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8 de jul. de 2020

Aquela-Que-Não-Deve-Ser-Nomeada

AC: cissexismo, contém links externos.



Quem pegou a referência, sabe de quem estou falando. Se você não sabe quem e não faz ideia alguma do que estou falando, parabéns, queria estar nessa sua bolha de total alienação com a atualidade.

Como sabem, a sujeita enfim saiu totalmente do armário radfem e decidiu investir em ataques contra pessoas trans. Ela não tem nada a perder, né? É bilionária, já está com a vida feita, não precisa de mais nada, e continuaria assim mesmo que todos os seus livros parassem de vender amanhã.

Cansei de ver gente dizendo que ela só está perdida, que é apenas ignorância, que ela "enlouqueceu", e similares. Não, pessoinhas. Ela está perfeitamente consciente do que estão fazendo. Ela é uma feminista radical que odeia pessoas trans. Ponto final.

Mas por que ela odeia? Sei lá! Por que tanta gente faz questão de perseguir, xingar, agredir e matar pessoas LGBTQIAPN+, e ainda mais quando essas pessoas nada lhe fizeram e nada alteram em suas vidas? Acho que é a mesma resposta.

E isso não foi de agora. Ela já havia dado sinais antes. Ela não se tornou isso de um dia pro outro. Mesmo com os sinais, muita gente preferiu ignorar ou pensar que ainda havia salvação (estou fazendo mea culpa). Como ela percebeu que não tem nada a perder, decidiu seguir esse caminho em plena luz do dia. Ela está usando sua plataforma para dar visibilidade a uma ideologia que acredita. E isso causa estragos, sim!

E o que fazer? Bem, isso gerou muitas discussões. Sinceramente, acho que deveríamos evitar ao máximo dar o ibope que ela quer. E combater a ideologia que ela acredita, a mesma que é anti-científica e muitas áreas do conhecimento já desbancaram. Não falta conhecimento e informação. De novo, ela não é uma coitadinha ignorante que não teve acesso a isso.

E sobre a franquia Harry Potter? As pessoas devem parar de ver? Não sei. Eu acho que o ideal seria não consumir de modo que continue dando dinheiro pra sujeita. Acho bobagem também ficar coagindo as pessoas a não verem mais nada da franquia, sendo que não temos como controlar isso e cairíamos no grave erro de condenar e culpar as pessoas. O que me incomoda é uma parte do fandom não dar a devida importância aos fatos. Eu seguia umas pessoas que falavam direto da franquia, e só ouvi silêncio delas.

Assim, as pessoas podem gostar da franquia, mas vamos combinar que não é uma obra de arte, e tem muita coisa problemática nela. Deixarei uns textos abaixo falando disso (pra quem também não está sabendo do que tem de realmente problemático na obra).

Sinto muito pela imensa quantidade de pessoas dissidentes que se decepcionaram. Essa franquia fez a infância de muita gente, contudo e apesar de tudo. E temos agora mais uma figura de alta visibilidade usando disso para atacar um dos grupos sociais mais marginalizados do mundo. Novamente, somos nós, corpos dissidentes, contra um mundo que nos odeia e quer nossa morte.

Deixarei abaixo também alguns conteúdos falando contra o feminismo radical e suas ideias, se alguém ainda tiver dúvida do quanto essas ideias são furadas e nocivas.

Acho que é isso que eu queria comentar.

Links:






27 de ago. de 2019

Digam suas linguagens pessoais

AC: cissexismo e exorsexismo estruturais, maldenominação.



Quando falo em linguagem pessoal me refiro à linguagem com a qual nos tratamos e expressamos, parte de nossa expressão de gênero. Ou seja se você é uma pessoa que usa o/ele/o, a/ela/a, ambos, sintaxe neutra, ou demais conjuntos fora das normas. 

Muitas pessoas trans já falaram e repetiram várias vezes o quanto é importante todes nas redes sociais normalizarem uma cultura de dizer suas linguagens pessoais, não importa o nome ou a aparência ou o gênero declarado/conhecido.

E todes também inclui pessoas cis; em especial pessoas binárias (cis, trans, ipso).

Vivemos ainda numa sociedade que pré-determina na socialização as linguagens o/ele/o ou a/ela/a dependendo do sexo/gênero designado de um bebê. E, quando o "sexo aparente" não é suficiente, a linguagem é pressuposta pela aparência; que a sociedade classifica só em feminina ou masculina, ainda assim mantendo um exorsexismo estrutural na língua.

Pessoas são pressupostas como cis o tempo inteiro, por mais não-conformistas de gênero que sejam. A sociedade opera como se não fosse necessário especificar um pronome ou a flexão de gênero nas palavras que usamos; afinal é "sempre óbvio".

É justamente tudo isso que precisamos combater. Essa ideologia cissexista (e muito exorsexista) de que as linguagens são óbvias, que basta olhar para a pessoa para saber, que está tudo bem pressupor como você deve tratar alguém.

Até porque, por mais que pessoas cis e pessoas trans binárias com "alta passabilidade" estejam num lugar de conforto, muitas outras pessoas não estão. E ainda existe toda uma estrutura que alveja todas as pessoas trans binárias também. Há homens e mulheres trans, por mais passáveis que sejam, sendo maldenominades unicamente por causa de seu gênero designado.

Não é uma questão que pesa somente em pessoas não-binárias que usam neolinguagens ou mesmo as linguagens padrão, mas também em pessoas trans sem a tal da passabilidade cis.

Especificar sua linguagem pessoal ajuda a naturalizar que:

- linguagens pessoais são características importantes e relevantes de serem sabidas;
- as linguagens não são (e nem devem ser) "óbvias";
- qualquer pessoa pode usar qualquer linguagem;
- e que pode haver mais opções além de o/ele/o e a/ela/a.

Recomendo muito o modelo APF de linguagem que uso aqui no blogue e que está começando a ser mais adotado pela comunidade trans/n-b. Mas admito que já senti algum alívio só de ver homens e mulheres cis colocando "ele/dele" ou "pronome ela" em suas descrições de perfil, que é melhor que nada. Ainda assim, o modelo APF é melhor e mais preciso.

Quanto mais pessoas aderindo a isso, mais vamos abrindo um caminho de tolerância e respeito para pessoas cisdissidentes e lutando contra o CIStema. Se você for cis e se pergunta como ser aliade da causa, aqui está algo simples que pode ser feito.

21 de mai. de 2019

Pessoas trans em mídias

AC: cissexismo, exclusão trans do mercado de trabalho.



Personagens trans estão cada vez mais sendo retratades nas mídias. Aqui comentarei especificamente sobre novelas, séries e filmes; mídias que necessitam de atuação.

Um fato comum e polêmico que ainda acontece muito na indústria dessas mídias é pessoas cis sendo escaladas para interpretar pessoas trans.

Quando isso é criticado, surge todo tipo de justificativa. Uma que já vi sendo muito usada é que "precisa de alguém pra representar a pessoa antes da transição". Algo risível se pensarmos nas possibilidades tecnológicas atuais (isso que há vezes que uma ótima maquiagem faz o serviço). E sem contar o reforço da ideia que toda pessoa trans quer fazer transição física.

Ainda existe muita desinformação sobre o tema da transgeneridade. É questionável o quanto as representações em obras atuais são realmente boas; ainda mais quando insistem em colocar uma pessoa que "odeia" o próprio corpo. Mas mesmo que a representação seja boa, quando acontece a premiação o ator que interpretou a mulher trans vai de terno e barba.

A comunidade trans carece muito de empregabilidade. Quando conseguem atravessar a escola e fazer faculdade ou curso, o que para muites é algo sofrível, o emprego não aparece. Não é por falta de gente disponível, gente formada na área.

Como a produção dessas mídias insiste agora em retratar personagens trans, mas não escala pessoas trans no elenco? Afinal, essa representatividade está servindo a uma causa ou apenas aos bolsos da produção? Há de se pensar nisso.

Considerando esses contextos, pessoas trans interpretando pessoas trans é uma necessidade imensa. Felizmente, acredito que houve uma ligeira mudanças. Só que não é suficiente.

Não digo que nenhuma pessoa cis possa interpretar pessoa trans. Se for escalada, o mínimo que a pessoa pode fazer é uma atuação digna e questionar seu local de privilégios. Ou mesmo enfrentar e recusar o papel, defendendo a presença de pessoas trans. (sonhar não dói, né)

Mas o ideal seria dar oportunidade às pessoas trans para atuarem em algo dentro de suas vivências e oferecerem representatividade durante e também após a obra. Queremos muito ver premiações com pessoas trans sendo indicadas ou ganhando.

Precisamos sim de mais pessoas trans atuando. Isso não é favor, é obrigação.

19 de jan. de 2019

Feminino pra todes

AC: maldenominação, cissexismo.



Sei que esse texto vai incomodar porque vai tirar muita gente da zona de conforto. É um comportamento muito frequente e que se espalhou muito.

Muita gente do meio LGBT+ se acostumou a usar a linguagem a/ela/a de forma informal, principalmente para brincar e criar intimidade.

É comum homens heterodissidentes se referindo uns aos outros com palavras classificadas como femininas (miga, senhora, menina, etc). Isso feito num círculo de amizades ou com consentimento prévio não tem problema algum. O problema é quando levam isso pra fora, quando fazem com gente desconhecida.

Ninguém sabe quem é a outra pessoa. Você não sabe se aquela pessoa aceita ou não essa linguagem. É muito errado pressupor que aceita, assim como achar que ela deve aceitar.

Entendo que a lógica por trás disso é que o feminino é marginalizado e seu uso é uma forma de desafiar isso. Entendo que o meio adora exaltar a figura feminina.

Porém muitos homens trans e muites não-bináries podem se sentir desconfortáveis ou mesmo ofendides com essa linguagem. Existem muitas razões, mas acredito que as mais evidentes e pesadas sejam a carga social da linguagem e os traumas da imposição de gênero.

Apesar das discussões sobre machismo e sexismo serem muito válidas e necessárias, homens cis (que usam apenas o/ele/o) também têm o direito de não quererem ser referidos com essa linguagem. O ódio à feminilidade (fememisia) é uma coisa. Mas respeito à linguagem pessoal serve para todes, não apenas para quem é marginalizade.

Enfim, a mensagem foi dada. Precisamos nos importar mais com essas questões. Bordões, memes e "costumes do meio" nem sempre fazem o bem inquestionável que achamos.