13 de jan. de 2018

Questões controversas #2

Trago mais questões que geram discussões dentro e fora da comunidade LGBTQIAP+. Ressalto que poderei no futuro escrever artigos mais explicativos sobre alguns dos tópicos apresentados.

Confira a primeira parte aqui.



"Poliamoristas são um grupo da comunidade?"

Ainda não há um consenso se poliamoristas deveriam estar evidenciades por uma letra nas expansões da sigla - no caso, mais uma identidade do P. Há quem concorde, há quem discorde. Quem concorda costuma afirmar que enxerga a experiência poliamorista como queer, logo poderia ser um segmento único. E quem discorda diz que a identidade está incluída no segmento Q (queer) e isso basta. Em todo caso, é difícil encontrar alguém que não queira incluir poliamoristas como parte legítima da comunidade.

Particularmente não vejo problema na adição na sigla, e, sendo a mononormatividade (a imposição da monogamia) uma opressão sistêmica, acho adequado incluir nas siglas um grupo fora de padrões impostos de relação e afetividade. Afinal a comunidade está repleta de pessoas também discriminadas por suas relações e afetividades, não?

(Bandeira poliamorista)


"Pessoas trans binárias e intersexos ipsogênero heterossexuais necessitam reafirmar sua sexualidade, pois mesmo sendo héteros são alvos de discriminação?"

Deve-se considerar antes de tudo que as opressões sofridas por esses grupos são causadas unicamente devido a identidade de gênero e sexo biológico. A cisnormatividade invalida o gênero de mulheres e homens trans. E o diadismo coloca os corpos intersexo como anomalias e defeituosos. Pesando ambas as opressões, intersexos ainda têm sua orientação reconhecida, enquanto mulheres e homens trans são frequentemente tratades como "homossexuais que querem ser do gênero oposto".

Por outro lado, muitas pessoas não-hétero da comunidade focam tanto na diversidade sexual que desconsideram a existência des héteros nos segmentos T e I. Pessoas trans ainda têm a missão árdua  de validar seu gênero para então reafirmar a sexualidade. Talvez seja necessário esses segmentos gritarem "sou [insira o segmento] e sou hétero" ou "sou parte da comunidade e sou hétero", colocando a orientação em segundo plano. Talvez.


"A pauta do HIV deve fazer parte das pautas do movimento LGBT?"

O movimento Aids/HIV+ e o movimento LGBT são fundamentalmente movimentos separados. No entanto, na prática, o movimento LGBT acabou adotando as pautas de soropositives justamente pelo estigma que ainda perdura sobre HIV e LGBTs (principalmente gays). Além disso, mesmo havendo uma grande quantidade de héteros-cis HIV+, nunca foi registrada alguma grande mobilização de héteros-cis em prol dessa causa.

Existe também um receio de muitas pessoas da comunidade de que adotar a pauta HIV acaba apenas reforçando mais o estigma. No entanto, muitos ativistas e militantes continuam a abordar o tema, o que é a atitude mais consciente a se fazer. Espera-se que o movimento Aids/HIV+ seja mais autônomo e que rompa o estigma junto com o LGBT.