AC: exorsexismo, maldenominação constante.
Foi esse ano que decidi adotar neolinguagem no meu cotidiano e também adotá-la pessoalmente. Percebi que eu gostava dessa nova linguagem e fui me adaptando. No âmbito pessoal está tudo bem. Meu desafio foi o âmbito social. Já escrevi um texto sobre isso, mas tenho mais coisas para contar agora.
Se preparem que agora vou soltar todas as bombas. E quero mais gente vestindo a carapuça.
Como esperei, minha experiência foi estressante. E não foi por que pessoas aleatórias na rua não acertam meu pronome. Foi por que pessoas próximas ou conhecidas se recusaram a me respeitar ou demoraram pra fazer isso.
Quando o assunto é neolinguagem, ou as pessoas são bem lentas pra entender a questão, ou são preguiçosas/desinteressadas demais pra entender a questão, ou apenas não fazem questão e odeiam neolinguagem e quem a usa.
E isso já fica de aviso pra todes que pretendem ainda adotar neolinguagem pra si. Você vai explicar com toda educação e didática e a pessoa vai continuar te maldenominando, como se você nem tivesse explicado. As pessoas vão inventar mil desculpas pra não se policiar e não rever conceitos. E pessoas vão se afastar de você unicamente por isso. É uma merda.
Nem todas as redes sociais me oferecem espaço suficiente pra explicar minha linguagem. No Instagram e no Twitter só consigo colocar o conjunto. No Facebook e alguns outros lugares consigo explicar o que significa cada elemento.
Mas acho que colocar ou não o conjunto não faz diferença já que as pessoas não leem perfil. Até aquelas que dizem ter interesse não se dão o luxo de ler o que você escreveu na bio. Então quase todo mundo em todas as redes chega me maldenominando.
No Instagram postei muito sobre linguagem nas histórias, prestei muita atenção em quem as visualizava, e mesmo assim uma grande parte dessas pessoas continuava me maldenominando. Parecia de propósito até. Mas acreditem ou não, tem gente que simplesmente não entende a importância do assunto.
Sinceramente, nem consigo mais desculpar as pessoas quando a conversa é virtual. É evidente que falo diferente, que coloco E no final das palavras. Se a pessoa não acha isso peculiar o suficiente pra indagar sobre isso, eu apenas entendo que ela não se importa em como falo; logo não se importa comigo e minhas particularidades.
Cheguei a corrigir pessoas sobre isso. Milagrosamente, ninguém tentou contestar ou fez discursos contra a neolinguagem. Mas essas pessoas não continuaram a conversa também. Uma ou outra cortou contato logo em seguida.
Escrever pronome em plaquinha também não adianta não. Tive essa experiência em rodas de conversa de um coletivo e numa empresa na qual fiz parte de um programa de projetos empreendedores. Escrevi meu pronome nas plaquinhas e ainda teve gente me maldenominando, e pessoas bem na minha frente. Isso vai além de neolinguagem: as pessoas continuam pressupondo sua linguagem pela sua apresentação.
Passei muito estresse com as pessoas de um coletivo porque elas pareciam cagar e andar pra essa questão. Agora, e para minha surpresa, quase todas se atentam em como me tratar. Tem apenas uma pessoa, que até então era meu contato mais próximo, que segue me maldenominando e ainda debocha quando falo disso. Minha vontade de manter esse contato é nula agora. Pior é que essa pessoa também é não-binária.
Entrei em alguns grupos e na minha apresentação falei e expliquei a linguagem. Mesmo assim teve gente na própria postagem me maldenominando. E nem adianta ser grupo LGBT+ ou grupos que dizem ser contra "todo tipo de discriminação". Exorsexismo é tão naturalizado que ou nem é considerado discriminação ou é relevado mesmo, até pela própria administração do grupo.
Ah, teve ainda gente admitindo na minha cara que está ciente que uso neolinguagem, e segue me maldenominando como se não fosse nada. Assim como gente que presenciou eu explicando esse tópico (roda de conversa e curso) e segue da mesma maneira. Quero mais que essa gente se foda.
Esses dias mesmo participei de uma brincadeira, coloquei uma frase usando neolinguagem, e o primeiro comentário foi me maldenominando. Se isso não é arbitrário então não sei o que é. Assim, era só ter copiado e colado a frase. Mas nem isso...
Minha última experiência negativa foi o término do meu namoro, que durou pouco tempo. A pessoa disse que não achava neolinguagem besteira e admitiu ter dificuldade. Decidi dar tempo a ela. Pouco tempo depois disse que "não se identificava com isso", que não queria ser obrigada a usar, e que não iria. Pois bem, não sou obrigade a namorar alguém exorsexista. Terminei o namoro e sigo firme e plene. Não fará falta.
Engraçado que amigues dessa pessoa não demoraram pra tentar me respeitar e entender essa questão. Por isso e outros motivos que concluí que o que falta nas pessoas é somente uma coisa: esforço. Esforço pra tentar, esforço pra aprender, esforço pra ser um ser humano decente. Cada ume tem um tempo? Claro que tem. Tem gente que tem real dificuldade? Claro que tem. Mas nós percebemos também quem se esforça e quem não se esforça. Dispenso o segundo grupo.
Ah, então não tenho nada de bom para contar? Bem, ter até tenho. Não vou mentir que me sinto muito bem quando alguém se interessa pelo assunto e tenta usar o conjunto comigo. Teve sim pessoas receptivas e compreensivas. Porém, né, respeito é obrigação de todes. Mesmo assim, eu agradeço imensamente a quem se importou comigo e com essa questão. É muito satisfatório pensar que preparei pessoas para conviver com quem usa neolinguagem.
Ah, então não tenho nada de bom para contar? Bem, ter até tenho. Não vou mentir que me sinto muito bem quando alguém se interessa pelo assunto e tenta usar o conjunto comigo. Teve sim pessoas receptivas e compreensivas. Porém, né, respeito é obrigação de todes. Mesmo assim, eu agradeço imensamente a quem se importou comigo e com essa questão. É muito satisfatório pensar que preparei pessoas para conviver com quem usa neolinguagem.
Com certeza ainda terei que enfrentar e engolir muita maldenominação. Mas com toda essa experiência aprendi quando ter paciência, quando explicar, quando cobrar, e quando desistir de uma presença exorsexista que não pode conviver comigo. Vida que segue, mis lindes.