A comunidade transgênero trouxe, junto com sua luta por seus direitos, muitos debates questionando as imposições e noções de gênero. Desde a formação do movimento LGBT, pessoas trans combatem ativamente um sistema cisnormativo (que está na sociedade, na medicina e nas religiões) que nega suas identidades.
Militantes e ativistas reuniram-se e, utilizando-se de suas vivências e perspectivas, formaram um conjunto de termos utilizados dentro da comunidade transgênero. Termos que também auxiliam na luta e na desconstrução do sistema discriminatório em que vivemos.
Identidade de gênero: é o gênero com o qual a pessoa se identifica pessoalmente.
Expressão de gênero: é o comportamento da pessoa, que independe de seu gênero. É composta pelos gestos, aparência e vestimenta. Pode ser feminina, masculina, andrógina, neutra ou alguma outra.
Sexo biológico: é composto por cromossomos sexuais, gônadas, genitais e hormônios. As pessoas podem ser designadas como de um dos sexos predominantes (feminino ou masculino) ou como intersexo. O gênero das pessoas é socialmente definido pelo sexo biológico ou ao menos pelo fenótipo no caso de intersexos.
Gênero binário: é um gênero que pertence ao padrão social homem-mulher, seja a pessoa cis ou trans. É um padrão presente na maior parte do mundo e um conceito ocidental.
Gênero não-binário: todo gênero fora do padrão social. Mais especificamente, toda identidade que não é nem totalmente homem e nem totalmente mulher.
Cis: termo genérico para cisgêneros.
Cisgênero: pessoa que vivencia a cisgeneridade - que tem uma identidade de gênero de acordo com o gênero imposto no nascimento. São ou homens ou mulheres.
Trans: termo genérico para transgêneros (e transexuais).
Transgênero: pessoa que vivencia a transgeneridade - que tem uma identidade de gênero que não está de acordo com as normas sociais ou o gênero imposto no nascimento. Pode ser de gênero binários ou não-binário. Há países - como o Brasil - que utilizam ainda o termo transexual, assim como pessoas trans que o adotam em suas identidades. No entanto, o consenso internacional é de que transgênero é uma palavra mais apropriada.
Transição: representa o tempo em que a pessoa trans passa a se adequar ao seu gênero, deixando de viver como no gênero imposto. Pode incluir ou não o processo gradual em que a pessoa modifica seu corpo através de hormonização e/ou procedimentos cirúrgicos (mastectomia, próteses, implantes, transgenitalização).
Disforia: toda sensação de inconformidade com o próprio corpo, havendo necessidade de modificá-lo para assim refletir melhor sua verdadeira identidade. Nem toda pessoa trans tem alguma disforia.
Cirurgia de redesignação sexual: ou também transgenitalização, é todo o processo científico realizado para alterar a genitália de uma pessoa trans. Antigamente chamada de "cirurgia de mudança sexo" (não se chama mais assim). Nem toda pessoa trans tem vontade de fazer a cirurgia.
Nome social: é o nome pelo qual a pessoa trans deve ser atendida, pois é o nome que a mesma escolheu para sua identificação. Deve ser respeitado!
Passabilidade: são os quesitos para que uma pessoa trans seja "aceita" baseados na aparência e na corporalidade. Quanto mais mulheres e homens trans se encaixarem nas ideias e nos moldes do que a sociedade considera como mulher e homem (em outras palavras, quanto mais se parecem com pessoas cisgênero normativas), maior a aceitação.
Maldenominar: o ato de desconsiderar a identidade de gênero da pessoa, seja na prática (referindo-se a ela pelo gênero errado) ou mesmo em pensamento (ex: a pessoa se identifica como mulher, mas na sua cabeça ela será sempre um homem). Pode ser proposital ou acidental, mas mesmo que seja acidental indica preconceitos internalizados.
Transfobia: qualquer tipo de discriminação contra pessoas trans. Inclui: discurso de ódio, agressão física e/ou verbal, negação de direitos, desrespeito à identidade da pessoa, hiper-sexualização, e silenciamento.
Cisnormatividade (ou cissexismo): basicamente representa toda ideia de que o gênero é definido pelo sexo biológico. Toda imposição de gênero é essencialmente cisnormativa, assim como a discriminação contra a comunidade trans.
Binarismo: é a ideia de que as pessoas se separam apenas em homem-sexo masculino e mulher-sexo feminino. Está dentro da cisnormatividade.
Exorsexismo: um tipo de cisnormatividade que oprime e discrimina exclusivamente pessoas de gêneros não-binários.
Transmisoginia: é a discriminação específica contra mulheres trans, sendo a intersecção da cisnormatividade com o sexismo (oriundo do patriarcado). Se diferencia da misoginia devido à transfobia envolvida.
Transmisandria: é a discriminação específica contra homens trans, baseando-se apenas na cisnormatividade (visto que não existe sexismo contra o sexo/gênero masculino). É um termo sem uso prático.
FTM (female to male): uma possível tradução seria "de mulher para homem". Um termo usado para homens trans.
MTF (male to female): "de homem para mulher". Usado para mulheres trans.
*Obs: ambos os termos são controversos para militantes e transativistas, pois reforçam a ideia de que transexuais nascem de um sexo e mudam para outro. Esses grupos defendem que sexo biológico é uma construção social.
AFAB (assigned female at birth): "designadx mulher no nascimento", termo referente às pessoas transgênero que nasceram do "sexo feminino". É mais usado por homens trans, mas pode ser usado por qualquer pessoa registrada como mulher que não é mulher.
AMAB (assigned male at birth): "designadx homem no nascimento", termo referente às pessoas transgênero que nasceram do "sexo masculino". É mais usado por mulheres trans, mas também pode ser usado por qualquer pessoa registrada como homem que não é homem.
Transfeminina: toda pessoa designada homem no nascimento que tem um gênero relacionado com feminilidade/mulheridade. As mulheres trans são o maior exemplo. Pode ser uma identidade não-binária.
Transmasculino: toda pessoa designada mulher no nascimento que tem um gênero relacionado com masculinidade/hombridade. Os homens trans são o maior exemplo. Pode ser uma identidade não-binária.
Pessoa ovariada: um termo mais formal e acadêmico para se referir às pessoas que possuem sistema reprodutor (ou genital) ovariano, que dentro da biologia atual é chamado de sexo feminino ou também fêmea típica. O conceito é usado para evitar definições científicas que reforcem a cisnormatividade e o binarismo.
Pessoa testiculada: um termo mais formal e acadêmico para se referir às pessoas que possuem sistema reprodutor (ou genital) testicular, que dentro da biologia atual é chamado de sexo masculino ou também macho típico. O conceito é usado para evitar definições científicas que reforcem a cisnormatividade e o binarismo.
Crossdresser: uma pessoa que se veste com roupas tradicionalmente de outro gênero, podendo ser por alguma profissão ou para vivenciar temporariamente o outro gênero.
Drag queen: personagem que expressa artisticamente feminilidade no comportamento e na aparência. Pode ser interpretada por qualquer pessoa e não é uma identidade de gênero.
Drag king: personagem que expressa artisticamente masculinidade no comportamento e na aparência. Pode ser interpretado por qualquer pessoa e não é uma identidade de gênero.
Androginia: expressão e aparência que misturam características femininas e masculinas. Pessoas cis ou trans podem ser andróginas. Há pessoas trans que se identificam como andróginas.
Butch: expressão de gênero muito masculina de qualquer pessoa de um gênero que não seja masculino.
Femme: expressão de gênero muito feminina de qualquer pessoa de um gênero que não seja feminino.
NCG: do inglês GNC (gender non-conforming), significa "não-conformidade de gênero", que é quando uma pessoa tem uma expressão de gênero que, socialmente, não está "de acordo" com o gênero imposto ou binário. Ou seja, homens e mulheres que não expressam, respectivamente, apenas masculinidade e feminilidade.
Destransição: é quando uma pessoa que está transicionando, mas por algum motivo decide parar e retorna às características físicas e/ou à apresentação do gênero designado.
Queer: originalmente um termo utilizado de forma pejorativa contra LGBTs. Depois foi reapropriado por militantes e ativistas do movimento LGBT+. Pode ser usado como sinônimo de "gay" ou por uma pessoa cuja(s) identidade(s) estão fora da heteronorma e/ou da cisnorma.
Genderqueer: é um termo amplo e de cunho mais político. Pode ser usado por qualquer pessoa de gênero não-binário, servindo também como termo guarda-chuva para as identidades não-binárias.
Pode conferir meu outro artigo sobre diversidade de gênero
aqui.