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8 de dez. de 2018

Pornô e Tumblr

AC: censura, pornografia, menção a pedofilia, marginalização sexual.



Recentemente o site Tumblr anunciou que baniria todo conteúdo pornográfico e gerou muita polêmica. O que pode parecer um ato justo e heroico para muites (*cof cof* reaças e moralistas), na verdade consiste numa grande onda de censura cujos alvos maiores são grupos marginalizados.

Usaram como desculpa o combate a pessoas e conteúdos envolvides com pedofilia. Em vez de procurarem adotar políticas eficientes contra isso, decidiram simplesmente apagar toda "pornografia" do site. Vou explicar brevemente os reais efeitos disso.

Primeiro que as ações se mostraram caóticas ao censurarem blogs e postagens que não tinham nada de conteúdo sexual. Muitas pessoas passaram pelo estresse de apelar ao sistema do site e pedir a volta de blogs e conteúdos. E muitas delas eram pessoas LGBTQIAPN+ (coincidência?).

Segundo que muito do conteúdo sexual do Tumblr é utilizado também para falar de prevenção e educação sexual, temas de extrema importância para a juventude que está iniciando a puberdade; e em especial a juventude heterodissidente, que tem sua sexualidade marginalizada. Inclusive há profissionais do sexo fazendo dinheiro pelo site. Ah, e lembrando que educação sexual é uma grande arma contra pedofilia por ensinar sobre consentimento e toques indevidos.

E terceiro e último, banir pornografia fere diretamente as liberdades sexuais des usuáries do site. Assim, não digo que a pornografia não possa ser problemática e não possa ser criticada. No entanto as pessoas continuam tendo o direito de consumi-la para seu próprio prazer. Em outras palavras: as pessoas têm o direito de gozar em paz. Além de que também fere o direito das pessoas de produzirem conteúdos eróticos, como no caso de muites fetichistas.

Então, no fim das contas, pessoas LGBTQIAPN+, profissionais do sexo, juventudes pubescentes, e todes tentando usufruir de alguma liberdade sexual estão sendo atacades por essa nova política, perdendo espaços seguros de liberdade e conhecimento. Muitos blogues de diversidade, incluindo aqueles que cunham identidades e fazem postagens construtivas, estão correndo risco de cair.

Isso não foi apenas um tiro no pé pelo Tumblr ter bastante conteúdo erótico e ser muito usado por isso. Mas também porque ainda presta um desserviço ao combate que diz estar fazendo: contra pedofilia. Ouvi dizer ainda que muites pedófiles migraram para outros sites como o Twitter.

Parabéns, Tumblr, pela merda que está fazendo.



31 de out. de 2018

O que é sexo?

AC: menções a sexo e genitálias, descrição de atos sexuais, menção a abuso.



Ano passado participei de uma roda de conversa com pessoas não-binárias e a-espectrais. E chegamos a entrar no tópico sobre sexo e sexualidade. A princípio achei um pouco estranho pessoas assexuais e do espectro puxarem esse tema. Mas teve um diálogo fantástico.

Discutimos justamente a pergunta do título do artigo. O que torna o sexo sexo? O que é sexo de verdade? Existem critérios para determinar um ato como sexo ou somos nós que decidimos se nossos atos são sexo?

Uma das pessoas lá, que era demi e gris, disse que considerava um carinho na cabeça algo tão prazeroso que poderia ser comparado ao sexo descrito por alossexuais. E isso me fez pensar no quanto construímos uma noção tão limitada de sexo baseando-se numa perspectiva alossexual. Uma participante enriqueceu bem mais a conversa adicionando construções do patriarcado e todo o mecanismo da pornografia em padronizar o sexo.

Já sabemos o quanto é problemático considerar sexo apenas quando há penetração. Porque isso invalidaria as relações de praticantes de gouinage, principalmente pessoas com vagina. E poderia ser usado como argumento para invalidar certos casos de abuso. Mas então veio meu questionamento: precisamos tocar a pessoa?

Eu já havia feito sexo virtual duas vezes e eu senti como se tivesse transado "fisicamente" com a pessoa. Pra mim aquilo foi válido, foi real. Me conectei com a pessoa e gozamos através de estímulos visuais entre nós. Como isso não pode ser de verdade?

Foi refletindo sobre outras coisas que fiz antes da minha "primeira vez" (que aconteceria dois meses depois dessa roda) que me fizeram perceber que virgindade nem tem sentido. Eu não soube mais dizer quando foi a tal da primeira vez. Mas claro que isso não apaga o fato de que o que fiz dois meses depois foi algo marcante, pois foi bem diferente de sexo virtual ou masturbação mútua. O primeiro sexo oral e o primeiro sexo anal ainda têm um peso na memória.

Saí dessa conversa sem saber o que exatamente define sexo, mas saí dela com uma visão mais ampla que permite várias respostas à pergunta. Sexo não precisa ser físico, não precisa nem ter ejaculação. E se você quiser considerar que o sexo começou no beijo ou na simples troca de olhares, você pode. É a sua relação, é a sua vivência.

Mesmo agora acreditando que o sexo não necessita ser físico, não é todo flerte ou toda carícia que o considero como tal. É um tanto confuso, sinceramente. O que pude tirar da roda de conversa e reflexões posteriores é que precisamos redefinir nossa concepção de sexo. E precisamos estudar mais a assexualidade e o espectro assexual; assim explorando horizontes até então impensáveis sobre intimidade, prazer e o ato sexual em si.



9 de jun. de 2018

O sexo biológico

Há pouco tempo perambulou por aí pela Internet essa imagem:


E eu propus a seguinte resposta: E) Masculino, masculina, provavelmente homossexual.

Provavelmente homossexual porque, bem, não foi constatada uma atração exclusiva por homens. N pode ser bi, pan, poli, oni, assexual homorromântico, entre muitas outras possibilidades.

Agora, sobre o sexo. Primeiramente, se N já estava com sua documentação retificada, por lei, seu sexo é masculino. Mas sei que a questão foi formulada pensando na corporalidade de nascença, e muita gente também nem se importa com o que tem respaldo por lei.

Não apenas gêneros começaram a ser questionados como também os sexos. Como foram classificados? Por que são classificados? Para que são classificados? Vamos discutir então!

Primeiro de tudo, a classificação dos sexos em masculino e feminino já é uma exclusão aos intersexos por definição. Ainda assim corpos intersexos são logo mutilados justamente para serem encaixados em uma dessas definições. E para se encaixarem no que a sociedade considera como um sexo aceitável, para também serem encaixados na visão social de homem e mulher.

Pois bem, antes falam que a biologia define gênero, mas sexos "adversos" devem ser "corrigidos" para então a pessoa "ser homem/mulher"? Percebe-se aqui então que: nem a biologia sexual é binária e misturam-se noções sociais (subjetivo, afinal são mutáveis) com anatomia (objetivo, pois é material). Então... nada é muito absoluto como tanto afirmam, né?

Sem contar que as noções do ser homem e do ser mulher mudam de cultura em cultura, de época em época. Nem isso é absoluto, até isso é subjetivo. Mas vamos focar no sexo.

Sexo é composto por cromossomos, hormônios, gônadas e genitália. Os sexos definidos como masculino e feminino são bem construídos, com padrões a serem atendidos. Nos ensinam que o masculino é XY, testosterona, testículos e pênis; e o feminino é XX, progesterona e estrogênio, ovários e vulva.

Pois bem, nem vou falar das pessoas intersexo e da diversidade imensa na intersexualidade, vou falar da diversidade dentro dos sexos "binários": existem muitas variações hormonais entre as pessoas. Pode haver atividade baixa ou alta dos hormônios predominantes, ou pode haver atividade dos outros hormônios (pois todos estão presentes em todos os corpos).

E tais atividades produzem variações nas anatomias, que podem entrar ou não em discordância com outras noções sociais do que são corpos "masculinos" ou "femininos" (tamanho do pênis é associado com virilidade, tamanho dos seios com feminilidade, etc).

Agora, a mera classificação de masculino e feminino. O que exatamente é masculino e feminino? O que torna um pênis masculino? O que torna uma vulva feminina? O que determinou que o cromossomo Y é masculino? O que determinou que o cromossomo X é feminino (isso quando não acompanhado do Y, porque... sei lá)?

Desafio alguém a dissertar sobre tudo isso sem cair em achismos, estereótipos de gênero, explicações vagas, termos abstratos ou ideias mutáveis sobre masculinidade e feminilidade.

Até agora a única função que percebi dessas classificações sexuais é apenas para impor os gêneros binários às pessoas, junto com papéis e comportamentos de gênero (que podem ser opressivos até mesmo para as pessoas cis). Se gênero é questionável, por que sexo não o seria também? Sexo não é binário e classificá-lo não tem base científica.

Por isso prefiro seguir os pensamentos da Teoria Queer e aceitar que o sexo esteja sempre de acordo com o gênero. Portanto nosso amigo N, um homem trans, tem sexo masculino, porque seu gênero é masculino. Ele é homem; sua vulva, seus ovários e seu útero são de homem.

"Ah, se agora as pessoas podem dizer o que quiser do seu sexo, como fica as questões de saúde?"

Ora, a comunidade médica que crie um novo sistema de identificação sexual!

Uma alternativa que imaginei seria utilizar códigos que definissem que tipo de genitália, gônadas, hormônios e cromossomos a pessoa tem. Basta identificar o tipo sexual da pessoa ao nascer, registrar seu código, e pronto, problema resolvido. E a pessoa pode nomear seu sexo como quiser, dentro de sua subjetividade enquanto ser humano (que não interessa ao sistema de saúde).

Isso resolveria também muitos problemas de pessoas transicionando biologicamente e de pessoas intersexo. Ideias existem, só não há força de vontade. Classificações sexuais apenas servem para sustentar o cissexismo e o diadismo.

É bizarra essa necessidade de mencionar sexo "masculino"/"feminino" quando se trata de pessoas trans. Isso definitivamente não é respeitar a identidade da pessoa, parece sempre uma forma de dizer que "no fim ela é o que nasceu".

Corporalidade é um assunto íntimo. E nem está inclusa nas definições de atrações ou de identidade de gênero. Saúde? Ora, quem tem próstata vai em proctologista, quem tem vagina vai em ginecologista, e etc. Simples. Só precisam saber o órgão, não classificação do sexo.

Finalmente estamos percebendo o que sexo realmente é: apenas sexo.



24 de jan. de 2018

Animais têm gênero?

Começarei com a resposta: não.

Mas tenha calma, o artigo ainda tem o que dissertar.

As concepções de gênero são construções da humanidade. A identidade de gênero é uma característica biopsicossocial e as noções sociais de homem e mulher estão impregnadas com muitas ideias normativas. Com tudo isso, é evidente que animais não têm gênero - são essencialmente agêneros.

Podem ter algum entendimento de seu sexo (principalmente nas espécies separadas em macho e fêmea) e seus papeis na reprodução, comportamento que fazem por instinto. E há casos de animais de um sexo, em determinadas circunstâncias, adotando a "posição" do outro sexo. Ainda assim, estamos falando de sexo, não de gênero.

E para verem como é falho impor gênero a espécies não-humanas, se colocamos "machos" e "fêmeas" nas caixinhas, respectivamente, masculina e feminina de acordo com seus sexos, como lidar com os seres hermafroditas? Não deveria haver uma linguagem ou classificação específica para eles?

Agora entramos numa questão polêmica: utilizar linguagem masculina para os machos e feminina para as fêmeas não é contribuir para cisnormatividade? Sim, contribui sim. Assim como nas pessoas estamos impondo um gênero de acordo com sexos definidos como masculino e feminino. A diferença é que animal não se importa, afinal não compreendem o que é gênero.

Afinal, qual seria a solução dessa questão? Bom, particularmente acharia ideal utilizar uma linguagem que transmita neutralidade ou ao menos não reflita gêneros. Um exemplo, poderiam utilizar neopronomes (como elu) para os animais.

Claro que é uma coisa difícil e que pode gerar controvérsias. Eu mesmo acho difícil chamar meus gatos e minhas gatas de um modo que não seja cisnormativo. Mas meu ponto aqui é que essas imposições cisnormativas aos animais são apenas mais uma forma de manter essa opressão.

E sinceramente, que ridículo a gente querer reforçar gênero nos animais colocando neles acessórios tradicionalmente masculinos ou femininos, achando isso uma coisa bonitinha, sendo que para o animal não faz sentido e ainda pode causar algum incômodo.

Independentemente da solução, com certeza ela terá as mesmas barreiras que a desconstrução da cisnormatividade na humanidade. Ao menos os animais têm a sorte de não sofrerem discriminações ou violências de gênero.



10 de dez. de 2017

Minhas primeiras vezes

O título é muito sugestivo, né? Primeiras vezes? Quais primeiras vezes? (tem mais de uma primeira vez?)

Sim, hoje vou falar de primeiras vezes. Das minhas primeiras vezes. Esse é o trecentésimo artigo e acho justo dedicá-lo apenas a essa maravilhosa pessoa que sou eu.

Sim, o artigo será mais descontraído. Militantes precisam de descanso também, viu?

Posso falar de tantas primeiras vezes. A primeira vez que fui na praia, a primeira vez que fui no cinema, a primeira vez que joguei um videogame, a primeira vez que andei de bicicleta, a primeira vez que madruguei fora de casa, a primeira vez que fui numa balada, enfim, são tantas!

Tem aquelas primeiras vezes que são bastante peculiares. Como a primeira vez que dormi pelado (foi esquisito, mas depois me acostumei), a primeira vez que cozinhei minha própria comida (e estava deliciosa!), a primeira vez em que acordei cedo para ir à escola (ai que horror), a primeira vez que fumei maconha (engasguei com a fumaça), a primeira vez que comprei algo inútil com meu dinheiro (aquela sensação de gastar por gastar), ou a primeira vez que comi uma coxinha de jaca (para minha surpresa é saborosa).

Mas chega disso tudo porque sei que muitxs de vocês devem estar querendo ler sobre coisas mais íntimas. Ok, vou agora para as primeiras vezes mais... pessoais. u.u

A primeira vez que vi um pornô foi ótima pela novidade, mas tensa pelo medo de ser flagrado. A primeira vez que me masturbei foi maravilhosa, melhor ainda sem o sentimento de culpa. A primeira vez que mandei nudes foi muito espontânea, taquei o foda-se para a insegurança. A primeira vez que beijei foi boa, porém expectativas romantizadas foram quebradas. A primeira vez que fiquei pelado na frente de outra pessoa foi gostosamente impulsiva. A primeira vez que fiz sexo virtual foi cheia de tesão, libertei minha safadeza interna. A primeira vez que fiz sexo físico foi estranha e engraçada, nem boa ou ruim.

Se espero mais primeiras vezes? Clarooo! Tem tanta coisa que quero fazer, tantas comidas e bebidas a serem experimentadas, lugares para ir e explorar, livros para ler, enfim. E ainda aguardo meu primeiro sexo a três (p-o-l-ê-m-i-k-a).

É isso? Sim, é isso. Os maiores detalhes guardo para minha alma. =^.^=

Um brinde a todas as minhas primeiras vezes. Pois se não fossem por elas eu não teria histórias para contar. Pois sem elas eu não teria vivido. Pois caso não tivessem ocorrido, então não seriam primeiras (óbvio).



21 de out. de 2017

Terminologia I

A comunidade intersexo é relativamente nova. Pessoas intersexo tiveram sua existência historicamente apagada ou transformada num tabu por não se enquadrarem totalmente nos dois sexos mais comuns e definidos como normais.

Junto com a comunidade trans, que acolheu intersexos por dividirem sofrimentos muito similares, a comunidade intersexo criou nomenclaturas e reformulou conceitos para trazerem uma visão diferente sobre o que foi sempre definido socialmente como sexo biológico e como gênero. Vale lembrar que nem todos os termos aqui podem ser conhecidos pelo mundo.


Intersexo: pessoa que tem um sexo biológico que não se encaixa no padrão binário determinado pela comunidade científica, tendo um sexo considerado indefinido ou que mistura características dos perissexos. Existem pelo menos 40 variações intersexos registradas.
Perissexo: pessoa que tem um sexo biológico que se encaixa no padrão binário determinado, ou seja, ou são do "sexo feminino" ou do "sexo masculino". Pessoas perissexo podem ainda ser chamadas de diádicas ou endossexos em outras fontes.
Altersexo: termo utilizado principalmente, mas não exclusivamente, para personagens da ficção que possuem um sexo que não existe naturalmente ou que modificaram o sexo por algum motivo. Pode ser usado por pessoas que: são intersexo e transgênero, alteraram sua genitália ou fizeram alguma terapia hormonal, ou têm uma visão de que seu "verdadeiro" corpo não se encaixa nos sexos binários. Dois exemplos de altersexo são salmaciane/bigenital (pessoa que deseja uma genitália mista) e angenital (pessoa que não deseja ter genitália ou um sexo).
Sexo biológico: composto por cromossomos sexuais, hormônios, gônadas e genitália. Naturalmente as pessoas podem ser classificadas como perissexo ou intersexo. A ciência atual classifica pessoas perissexo em sexo feminino e sexo masculino.
Sexo feminino: para a ciência é a fêmea típica da espécie humana. Esse sexo é definido por cromossomos XX, presença de ovários e útero, genitália vaginal, níveis "aceitáveis" de progesterona e estrogênio, e os desenvolvimentos hormonais esperados.
Sexo masculino: para a ciência é o macho típico da espécie humana. Esse sexo é definido por cromossomos XY, presença de testículos, genitália peniana, níveis "aceitáveis" de testosterona, e os desenvolvimentos hormonais esperados.
Terceiro sexo: há países que designam bebês intersexo (ou com uma genitália ambígua) como um terceiro sexo (ou gênero). É uma definição considerada discriminatória, pois reduz todas as variações intersexuais a um único sexo. Num entanto, dependendo do país e sua legislação, pode trazer o benefício de evitar cirurgias "corretivas" nos bebês.
Diadismo: toda opressão e discriminação estruturais cometidas diretamente contra pessoas intersexo. O preconceito específico contra esse grupo é a intersexofobia.
Mutilação genital: é como a comunidade intersexo chama as cirurgias feitas em bebês intersexos. Há casos em que é necessária uma intervenção médica, mas cirurgias são impostas muito mais pelo pensamento diadista de que a genitália intersexual é deformada e que é necessário corrigi-la para poder identificar o bebê como um dos gêneros binários. Uma das pautas da militância intersexo é ter autonomia sobre seu corpo, pois defendem que seu sexo é natural e aceitável.
DDS: sigla de "desordens de desenvolvimento sexual" é um termo médico utilizado para definir toda variação de cromossomos sexuais, gônadas e anatomia consideradas atípicas. As variações intersexuais são englobadas pelo termo, e por isso ele não é aceito pela comunidade intersexo.
Ipsogênero: termo para pessoas intersexo que se identificam com o gênero designado a elas, seja masculino ou feminino. Serve como um diferencial de cisgênero devido ao preconceito estrutural sofrido por pessoas intersexos, que não permite que tenham os mesmos privilégios e aceitação que pessoas cisgênero(-perissexo).
Intergênero: uma identidade de gênero influenciada ou definida pela intersexualidade da pessoa. Pode ser apenas uma descrição da pessoa se definir como de um gênero por ser intersexo (então aqui pode-se incluir pessoas ipso e trans binárias), ou também uma identidade não-binária específica.
Segue abaixo seis identidades de gênero influenciadas por intersexualidade.
Duogênero: descreve uma combinação dos gêneros binários.
Amalgagênero: um gênero afetado pela intersexualidade ou misturado com a identidade intersexo da pessoa.
Divisigênero: um gênero totalmente separado dos binários.
Neutroix: um gênero neutro.
Vacagênero: descreve uma ausência de gênero.
Ingênero/Interagênero: descreve a incapacidade de sentir gêneros.
Resbis: pessoa intersexo em conflito com seu gênero e tentando se reconciliar com ele. Ou quando a pessoa já teve esse conflito e agora está em harmonia com seu gênero.
Ultergênero: termo para pessoas intersexo que não se identificam com o gênero designado a elas, mas também não querem utilizar o termo transgênero por não se sentirem contempladas por ele devido a sua experiência como intersexo. Intergênero poderia ser encaixado como um tipo de identidade ulter.
Hermafrodita: antigamente era utilizado para definir pessoas intersexo. No entanto, pelo conceito e pela estigmatização consequente, o termo não é mais utilizado. Hermafroditismo é uma condição sexual presente em outras espécies da natureza, onde um ser vivo possui características sexuais tanto de macho quanto de fêmea, podendo também se reproduzir assexuadamente. Tal condição nunca foi encontrada na espécie humana.



13 de mai. de 2017

Terminologia T

A comunidade transgênero trouxe, junto com sua luta por seus direitos, muitos debates questionando as imposições e noções de gênero. Desde a formação do movimento LGBT, pessoas trans combatem ativamente um sistema cisnormativo (que está na sociedade, na medicina e nas religiões) que nega suas identidades.

Militantes e ativistas reuniram-se e, utilizando-se de suas vivências e perspectivas, formaram um conjunto de termos utilizados dentro da comunidade transgênero. Termos que também auxiliam na luta e na desconstrução do sistema discriminatório em que vivemos.



Identidade de gênero: é o gênero com o qual a pessoa se identifica pessoalmente.
Expressão de gênero: é o comportamento da pessoa, que independe de seu gênero. É composta pelos gestos, aparência e vestimenta. Pode ser feminina, masculina, andrógina, neutra ou alguma outra.
Sexo biológico: é composto por cromossomos sexuais, gônadas, genitais e hormônios. As pessoas podem ser designadas como de um dos sexos predominantes (feminino ou masculino) ou como intersexo. O gênero das pessoas é socialmente definido pelo sexo biológico ou ao menos pelo fenótipo no caso de intersexos.
Gênero binário: é um gênero que pertence ao padrão social homem-mulher, seja a pessoa cis ou trans. É um padrão presente na maior parte do mundo e um conceito ocidental.
Gênero não-binário: todo gênero fora do padrão social. Mais especificamente, toda identidade que não é nem totalmente homem e nem totalmente mulher.
Cis: termo genérico para cisgêneros.
Cisgênero: pessoa que vivencia a cisgeneridade - que tem uma identidade de gênero de acordo com o gênero imposto no nascimento. São ou homens ou mulheres.
Trans: termo genérico para transgêneros (e transexuais).
Transgênero: pessoa que vivencia a transgeneridade - que tem uma identidade de gênero que não está de acordo com as normas sociais ou o gênero imposto no nascimento. Pode ser de gênero binários ou não-binário. Há países - como o Brasil - que utilizam ainda o termo transexual, assim como pessoas trans que o adotam em suas identidades. No entanto, o consenso internacional é de que transgênero é uma palavra mais apropriada.
Transição: representa o tempo em que a pessoa trans passa a se adequar ao seu gênero, deixando de viver como no gênero imposto. Pode incluir ou não o processo gradual em que a pessoa modifica seu corpo através de hormonização e/ou procedimentos cirúrgicos (mastectomia, próteses, implantes, transgenitalização).
Disforia: toda sensação de inconformidade com o próprio corpo, havendo necessidade de modificá-lo para assim refletir melhor sua verdadeira identidade. Nem toda pessoa trans tem alguma disforia.
Cirurgia de redesignação sexual: ou também transgenitalização, é todo o processo científico realizado para alterar a genitália de uma pessoa trans. Antigamente chamada de "cirurgia de mudança sexo" (não se chama mais assim). Nem toda pessoa trans tem vontade de fazer a cirurgia.
Nome social: é o nome pelo qual a pessoa trans deve ser atendida, pois é o nome que a mesma escolheu para sua identificação. Deve ser respeitado!
Passabilidade: são os quesitos para que uma pessoa trans seja "aceita" baseados na aparência e na corporalidade. Quanto mais mulheres e homens trans se encaixarem nas ideias e nos moldes do que a sociedade considera como mulher e homem (em outras palavras, quanto mais se parecem com pessoas cisgênero normativas), maior a aceitação.
Maldenominar: o ato de desconsiderar a identidade de gênero da pessoa, seja na prática (referindo-se a ela pelo gênero errado) ou mesmo em pensamento (ex: a pessoa se identifica como mulher, mas na sua cabeça ela será sempre um homem). Pode ser proposital ou acidental, mas mesmo que seja acidental indica preconceitos internalizados.
Transfobia: qualquer tipo de discriminação contra pessoas trans. Inclui: discurso de ódio, agressão física e/ou verbal, negação de direitos, desrespeito à identidade da pessoa, hiper-sexualização, e silenciamento.
Cisnormatividade (ou cissexismo): basicamente representa toda ideia de que o gênero é definido pelo sexo biológico. Toda imposição de gênero é essencialmente cisnormativa, assim como a discriminação contra a comunidade trans.
Binarismo: é a ideia de que as pessoas se separam apenas em homem-sexo masculino e mulher-sexo feminino. Está dentro da cisnormatividade.
Exorsexismo: um tipo de cisnormatividade que oprime e discrimina exclusivamente pessoas de gêneros não-binários.
Transmisoginia: é a discriminação específica contra mulheres trans, sendo a intersecção da cisnormatividade com o sexismo (oriundo do patriarcado). Se diferencia da misoginia devido à transfobia envolvida.
Transmisandria: é a discriminação específica contra homens trans, baseando-se apenas na cisnormatividade (visto que não existe sexismo contra o sexo/gênero masculino). É um termo sem uso prático.
FTM (female to male): uma possível tradução seria "de mulher para homem". Um termo usado para homens trans.
MTF (male to female): "de homem para mulher". Usado para mulheres trans.
*Obs: ambos os termos são controversos para militantes e transativistas, pois reforçam a ideia de que transexuais nascem de um sexo e mudam para outro. Esses grupos defendem que sexo biológico é uma construção social.
AFAB (assigned female at birth): "designadx mulher no nascimento", termo referente às pessoas transgênero que nasceram do "sexo feminino". É mais usado por homens trans, mas pode ser usado por qualquer pessoa registrada como mulher que não é mulher.
AMAB (assigned male at birth): "designadx homem no nascimento", termo referente às pessoas transgênero que nasceram do "sexo masculino". É mais usado por mulheres trans, mas também pode ser usado por qualquer pessoa registrada como homem que não é homem.
Transfeminina: toda pessoa designada homem no nascimento que tem um gênero relacionado com feminilidade/mulheridade. As mulheres trans são o maior exemplo. Pode ser uma identidade não-binária.
Transmasculino: toda pessoa designada mulher no nascimento que tem um gênero relacionado com masculinidade/hombridade. Os homens trans são o maior exemplo. Pode ser uma identidade não-binária.
Pessoa ovariada: um termo mais formal e acadêmico para se referir às pessoas que possuem sistema reprodutor (ou genital) ovariano, que dentro da biologia atual é chamado de sexo feminino ou também fêmea típica. O conceito é usado para evitar definições científicas que reforcem a cisnormatividade e o binarismo.
Pessoa testiculada: um termo mais formal e acadêmico para se referir às pessoas que possuem sistema reprodutor (ou genital) testicular, que dentro da biologia atual é chamado de sexo masculino ou também macho típico. O conceito é usado para evitar definições científicas que reforcem a cisnormatividade e o binarismo.
Crossdresser: uma pessoa que se veste com roupas tradicionalmente de outro gênero, podendo ser por alguma profissão ou para vivenciar temporariamente o outro gênero.
Drag queen: personagem que expressa artisticamente feminilidade no comportamento e na aparência. Pode ser interpretada por qualquer pessoa e não é uma identidade de gênero.
Drag king: personagem que expressa artisticamente masculinidade no comportamento e na aparência. Pode ser interpretado por qualquer pessoa e não é uma identidade de gênero.
Androginia: expressão e aparência que misturam características femininas e masculinas. Pessoas cis ou trans podem ser andróginas. Há pessoas trans que se identificam como andróginas.
Butch: expressão de gênero muito masculina de qualquer pessoa de um gênero que não seja masculino.
Femme: expressão de gênero muito feminina de qualquer pessoa de um gênero que não seja feminino.
NCG: do inglês GNC (gender non-conforming), significa "não-conformidade de gênero", que é quando uma pessoa tem uma expressão de gênero que, socialmente, não está "de acordo" com o gênero imposto ou binário. Ou seja, homens e mulheres que não expressam, respectivamente, apenas masculinidade e feminilidade.
Destransição: é quando uma pessoa que está transicionando, mas por algum motivo decide parar e retorna às características físicas e/ou à apresentação do gênero designado.
Queer: originalmente um termo utilizado de forma pejorativa contra LGBTs. Depois foi reapropriado por militantes e ativistas do movimento LGBT+. Pode ser usado como sinônimo de "gay" ou por uma pessoa cuja(s) identidade(s) estão fora da heteronorma e/ou da cisnorma.
Genderqueer: é um termo amplo e de cunho mais político. Pode ser usado por qualquer pessoa de gênero não-binário, servindo também como termo guarda-chuva para as identidades não-binárias.

Pode conferir meu outro artigo sobre diversidade de gênero aqui.



18 de fev. de 2017

Quem está fora da sigla LGBT?

Quem pesquisou a respeito do movimento e sobre toda diversidade existente deve ter se perguntado: por que a sigla é só "LGBT"? Afinal não existem só gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros.

Quando nos referimos a pessoas LGBTs, não falamos apenas das classes da sigla, e sim de toda diversidade de sexualidade, gênero, sexo e afetividade que existe fora do padrão conhecido heterossexual-cisgênero-diádico-monogâmico.

As classes presentes na sigla são aquelas com movimentos político-sociais organizados e reconhecidos em escala mundial (apesar de muita gente nem conhecer a sigla ou o movimento). Faz pouco tempo que queers começaram a ser incluídxs por muitos grupos. Outras classes que estiveram recebendo atenção são intersexuais e assexuais.

Assexuais, assim como pansexuais, estão no processo de conquistar seus espaços, tanto dentro quanto fora do próprio movimento. Assexualidade esteve sendo mais abordada bem recentemente, enquanto pansexualidade é mais debochada do que ignorada. As demais identidades sexuais - grissexual, polissexual, escoliossexual - ainda não se manifestam no sentido político.

Se tratando de gênero, pessoas de gêneros não binários também estão lutando por visibilidade. Infelizmente, a transfobia ainda é muito presente pelas pessoas cisgênero em geral. O que ainda dá alguma esperança é que gênero é um dos maiores assuntos desse século.

Pessoas intersexuais conseguiram alguma atenção do público geral, embora ainda haja tanto ignorância quanto preconceito com elas. A comunidade LGBT lhes oferece uma segurança relativa, porém suas maiores pautas precisam ser debatidas, como a luta contra a patologização da medicina sobre seus corpos.

E, por fim, o movimento também acolhe as pessoas poliamorosas. Falar de poliamor não é novidade, mas é um tema muito apagado na sociedade devido ao sistema monogâmico da grande maioria dos países.

Internacionalmente, a sigla LGBT permanece como a oficial e a mais reconhecida. Há coletivos de outros países (ex: EUA) que fazem uso da sigla LGBTQ (incluindo queers), LGBTI (incluindo intersexuais) ou até LGBTQIA (incluindo assexuais). Está ficando popular o termo LGBT+ para se referir a todas as classes sem alongar a sigla.

Existem propostas que constroem siglas muito grandes, algumas incluindo H de hétero (no caso de transexuais) e até A de aliança (o que, particularmente, não acho necessário).

Não sei como ficará a sigla no futuro. Seria ótimo incluir todas as classes, porém, uma sigla gigante ficaria confusa. Talvez (opinião minha) o melhor fosse unir todas as classes como apenas "diversidade". 

Independentemente do que o movimento será chamado, torço para que as demais classes conquistem seus direitos e tenham reconhecimento mundial.



8 de fev. de 2017

Mais personagens LGBTs em games

Personagens LGBTs em jogos já foram assunto aqui no blog. Falei de gays, lésbicas, bissexuais e de transexuais e travestis em games. Mas como devem saber (ou não), essas não são as únicas classes que compõem toda diversidade presente na população LGBT.

Aqui falarei sobre personagens das classes que não estão presentes na sigla oficial:




  • Dragon Age: Inquisition

O mercenário Iron Bull é definido como pansexual, segundo a produção do jogo. Ele é um possível parceiro afetivo no jogo e é conhecido por ter se relacionado tantos com mulheres quanto com homens. Ele perdeu um olho enquanto defendia Krem, um homem trans, que hoje é um de seus tenentes.

(Iron Bull)

  • NieR

Kainé é uma mulher intersexo e uma das três pessoas que protagonizam a franquia. Sua condição genital fez com que ela sofresse chacota e solidão na infância. Somente sua avó a acolheu. Ela se veste de sua maneira habitual para se sentir mais feminina.

(Kainé)


  • Persona 2


Sumaru Genie é uma vidente intersexo e coadjuvante do jogo, que utiliza magias de diversos efeitos por um tempo limitado.

(Sumaru Genie)

  • Borderlands 2

Um dos escritores do enredo do jogo confirmou que a personagem Maya foi criada para ser assexual.

(Maya)


  • Undertale

Frisk é a criança que protagoniza o jogo. Seu gênero nunca é revelado ou determinado. O jogo e os personagens se referem à criança com pronomes de gênero inespecífico (they). Apesar de não ter sido confirmado oficialmente, isso pode indicar que Frisk é uma pessoa de gênero não binário.

(Frisk)


  • Gloria Union

Kyra está entre os antagonistas do jogo e é uma pessoa de gênero não binário. Sua aparência é feminina, mas seu diálogo utiliza pronomes masculinos. O jogo trata Kyra como uma pessoa intergênero (entre os gêneros masculino e feminino).

(Kyra)



Outras sexualidades além de homo e bi, intersexos e pessoas não binárias são ainda raridades nos jogos de videogame. Espero que a visibilidade desses grupos aumente junto com as mais conhecidas. Toda forma de representatividade é necessária!