31 de jan. de 2018

Minhas identidades

Meu aniversário foi ontem. Agora tenho 24 aninhos. Sabem o que isso significa? Bom, nada. Apenas que envelheci mais e estou mais próximo da morte biológica.

Então pensei em falar sobre minhas identidades atuais. Não vejo melhor maneira de celebrar mais um ano de vida falando da minha essência e de minhas lutas.

Gay: bom, minha primeira descoberta e minha vivência principal. Pois foi através da minha orientação fora da normatividade que fui buscando cada vez mais lutar pelo meu segmento, pelos outros segmentos da comunidade LGBTQIAP+, e até mesmo pelos demais grupos minoritários. Com seus altos e baixos, o gay fez parte das maiores lições que tive como pessoa.

Embora gay seja e sempre será minha identidade individual, social e política, o termo aquileano esteve me contemplando também. Não apenas por abranger a vivência gay, como também esteve me fazendo enxergar a possibilidade de me atrair por várias masculinidades e mais identidades masculinas fora do binário.



Transexpressivo: enquanto eu tentava entender melhor meu gênero, percebi também que eu trocava minha expressão de tempos em tempos; tinha dias que eu era mais masculino, tinha outros que eu era mais feminina, e uns dias que eu era apenas neutro. Enquanto ser gay não me era suficiente para abraçar a identidade queer, a transexpressividade fez eu me sentir mais queer. E explorar várias formas de ser fez eu me sentir completo.


Não-binário: desde ano passado estava percebendo que eu não estava muuuito de acordo com o homem binário moldado e imposto pela sociedade. Até que depois de pesquisas e reflexões percebi que sou um homem, mas fora do binário de nosso sistema cisnormativo. Descobri a não-binariedade dentro de mim, que estava tentando emergir, e a aceitei dentro do meu gênero. Me sinto melhor e mais livre comigo mesmo. E agora posso abraçar de verdade um mundo que me interessava e no qual eu realmente faço parte.



Ainda nesse tópico, quero explicar brevemente o porquê não levanto a bandeira trans por mim mesmo. Porque dentro do contexto brasileiro, as pautas de pessoas trans binárias ainda são urgentes, e falar apenas em trans ainda traz essas pautas. Então prefiro priorizar mais a minha própria não-binaridade do que a transgeneridade em si. Mas digo e repito: pessoas não-binárias são trans! Então quando estou levantando a bandeira não-binária, estou também levantando a trans por trás. Esse é meu pensamento. Pessoas n-b que quiserem levantar também a bandeira trans têm todo o direito e super apoio.

Queer: minha identidade queer é puramente política; pessoalmente não fico me definindo como queer, pois já estou satisfeito com a identidade de homem não-binário gay. Minha face queer surgiu na combinação de minha sexualidade-afetividade, minha expressão de gênero e meu gênero. Logo após a não-binaridade abracei o queer. Quando misturo tudo e ao mesmo tempo manifesto minha revolta e minha rejeição às normatividades, sou queer, e muito queer.


Parabéns para mim e para minhas identidades, tão lindas, tão únicas, tão poderosas.

Sem elas eu não seria quem sou! 🌈



28 de jan. de 2018

Sobre meu gênero

Bom, quem me acompanha no Twitter já sabe disso. Agora vou fazer a revelação aqui formalmente: eu sou uma pessoa não-binária. Qual é meu gênero? Homem não-binário. Simples. 

Como foi tal descoberta após tanto tempo vivendo como um homem cis? Bom, foi algo bem tranquilo, na verdade. Claro, me sinto levemente diferente e agora estou ciente das possibilidades (boas e más) que se abriram para mim agora que assumi a não-binariedade. Mas não houve conflitos internos. 

De todo modo, eu ainda sou um homem. Eu ainda tenho a identidade que me foi designada no nascimento. Apenas descobri a não-binariedade dentro do meu próprio gênero. Sim, isso existe! Pessoas designadas homem ou mulher podem ser homem ou mulher não-bináries. 

A não-binariedade é um universo de identidades, vivências, perspectivas e expressões. Há gente por aí que deve achar que não-bináries não podem ser homens ou mulheres. Podem! Também podem ser ambos ou parcialmente. Podem estar conectades com esses gêneros. Podem ser de um gênero que é masculino ou feminino, mas que não está relacionado com os binários. 

E desde o ano passado eu estava questionando minha suposta cisgeneridade. Eu sentia alguma ligação com a neutralidade de gênero, embora ainda conseguisse me ver como um homem (o que eu entendo por homem). E há dois dias finalmente assumi o que eu já sabia: estou fora do binário de gênero. O homem binário não me contempla. Não importa se fui socializado como tal e se estava “conformado” com essa identidade até pouco tempo. 

Enquanto o homem binário pertence ao gênero masculino e sente dentro desse gênero masculinidade(s), eu sinto neutralidade. Sou quase um “homem-neutro”. Talvez seja algo abstrato, mas não tenho maneira mais fácil de explicar no momento. 

O que mudou na minha intimidade? Bom, pouca coisa. Ainda aceito a linguagem ele/o, mas também aceito o neopronome elu e final de palavra e. E continuo com a identidade gay, já que ainda sou um homem que se atrai por homens.

Agora, reconheço que mesmo que o exorsexismo possa me atacar, eu ainda sou um homem e sou lido como tal em nossa sociedade (talvez isso até faça minha identidade ser "tolerável"). Sou trans não-binário, sim. Mas sei que ainda tenho privilégios de homem, que ainda posso ser favorecido pelo patriarcado, que ainda sou um machista em potencial. Minha não-binariedade não me isentou dessas coisas e seria muita babaquice afirmar isso. 

Basicamente isso. Continuo sendo a mesma pessoa. Aguardem para mais conteúdo sobre não-binariedades, e acredito que essas identidades farão mais sentido. Quem sabe haja pessoas que possam se descobrir não-binárias?

(Sim, meu gênero tem bandeira de orgulho ^^)



24 de jan. de 2018

Animais têm gênero?

Começarei com a resposta: não.

Mas tenha calma, o artigo ainda tem o que dissertar.

As concepções de gênero são construções da humanidade. A identidade de gênero é uma característica biopsicossocial e as noções sociais de homem e mulher estão impregnadas com muitas ideias normativas. Com tudo isso, é evidente que animais não têm gênero - são essencialmente agêneros.

Podem ter algum entendimento de seu sexo (principalmente nas espécies separadas em macho e fêmea) e seus papeis na reprodução, comportamento que fazem por instinto. E há casos de animais de um sexo, em determinadas circunstâncias, adotando a "posição" do outro sexo. Ainda assim, estamos falando de sexo, não de gênero.

E para verem como é falho impor gênero a espécies não-humanas, se colocamos "machos" e "fêmeas" nas caixinhas, respectivamente, masculina e feminina de acordo com seus sexos, como lidar com os seres hermafroditas? Não deveria haver uma linguagem ou classificação específica para eles?

Agora entramos numa questão polêmica: utilizar linguagem masculina para os machos e feminina para as fêmeas não é contribuir para cisnormatividade? Sim, contribui sim. Assim como nas pessoas estamos impondo um gênero de acordo com sexos definidos como masculino e feminino. A diferença é que animal não se importa, afinal não compreendem o que é gênero.

Afinal, qual seria a solução dessa questão? Bom, particularmente acharia ideal utilizar uma linguagem que transmita neutralidade ou ao menos não reflita gêneros. Um exemplo, poderiam utilizar neopronomes (como elu) para os animais.

Claro que é uma coisa difícil e que pode gerar controvérsias. Eu mesmo acho difícil chamar meus gatos e minhas gatas de um modo que não seja cisnormativo. Mas meu ponto aqui é que essas imposições cisnormativas aos animais são apenas mais uma forma de manter essa opressão.

E sinceramente, que ridículo a gente querer reforçar gênero nos animais colocando neles acessórios tradicionalmente masculinos ou femininos, achando isso uma coisa bonitinha, sendo que para o animal não faz sentido e ainda pode causar algum incômodo.

Independentemente da solução, com certeza ela terá as mesmas barreiras que a desconstrução da cisnormatividade na humanidade. Ao menos os animais têm a sorte de não sofrerem discriminações ou violências de gênero.



21 de jan. de 2018

Desconstruídão v.s. Padrãozinho

Decidi escrever sobre isso de última hora. Quero falar sobre essa briga nas redes sociais de gay desconstruído contra gay padrão, que já encheu o saco e tomou uma proporção muito errada.

Os caras que chamo de "padrãozinhos" são aqueles dentro dos padrões estéticos. E só. Se eles são escrotos ou não já é outra história. E os caras chamados de "desconstruídões" são aqueles que criticam de várias formas o outro grupo e os padrões.

Não sei se é adequado chamar o lado crítico de "desconstruído". Porque sinceramente não sei até que ponto esse pessoal é mesmo desconstruído - se fingem que são, se acham que são o suficiente, ou se são mesmo. Mas vamos chamar esse lado assim pra facilitar.

Em algum momento (não sei quando ou como) criou-se essa divisão, essa polarização. Ela surgiu como um resultado das críticas contra os padrões estéticos. Sempre existiu discriminação contra gays afeminados, gordos e negros; três segmentos muito atacados pelos padrões estéticos. E felizmente muita gente decidiu se importar com essa parcela.

Os "desconstruídos" começaram a apontar as atitudes nocivas do grupo "padrãozinho", focando nas discriminações que esse grupo realmente pratica constantemente até hoje. Além dos outros comportamentos, como futilidades, superficialidades, e isolamento em bolhas.

E, claro, as críticas foram e são recebidas até hoje com escárnio e descaso, falam que é exagero e vitimismo, que é recalque ou inveja, entre outros absurdos que só revelam mais da escrotice da própria pessoa. Isso tudo, como em toda situação onde temos um grupo oprimido e um grupo opressor, acaba fazendo com que o oprimido fique mais "traumatizado" e criando certa intolerância com o outro grupo.

Consequentemente o lado "desconstruído" também começou a ter certas atitudes erradas. Não são realmente opressivas contra quem é "padrãozinho", mas podem afastar as outras pessoas da discussão e até criar uma péssima imagem do lado que deveria combater opressões.

Generalização é uma dessas coisas, tratar todo "padrãozinho" como se fossem todos escrotos. Não se pode generalizar. Expor um cara a um vexame ou rechaço só porque ele está "se mostrando" também é algo desnecessário. É direito dele. Assim como tem gente que faz questão de chamar um cara malhado ou musculoso de feio. Estamos aqui justamente criticando a imposição de beleza e fazendo isso chamando uma pessoa de feia???

O cara quer biscoitar? Deixa ele! As redes sociais lhe conferem a liberdade de biscoitar. Você pode achar ridículo e apelativo (e há situações que é mesmo), mas ainda é direito dele. Assim como é direito dos outros dar biscoito. Antes só biscoitando do que sendo escroto. E apesar de tudo, os biscoiteiros fizeram uma jogada inteligente: transformaram o ato de biscoitar numa brincadeira. Uma brincadeira que, até onde pude perceber, até o lado que os critica chega a participar.

Agora, vamos ao ponto problemático que realmente deveria ser discutido. Muitos gays de beleza padrão são reprodutores de muitas discriminações. São machistas quando atacam a expressão feminina; são gordofóbicos quando atacam os corpos fora do padrão; são elitistas quando atacam os gays periféricos; são falocêntricos quando exaltam pênis considerados grandes; de brinde são cisnormativos, pois excluem homens trans; e são racistas, visto que a grande maioria é branca.

Esses comportamentos são mais descarados nos aplicativos de "namoro". Não são novidade. E isso sim precisa ser discutido, isso é o mais importante e urgente. Excluir esses segmentos alimenta a opressão que os mesmos vivem diariamente.

Se formos criticar um grupo que está sendo opressivo, precisamos focar justamente nessa opressão. Partir para revanchismos, julgamentos e reações exageradas que podem muito bem estar equivocadas não ajuda, causa mais divisão e ainda dá motivo para o lado opressivo desmerecer toda ação que realmente combata o preconceito.

Era só isso!



17 de jan. de 2018

Identidade trans em The Legend of Zelda: Breath of the Wild

O novo jogo da franquia The Legend of Zelda, o Breath of the Wild, trouxe (como todo novo jogo da franquia) muitas novidades.

Decidi investigar mais sobre a recepção do personagem Link vestido com roupas femininas. Encontrei dois textos em inglês muito interessantes que analisaram bem como a transgeneridade foi abordada no jogo. Quase todo conteúdo aqui presente foi pego desses textos.


No próprio universo da franquia, a raça Gerudo é definida como "uma raça só de mulheres". A cada 100 anos nasce um homem. Numa linguagem mais desconstruída, Gerudo é uma raça de pessoas de anatomia sexual ovariada, logo designadas mulheres; e a cada 100 anos nasce uma pessoa testiculada, logo designada homem.

Gerudo Town tem apenas uma regra: "não é permitida a entrada de homens". Machos de outras raças também não são permitidos. A raça Goron é aceita na cidade. Embora Gorons costumam utilizar linguagem masculina (ex: irmão), ainda são criaturas assexuadas e agêneros. Não são fêmeas, mas não são machos; isso é suficiente para Gerudos. Se aceitam ou não pessoas intersexo e espécies hermafroditas fica em aberto. Enfim, a cidade Gerudo não é só para mulheres; é para todes que não são homem ou macho.

Separei o gênero homem do sexo macho porque no próprio jogo há indícios de que mulheres trans podem ser aceitas. É possível Link ir numa sauna, e lá, mesmo com seu corpo exposto, ele é aceito pelas Gerudo ali presentes. Da mesma forma há indícios de que a raça pode também considerar a existência de homens trans/pessoas transmasculinas ou de mulheres com expressão masculina/não-normativa, pois é possível encontrar numa loja roupas Gerudo masculinas.

Para conseguir as roupas Gerudo e se passar por mulher, Link deve falar com uma pessoa chamada Vilia, que não tenho dúvida que seja uma mulher trans (é especulação, mas respeitarei a linguagem exigida por ela). Tanto que ela se recusa a atendê-lo se ele falar que ela é um homem - uma opção disponível após Link observar seu tom de voz e corpo. Não apenas isso é problemático, como o fato de Link ouvir falar de Vilia através de um mercador que a define como "o homem que enganou as Gerudo se vestindo de mulher".

As coisas até ficam bem enquanto Link respeita a identidade da personagem. E então um vento sopra e revela que por baixo do véu de Vilia há um rosto barbado, o que deixa Link chocado. Uma cena ridícula, alívio cômico barato pra mim.

Sobre as roupas, é uma via de mão dupla. Por um lado temos a oportunidade única de jogar com um Link queer e salvar o mundo vestindo véu num traje expondo barriga e ombros (*sexy*). Por outro lado, uma trama onde o personagem deve se infiltrar numa cidade como Gerudo Town fingindo ser mulher pode ser vista como um escárnio contra a transgeneridade feminina (além de outras interpretações problemáticas para o mundo feminino).

Poderia ter havido uma boa representatividade trans. E não teve. A Nintendo pelo visto não aprendeu muito com Birdo e Poison. No entanto, não se pode negar que a possibilidade de pessoas trans foi  ligeiramente aberta numa das maiores franquias de games do mundo. Vamos torcer para uma representatividade decente no próximo jogo.




13 de jan. de 2018

Questões controversas #2

Trago mais questões que geram discussões dentro e fora da comunidade LGBTQIAP+. Ressalto que poderei no futuro escrever artigos mais explicativos sobre alguns dos tópicos apresentados.

Confira a primeira parte aqui.



"Poliamoristas são um grupo da comunidade?"

Ainda não há um consenso se poliamoristas deveriam estar evidenciades por uma letra nas expansões da sigla - no caso, mais uma identidade do P. Há quem concorde, há quem discorde. Quem concorda costuma afirmar que enxerga a experiência poliamorista como queer, logo poderia ser um segmento único. E quem discorda diz que a identidade está incluída no segmento Q (queer) e isso basta. Em todo caso, é difícil encontrar alguém que não queira incluir poliamoristas como parte legítima da comunidade.

Particularmente não vejo problema na adição na sigla, e, sendo a mononormatividade (a imposição da monogamia) uma opressão sistêmica, acho adequado incluir nas siglas um grupo fora de padrões impostos de relação e afetividade. Afinal a comunidade está repleta de pessoas também discriminadas por suas relações e afetividades, não?

(Bandeira poliamorista)


"Pessoas trans binárias e intersexos ipsogênero heterossexuais necessitam reafirmar sua sexualidade, pois mesmo sendo héteros são alvos de discriminação?"

Deve-se considerar antes de tudo que as opressões sofridas por esses grupos são causadas unicamente devido a identidade de gênero e sexo biológico. A cisnormatividade invalida o gênero de mulheres e homens trans. E o diadismo coloca os corpos intersexo como anomalias e defeituosos. Pesando ambas as opressões, intersexos ainda têm sua orientação reconhecida, enquanto mulheres e homens trans são frequentemente tratades como "homossexuais que querem ser do gênero oposto".

Por outro lado, muitas pessoas não-hétero da comunidade focam tanto na diversidade sexual que desconsideram a existência des héteros nos segmentos T e I. Pessoas trans ainda têm a missão árdua  de validar seu gênero para então reafirmar a sexualidade. Talvez seja necessário esses segmentos gritarem "sou [insira o segmento] e sou hétero" ou "sou parte da comunidade e sou hétero", colocando a orientação em segundo plano. Talvez.


"A pauta do HIV deve fazer parte das pautas do movimento LGBT?"

O movimento Aids/HIV+ e o movimento LGBT são fundamentalmente movimentos separados. No entanto, na prática, o movimento LGBT acabou adotando as pautas de soropositives justamente pelo estigma que ainda perdura sobre HIV e LGBTs (principalmente gays). Além disso, mesmo havendo uma grande quantidade de héteros-cis HIV+, nunca foi registrada alguma grande mobilização de héteros-cis em prol dessa causa.

Existe também um receio de muitas pessoas da comunidade de que adotar a pauta HIV acaba apenas reforçando mais o estigma. No entanto, muitos ativistas e militantes continuam a abordar o tema, o que é a atitude mais consciente a se fazer. Espera-se que o movimento Aids/HIV+ seja mais autônomo e que rompa o estigma junto com o LGBT.



10 de jan. de 2018

Terminologias novas e inclusivas

Comunidades virtuais, principalmente aquelas de pessoas não-binárias, estiveram se reunindo e desenvolvendo nomenclaturas para assim abranger mais a diversidade. As terminologias recentes podem ser usadas como identidades ou apenas adjetivos descritivos. Outros termos surgiram também como formas de incluir pessoas multi ou do espectro A.

Diamórique: o termo serve tanto como identidade quanto descritor. Uma pessoa diamórica é alguém que prioriza as identidades e as relações não-binárias em sua vida. Somente pessoas n-b podem usar o termo como identidade. Quando numa relação há uma pessoa não-binária ou se todas as partes são não-binárias, essa relação é diamórica.

Se uma pessoa n-b estiver numa relação com uma pessoa binária e ainda quiser que a relação seja definida como hétero/gay/lésbica, não há problema algum; somente as partes podem definir sua própria relação.

Na bandeira diamórica a cor verde simboliza a não-binariedade. E a flor de murta é sagrada para Afrodite e Adonis, cuja relação pode ser chamada de diamórica.

(Bandeira diamórica)

Aquileane: termo referente a homens que se atraem por e se relacionam com homens, exclusivamente ou não. Pode ser acessível para pessoas alinhadas com o gênero masculino. Uma relação aquileana é aquela onde todas as partes são homens.

O termo é bem amplo e contempla os gays. E também contempla homens/pessoas n-b de identidades masculinas de atração fluída, multissexuais ou do espectro A que têm alguma atração por gêneros masculinos. Ou seja, um casal com um gay e um bi é aquileano, homens assexuais homorromânticos são aquileanos, um hétero tendo uma experiência com outro homem é uma experiência aquileana, e etc.

Na bandeira aquileana a cor azul simboliza alegria e a qualidade masculina. O cravo verde era um símbolo de associações gays na Roma Antiga e na Inglaterra no século 19. O autor Oscar Wilde popularizou o cravo verde alfinetado na lapela dos ternos dos homens da época.

 (Bandeira aquileana)

Sáfique: termo referente a mulheres que se atraem por e se relacionam com mulheres, exclusivamente ou não. Pode ser acessível para pessoas alinhadas com o gênero feminino. Uma relação sáfica é aquela onde todas as partes são mulheres.

O termo é bem amplo e contempla as lésbicas. E também contempla mulheres/pessoas n-b de identidades femininas de atração fluída, multissexuais ou do espectro A que têm alguma atração por gêneros femininos. Ou seja, um casal com uma lésbica e uma pan é sáfico, mulheres arromânticas numa relação queerplatônica são sáficas, uma mulher transando com uma travesti é um sexo sáfico, e etc.

Na bandeira sáfica a cor rosa simboliza o amor e a qualidade feminina. E violeta era um presente que mulheres lésbicas ou multi davam umas às outras como uma forma de cortejo e para expressar desejo, algo popular entre as décadas de 1910 e 1950.

(Bandeira sáfica)

Comentários: Sobre os termos aquileane e sáfique, os mesmos também são ótimas alternativas para se nomear casais onde ambas as partes são de diferentes orientações, visto que chamar um casal de homens/de mulheres de gay/lésbico sendo uma dessas partes bi é excludente com essa identidade. Casais de pessoas bi podem muito bem definir sua relação como bi - casal bi, romance bi etc. Mas caso queiram, os termos estão disponíveis.

Pluraliane: alguém que se atrai por mais de um gênero, não importa sua própria identidade de gênero. Pode ser um termo usado por uma pessoa que prioriza sua atração por múltiplos gêneros ou que se orgulha dessa atração.

É um termo que contempla todas as pessoas de orientações multi, sejam binárias ou não-binárias. Por isso as comunidades multi (bi, poli, pan etc) podem também se chamar de pluralianas.

Na bandeira pluraliana a cor roxa simboliza neutralidade ou a combinação da atração múltipla. A cor branca representa a falta de preferência ou priorização dos gêneros que atraem a pessoa. O lírio foi escolhido por ser uma planta "bissexual", capaz de reproduzir com qualquer outra planta da espécie. E o lírio é amarelo para incluir não-bináries (pois o roxo poderia implicar numa exclusão).

(Bandeira pluraliana)

Enebeane (ou embiana): ume não-binárie que sente atração (exclusiva ou não) por outres não-bináries. O termo pode ser também outra palavra para não-binárie, pois vem da pronúncia em inglês de n-b. Uma relação enebeana é aquela onde todas as partes são não-binárias.

Na bandeira enebeana a cor roxa e suas tonalidades representam a diversidade não-binária. A lua amarela representa as mudanças de sentimentos  e autopercepções das pessoas, assim como a fluidez de gênero; e o formato crescente remete ao fato de que as identidades n-b estavam "escondidas" até certo ponto. E a esfera branca representa tudo que é entendido, mas não pode ser explicado, pois a identificação pessoal transcende à linguagem humana.

(Bandeira enebeana)

Estejam cientes de que adotarei esses termos agora. E reforço a importância de falar neles e espalhar seu uso, para assim aumentarmos a inclusão da diversidade. Sintam-se à vontade para utilizá-los se quiserem.



6 de jan. de 2018

Coisas que deveriam ter ficado em 2017

Vou escrever tudo isso aqui revoltadinho. Por quê? Porque tô afim e pronto! Vou agora falar de termos, expressões e constatações que são ridículas e discriminatórias e que não deveriam ter passado pelas portas do ano de 2018 (e nem dos outros anos).



- Chamar a Parada LGBT+ de Parada Gay. Pelamor, né, cês acham que o L é de lacre, o B é de berro e o T é de tombei??? Caralho!

- O termo GLS. Sério, se fala tanto LGBT em todo lugar e ainda tem gente usando uma sigla que menciona só gays e lésbicas e ainda coloca simpatizantes junto. Simpatizantes! Pior ainda! Agora é aliades!

- Tentar usar viado, bicha, sapatão, caminhoneira, entre outros termos como ofensa. Ofensa é ser ignorante assim!

- Dizer que tem muito viado agora, tem viado pra todo lado, tem viado a toda hora. E VAI TER MUITO MAIS! ATURA OU SURTA!

- A palavra afetado para gays afeminados. Repito: AFEMINADOS!

- O termo opção sexual. A única opção sexual que conheço é você dizer sim ou não pra um convite pra uma foda.

- A palavra traveco. Muito pejorativa. A própria sonoridade dela é pejorativa. Duvido que alguém ainda fala essa merda por pura ignorância.

- Chamar drag queen de travesti/mulher trans. Drag queen é uma personagem. Não é identidade de gênero. APRENDAM, plis. Tá ficando chato repetir isso trocentas vezes.

- Chamar mulher trans de ele, chamar homem trans de ela, perguntar se elus fizeram cirurgia, e perguntar seus nomes de registro. Cuidem do rabo de vocês! Deixem as pessoas trans em paz!

- Gay cis tendo nojo de mulher e vagina pra reforçar que é gay. Larga de ser um viado misógino!

- Achar que a pessoa é gay/lésbica por ter beijado/namorado/transado com alguém do mesmo gênero. B de banana, B de bolinho, B de Britney Spears, B de bissexuaisexistemporra.

- Ficar perguntando pra pessoa bi por qual gênero ela sente mais atração ou com quantes homens e mulheres se relacionou. Enfiem essa régua de bissexualidade alheia em vossos orifícios.

- A palavra hermafrodita para se referir a pessoas intersexos. Parem, só parem. Até a biologia concorda que o termo é errado.

- A palavra assexuado. É ASSEXUAL! Você não fala homossexuado, bissexuado, pansexuado, então por que caralhos fala assexuado? Virou um boneco? Sem nada entre as pernas?

- Falar que demissexual é quem sente atração pela Demi Lovato. Parabéns, já pode trabalhar na A Praça É Nossa, infeliz!

- Dizer que pansexuais transam com animais e árvores. Não é engraçado. Você acha que é, mas não é. Quem fala isso é trouxa, bem trouxa, muito trouxa.

- Falar que não acredita em gêneros não-binários. Ainda bem que identidades não dependem de sua crença para existir.



Feliz 2018, porra! E vamos evoluir! #PÁS



3 de jan. de 2018

Nova linguagem do blog

Após muita reflexão e contato com outros espaços inclusivos, decidi fazer uma mudança importante aqui no blog.

A língua portuguesa é estruturada de uma forma binária e cisnormativa que apaga o feminino (quando junto ao masculino) e não abre possibilidades para quem não deseja utilizar as linguagens convencionais. Hora de afrontar as normas e mostrar que a língua não é imutável.

Decidi adotar a neolinguagem que pode ser encontrada em alguns poucos sites feitos para o público LGBTQIAP+. Essa nova estrutura linguística tem por objetivo trazer uma neutralidade que não dependa do masculino. E também para ser mais inclusiva com identidades não-binárias.

Vou explicar as mudanças. São fáceis de entender e não vão bagunçar o blog ou interferir na compreensão dos textos.

A vogal E é a nova neutralidade e será adotada em todas as palavras neutras ditas no masculino. Ou seja, todos agora será todes. Outros exemplos: aliados / aliades; muitos / muites; algum / algume, um / ume. Também será adotada para pessoas n-b cuja identidade não é nem masculina ou feminina (e que aprovem tal linguagem).

E com isso haverá o artigo e(s). Como "e" é elemento de adição e ligação, tentarei não usar muito seu singular. Até porque também prefiro evitar artigos, mesmo que sejam os binários. Em todo caso, alguns exemplos: devolvi o livro para e Ariel; es profissionais estão preocupades.

Adjetivos terminados em "ca(s)" e "co(s)" na forma neutra terão "que(s)" no final. Exemplos: médicos, médicas e médiques; elu não é fraque; elus são arromântiques. E adjetivos terminados em "ga(s)" e "go(s)" terão "gue(s)". Exemplo: amigue.

Palavras que no plural terminam em "es" agora terminarão em "ies". Exemplos: trabalhadores / trabalhadories; professores / professories.

No caso dos números só 1 e 2, que têm versões binárias, além de ume também haverá dues. Exemplo: elus dues são estudantes.

Além dos pronomes ele e ela, vou adotar o neopronome elu para pessoas cujo gênero é desconhecido ou não especificado. E claro para pessoas que o utilizem ou não se incomodam com ele. O pronome eles, quando usado para neutralidade, será substituído por elus. Exemplo: eles estavam reivindicando seus direitos / elus estavam reivindicando seus direitos. 

O mesmo acontece com os demais pronomes: dele(s), dela(s) / delu(s), nele(s), nela(s) / nelu(s); (d/n)aquele(s), (d/n)aquela(s) / (d/n)aquelu(s); (d/n)esse(s), (d/n)essa(s) / (d/n)essu(s); (d/n)este(s), (d/n)esta(s) / (d/n)estu(s). E junto com seu(s) e sua(s) haverá sue(s) e com meu(s) e minha(s) haverá mi(s)*. Alguns exemplos: essa casa é delus; o pronome ile está disponível para aquelus que desejarem; chame sues amigues para a festa.
*Obs: há pessoas e espaços que utilizam minhe(s). Exemplo: elu é minhe parceire.

Também haverá neutralidade quando os pronomes ou alguma outra palavra estiverem se referindo a dois ou mais elementos com gêneros diferentes. Exemplos: as características incluem seu gênero, sexualidade e corporalidade / as características incluem sue gênero, sexualidade e corporalidade; estamos indo nesses encontros e reuniões / estamos indo nessus encontros e reuniões; várias pessoas e sites usam neolinguagem / váries pessoas e sites usam neolinguagem.

Sobre X e @, não os utilizarei mais porque: estão caindo em desuso, não são lidos em dispositivos para pessoas cegas, e não são pronunciáveis.

Ainda listarei palavras alternativas para conjuntos binários, sejam palavras já existentes ou novas. Continuarei escrevendo da forma mais neutra possível dentro das normas convencionais do nosso idioma. Adotarei a neolinguagem quando for oportuno e a única forma de neutralizar as palavras.

Enfim, sejam bem-vindes a uma nova fase do blog. Que comece 2018.