23 de out. de 2020

Fim do blogue

Sim, esta é minha última postagem aqui. Esta é minha despedida. Não um adeus, apenas um tchau.

Foram seis anos de blogue, e seis anos de muito aprendizado.

Refleti muito e percebi que chegou a hora de seguir em frente. Essu garote alternative agora cresceu e é uma pessoinha adulta com outros focos, outros objetivos, e outros projetos.

Deixarei o blogue aí do jeitinho que está. Com tudo que escrevi, sem alterar nada. Aqui deixo meus sentimentos e pensamentos, minhas reflexões, um histórico de ativismo e crescimento, minhas falhas, meus acertos, meu crescimento, minhas descobertas, um pedaço do meu mundo que decidi expor e registrar na Internet.

Não estou triste com isso. Estou até aliviade. Aqui estava muito estagnado, como se eu não quisesse fechar um ciclo. E agora estou fechando. Mas meu trabalho não acaba por aqui.

Quem quiser acompanhar a mim e meu trabalho, basta procurar por Vitor Rubião. Sou fácil de achar. Mesmo assim, deixarei abaixo minhas redes sociais e meus outros espaços de conteúdo.

Olho para trás e penso em tanta coisa negativa que falei por aqui, com ou sem necessidade. Então aqui vão cinco coisas positivas para se fazer: plantar uma árvore, dançar músicas no quarto, pesquisar sobre um tema desconhecido, caminhar num parque, e fazer autocrítica.

Lembrem-se sempre que a maior constância do Universo é a mudança.

Vocês podem me encontrar em:

https://www.instagram.com/vitor.rubiao

https://colorid.es/@vitorrubiao

https://medium.com/@vitor_rubiao

https://bloguealternative.wordpress.com

Até!

1 de set. de 2020

Wallpapers de orgulho

Recentemente encontrei muitos papéis de parede para celulares muito bacanas. Vou colocar uma quantidade aqui, e no final estarão as duas fontes de onde peguei.

Se forem divulgar, não se esqueçam de dar os devidos créditos aes sues criadories.


















Fontes:




19 de ago. de 2020

A desculpabilização cristã

Aviso de conteúdo: religião, política.

Pra quem não vive dentro de uma caverna, acho que não preciso comentar sobre os acontecimentos recentes e horríveis. Não vou falar sobre aborto. Até porque é possível encontrar conteúdos relevantes sobre o assunto numa pesquisa feita na boa vontade. Vou falar de religião, um daqueles tópicos que muita gente acha que não deve ser discutido, mas deve sim.

Longe de mim fazer discurso anti-religião, ou mesmo anti-cristão. Sei que nem toda religião é opressiva, e sei que existem ótimas pessoas seguindo vertentes cristãs. Esse artigo não é para essas pessoas, e muito menos uma crítica individual. O que quero apontar é uma questão estrutural.

Embora nosso Estado seja laico (em teoria, muito em teoria), podemos presenciar influências cristãs para todo lado, chegando no Congresso, no judiciário, e em discussões sociais.

Quando vemos gente cristã fazendo merda, mostrando o que tem de pior, incrivelmente aparece uma legião com a famosa defesa "mas nem tode", demandando que não haja "generalizações", e se defendendo como se fosse o real alvo da crítica.

Também já vi umas vezes gente cristã com a tal "culpa" de ser de um grupo opressor, igual a gente branca com culpa branca, ou gente hétero com culpa hétero, ou gente cis com culpa cis, e por aí vai. Gente que levanta da cadeira e diz com olhos marejados que não é perigosa, que está "do nosso lado", e até pedindo perdão pelos erros de "seu grupo". Comovente igual a um drama mexicano.

Eu ainda tenho mais empatia por esse grupo. Agora, já faz muito tempo que me irrito muito com gente querendo desculpabilizar a religião quando a religião é a culpada e a cúmplice.

Não adianta chamar de minoria esse número assombroso de gente que promove ataques virtuais, boiotes, mobilizações nocivas, quando é a religião dessa gente que impulsiona essas coisas, e quando é essa religião que está impregnada nas estruturas de poder.

Não adianta querer defender que todas essas pessoas não são "verdadeiras cristãs" quando elas fazem barulho e promovem todo estrago que fazem tudo em nome de seu deus e sua fé.

Mais útil do que essa tentativa fútil de desculpabilizar a religião como um instrumento efetivo de opressão atual (e histórica, já que tivemos a Idade das Trevas, lembram?), seria fazer uma autocrítica e se movimentar junto com outres cristanes para mudar essas estruturas de poder. Ficar se esquivando só as reforça, querendo ou não.

Melhor do que tirar essa culpa seria tirar aquelus que estão no poder usando da religião para oprimir, e tirar as influências religiosas de todas as decisões do Estado sobre todo o povo brasileiro. Melhor que isso seria ajudar a construir um Estado verdadeiramente laico, e reformular o modo como figuras e grupos religioses tratam questões sociais num geral.

Sinto muito que tenha tanta gente ruim dando uma péssima imagem à religião, mas também não ajuda em nada ignorar o poder de uma crença usada com fundamentos opressivos. A história está aí pra provar isso. Existe algo muito maior aqui que sentimentos feridos. Talvez esteja na hora de repensar sobre isso e enxergar o problema como estrutural. Passou da hora de aceitar que política e religião se discutem, ainda mais quando estão misturadas.

8 de jul. de 2020

Aquela-Que-Não-Deve-Ser-Nomeada

AC: cissexismo, contém links externos.



Quem pegou a referência, sabe de quem estou falando. Se você não sabe quem e não faz ideia alguma do que estou falando, parabéns, queria estar nessa sua bolha de total alienação com a atualidade.

Como sabem, a sujeita enfim saiu totalmente do armário radfem e decidiu investir em ataques contra pessoas trans. Ela não tem nada a perder, né? É bilionária, já está com a vida feita, não precisa de mais nada, e continuaria assim mesmo que todos os seus livros parassem de vender amanhã.

Cansei de ver gente dizendo que ela só está perdida, que é apenas ignorância, que ela "enlouqueceu", e similares. Não, pessoinhas. Ela está perfeitamente consciente do que estão fazendo. Ela é uma feminista radical que odeia pessoas trans. Ponto final.

Mas por que ela odeia? Sei lá! Por que tanta gente faz questão de perseguir, xingar, agredir e matar pessoas LGBTQIAPN+, e ainda mais quando essas pessoas nada lhe fizeram e nada alteram em suas vidas? Acho que é a mesma resposta.

E isso não foi de agora. Ela já havia dado sinais antes. Ela não se tornou isso de um dia pro outro. Mesmo com os sinais, muita gente preferiu ignorar ou pensar que ainda havia salvação (estou fazendo mea culpa). Como ela percebeu que não tem nada a perder, decidiu seguir esse caminho em plena luz do dia. Ela está usando sua plataforma para dar visibilidade a uma ideologia que acredita. E isso causa estragos, sim!

E o que fazer? Bem, isso gerou muitas discussões. Sinceramente, acho que deveríamos evitar ao máximo dar o ibope que ela quer. E combater a ideologia que ela acredita, a mesma que é anti-científica e muitas áreas do conhecimento já desbancaram. Não falta conhecimento e informação. De novo, ela não é uma coitadinha ignorante que não teve acesso a isso.

E sobre a franquia Harry Potter? As pessoas devem parar de ver? Não sei. Eu acho que o ideal seria não consumir de modo que continue dando dinheiro pra sujeita. Acho bobagem também ficar coagindo as pessoas a não verem mais nada da franquia, sendo que não temos como controlar isso e cairíamos no grave erro de condenar e culpar as pessoas. O que me incomoda é uma parte do fandom não dar a devida importância aos fatos. Eu seguia umas pessoas que falavam direto da franquia, e só ouvi silêncio delas.

Assim, as pessoas podem gostar da franquia, mas vamos combinar que não é uma obra de arte, e tem muita coisa problemática nela. Deixarei uns textos abaixo falando disso (pra quem também não está sabendo do que tem de realmente problemático na obra).

Sinto muito pela imensa quantidade de pessoas dissidentes que se decepcionaram. Essa franquia fez a infância de muita gente, contudo e apesar de tudo. E temos agora mais uma figura de alta visibilidade usando disso para atacar um dos grupos sociais mais marginalizados do mundo. Novamente, somos nós, corpos dissidentes, contra um mundo que nos odeia e quer nossa morte.

Deixarei abaixo também alguns conteúdos falando contra o feminismo radical e suas ideias, se alguém ainda tiver dúvida do quanto essas ideias são furadas e nocivas.

Acho que é isso que eu queria comentar.

Links:






25 de jun. de 2020

Porque não me identifico como bi

Essa é uma dúvida que me apareceu uma ou outra vez quando o assunto era o "guarda-chuva bi" ou a definição mais ampla e inclusiva (atração por dois ou mais gêneros).

Teoricamente, eu poderia me dizer bi enquanto uma pessoa atraída por muitos gêneros. Porém, nossa escolha de identidade também leva em conta nossa afinidade com determinada comunidade.

Eu adoro a comunidade bi! Espaços bi sempre foram inclusivos e receptivos comigo quando eu estava questionando meu gênero e, posteriormente, minha sexualidade. E eu amo esses espaços pela diversidade que sempre vi neles: pessoas bi e de outras orientações multi, pessoas a-espectrais, e pessoas não-binárias (e não acho coincidência serem sempre os grupos mais invisibilizados).

Mesmo assim, quando frequento espaços bi, ou quando consumo conteúdos bi num geral, eu percebo uma enorme diferença nas vivências entre mim e as pessoas bi. Percebo que muitas delas já se entendiam desde sempre como atraídas ou interessadas, até então, por "meninos e meninas". E, consequentemente, isso as colocou como alvos de situações bem específicas.

Essas vivências acabam aparecendo tanto em pessoas bi atraídas apenas por homens e mulheres, por gêneros binários e não-binários, e por todos os gêneros. E embora eu saiba da existência de pessoas bi atraídas por um gênero binário e pessoas não-binárias, até hoje por aqui no Brasil não encontrei alguma assim nos espaços que frequentei - e esse seria o grupo mais próximo de mim.

Logo, me sinto alienade diante da identidade bi quando não encontro semelhanças ou pontos em comuns com as vivências da grande maioria das pessoas bi. Minha descoberta foi bem mais tarde, e desde criança me entendia como (cis) gay. Não me sinto protagonista num espaço bi, apenas ume parceire multi - embora na mesma luta contra o monossexismo.

Isso não me impede de me juntar politicamente ao segmento bi quando necessário; por exemplo, no caso das políticas públicas que reconhecem apenas os segmentos LGBT. Nesses momentos percebemos o quanto estamos juntes, porque o que bi não tem, as outras orientações multi também não têm.

Também acredito que seria estranho me declarar bi em público. Embora eu defenda fervorosamente a definição inclusiva, sei que ainda existe uma ideia equivocada no imaginário coletivo de que bi é uma pessoa atraída só pelos gêneros binários. E eu gostaria de evitar essa possível impressão.

Tudo isso me direcionou para a única identidade multi "popular" ao lado de bi e pan, que desde já passa uma impressão de atração além de homem e mulher, com uma comunidade pequena aqui no Brasil, e onde é mais provável de achar pessoas com vivências parecidas com as minhas. E essa identidade foi justamente a polissexual.

Acho que é isso que tenho a dizer do assunto. Esse pode ser um exemplo de possíveis critérios para as pessoas escolherem determinada identidade e comunidade.

23 de jun. de 2020

Um ano depois...

Há um ano eu estava numa das maiores festas do mundo, comemorando o que sou, e sentindo-me em grande comunhão com meus iguais.

Há um ano eu vi você bem ali, no mesmo bloco que eu.

Há um ano eu tive um dos melhores momentos da minha vida, e não foi apenas a festa.

Há um ano você me correspondeu e fez eu me sentir maravilhosamente bem.

É engraçado quando lembro. Parece até um desses romances que tiro sarro pelos clichês. Conversamos. Beijamos. Você pegou meu contato e foi se divertir. Disse que me encontraria depois. E eu esperei você por muito tempo. Nada.

Continuei o dia pensando em você. Esperei mais um dia. Não aguentei e cacei você nas redes sociais por horas. Acredita que achei seu perfil no Linkedin? Acredita que fiz uma conta lá só pra te mandar mensagem?

(sim, já tive Linkedin, e foi apenas pra procurar uma pessoa que fiquei afim haha)

E então, mais uns dias depois, estava lá eu na casa de uma amizade minha, seguindo com vida e esperança, quando recebo sua mensagem. Que lindo dia foi aquele.

E conversamos. Não tanto quanto eu gostaria, porque você tinha seus problemas e seu trabalho. Eu entendia. E foram uns dias, acho que quase duas semanas de conversa.

Minha vida estava mudando. Eu ia morar um tempinho na casa lá do litoral. Foi uma experiência curta, aliás. Pena que você jamais saberá. E eu decidi te dizer isso: vou passar um tempinho numa cidade a duas horas daqui.

Você reagiu com alguma surpresa. Fui explicando a situação. Percebi que você não visualizava as mensagens. Devia estar fazendo algo, pensei. Uns minutos depois descubro seu unfollow no Instagram. E sua foto some.

Que dia horrível. Que dia mais merda. Que dia absurdamente deprimente.

Você não quis conversar comigo. Você não esperou eu me explicar.

E eu demorei horas pra digerir aquilo. Uma coisa que não acontecia há muito tempo e pensei que não aconteceria mais. Lembrei dos aplicativos. Lembrei das conversas de um dia. Lembrei das pessoas que me encantaram e depois sumiram.

Parabéns por ter sido apenas mais um exemplo.

E eu fiquei dias, semanas, meses, ainda relembrando aquele bloco. Eu demorei pra sair daquele bloco. Eu pensei que era só dar um tempo e você voltaria. Eu fantasiei com realidades alternativas onde aquilo não havia ocorrido. Eu desejei um milagre que nunca veio.

Hoje faz exatamente 1 ano disso. E eu apenas queria que você soubesse que eu enfim superei. Eu voltei pra realidade, eu segui em frente. Eu finalmente saí daquele bloco, que agora é apenas uma lembrança distante.

Não sei por que você fez o que fez. E acho que não me importo mais. E saiba que não quero seu mal. Talvez você apenas não queria ser feliz. Talvez você tivesse medo de me perder e se autossabotou.

Mas... eu preciso viver. E eu iria viver com ou sem você. Uma pena que, no fim, foi sem.

13 de mai. de 2020

Prazer, essu sou eu

Sei que não sou a pessoa mais agradável do mundo, nem a figura mais gostável.

Sei que muita gente me detesta por inúmeros motivos, que muita gente agora detém “provas definitivas” de minha maldade inerente e irreparável, que meu nome é falado por aí seguido de críticas e/ou xingamentos e/ou reações de nojo e regurgitação. Devo me orgulhar disso? Não. Mas não vou mentir: acho tudo isso um pouco... engraçado. Divertido, eu até diria.

Isso não é um fenômeno de agora. Isso vem desde muito tempo, desde antes de entrar pra militância em 2014, desde antes de me envolver com política.

Mas quem sou eu, né? Eu, sobrevivente de um ataque virtual em massa de milhares de reaças. Eu, que não sou série da Netflix, mas fui cancelade recentemente. Eu, que provavelmente devo dividir opiniões por aí em conversas ou numas postagens variadas nas redes sociais, como aquela do pássaro azul. Boa pergunta. Não é do interesse de muita gente me fazer essa pergunta. Por isso, podem perguntar por aí, e vai ter gente usando toga escura e peruca branca (simbolicamente falando) (ou não) pra afirmam categoricamente que eu sou uma pessoa horrível.

Ah, com certeza sou uma pessoa horrível, claro! Do tipo que derruba velhinhes da escada, rouba doce de crianças, e faz sabão com animaizinhos de rua. Sou, sim! Um verdadeiro monstro! Mua há há há.

Okay, falando sério agora. Eu entendo uma grande parte do ódio que recebo e atraio. Tirando as pessoas com motivos legítimos pra isso (afinal, já vacilei e já fui tóxique), eu percebo que quem me odeia são pessoas que: odeiam os grupos identitários que faço parte; são despolitizadas e alienadas e preferem me rotular de elitista, problemátique, etc do que tentar entender minhas ideias; defendem o status quo de alguma forma, mesmo sendo de grupos marginalizados; e brigam comigo por coisas fúteis ou questões ideológicas, e como não são fãs de diálogo ou não sabem defender o que pensam, escolhem apenas me excluir e desprezar.

E, pois é, já teve uns acontecimentos estranhos (e cômicos, de certo modo), como pessoas conversando comigo num dia e me bloqueando/excluindo um tempo depois, ou pessoas me elogiando virtual ou pessoalmente e depois subitamente me detestando. Gostaria de saber explicar, sinceramente.

Paciência, né? Mas, olha, que bom que essas pessoas me odeiam! Afinal, são exatamente elas que não faço questão de agradar. E são elas que quero ver rolando e esperneando no chão, tendo “surto”, se rebaixando as suas próprias insignificâncias. Quando me vejo diante de ódio vindo de gente higienista, reducionista, medíocre, hipócrita, intolerante e irrelevante, eu sinto que estou fazendo certo.

E tudo bem que por aí tem prints de postagens minhas falando merda. E tudo bem que tem postagens antigas printadas em contas escrotas e páginas de ódio. Que façam bom proveito! Que imprimam e distribuam nas ruas, que façam outdoors! É só isso que essa gente tem: o meu pior, mesmo que tenha ficado pra trás, mesmo que tenha pedidos de desculpas não-vistos (ou convenientemente ignorados), mesmo que tudo que faço e falo atualmente mostre mudanças. Que usem tudo isso pra atrair um rebanho de gente igualmente irada buscando projetar e descontar sua raiva do mundo em qualquer infeliz que falou uma merda. Porque pra essa pseudo-militância tóxica, recheada de gente perfeita e infalível cuja carne fora esculpida em mármore, o que importa é nosso passado, não nosso presente – nosso, me refiro a nós, pobres mortais feites de barro, não mármore.

Mas quem sou eu, afinal de contas, né? Eu, ordinárie e esquisite como sou? Eu, aquelx pessoe (como gente anti-neolinguagem adoraria dizer) que fala das trocentas identidades estranhas criadas no Tumblr, que defende que sexo é construção social, que acha que vai mudar a sagrada língua portuguesa, que não acredita que as pessoas nasçam com uma orientação e identidade de gênero destinadas? Eu, ume Joane ninguém, uma mera pessoa desconhecida, que mora no centro de São Paulo, que pode passar o dia digitando groselhas na Internet?

Verdade, né? Quem sou eu perto dessa quantidade imensa de arautos da desconstrução, sentados no trono da superioridade moral, que nunca erraram e nunca falam merda, né? Quem sou eu perto dessas reencarnações de Marsha Johnson e Sylvia Rivera? Quem sou eu diante dessas personificações da revolução e queda do cis-tema, que passam o dia nas redes sociais xingando qualquer ume por qualquer comentário minimamente leigo, que adoram lacrar e cancelar (podem me chamar de reaça por usar assim esses termos, não ligo também), que num momento falam sobre misoginia e no outro chamam o presidente de filho da puta, que falam sobre capacitismo e depois dizem que homofobia é doença mental, que colocam em caracteres especiais na bio “agender elu/delu com orgulho” e depois reproduzem retóricas de feminismo radical, etc etc etc?

Quem sou eu?

Bem, ninguém melhor do que eu mesme pra dizer quem eu sou (pois tenho local de fala sobre minha existência): sou uma pessoinha que está constantemente estudando, aprendendo, refletindo, revendo, buscando fazer alguma mudança, procurando fazer uma militância que presta, preparando território para as próximas gerações, usando de meus privilégios e do que está ao meu alcance no momento para difundir informação e conhecimento. Não, não sou a merda que falei ontem, anteontem, em janeiro, ou umas postagens reaças de 2013 (todo mundo seguia o MBL nessa época, tá?), ou as ideias que tive na adolescência. Eu sou meu presente. E meu presente é uma baita metamorfose ambulante, por mais que o tribunal na Internet diga o contrário.

Uau, escrevi esse textão inteiro só pra me exaltar? Não, não acho que fiz isso. Mas, mesmo assim, qual o problema? Por que não devo reconhecer minhas qualidades, coisa que faço com pouca frequência? Aliás, já experimentaram fazer isso? É bom. Recomendo.

Ah, eu sei que muita gente gosta de mim, sim! Pareceu um texto todo negativo de alguém odiade por todos os lados, mas estou ciente de que essa não é minha realidade. Quem gosta de mim continua do meu lado e me apoiando. Muita gente aprende comigo e vê meu melhor. Sou grate, muito grate por isso. E me sinto verdadeiramente privilegiade por fechar junto com essas pessoas uma militância real – autocrítica, produtiva, sensata, tolerante, e comprometida. É essa militância que promove as verdadeiras mudanças.

E só pra constar: não quero o perdão de ninguém, e não tenho que me redimir com ninguém também. Não sou ume pecadore se martirizando e esperando os anjos anunciarem meu arrebatamento. Errei, me desculpei, e ainda posso cometer outros erros; como toda pessoa. Eu faço isso por mim agora. Isso é pra mim, pra eu parar logo de ficar me culpando pelos meus erros e achando que não posso mais ser diferente. Passei meses fazendo "coisas boas", "me comportando", tudo afim de provar pra alguém invisível que sou uma pessoa decente. Tomei vergonha e parei com isso.

E se alguém quiser se desculpar comigo por qualquer coisa, também. Não sou ninguém pra distribuir perdão e redenção. Apenas melhore e procure não cometer os mesmos erros. E se alguém que teve experiência com cancelamento quiser uma dica, aqui vai: cancele a culpa e a autopiedade, tome vergonha, aguenta firme, e continua a viver e militar.

A todes dessa pseudo-militância tóxica, que persegue e condena e vive separada do mundo real, eu desejo apenas uma coisa: melhorem. (pensaram que eu ia digitar algo raivoso ou ofensivo, né?)

Parabéns pra quem leu até aqui, seja você alguém que me ama, que me odeia, que tem sentimentos mistos, ou que não sabe o que sentir. E como diria o icônico Pernalonga: por hoje é só, pessoal!

Prazer, Vitor Rubião. Essu sou eu.

9 de mai. de 2020

Um desabafo sobre coisas que odeio

AC: muita negatividade, palavrões, menções a coisas ruins.



Cá estou de volta des mortes pra desabafar. Afinal, o blogue é meu e eu posto o caralho que eu quiser. Vou falar um monte de coisa que odeio. Se alguém se identificar, plis, odeie junto comigo, e se quiser, compartilhe seu ódio comigo.

Eu odeio o presidente.
Eu odeio bolsominions.
Eu odeio a extrema-direita.
Eu odeio reaças.
Eu odeio reducionistas.
Eu odeio higienistas.
Eu odeio aceitabilidade.
Eu odeio respeitabilidade.
Eu odeio assimilacionismo.
Eu odeio as normas.
Eu odeio o binário de gênero.
Eu odeio a heteronormatividade.
Eu odeio as classificações e os discursos médicos sobre sexo.
Eu odeio qualquer miserável que me venha com discurso médico sobre sexo, gênero e orientação.
Eu odeio radfems.
Eu odeio transmeds.
Eu odeio neoliberais.
Eu odeio fascistas.
Eu odeio neonazis.
Eu odeio patriotismo.
Eu odeio a esquerda contra pautas identitárias.
Eu odeio progressistas que chamam tudo que não entendem de pós-modernismo.
Eu odeio a """militância""" lacradora e canceladora.
Eu odeio quem não lê a bio.
Eu odeio quem não lê as coisas até o fim e já quer discutir.
Eu odeio quem quer discutir coisas complexas numa postagem de 240 caracteres.
Eu odeio gente que defende autoverdades e opiniões como se fossem fatos.
Eu odeio fake news.
Eu odeio quem faz fake news.
Eu odeio propaganda que aparece no meio do vídeo no YouTube.
Eu odeio as grandes corporações.
Eu odeio o sistema democrático.
Eu odeio gente que acha que as pessoas ou apoiam democracia ou apoiam ditadura.
Eu odeio ditadura.
Eu odeio qualquer discurso superficial a favor da comunidade que seja sobre amor e love is love.
Eu odeio o quanto assédio é naturalizado.
Eu odeio todo tipo de moralismo.
Eu odeio a monogamia.
Eu odeio qualquer página que diz ser "LGBT+" e só fala de LGBTs.
Eu odeio qualquer página que diz ser LGBT e só fala de gays cis.
Eu odeio a minha escola.
Eu odeio gente que até hoje me dá desculpa pra não respeitar minha linguagem de gênero.
Eu odeio gente que rebate fatos com opiniões.
Eu odeio gente que se gaba por não entender as coisas e fica se autodepreciando.
Eu odeio qualquer conteúdo que insiste em dizer que atração é por sexo.
Eu odeio a descrição de linguagem [pronome]/d[pronome].
Eu odeio despolitização e alienação.
Eu odeio meus privilégios.
Eu odeio fanatismo religioso.
Eu odeio falácias da lógica e malabarismos argumentativos.
Eu odeio gente que chega me fazendo um questionário sobre minhas identidades e vivências.
Eu odeio o fato de ter que rejeitar interações com pessoas porque me veem como homem cis.
Eu odeio a quantidade de gente que chega me flertando e me maldenomina e me trata como homem.
Eu odeio qualquer discurso anti-queer.
Eu odeio gente que chama meu conteúdo de elitista, inacessível, blá blá blá.
Eu odeio o modo como tanta gente fala comigo como se eu não entendesse do que falo.
Eu odeio críticas rasas.
Eu odeio o fato que não posso ter um exame de cariótipo e ver meus cromossomos.
Eu odeio o Twitter.
Eu odeio todo mundo que me seduziu e depois agiu escrotamente comigo.
Eu odeio a estrutura binarista da língua portuguesa.
Eu odeio que todas as grandes redes sociais não fazem nada contra discurso de ódio.
Eu odeio gente que me explica o que já sei porque acha que não sei.
Eu odeio quando falam comigo no diminutivo.
Eu odeio quase toda organização LGBT(+?) brasileira.
Eu odeio meu desemprego.
Eu odeio o fato de que nunca terei a aparência que gostaria de ter.
Eu odeio pensar que um dia vou morrer.
Eu odeio quando desabafo e vem gente reclamando do meu desabafo.
Eu odeio quase sempre quando recebo opiniões não-solicitadas.
Eu odeio panelinhas.
Eu odeio gente que fala pelas minhas costas em vez de se resolver comigo.
Eu odeio os pop-ups quando vou ver série em saite clandestino.
Eu odeio bilionários.
Eu odeio bancos.
Eu odeio a história da humanidade.
Eu odeio o modelo familiar.
Eu odeio a polícia militar.
Eu odeio o fato que muita gente com quem quero um sexo gostoso está inacessível.
Eu odeio obscurantismo.
Eu odeio gente anti-ciência.
Eu odeio os Estados Unidos.
Eu odeio imperialismo.
Eu odeio o capitalismo inteiro.
Eu odeio gente pra quem não dei intimidade nenhuma vindo em mim com intimidade.
Eu odeio um monte de gente das gerações anteriores.
Eu odeio a criação que tive.
Eu odeio a tela rachada do meu celular.
Eu odeio quando tentar me obrigar ou me coagir a algo.
Eu odeio o quanto me seguro pra não xingar, explodir, criticar ou falar o que penso.
Eu odeio pacifismo.
Eu odeio o quanto demonizam ódio e raiva.

Ufa. Terminei. Porra!

25 de mar. de 2020

Porque não uso esses termos

AC: terminologias obsoletas, discursos reducionistas/excludentes.



Decidi escrever esse texto porque estive refletindo sobre as impressões que talvez eu passe para outras pessoas, em especial sobre como explico os assuntos e quais palavras uso.

Vejo muitas vezes que narrativas, mesmo quando vez ou outra são mais inclusivas, acabam cometendo equívocos ou exclusões não-intencionais.

Mas como muita gente não pensa muito nelas e continua as repetindo, acho que me explicar sobre as minhas narrativas possa mostrar minhas motivações, e conscientizar todes que acham que eu "só complico" ou "só falo a mesma coisa com outras palavras" ou etc.

Primeiramente, eu não vejo sentido em falar "diversidade sexual e de gênero" ou falar de atrações num geral como apenas "sexualidades", algo que ainda é muito repetido, especialmente entre adolescentes e jovens adultes nas redes sociais. Isso porque considero a existência de mais atrações além da sexual, e nem tudo é sobre sexualidade. Por isso costumo falar prefixos ou abreviações - bi, poli, ace, etc. Se eu estiver falando, por exemplo, de bissexuais, então estarei falando especificamente de pessoas da orientação sexual bi, não qualquer pessoa bi.

Mesmo pessoas com contato com as comunidades assexual e arromântica ainda repetem esses discursos quando falam de atrações, sendo que ambas comunidades dão um panorama maior sobre essa questão.

Romanticidade é uma atração relevante, e ainda coloca pessoas em posições de privilégio ou de opressão. Monossexismo não é uma opressão exclusiva de multissexuais, mas de pessoas multi num geral. Atrações românticas dissidentes ainda são alvo da heteronorma. Se a heteronorma se referisse apenas à sexualidade, as pessoas poderiam ser heterossexuais e ter qualquer atração romântica não-hétero. E a realidade não funciona assim.

Quando falo sobre não-binariedade, eu não resumo tudo a "gêneros não-binários". Porque a não-binariedade não é apenas sobre gêneros. Há identidades que não são gêneros em si, mas descritores de ausência de gênero (como agênero), da presença de mais de um gênero (bigênero, poligênero, etc), de fluidez de gênero (gênero-fluido e outras identidades), entre outros. Dizer identidades não-binárias é o mais preciso e coerente. Dizer gêneros não-binários se refere apenas a gêneros presentes.

Referente a discriminações, faço uso constante dos nomes dos sistemas opressivos, porque às vezes não acho suficiente usar termos de discriminações quando falo de uma estrutura, e também há vezes em que situações vindas da mesma opressão são compartilhadas por pessoas de grupos diferentes.

É comum ainda pessoas usando homofobia como um termo guarda-chuva para toda discriminação contra a comunidade, ou usando homotransfobia, ou mesmo homolesbobitransfobia. Homofobia não consegue descrever todo ódio ou exclusão a afetos e relações entre homens/mulheres, porque nem sempre essas pessoas são gays/lésbicas. Homofobia também não consegue descrever a opressão vivenciada por lésbicas e bis. Mas tanto esses grupos quanto gays são alvos do mesmo grande sistema normativo: heterossexismo.

Cissexismo pode ser um termo mais abrangente, porque existem travestis que não se consideram trans (então podem achar transfobia um termo inadequado). E falei disso tudo me mantendo nos grupos LGBT. Se expandirmos a discussão para os outros grupos, percebemos ainda mais a imensa necessidade desses termos e outros (como diadismo, para falar da opressão de pessoas intersexo).

Em vez de ficar citando orientações, é mais preferível e prático optar por um termo que engloba todas elas. É o que faço com as orientações multi; ou seja, atrações por mais de um gênero. Em vez de dizer "bi+", ou "bi e outras orientações", ou "bi, poli, pan, etc", digo apenas multi. É até melhor porque não gosto da ideia de enfatizar bi como uma atração multi principal, ou ficar citando a famosa tríade bi-poli-pan enquanto outras orientações seguem sem nunca ser citadas (muita gente deve pensar "que que tem nesse etc?").

Eu poderia discorrer também sobre porque não uso termos com sufixo -fobia ou LGBTfobia, ou porque descrevo minha linguagem pessoal de gênero com artigo/pronome/flexão em vez de só um pronome ou "elu/delu", e outras coisinhas, mas há postagens explicando sobre isso tudo e as deixarei logo abaixo.

Enfim, quis apresentar narrativas mais inclusivas, que deveriam ser mais consideradas, ainda mais por pessoas com notoriedade. Tudo que escrevemos em domínio público pode chegar a qualquer pessoa, teoricamente. E precisamos pensar no máximo de pessoas possível. Precisamos rever nossas narrativas, sair da mesmice e do simplismo sem causa, pensar em inclusão e na diversidade toda. Acho que era o que eu tinha para dizer.







14 de mar. de 2020

Mastodon: uma rede social alternativa

Mês passado ocorreu uma grande migração de pessoas para o Mastodon. Migrações ocorrem de tempos em tempos, porém, essa teve um destaque por ter chamado mais atenção e atraído críticas de usuáries do Twitter.

As redes sociais descentralizadas são alternativas que se propõem a criar espaços que não sejam dominados por grandes corporações e que tenham estruturas e condutas diferentes.

O Mastodon, por exemplo, veio com a proposta de trazer coisas que o Twitter falhou em fazer ou nem pensou. Muitas pessoas migraram de lá procurando uma rede sem uma estrutura que permite ataques constantes e gratuitos e com políticas eficientes contra ódio e preconceito.

O Twitter vive do engajamento fornecido por polêmicas, brigas, exposições e ibope dado a figuras execráveis. Além de não incentivar diálogos e articulações políticas. E muita gente cansada disso tudo e querendo um espaço progressista veio para o Mastodon por isso.

Minha experiência com o Mastodon esteve sendo maravilhosa. Eu revi muitas coisas que eu fazia, estive tendo interações bem mais saudáveis, e devo dizer que minha própria saúde mental está melhor. Estou torcendo para que a rede cresça e cumpra seus propósitos.

Para quem quiser entender como funciona, deixarei aqui links com explicações:

O que é o Mastodon.


Para quem quiser procurar por instâncias, clique aqui.

Estão todes convidades a participar do Mastodon! Venham conhecer e fazer parte!

22 de fev. de 2020

Sem rótulos

AC: discursos em geral de apagamento e silenciamento contra microcomunidades.



Isso não é novidade e faz tempo que vejo esse discurso. Mas senti vontade de comentar sobre isso porque recentemente o vi sendo repetido várias vezes por aí nas redes sociais.

Enquanto temos movimentos sociais se apoiando em identidades, há pessoas que se declaram como "sem rótulos". Entre elas temos aquelas que apenas dizem rejeitar rótulos pra si, e aquelas que pregam que ninguém deveria se rotular.

Muito bem. Claro que defendo a liberdade do indivíduo de não se rotular. Se uma pessoa não quer adotar identidades pra si, direito dela. O problema mesmo é com o discurso impositor e no que ele implica.

Não acho coincidência que tantas pessoas que se posicionam contra "os rótulos" sejam despolitizadas, ou apenas alienadas, ou gente intolerante com a pluralidade de identidades (possivelmente com opressão internalizada). Percebo que muitas dessas perspectivas são muito rasas, e não enxergam que identidades descrevem experiências e mobilizam pessoas em busca de demandas. Há pessoas assim muito marginalizadas. Mas não acho coincidência haver tantas privilegiadas o suficiente para não se importarem tanto com possíveis opressões que possam atingi-las.

No mundo atual onde existe tanta discriminação, desigualdade social, e opressões estruturais, "rotular-se" (algo que soa negativo, mas nem deveria sê-lo) é uma necessidade. Por isso existem movimentos sociais.

Agora, outra coisa que acontece muito são pessoas de determinadas identidades fazendo esse discurso em situações convenientes. Podem reparar que dificilmente haverá uma pessoa gay ou lésbica ou trans binária dizendo que "não precisa desses rótulos". E, da mesma forma, é fácil ver pessoas desses grupos e ocasionalmente de outros (bi, assexuais, não-bináries) fazendo esse discurso quando o assunto são identidades mais específicas.

Devo ressaltar que pessoas bi ainda são muito invisibilizadas. E pessoas (que se dizem apenas) assexuais e não-binárias ainda estão lutando por alguma visibilidade. Mas até mesmo esses grupos fazem coro contra identidades multi, a-espectrais e n-b. Já falei sobre reducionismo identitário aqui no blogue.

Então vamos a tudo que me incomoda muito nesse discurso de sem rótulos: o quanto ele é usado para silenciar pessoas, diminuir ou anular experiências, ignorar realidades e fenômenos que envolvem opressões, e fazer hierarquias entre quais identidades são "realmente políticas" e quais demandas são "mais relevantes".

E, afinal, de onde vem essa rejeição ao rótulo? Isso é justificável? É ignorância política? É apenas preconceito com experiências mais incomuns? São coisas a se pensar.

Se você quer seguir sem rótulos e isso funciona pra você, muito bem. Isso só é um problema quando parte de fatores problemáticos e quando vira uma arma contra gente com vivências e demandas ignoradas ou desmerecidas.

3 de fev. de 2020

Questões geracionais

AC: etarismo.



Um conflito muito comum dentro de movimentos sociais e espaços de ativismo são perspectivas diferentes por causa das gerações. Nossa história - enquanto comunidade e movimento social - pode ser considerada recente; porém, temos aí diversas gerações da comunidade existindo juntas (e mais estão por vir).

Apesar de que atualmente a juventude esteve tendo uma ênfase nas discussões e conquistando voz e local crescentes, gerações "passadas" - em especial década de 1980 pra trás - ainda se fazem presentes em muitas organizações evidentes para o movimento e a comunidade, além de certos espaços também evidentes.

Gerações diferentes acabam tendo experiências diferentes principalmente em questão do quanto as discussões e os cenários político-sociais avançam (ou não).

A parte identitária, em especial, tem uma grande diferença. Enquanto ainda há pessoas que vieram da época em que a sigla era GLS e termos como homossexual e transexual eram descritores de "toda" diversidade, nos dias atuais nos deparamos com muitas siglas e inúmeras identidades que descrevem diversas experiências de orientação-gênero-sexo.

E então a juventude acaba tendo seus conflitos com a ignorância e o reacionarismo de pessoas de mais idade.

Por outro lado também, as gerações anteriores costumam sofrer muitos ataques de viés etarista. Estamos vivenciando uma espécie de culto à jovialidade (não só na área social), o que coloca pessoas mais velhas como "menos capazes" ou "menos mente aberta" ou mesmo desnecessárias para contribuir com avanços sociais.

Penso que a experiência e o conhecimento das gerações anteriores são muito importantes. Desconsiderar isso é desconsiderar vivências e tudo que aquelus que vieram "antes" construíram.

Da mesma forma que abrir-se para questões mais atuais é essencial para acompanhar as mudanças e se articular, por mais rápidas que sejam. E eu vejo uma grande resistência a isso pelas gerações anteriores.

As gerações precisam aprender a dialogar entre si, e isso envolveria largarem de seus reacionarismos e etarismos, procurarem encontrar afinidades, trocarem informação e conhecimento, e entrarem em acordos.

Dicisheterossexismo ainda é uma realidade, ainda existe, e ainda há grupos dispostos a manter e fortalecer essas opressões. Isso, acredito, já deveria ser um grande ponto em comum entre todas as gerações. Os retrocessos estão aí para todes nós.

Como exatamente criar esses diálogos entre as gerações, não tenho uma resposta definitiva. Mas começar por pontos em comum pode ser um bom caminho.

22 de jan. de 2020

Texto de retratação e resposta

Bem, estou aqui no meu próprio espaço pra falar sobre uma merda que fiz no Twitter recentemente.

Fiz uma postagem objetificando um homem trans e isso causou naturalmente repercussão negativa. Foi infeliz mesmo. Estou falando de um grupo marginalizado, e isso é grave.


Eu já reconheci meu erro e me desculpei por isso publicamente lá. Mesmo assim, os ataques continuam. E só por isso saí do Twitter.

Eu não tenho o que fazer além de me desculpar e trabalhar por minha retratação.

Não vou parar minha vida por causa de merdas que fiz. E não vou permitir que meus erros me definam. Assim como todo mundo, tenho direito de me retratar e fazer melhor.

E é exatamente isso que estou fazendo. Além de cuidar da minha vida (tenho problemas como todo mundo) e tenho outras preocupações (como desemprego e neonazis).

Todos esses ataques exorsexistas - invalidando minha identidade de gênero e me maldenominando - dizem mais sobre quem está me atacando do que eu. Nada justifica isso. Ninguém tem o direito de fazer isso.

Eu sou quem digo que sou. Não preciso da validação de ninguém. Não sou homem cis, não sou gay, e não sou chaser!

Pra mim está claro que toda essa situação já ultrapassou aquela postagem merda que fiz. Não é mais sobre ela. Não é mais sobre uma pessoa que fez uma postagem merda.

Pra mim está claro que isso é uma campanha de um grupo específico - que, aliás, ataca pessoas trans da própria comunidade com transmedicalismo - querendo cancelar uma pessoa não-binária por que defende identidades consideradas absurdas/atípicas/desnecessárias (ex: xenogêneros) e é contra ideias nocivas como transmedicalismo.

Sinto muito pra quem está dando moral pra isso. Ah, e vi a identidade transexpressive sendo usada contra mim. Bem, eu não vou defender uma identidade controversa e que mal foi utilizada. Mas não me envergonho de ter usado uma identidade que me ajudou na minha autodescoberta. Nenhuma autodescoberta é vergonhosa.

Minha vida tem que continuar. E vai continuar. Tenho projetos em prol da comunidade, continuarei fazendo conteúdo, continuarei lutando por espaços, e continuarei lutando por políticas públicas e progresso. E esses ataques que não vão conseguir nada disso.

Quem não quer acreditar que eu posso fazer melhor, paciência. Mas é isso que farei.

Agradeço a todes que acreditam em mim e que preferem me ver melhorar.