simplesmente apagar toda "pornografia" do site. Vou explicar brevemente os reais efeitos disso.

Primeiro que as ações se mostraram caóticas ao censurarem blogs e postagens que não tinham nada de conteúdo sexual. Muitas pessoas passaram pelo estresse de apelar ao sistema do site e pedir a volta de blogs e conteúdos. E muitas delas eram pessoas LGBTQIAPN+ (coincidência?).

Segundo que muito do conteúdo sexual do Tumblr é utilizado também para falar de prevenção e educação sexual, temas de extrema importância para a juventude que está iniciando a puberdade; e em especial a juventude heterodissidente, que tem sua sexualidade marginalizada. Inclusive há profissionais do sexo fazendo dinheiro pelo site. Ah, e lembrando que educação sexual é uma grande arma contra pedofilia por ensinar sobre consentimento e toques indevidos.

E terceiro e último, banir pornografia fere diretamente as liberdades sexuais des usuáries do site. Assim, não digo que a pornografia não possa ser problemática e não possa ser criticada. No entanto as pessoas continuam tendo o direito de consumi-la para seu próprio prazer. Em outras palavras: as pessoas têm o direito de gozar em paz. Além de que também fere o direito das pessoas de produzirem conteúdos eróticos, como no caso de muites fetichistas.

Então, no fim das contas, pessoas LGBTQIAPN+, profissionais do sexo, juventudes pubescentes, e todes tentando usufruir de alguma liberdade sexual estão sendo atacades por essa nova política, perdendo espaços seguros de liberdade e conhecimento. Muitos blogues de diversidade, incluindo aqueles que cunham identidades e fazem postagens construtivas, estão correndo risco de cair.

Isso não foi apenas um tiro no pé pelo Tumblr ter bastante conteúdo erótico e ser muito usado por isso. Mas também porque ainda presta um desserviço ao combate que diz estar fazendo: contra pedofilia. Ouvi dizer ainda que muites pedófiles migraram para outros sites como o Twitter.

Parabéns, Tumblr, pela merda que está fazendo.



5 de dez. de 2018

Pronome neutro

Leio com certa frequência em descrições de perfis de pessoas não-binárias: "pronome neutro".

Apenas isso. Que a pessoa usa ou aceita pronome neutro.

E então me vem na cabeça: "Qual pronome neutro?"

Posso falar por experiência que até entre pessoas trans e não-binárias existe certa ignorância em relação ao que é e como funciona um pronome, assim como linguagens em geral.

Sem perguntar diretamente à pessoa, não tenho como afirmar precisamente o que ela quer dizer com pronome neutro. E talvez possa ser incômodo fazer isso.

Afinal, na língua padrão não existe oficialmente um pronome neutro, apenas os pronomes ela e ele, categorizados respectivamente como feminino e masculino.

Isso não impede pessoas de os usarem como neutros, pois, de acordo com as normas, a qualidade masculina também é usada para neutralidade; por isso, "ele" pode ser um pronome neutro. E "ela" pode ser neutro por associação com a palavra pessoa.

Agora, quantas pessoas pensam dessas formas? Não sei dizer.

É comum pessoas acharem que artigo e final de palavra são pronome. E também muito possível que a sintaxe neutra da língua padrão - o modo mais neutro de falar sem marcadores de gênero - é "pronome neutro".

Considerando que a pessoa se refere aos neopronomes como pronomes neutros, temos aí uma outra questão: é errado ficar classificando pronomes.

Damos aos pronomes a qualidade que queremos, e isso é válido apenas para nós mesmes. Ou seja, se quer ainda enxergar pra si ela e ele como feminino e masculino, você pode. Mas temos que parar de dizer que esses pronomes são universalmente dessas qualidades.

Tem muita gente, especialmente não-binária, que deseja usar esses pronomes por outros motivos e sem querer associá-los com feminilidade ou masculinidade, que pode ser os casos de pessoas agênero, gênero neutro, e de outras identidades sem relação com essas qualidades.

Se a ideia aqui é que todo pronome fora ela ou ele é obrigatoriamente neutro, isso é errado de todas as formas. E continua sem dizer nada. Qual é exatamente o seu pronome "neutro"? Elx? El@? Elu? Ile? Podem ser vários.

Por isso que necessitamos muito explicar sobre os elementos das linguagens e apresentar esse modelo que estive falando tanto aqui, o modelo artigo/pronome/final de palavra. Dizer que usa pronome neutro é muito vago e pode ainda estar equivocado.

Não diga que usa pronome neutro. Diga apenas seu pronome. Ou melhor, sua linguagem.



29 de nov. de 2018

Razões de adotar uma identidade

AC: reducionismo identitário, intolerância contra identidades.



Com o avanço das discussões sobre a diversidade veio uma erupção de identidades. Não apenas as identidades LGBTQ, mas também outras além da sigla mais reconhecida (intersexo, assexual, pan etc), e muitas outras que já foram cunhadas e ficam na obscuridade dos espaços virtuais mais isolados. E com certeza ainda há identidades sendo cunhadas ainda, talvez nesse exato minuto. Sem contar outras identidades que podem existir por aí, exclusivas de um país, de uma comunidade, ou de um grupo fechado, e que não são divulgadas.

O que costuma criar uma identidade são demandas e a necessidade de descrever experiências ou características em comum de um grupo. E pessoas adotam identidades para ter um senso de pertencimento (ser de um lugar, parte de um grupo), assim como dar um sentido para suas vivências. Quando falamos de identidades de pessoas marginalizadas, temos também o lado sociopolítico. É o caso das identidades da comunidade LGBTQIAPN+.

Mulheres que se atraem apenas por mulheres vão se sentir contempladas pela identidade lésbica. Pessoas com atração por homens e mulheres vão se reconhecer na identidade bi. Todes que não se identificam com o gênero imposto pelo meio vão se encontrar entre pessoas com a identidade trans. Enfim. Esse é o ponto central para se adotar identidades.

Entretanto, não é a única razão para isso. Existem outras razões, pessoais ou não, positivas ou negativas, para se adotar ou se apresentar para outres com determinada(s) identidade(s). 

Pessoas podem adotar identidades mais gerais por serem mais conhecidas, e assim ser melhor entendidas e/ou acessar melhor comunidades com pessoas com a mesma identidade ou pelo menos as mesmas experiências.

Pessoas podem adotar identidades mais gerais com receio de serem rejeitadas ou agredidas devido a atitudes antagônicas frequentes contra identidades mais específicas. Identidades multi, a-espectrais, ou não-binárias são alvos constantes disso. Pessoas podem se apresentar como bi para evitar discursos contra pan, por exemplo, mesmo que atração pan esteja mais em pauta atualmente. Imaginem outras identidades multi menos conhecidas?

E precisamos muito falar nisso, pois é realmente opressivo ter que esconder uma identidade para evitar essas situações, ainda mais se aquela identidade é aquela que te descreve plenamente. Precisamos começar a romper com ataques contra identidades menos conhecidas, seja por intolerância ao segmento todo ou apenas reducionismo.

Pessoas podem adotar identidades que as contemplem no momento. Mas quando passam por uma fase de descoberta podem mudá-la. Pessoas que antes se consideravam gay/lésbica e hétero podem depois se descobrir multi e adotar uma identidade multi.

Falar na possibilidade de mudar de identidade como algo válido e pessoal também é importante, pois é algo também taxado negativamente como confusão ou necessidade de aparecer.

E mesmo pessoas numa identidade contemplativa, mas que após descobrirem-se mais podem achar outras mais úteis ou relevantes, podem permanecer na mesma identidade quando há poucas pessoas a usando, para assim manter um número desse segmento. Pode ser o caso de uma pessoa que sabia ter uma atração múltipla, escolheu poli, depois percebeu ter atração por todos os gêneros, e em vez de mudar para pan ou oni, permanece usando poli, por ser uma comunidade muito pequena no Brasil.

Lembrando também que falo de identidades que não reproduzam opressões ou ideias problemáticas, como no caso de g0y. Porém não creio que mesmo nesses casos rechaçar ou impedir pessoas de adotarem seja um método tão viável. Analisar a identidade e apontar o que há de ruim e argumentar é um caminho mais pacífico.

Enfim, identidades precisam ser respeitadas. A ausência delas também, claro. Mas dou ênfase principalmente nas identidades fora do popular. Antes de ficarmos divulgando e empurrando palavras, acredito que precisamos contar a história das identidades LGBTQIAPN+, para que as pessoas entendam a importância que uma identidade pode ter, seja pra elas ou para outras mesmo.

E se precisar catalogar um milhão de nomes para todas as experiências humanas, que seja um milhão! O ser humano sempre foi complexo demais para ser colocado e trancafiado nas caixinhas normativas perissexo/cisgênero/heterossexual.



24 de nov. de 2018

O politicamente correto estragou tudo?

Faz pouquíssimo tempo que eu ouvi uma pessoa conhecida dizer isso. Não, não foi reaça, não foi pessoa ignorante e alienada, não foi a típica pessoa privilegiada que chora porque agora não pode ser mais preconceituosa.

Essa pessoa defendeu que o "politicamente correto" deixou as pessoas com medo de falar, o que as deixou com raiva e repulsa das minorias, assim afastando-as de possíveis debates produtivos e fazendo-as caminhar pra oposição a essas populações.

Entendi muito bem o que a pessoa apontou. Refleti muito e posso dizer com toda sinceridade que continuo acreditando que o "politicamente correto" não estragou nada. Eu vejo toda essa questão por outro lado.

Foi de extrema importância sim dar voz às minorias e permitir que apontassem o preconceito que impregnava diverses piadas e discursos. Nada disso foi apenas uma questão pessoal, foi também uma forma de barrar a continuidade das opressões. Questionar e apontar ideias que diminuem, rebaixam, desumanizam é o primeiro passo para acabar com elas.

O que chamam de politicamente correto, a meu ver, foi o efeito desse primeiro passo. Não foi ruim e continuarei defendendo. Acredito que o que faltou de verdade foi saber explicar as razões de tais piadas e discursos serem opressives, e deixar as pessoas expressarem suas dúvidas da maneira que conseguem, mesmo que usando palavras erradas ou reproduzindo ideias equivocadas.

Grupos marginalizados não têm poder pra oprimir pessoas mesmo quando rechaçam ou repreendem. Porém, mesmo assim, pessoas devem ter ficado com medo de falar coisas relacionadas a esses grupos por nunca estarem cientes se estão ou não discriminando. De que adianta falar tanto em desconstrução se as pessoas não conseguem chegar a ela devido ao medo?

Acho que nosso maior pecado foi o método, não a intenção. E não falo somente no âmbito de piadas num programa ou de discursos em geral. Falo no âmbito social mesmo.

Por um lado entendo o quanto é estressante para muita gente dos grupos marginalizados lerem/ouvirem besteira, terem que explicar tudo, precisarem repetir o mesmo para várias pessoas. Isso deveria ser levado muito em consideração. Por outro lado caímos naquele beco sem saída de que: nós temos a vivência, as pessoas não têm isso e nem informação, e ainda somos a melhor fonte de informação pra elas.

Deixo aqui como reflexão para todes: até que ponto precisamos deixar as pessoas falarem como quiserem, e assim aproveitar para instruir e desconstruir, e até que ponto não devemos aguentar certes perguntas e discursos que podem ser intolerantes e desencadear estresse e gatilhos? Há muito que se pensar e ser revisto.



19 de nov. de 2018

Resistência

AC: violência, política, eleições.



Falamos que seríamos resistência. Muites não entenderam, riram, caçoaram, ou acharam exagero. Quem se enquadra nisso, ou é pessoa privilegiada ou muito alienada. Quem faz parte das minorias sociais e está ciente da realidade sabe o que é essa resistência.

No momento em que o país elegeu um presidente que cresceu com base em polêmicas, discursos de ódio contra minorias e grandes mentiras como um "kit gay" em escolas, nos deparamos com a realidade que muites de nós não quisermos enxergar: nosso país continua violento e preconceituoso, minorias sociais são alvo do sistema, e os poucos direitos conquistados sempre estiveram ameaçados.

Nossa resistência é justamente contra isso. Contra os direitos que estão ameaçados. Contra possíveis retrocessos que estão sendo previstos todo dia com as atitudes contraditórias do novo presidente. Contra a violência intensificada contra as minorias que veio ocorrendo desde o primeiro turno das eleições.

Viver num governo que nos odeia e não está com a gente exige que sejamos resistência.
Existir numa sociedade que nos segrega e nos mata exige que sejamos resistência. 
Tivemos motivos de sobra para ter medo e respondemos a isso sendo resistência.
O cenário político-social atual nos mostrou a realidade e que precisamos ser resistência.

Somos e seremos resistência até o fim de nossas vidas. Não apenas nesses quatro anos. E nem mesmo se fosse eleita uma pessoa mais progressista. Sempre fomos alvos de discriminação e será preciso muita luta para derrubar os sistemas opressivos. O que vamos enfrentar agora é um período de crise, uma grande onda contra nós.

Por isso necessitamos tanto de união e politização. Por isso necessitamos mais do que nunca sair das bolhas, lutar como pode, nos movimentar, e dialogar com a sociedade. Isso tudo faz parte de nossa resistência. Não estamos colocando todo mundo que não é minoria como inimigo, mesmo que existam sim muites inimigues contra nós.

Em compensação elegemos muita gente progressista. Temos apoio de grupos internacionais. E, matematicamente, somos uma maioria que não quis eleger aquele sujeito. Nós podemos. Não estamos sozinhes e sem qualquer apoio além de nós mesmes. Não digo para relaxarmos. Apenas pra ressaltar que somos muites resistindo. Sigo sendo resistência.



14 de nov. de 2018

Binarismo: raça e gênero

AC: exorsexismo, racismo, colonização, violência.



O termo binarismo (de gênero) esteve sendo muito usado por aí ultimamente. Não é difícil encontrar sites, páginas e grupos definindo o binarismo como a imposição de dois gêneros, mulher e homem. É compreensível esse uso do termo por ele ser intuitivo, binário + ismo. Porém, esse termo já esteve sendo usado há muito tempo na anglosfera e num contexto mais específico.

Na anglosfera, binarismo é um tipo de opressão de gênero e racial. É um termo específico para a imposição binária de gênero que culturas "não-ocidentais" (indígenas/nativas/originárias da América, África e Ásia) sofreram com os processos de colonizações eurocêntricos.

Exatamente por isso que eu prefiro o termo exorsexismo para falar da opressão contra a não-binariedade de forma geral. Prefiro naturalizar o uso desse termo e deixar binarismo para uma questão racial que também é muito importante em discussões históricas sobre gênero. O uso desse termo por pessoas brancas tem o mesmo peso de uma apropriação cultural.

Nossas visões atuais de gênero estão construídas em cima de uma forte base ocidental. A mesma base trazida e imposta pelas colonizações. Os povos atacados pelas colonizações tinham mais de dois gêneros e todos faziam parte de sua própria cultura, assim como ritos, festas e tradições.

Pode parecer absurdo, mas negar a existência de mais gêneros além de mulher e homem é também uma atitude racista, pois está reforçando toda a ideia exorsexista que as colonizações trouxeram. A mesma ideia eurocêntrica que destruiu essas culturas, apagou seus costumes e histórias, e perseguiu e matou pessoas que estavam fora da concepção ocidental de gênero.

Binarismo foi cunhado para falar especificamente de pessoas racializadas. Por isso defendo que seja melhor deixar esse termo para esse tópico em particular. E, além disso, precisamos incluir mais discussões sobre binarismo nos estudos de gênero.

Falar na possibilidade de mais de dois gêneros é importante por si só. Mas falar sobre culturas com mais de dois gêneros e do quanto a construção binária atual é branca e eurocêntrica é essencial para revermos nossos conceitos de gênero. Não podemos separar raça de gênero.

(Bandeira de pessoas queer racializadas)



10 de nov. de 2018

Série: Super Drags


Desde o anúncio de sua produção a série causou polêmica com setores conservadores. E também gerou repercussão e euforia por ser nacional e protagonizada por drag queens. Produção original da Netflix, a série tem uma temática adulta e focada na realidade LGBT+.

A história gira em torno de Patrick, Ralph e Donizete, três homens gays que trabalham numa loja, e que se tornam, respectivamente, as heroínas Lemon, Safira e Scarlet - três drag queens. Juntas elas enfrentam uma vilã chamada Elza. A produção da série tem uma boa qualidade. Todes personagens tiveram uma boa dublagem, contando inclusive com as vozes de Pabllo Vittar e Silvetty Montilla. O enredo faz muitas referências a memes nacionais e elementos de mídias internacionais, criando uma fórmula divertida e até nostálgica.

Falando em aspectos positivos e negativos, tenho mais críticas do que elogios sobre o enredo. O desenho tem um humor muito sexualizado que nem é inesperado. Não vou criticar, mas fica de alerta para quem não gosta desse tipo de humor. Há umas coisas problemáticas, tais como: uma cena onde uma das protagonistas apalpa a genitália de um homem inconsciente, estereótipos raciais, e muito falocentrismo. Na verdade nada disso é surpreendente considerando que o enredo foi feito sob uma ótica gay cis de massa; logo, não é uma obra desconstruída.

Por outro lado, a série abordou sobre preconceito (homomisia) e seus impactos, autoaceitação, e o poder da religião em reforçar a discriminação; e fez isso de forma paródica e sucinta, até por ser descontraída e ter cinco episódios até o momento. Apesar das coisas problemáticas, reconheço a importância dela enquanto uma produção brasileira com representatividade drag queen. Há coisas para melhorar sim. E isso deve ser apontado. Mas acredito que o correto é defendermos a continuidade da série, apoiar sua produção. Com isso - e pela surpresa que tive no final do último episódio - aguardo a segunda temporada.



7 de nov. de 2018

Eu avisei mesmo?

AC: política, eleições, fascismo.



Não havia passado nem uma semana após o resultado horrível das eleições desse ano e já havia pessoas arrependidas pelo voto. Arrependidas de terem votado no fascista que venceu a eleição com mentiras, fake news, polêmicas, discursos de ódio, e sem nem ir aos debates do segundo turno.

Em resposta logo se iniciou uma espécie de movimento, "Eu Avisei". Fiquei aqui, apesar do meu medo e meu temor pelo futuro, contemplando e rindo mentalmente (porque não estive conseguindo rir de verdade) das muitas postagens de pessoas decepcionadas com as atitudes recentes do presidente.

Mas depois comecei a refletir. E também vi outras perspectivas sobre o assunto. Segui minha conduta de estar sempre pensando racionalmente, mesmo diante de uma catástrofe alarmante, e comecei a rever sobre o que levou ao resultado da eleição. Foi então que percebi que o movimento "Eu Avisei" não ajuda muito a melhorar a situação atual.

Antes de tudo, podemos realmente afirmar que avisamos? Avisamos mesmo? Vamos nos questionar até que ponto nossos avisos chegaram mesmo, ou até que ponto chegaram e foram ignorados. Porque se é possível acreditarem que um candidato iria permitir mamadeiras com bico em forma de pênis, é muito possível que até os avisos do mundo todo tenham sido desacreditados.

E outra, avisamos de verdade? Ou só ficamos bloqueando as pessoas, rotulando todas como fascistas, e entrando em discussões sem rumo? Encarem isso de forma construtiva. Ah, e não estou falando da parte do eleitorado que é realmente fascista, tá?

É duro até para mim admitir isso, mas essas pessoas decepcionadas comprovam que uma parte significativa do eleitorado do fascista não era gente fascista, era gente ignorante, alienada, com medo, e querendo um país melhor. Essas pessoas devem estar muito frustradas. E mesmo que tenham me jogado no abismo junto com elas, não acho nem útil ou empático só apontar o dedo pra elas e rir delas ou xingá-las.

Além disso, como posso rir das pessoas estarem na merda sendo que eu estou na mesma merda? Ainda mais eu que faço parte de grupos mais vulneráveis. E com certeza há muitas outras pessoas tão vulneráveis quanto eu ou até mais no meio dessa porção desiludida.

Temos uma enorme rede de fatores que levaram ao resultado da eleição. E essa rede não começou esse ano, começou muito antes, bem antes; meu palpite é no ano de 2014. Muita gente tem culpa nisso. E eu ouso dizer que a própria "esquerda" tem muito mais culpa do que o tiozinho analfabeto que só assiste TV e se informa pelo Whatsapp da família. Ainda escreverei mais sobre isso.

Concluindo, todes têm o direito de estar com medo e com raiva, e eu entendo que podemos sentir o impulso de culpar a outra parte mesmo quando ela está visivelmente arrependida. Mas peço que reflitam sobre tudo isso que falei. E, sinceramente, agora prefiro focar minha energia em ser resistência e de trabalhar para que um resultado como esse nunca mais se repita. E só vamos conseguir isso construindo pontes. Isso vai exigir acolhimento, não apontar dedos.



31 de out. de 2018

O que é sexo?

AC: menções a sexo e genitálias, descrição de atos sexuais, menção a abuso.



Ano passado participei de uma roda de conversa com pessoas não-binárias e a-espectrais. E chegamos a entrar no tópico sobre sexo e sexualidade. A princípio achei um pouco estranho pessoas assexuais e do espectro puxarem esse tema. Mas teve um diálogo fantástico.

Discutimos justamente a pergunta do título do artigo. O que torna o sexo sexo? O que é sexo de verdade? Existem critérios para determinar um ato como sexo ou somos nós que decidimos se nossos atos são sexo?

Uma das pessoas lá, que era demi e gris, disse que considerava um carinho na cabeça algo tão prazeroso que poderia ser comparado ao sexo descrito por alossexuais. E isso me fez pensar no quanto construímos uma noção tão limitada de sexo baseando-se numa perspectiva alossexual. Uma participante enriqueceu bem mais a conversa adicionando construções do patriarcado e todo o mecanismo da pornografia em padronizar o sexo.

Já sabemos o quanto é problemático considerar sexo apenas quando há penetração. Porque isso invalidaria as relações de praticantes de gouinage, principalmente pessoas com vagina. E poderia ser usado como argumento para invalidar certos casos de abuso. Mas então veio meu questionamento: precisamos tocar a pessoa?

Eu já havia feito sexo virtual duas vezes e eu senti como se tivesse transado "fisicamente" com a pessoa. Pra mim aquilo foi válido, foi real. Me conectei com a pessoa e gozamos através de estímulos visuais entre nós. Como isso não pode ser de verdade?

Foi refletindo sobre outras coisas que fiz antes da minha "primeira vez" (que aconteceria dois meses depois dessa roda) que me fizeram perceber que virgindade nem tem sentido. Eu não soube mais dizer quando foi a tal da primeira vez. Mas claro que isso não apaga o fato de que o que fiz dois meses depois foi algo marcante, pois foi bem diferente de sexo virtual ou masturbação mútua. O primeiro sexo oral e o primeiro sexo anal ainda têm um peso na memória.

Saí dessa conversa sem saber o que exatamente define sexo, mas saí dela com uma visão mais ampla que permite várias respostas à pergunta. Sexo não precisa ser físico, não precisa nem ter ejaculação. E se você quiser considerar que o sexo começou no beijo ou na simples troca de olhares, você pode. É a sua relação, é a sua vivência.

Mesmo agora acreditando que o sexo não necessita ser físico, não é todo flerte ou toda carícia que o considero como tal. É um tanto confuso, sinceramente. O que pude tirar da roda de conversa e reflexões posteriores é que precisamos redefinir nossa concepção de sexo. E precisamos estudar mais a assexualidade e o espectro assexual; assim explorando horizontes até então impensáveis sobre intimidade, prazer e o ato sexual em si.



29 de out. de 2018

Após as eleições

AC: política, eleições, menção a fascismo, violência.



Bem... o pior aconteceu. Nosso país elegeu um fascista como presidente. E agora? Entramos em pânico, em desespero?  Choramos? Cavamos um buraco e nos enterramos?

Calma! Se acalma! Isso mesmo, se acalma. Não é o fim do mundo.

Sim, eu entendo a frustração, o sentimento de impotência, e o terror que muites (eu incluse) estão tendo agora. Algumas horas após o resultado ocorreram muitos casos de violência, intimidação, agressão e morte.

Na noite de ontem e nessa madrugada tivemos uma onda perigosa de fascistas em vários lugares, até em locais como Paulista e Augusta, conhecidas como pontos LGBT+ de São Paulo. Acredito que agora pode estar menos pior. Mas infelizmente não poderemos mais baixar a guarda.

Estou escrevendo isso aqui para todes que estão vulneráveis, tá? Se você não é uma pessoa vulnerável - alvo dos discursos de ódio do fascista e do eleitorado dele - tenha a decência de ser compreensive. Se não é vulnerável e acha que isso tudo é exagero, bobagem, mimimi, quero mais que você se foda. :D

Pacifismo acabou. Agora é luta, pessoas. Somos nós por nós.

Todo período de crise é também um período de oportunidades. Posso ficar aqui dissertando sobre os absurdos dessas eleições e o quanto foi bizarro elegermos esse lixo. Mas prefiro agora focar no presente.

Se você ainda precisa de um tempo pra estar de luto pelo país, tudo bem. Fique de luto. Contenha-se, esfrie a cabeça, proteja-se em sua bolha ou em seu próprio espaço, deixe todo esse sentimento sair de você. Faça algo que goste. Veja algo que goste. Respire. E reúna forças. Você vai precisar para a luta. Vamos precisar.

(Descrição de imagem: a palavra "lutoa", a letra O riscada; assim fazendo uma troca entre as palavras luto e luta.) 

Todes nós vamos necessitar de força para o que está acontecendo e para o que ainda acontecerá. Será uma ditadura? Será muitos direitos conquistados sendo tirados? Sinceramente, não acho que chegará a esse ponto, pelo menos não em pouco tempo. O que espero de verdade é um governo bosta e uma onda fascista tentando nos aterrorizar e nos eliminar de várias formas.

Agora mais do que nunca precisaremos nos unir. Vamos agora ter que olhar para a pessoa do lado e não ver mais uma estranha, e sim uma pessoa que necessita de apoio e ajuda. Cada ume fazendo sua parte e se cuidando.

Não somos poucas pessoas, tá? Somos MILHÕES de pessoas. E mais pessoas ainda virão, incluindo aquelas que não votaram, e até aquelas que votaram no fascista e vão se arrepender disso por diversos motivos. Já está havendo arrependimentos, aliás.

Unides faremos força. Grupos de apoio e resistência já foram formados. Em breve haverá articulações e movimentos. Procure esses grupos. Se apoie nas amizades e na família (se ainda tiver). Deixarei aqui também links com materiais sobre segurança para pessoas LGBTQIAPN+.

Link 1: www.mediafire.com/file/w9iavsc8729ruvc/Dicas+de+Segurança+LGBTI%2B.pdf
Link 2: www.mediafire.com/file/cedschxneesdcfa/Dicas+de+segurança+para+pessoas+LGBTIs.pdf

E por fim...

SEREMOS RESISTÊNCIA!!!!!

(Descrição de imagem: duas mãos dadas segurando também uma flor com o texto "Ninguém solta a mão de ninguém".)


24 de out. de 2018

Não-binariedade: Identidades #2

Aqui continuarei listando mais identidades não-binárias que foram cunhadas na anglosfera. Quem tiver uma experiência de gênero igual ou similar às descrições pode acessar essas identidades.

Confira a primeira lista aqui.



Mingênero: termo guarda-chuva para todo gênero "masculino por natureza". Também pode se referir a um gênero que não está definido, mas que com certeza é masculino; ou um gênero que tenha masculinidade como característica principal.


Fingênero: termo guarda-chuva para todo gênero "feminino por natureza". Também pode se referir a um gênero que não está definido, mas que com certeza é feminino; ou um gênero que tenha feminilidade como característica principal.


Lingênero: termo guarda-chuva para todo gênero "andrógino por natureza". Também pode se referir a um gênero que não está definido, mas que com certeza é andrógino; ou um gênero que tenha androginidade como característica principal.


Ningênero: termo guarda-chuva para todo gênero "neutro por natureza". Também pode se referir a um gênero que não está definido, mas que com certeza é neutro; ou um gênero que tenha neutralidade como característica principal.


Zenino: um termo específico para quem se encaixa de alguma forma como homem não-binário ou algo parecido, ou com hombridade/masculinidade, mas deseja um nome curto, único e que soe de uma forma não-binária.


Zenina: um termo específico para quem se encaixa de alguma forma como mulher não-binária ou algo parecido, ou com mulheridade/feminilidade, mas deseja um nome curto, único e que soe de uma forma não-binária.


Ambigênero: a pessoa sente dois gêneros simultaneamente, sem fluidez ou trocar entre eles.


Androx: um gênero que está entre o masculino e o andrógino.


Ginex: um gênero que está entre o feminino e o andrógino.


Nonvir/Nonpuer: um gênero com uma ligação forte com masculinidade, mas sem relação com homem.


Nonpuella/Nonera: um gênero com uma ligação forte com feminilidade, mas sem relação com mulher.


Nonpuerella/Nonvirmina: um gênero com uma ligação forte com masculinidade e feminilidade, mas sem relação com homem ou mulher.


Cenrell: uma pessoa que se sente melhor dentro do espectro neutro de gênero, mas ainda sente uma forte conexão com masculinidade.


Faesari: uma pessoa que se sente melhor dentro do espectro neutro de gênero, mas ainda sente uma forte conexão com feminilidade.


Melle: um gênero masculino com um alinhamento feminino, podendo ou não incluir outros alinhamentos que não sejam masculinos. É uma identidade acessível também para homens binários.


Femil: um gênero feminino com um alinhamento masculino, podendo ou não incluir outros alinhamentos que não sejam femininos. É uma identidade acessível também para mulheres binárias.


Neuvir: um gênero masculino ao mesmo tempo inteiramente neutro.


Neulier: um gênero feminino ao mesmo tempo inteiramente neutro.


Neuangi: um gênero andrógino ao mesmo tempo inteiramente neutro.


Gênero-fada: uma fluidez de gênero que nunca envolve masculinidade ou gêneros masculinos.


Gênero-fauno: uma fluidez de gênero que nunca envolve feminilidade ou gêneros femininos.


Gênero-flor: uma fluidez de gênero que nunca envolve masculinidade/feminilidade ou gêneros masculinos/femininos.


Fraspe: define um gênero que se divide em muitos outros, e a pessoa pode vivenciá-los ao mesmo tempo ou individualmente, assim como pode reconhecê-los ou não. Os gêneros também podem voltar a se combinar de novo em um só.


Pregênero: um gênero que está crescendo, mas ainda não é um gênero em particular (ex: um pre-homem sente que seu gênero está caminhando para ser homem, mas ainda não é).


Cendegênero: a pessoa muda entre um gênero e seu gênero oposto (anti-gênero).


Sem gênero: similar a agênero, mas para quem prefere não usar ou dispensa outros termos.


Pendogênero: a pessoa nunca está satisfeita com seu gênero por causa de dúvidas, o que a faz procurar compulsivamente por identidades e categorias para descrevê-lo. Identidade exclusiva de pessoas neurodivergentes.


Novigênero: uma experiência de gênero tão confusa que é difícil ou impossível de descrever.


Verangênero: um gênero que muda sempre que é identificado.


Giaragênero: muitos gêneros, mas nenhum ou quase nenhum identificável.


Aquarigênero: um gênero que muda de forma constante e lentamente.


Abrogênero: um gênero que muda muito rápido para ser definido, ou que tem tantos aspectos que você sente estar continuamente descobrindo-o.


Admasgênero: um gênero que se recusa a ser categorizado e está enraizado numa essência indomável e indefinida.


Ludogênero: um gênero que muda e se adéqua ao gênero das outras pessoa ao redor.


Casgênero: uma pessoa que considera o conceito de gênero irrelevante ou indiferente.


Necrogênero: um gênero que costumava existir, e agora está "morto" ou inexistente.


Paridoxigênero: um gênero com qualidades que o tornam contraditório em si (ex: ser agênero, mas sentir-se masculine; ou sentir ser e ao mesmo tempo não ser de um gênero).


[Orientação]gênero: um gênero que é também a orientação (sexual, romântica, etc) da pessoa, ou um gênero que está tão intrinsecamente ligado à orientação dela que é impossível separar ambes.

Obs: há pessoas que se identificam como bichas que podem ter uma experiência similar ou igual.


Xenogênero: uma identidade que não pode ser descrita dentro de concepções comuns ou humanas, podendo ser definida ou explicada com sensações, emoções, elementos da natureza, animais, plantas, etc.


Kingênero: um gênero definido pela pessoa ser otherkin; uma subcultura de pessoas que se identificam como não-humanas (animais, seres mitológicos, aliens, personagens fictícies, etc). Exemplos: a pessoa sente que seu gênero tem as características de uma raposa, ou a influência da "essência" de uma sereia, etc.


Encerro aqui a lista.