27 de nov. de 2016

Jesus

Parece extremamente ridículo a ideia de um bebê nascer de uma mulher que nunca teve relação sexual. Parece mesmo, concordo. Segundo o cristianismo, essa é a origem de sua maior figura, Jesus.

Afinal, como poderia ter existido um homem nascido de uma mulher virgem???

Antes de você abrir a boca e dizer que é "cientificamente impossível", ou até mesmo que não existe nada disso em toda a natureza, preciso falar sobre duas coisas:

1- Partenogênese é o fenômeno de quando ocorre desenvolvimento embrionário a partir de um óvulo que não foi fecundado. Pode ocorrer numa rara ocasião onde dois óvulos se fundem e ativam a fecundação. Nunca foi observada na espécie humana e também não foi comprovada ser impossível de acontecer na mesma.

2- Síndrome de la Chapelle é uma variação genética rara onde um bebê é XX, (logo deveria nascer do sexo feminino), mas acaba desenvolvendo sexo masculino. Não entrarei em detalhes, mas devo observar que essas pessoas podem viver tranquilamente sem estarem cientes dessa condição.

Mesmo que a partenogênese ocorra no ser humano, o bebê teria cromossomos XX. E Jesus, sendo uma pessoa do sexo masculino, deveria ser XY. Essa contradição poderia ser resolvida pela síndrome mencionada.

Claro que não reuni todas essas informações numa busca épica de provar que Jesus existiu (nem cristão eu sou). Até acredito nele enquanto figura histórica. Apenas escrevi tudo isso para mostrar que, às vezes, somos tão prepotentes e achamos que sabemos tudo que fechamos nossa mente para possibilidades que, a princípio, parecem absurdas.

Supondo que a partenogênese tenha acontecido alguma milagrosa vez num bebê humano, quais seriam as chances de ocorrer simultaneamente com uma síndrome rara? As chances seriam muito próximas de 0%.

Entretanto, acho não podemos mais afirmar com total certeza de que jamais existiu ou existirá um ser humano que tenha nascido de uma reprodução assexuada. Até lá aguardamos esse verdadeiro milagre (cientificamente explicável) ser confirmado ou acontecer.



24 de nov. de 2016

Minha faculdade

A graduação terminou e me vejo dando adeus ao lugar onde passei metade de uma década da minha vida. Não estou super emocionado, mas não posso negar o misto de felicidade e tristeza que estou tendo.

Sentirei saudades da instituição, de alguns professores e de poucas pessoas da minha turma. Manterei poucos contatos. O que levarei de lá não é apenas um diploma e formação acadêmica, e sim memórias e experiências.

Lembro até hoje do êxtase de começar a faculdade. Estava eu no vagão do metrô, de manhã, indo para meu primeiro dia de aula, sem saber ao certo se haveria aula ou não. "Estou dando um novo passo na vida, tudo vai mudar", pensei. Tive bons momentos, principalmente no primeiro ano, quando eu estava mais animado. Minha perspectiva do curso e das pessoas foi mudando com o passar do tempo.

Claro que nem tudo foram flores. Minha maior frustração foi achar que a faculdade seria um filme ou série estado-unidense. Pensei que logo no primeiro ano haveria: muitas festas, altas aventuras, histórias inusitadas de colegas, amores e um namoro (era o que eu mais queria!). Pensei que lá seria o local de encontrar grandes amizades e ter uma vida social.

Nada disso aconteceu, pelo menos não do jeito que eu esperava. Estou saindo do curso como uma nova pessoa, bem diferente daquela de 2012, mas estou saindo com minhas cicatrizes e desilusões. Então vou falar primeiro dessas coisas:

- Lá tive uma turma super desunida, cheia de gente infantil, e tivemos brigas que nem no Ensino Médio presenciei.
- Lá tive meu primeiro contato com um grupo LGBT e detestei a experiência. Não me identifiquei com a maioria, tive desentendimentos, e não consegui criar um grande vínculo com o grupo. Estou saindo de lá levando dois ou três colegas (no máximo).
- Lá conheci o homem que mais me feriu e cooperou com minha depressão desse ano. Felizmente ele recebeu o que merecia.
- Lá encontrei pessoas desagradáveis que fizeram questão de me ofender e tentar me prejudicar, como meu representante de sala do segundo ao quarto ano.

Talvez a maior decepção tenha sido o próprio grupo LGBT. Até ano passado não tive coragem de tentar ingressar num grupo desses. Tive bons momentos, mas poucos. Meus maiores desafios foram aceitar a moral do grupo (que contradizia muito com a minha) e perceber a realidade atual de grande parte das pessoas LGBTs - vivem mais relações superficiais e breves do que profundas. Isso se soma às outras coisas que critico, como a "cultura do desinteresse" ou a "lei do usar e descartar".

Bem, sinto informar a mim mesmo, isso se chama convivência. A faculdade me fez enxergar que a turminha feliz do Ensino Médio foi uma brincadeira e o mundo real é mais desafiador. Relacionar-se com as pessoas, com a sociedade, é desafiador. Tive que aprender a aceitar as pessoas, por mais que discordasse ou não suportasse elas. Posso não ter tido a vida social que sonhei, porém aprendi mais sobre o que é ser social. E preciso aprender mais ainda!

Chega de coisas ruins. Vamos falar das boas agora:

- Ser representante de sala no primeiro ano (mesmo não ter sido de total vontade) foi uma experiência que me fez aprender a ser responsável com pessoas que dependiam de mim e atendê-las com imparcialidade.
- Lembro até hoje do meu ânimo de apresentar meu primeiro trabalho acadêmico, no caso foi sobre Aloe vera e seu possível uso no tratamento de diabetes. Pesquisar, imprimir o banner e apresentar para os outros cursos foi muito empolgante.
- Só no segundo ano que fui pela primeira vez num bar com um grupo social, no caso meu clube do bolinha (que durou pouco). A sensação de ter uma vida social foi incomparável.
- Apesar das desavenças e conflitos iniciais com a junção da minha turma (manhã) com a da noite, foi uma experiência incrível de alguma forma. Lidar com pessoas desconhecidas, tentar unir as turmas e ter diplomacia até com as mais hostis (ex: meu representante) me ensinou muito.
- As aulas do terceiro ano foram as mais marcantes, especialmente Farmacologia e Farmacotécnica. Farmacologia por mostrar mais detalhadamente o mundo dos medicamentos. E Farmacotécnica pelas criações de produtos, como xampu, cremes, etc.
- Meu TCC deu dor de cabeça nos experimentos. Mas viajar sozinho para um congresso em Araraquara e apresentar lá foi uma experiência única e deliciosamente inusitada.
- Participar de palestras e reuniões fora da minha área foi uma novidade. Assisti apresentações com temas sociais e estive presente na formação (ressurreição) de um órgão que representa todos os estudantes, o DCE (Diretório Central dos Estudantes). Espero que dê tudo certo.
- O estágio que fiz na faculdade finalizou positivamente o ano e o curso. Trabalhar em equipe e realizar serviços para as pessoas me fez sentir algo que eu não sentia há uns dois anos: o prazer de ser farmacêutico.

Estar na faculdade é como estar em qualquer outro lugar: você vive e aprende, mesmo sem perceber. Não foi o curso de Farmácia que tornou a faculdade o que ela foi, e sim as pessoas que conheci. O curso só complementou. Acredito que nada é por um acaso; tudo que vivenciei tinha que acontecer.

Não, não saio da faculdade amando-a calorosamente e dizendo (pelo menos não agora) que foi a melhor fase da minha vida. Podia ter sido melhor. Mas o aprendizado que tive me fez ser quem sou agora. Levarei isso comigo para o resto da vida.



19 de nov. de 2016

Militância pós-moderna

Talvez esse texto gere certa revolta contra minha pessoa. Recomendo a todxs que leiam com mente aberta, imparcialidade e estando muito zen.

Entrar nos grupos virtuais de militância foi um enorme passo para mim. Não foi como seguir ou acompanhar páginas por aí ou algumas pessoas militantes. Foi algo maior e libertador. Naturalmente, afinal são grupos com uma quantidade enorme de gente, o que possibilita uma diversidade de personalidades, opiniões, pensamentos, ideias e relatos.

Aprendi muito com esses grupos. Eu não seria quem sou se não fosse por eles. Eu não seria o militante que sou sem eles. E continuo aprendendo enquanto faço minha parte de desconstruir o preconceito interno e externo.

Contudo, tenho minhas críticas e divergências sobre a conduta das militâncias que observo nesses grupos e de militantes de quase todos os movimentos sociais.

1- Militantes estão cada vez mais formando grupinhos restritos onde só discutem entre si e não levam debates para fora, para outros lugares e para pessoas de grupos majoritários. No fim todxs se isolam.

2- O radicalismo cria pessoas explosivas e grosseiras, que dão um show de raiva frente a qualquer mínima demonstração de ignorância vinda de alguém de um ou mais grupos majoritários, e que acham que podem distribuir patadas gratuitas. Há quem use o argumento do "reação do oprimido" como justificação.

3- Tem debates sobre preconceitos e discriminações que acabam virando uma competição bizarra de "quem sofre mais". Entendam que todo preconceito é ruim e que sofrimento é relativo e varia de pessoa em pessoa.

4- Acabam focando tempo e energia mais rechaçando uma pessoa que não entendeu algo do que esclarecendo e ajudando na desconstrução dela. Ninguém nasce desconstruído! Vejo com frequência as respostas clássicas "seje menas" ou "close errado" ou memes (da Inês Brasil, por exemplo). Sim, precisamos ter paciência para explicar e conscientizar!
Obs: não me refiro a pessoas que fazem discurso de ódio e só sabem xingar e tirar sarro.

5- Os próprios grupinhos restritos acabam excluindo seus membros quando não pensam igual a todxs ou pelo menos a maioria. E por fim recebem o mesmo tratamento que o item anterior.

6- Existe um grande número de militantes que age e fala como se qualquer pessoa dos grupos majoritários fosse incapaz de ter empatia e se desconstruir. Sem contar que não aprovam nem que mostrem apoio por suas causas, alegando "roubo de protagonismo". É importante pessoas da maioria passarem adiante o que aprenderam com a minoria! A aliança serve para isso!

Há alguns outros pontos, porém não vou abordá-los nesse artigo. São pontos que precisarão de uma discussão bem maior e elaborada.

Eu acabei aderindo a radicalismos e irracionalidades que aprendi nesses grupos. Após muito tempo comecei a me questionar sobre se meus pensamentos e minhas ações estavam realmente fazendo alguma revolução, contribuindo para a mudança. Percebi então que haviam certas falhas nesses grupos. E que há aspectos que podem ser melhorados.

Tudo que falei pode ser desconsiderado apenas por eu ser homem cisgênero branco de classe média. Pois estou numa posição privilegiada que pode me impedir de enxergar a necessidade e o sofrimento dos grupos minoritários os quais não pertenço. Ademais, nem falar com propriedade pelos gays posso, já que nunca sofri homofobia no mesmo nível que a maior parte.

Ainda assim, peço que pensem sobre tudo que escrevi. Analisem esses grupos e suas atitudes, reflitam sobre vocês mesmos, questionem-se. Façam isso antes de me xingarem e disserem "olha aí, o omi cis branquelo burguês querendo opinar na militância de todo mundo".

Mesmo com todas essas críticas apontadas, acredito que, de alguma forma, estamos caminhando a algum lugar. Do nosso jeito maluco, mas estamos. Creio que chegaremos na mudança, passando por fases mais pacíficas ou conturbadas.

Errar é humano, e quem milita são humanos. A militância deve continuar sua missão e deve procurar sempre o melhor caminho para cumpri-la.



16 de nov. de 2016

Eleições nos EUA

"Ah não, até você vai comentar disso?"

Sim, eu vou. Mas será de uma maneira um pouco diferente. Não vou perder tempo me lamentando pela vitória de um louco extremista num país onde nem moro.

Primeiramente, deixo claro desde o início que eu sou super ultra contra a vitória de Trump. Uma pessoa tão reacionária e medieval como ele nem deveria estar se candidatando a qualquer coisa. Infelizmente, os políticos são reflexos da população.

Não, não adianta vir com essa de que "nem todo eleitor de Trump é racista/LGBTfóbico/machista/segregacionista". Trump ganhou com discurso de ódio, logo a população comprou esse discurso. Sei que não foi o voto da população que o elegeu. Mas as pesquisas populares mostraram que praticamente metade do país estava ao seu favor.

Depois das eleições comecei a ler textos e opiniões de outras pessoas especialistas em política, e descobri pontos a favor de Trump (pouquíssimos, ok?) e pontos contra a Hillary. Nesse exato momento percebi que ela não era uma opção melhor. Eu já sabia disso, só confirmei mais ainda.

Não pude deixar de reparar nas incríveis semelhanças entre essas eleições e as eleições que ocorreram aqui em 2014 e nesse ano. O povo é obrigado a escolher entre opções ruins (pelo visto ganha a "menos pior"), os candidatos não representam a população em totalidade, e ficamos divididos entre "direita e esquerda". A única diferença é que nesse ano de 2016 quem mais venceu foi "a direita". Ou podemos dizer o conservadorismo.

Agora, o que a vitória dele implica no Brasil? Bom... quase nada! Os EUA são a maior economia do mundo, então o máximo que poderiam interferir aqui é na esfera econômica. Não, gente, o mundo não acabou por causa dessa vitória. Trump pode causar uma guerra? Sinceramente, acho difícil. Ele não comanda o país sozinho, o congresso de lá não deixaria ele começar a fazer loucuras.

O meu medo está no simbolismo da vitória de Trump. Se ele venceu com discurso de ódio num país desenvolvido e maior que o nosso, o que impede nas próximas eleições brasileiras a vitória de figuras igualmente ou até mais reacionárias que ele? No quesito intolerância, o Brasil não é tão diferente dos EUA.

Estão vindo tempos difíceis para o Brasil? Acredito que sim.

É triste saber que o discurso de ódio está ganhando espaço em todo lugar.
É triste perceber que nunca temos candidatos realmente progressistas.
É triste ter que aceitar o rumo político atual do mundo.

As eleições de 2016 provaram o quanto está sendo difícil viver no planeta Terra.



9 de nov. de 2016

Enem 2016

O Enem desse ano foi a mesma coisa de sempre: pessoas atrasadas e um tema inevitavelmente político-social. Só acrescentou a ocupação de escolas, que poderiam dificultar a realização da prova e até causar o cancelamento da mesma. Não vou entrar no mérito de discutir isso.

Memes e polêmicas à parte, gostaria de comentar sobre o tema da redação desse ano: "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil".

A influência cristã no país é tão forte que no congresso temos uma bancada evangélica. Continuo sem entender como ela ainda existe, visto que pela Constituição somos um Estado Laico (um Estado em que a religião não pode intervir em questões políticas). 

Membros dessa mesma bancada deixam mais do que explícito que não sabem separar a própria religião da política. E não é incomum discriminarem as religiões africanas, publicamente ou em locais religiosos.

O maior alvo da intolerância religiosa é sem dúvida as religiões africanas; umbanda e candomblé, principalmente. A tendência da população cristã (em especial a evangélica) é agir com hostilidade com essas religiões, pois a maior parcela parte do pressuposto que o cristianismo é a verdadeira crença, e não abrem espaço para outras realidades. Isso, combinado ao racismo estrutural no Brasil, gera essa intolerância constante e diária. A cultura africana, preservada por descendentes dos imigrantes, é marginalizada. E também é apropriada pelas pessoas brancas.

Apesar das religiões africanas serem o maior foco quando a questão é intolerância, vale lembrar que outras crenças também são discriminadas socialmente, como o espiritismo, a wicca, e o islamismo. A ausência de crença, que é o caso do ateísmo, também está inclusa.

Afinal, quais seriam os caminhos para acabar com a intolerância religiosa? Resumidamente, bem resumidamente: educação religiosa. Ensinar sobre as religiões nas escolas, para assim fornecer informação, mostrar a diversidade religiosa e conscientizar sobre a importância de ser tolerante e aceitar essa diversidade. E também educar sobre laicidade! Não há ainda uma proposta dessas. A única proposta que já apareceu foi ensinar cristianismo apenas, outro delírio da bancada evangélica.

Num país verdadeiramente laico e tolerante, todas as religiões conviveriam em harmonia, sem interferir em questões do Estado. É assim que deveria ser. Infelizmente o Brasil vive uma quase teocracia com esses políticos criando leis e projetos absurdos. A tendência é piorar, sinto dizer.

O tema é necessário e reflete nossa situação atual. E não duvido que deve ter havido gente que escreveu sobre "cristofobia" na redação. Sim, há pessoas que acreditam que a população cristã é discriminada por sua religião! A mesma que prega ódio contra minorias sociais e as religiões africanas. Se existe alguma cristofobia, ela é praticada entre as próprias vertentes cristãs, como a evangélica faz com a católica.

Quem sabe o tema não possa ter aberto os olhos de quem ainda sofre da presunção de que sua religião é a única correta?



5 de nov. de 2016

Pensamento do dia

Imaginar o futuro é como ver as estrelas no céu da noite. São várias, não? Diversas, inúmeras, incontáveis! Muitíssimas! Essas são as possibilidades.

Desde criança pensamos no que seremos no futuro. Não há muita pressão quando somos crianças. Mas quando somos adolescentes, a cobrança aumenta. "O que fará da sua vida?"

Óbvio que nossa perspectiva muda com o passar dos anos. Quem nunca quis algo totalmente diferente da carreira que tem ou está construindo hoje? Uma das delícias de ser criança é querer ser várias coisas. Saudades de quando eu queria ser agente secreto.

Acabou a escola. E ainda bem! Agora vem a terrível pergunta: o que farei?

Precisamos fazer algo! De preferência uma faculdade. Claro! Faculdade é o verdadeiro primeiro passo do nosso futuro, da nossa carreira, nosso sucesso. É o que o sistema diz e impõe.

Escolhi meu curso na última hora. Dei aquela breve olhada pelos cursos disponíveis (sim, eu tinha uma vaga ideia do que eu queria) e achei a melhor opção. E foi mesmo a melhor. O curso aborda matérias atraentes, tem preço acessível e a instituição é próxima de casa. Bingo!

No entanto, algo aconteceu comigo nesse finalzinho da graduação que durou metade de uma década, e aconteceu com outras pessoas da minha turma: não me identifico mais tanto com o curso em comparação ao primeiro ano.

"Será que escolhi cedo demais?"

Depois me veio outra pergunta: estamos realmente preparadxs para escolher uma graduação que durará anos aos 16, 17, 18 anos?

E aqui estou eu repetindo o ciclo, agora com a pós-graduação. Novamente o céu estrelado, só que com menos estrelas agora, naturalmente. "O que farei?"

Saudades de quando eu olhava para o céu quando criança.



2 de nov. de 2016

Uma carta para você

Olá, como vai você?

Faz meses que não te vejo. Isso porque nunca te verei de novo. Pelo menos não nesse plano de existência.

Mulher, custava ao menos ter se despedido de mim? Não, né? Você sabia que isso ia acontecer, não sabia? Aposto que sim.

Foi tudo tão rápido. Demorei um tempo para processar a realidade.

Pessoas são assim mesmo: um minuto estão aqui e no outro, puf, somem.

Como hoje é Dia de Finados, não vejo melhor oportunidade para te escrever isso. Céticos podem achar bobagem o que estou fazendo. Não acreditam em pós-vida, e com certeza acham bobagem escrever uma mensagem dessas em um site da Internet. Bom, fodam-se eles e quem mais achar bobagem o que estou fazendo.

Eu queria apenas te agradecer pelo tempo que passamos juntos. Se não fosse você, eu não seria quem sou hoje. Por sua causa, por intervenção sua, fui empurrado (apesar de muita relutância) para o trajeto menos doloroso da vida. Claro que ainda tenho meus problemas, e quem não tem, né? Você não veio aqui para resolver meus problemas, e sim me auxiliar e me apontar uma direção.

Ressalto que você não foi perfeita. Sei que ninguém é. Mas olha, você deve ter chegado perto da perfeição. Haja paciência! Quantas vezes não brigamos e quantas vezes não te esgotei? Você quis desistir de mim umas três vezes. Ah, vai, foi um pouco divertido, admita.

Em um mundo alternativo onde nunca nos conhecemos, eu teria caído no abismo e cavado mais fundo ainda. Como eu estaria? Perdido, totalmente. Morto, talvez. Até seria um alívio.

Todo aprendizado, ensinamento e experiência que tive por sua causa para sempre guardarei em mim. Isso nunca vai mudar. O passado não pode ser mudado. Com você eu aprendi que as pessoas têm sempre um propósito em nossas vidas. E com você também aprendi que elas partem quando não precisamos mais delas.

Se o Universo decidiu que você deveria sair desse plano, é porque sua missão aqui acabou. E seu tempo comigo também. Nosso tempo. Fiquei meio desnorteado, mas aprendi a aceitar e seguir em frente.

Palavras não cabem numa única mensagem e eu não gosto de sentimentalismo. Finalizo aqui, já falei o suficiente. E fique satisfeita com isso, pois gastei preciosos minutos do meu dia para escrever isso tudo.

Talvez um dia nos encontraremos de novo. Em outro plano. Em outra vida.

Nesse dia teremos a mais longa conversa que poderíamos ter. O tempo desse mundo terreno é tão limitado. No mundo astral temos a eternidade. Deixe uma garrafa de vinho pronta já. Duvido que aí tenha coca-cola.

Assim como a alma é eterna, nossa amizade assim será.