30 de jul. de 2019

Neolinguagem: pronomes demonstrativos

Cá estou trazendo algumas ideias novas sobre possíveis neolinguagens.

Hoje falarei sobre pronomes demonstrativos, outra classe de pronomes que não vejo em discussões envolvendo neopronomes.

Os pronomes demonstrativos da língua padrão são:
  • este, esta, isto
  • esse, essa, isso
  • aquele, aquela, aquilo

Aqui focarei nos pronomes com estrutura [vogal]-ST/SS-[vogal].

Percebi há um tempo que há uma grande semelhança entre os pronomes pessoais e os pronomes demonstrativos impostos pela língua padrão. Falo em relação à estrutura:

Ele - Este, Esse
Ela - Esta, Essa

O que muda entre ambas classes de pronomes é apenas o que vem entre as vogais. No caso, é como se houvesse apenas a troca de L para ST e SS. Isso me fez pensar nos pronomes demonstrativos como transformações dos pessoais.

Decidi então aplicar essa lógica aos neopronomes pessoais. Não é uma ideia perfeita e comentarei suas limitações.

No sistema de neolinguagem que uso, e/elu/e, eu já usava desde sempre estu e essu, pensando em algo combinante com elu.

Aparentemente outras pessoas consideraram isso e pensaram em pronomes demonstrativos que combinassem com seus pronomes pessoais. Como não vi exemplos disso sendo comentados, vou colocar abaixo alguns exemplos:

Ile - Iste, Isse
Éli - Ésti, Éssi
Él - Ést, Éss
Elae - Estae, Essae
Ila - Ista, Issa
Ael - Aest, Aess
Ily - Isty, Issy

Pronomes seguindo uma estrutura com vogais (únicas ou sílabas) ou consoantes lidas como vogais (y, w) e com L "no meio" conseguem oferecer boas adaptações de pronomes demonstrativos.

Não é o caso de pronomes como eld e elz, que terminam em consoantes. E nem o caso de pessoas que usam emojis e símbolos como pronomes pessoais.

Em relação a todes que usam ilo, essa proposta implicaria a elas o uso de isto e isso, que já existem  Não sei o quanto as pessoas se sentiriam confortáveis em usar isto e isso para si, visto que são pronomes muito usados para objetos e coisas abstratas, apesar que seu uso seria diferente dessas situações. Mesma coisa no caso de ilu.

Essa proposta serve para pessoas terem pronomes demonstrativos mais fáceis de se deduzir, e talvez que soem mais agradáveis por serem similares aos pessoais. Mas nada que seja obrigatório também. 

Para os casos em que não funciona a troca de L para ST/SS, pode-se escolher alternativas como estie e essie. Pessoas podem optar por pronomes semelhantes, como éste e ésse, se acharem "estranho" ést e éss por não terem nada no final.

Enfim, deixo aqui essas minhas ideias.

20 de jul. de 2019

Game: Undertale

(Descrição de imagem: uma tela preta com o título Undertale escrito em branco. Na letra R, em sua parte aberta, um coraçãozinho vermelho. Fim da descrição.)

Consegue imaginar um jogo com uma criança não-binária que cai num mundo de monstros, com uma história cheia de referências de RPG, e com a opção de ser ume salvadore ou ume destruidore? É assim que começo a falar sobre Undertale, lançado em 2015 e criado por Toby Fox.

A história é sobre uma criança humana chamada Frisk, que um dia decide escalar uma montanha, e acaba caindo numa caverna. Lá é o mundo dos monstros, isolados tempos atrás da humanidade e por uma barreira mágica. O objetivo principal de Frisk é sair daquele mundo. Como elu fará isso, depende de quem está jogando.

Existe toda uma mitologia por trás daquele mundo, que pode ser explorada em todas as rotas, mesmo com algumas diferenças. Sua interação com es personagens vai construindo seu trajeto por aquele mundo, que possui cenários bonitos e, mesmo não sendo tão grande, pode te proporcionar algumas boas horas de exploração. Mesmo sendo mais linear, o jogo te oferece muitas opções fora do objetivo principal, que acabam influindo na rota e em qual dos muitos finais você conseguirá.

No jogo é possível seguir 3 rotas: Pacifista, Neutra e Genocida. Apesar do formato típico de RPG, que geralmente te direciona a vencer inimigues para ganhar experiência e poder, Undertale possuiu fortes mensagens sobre a moral de alguém. O tempo todo você tem escolhas; poupar inimigues é uma delas. Suas escolhas refletirão sua moral. E, claro, suas escolhas terão consequências.

Quer testar os limites da sua moral? Quer descobrir o que significa EXP e LOVE? Quer uma aventura dinâmica que te permite explorar o mesmo mundo sob vários ângulos? Undertale é minha recomendação. Bônus: tem personagens queers.

16 de jul. de 2019

Proposta de bandeira

Recentemente fui na reunião de um coletivo que engloba corpos marginalizados em geral. Foi apontado que não existe uma bandeira de orgulho de pessoas gordas.

Pesquisei e confirmei. Não existe! (que absurdo)

O que achei em minhas pesquisas foi apenas uma bandeira de fetichismo por pessoas gordas (polêmica, mas aparentemente com uma aceitação considerável).

Pois bem. Tive umas ideias para uma bandeira de orgulho gordo, que acredito que possa também representar a positividade corporal em geral. Embora eu não seja gorde, positividade corporal me diz respeito e me senti na liberdade de propor algo.

Minha proposta:

(Descrição de imagem: uma bandeira composta por três faixas horizontais seguidas e um círculo branco na faixa do meio. As cores são, de cima para baixo; rosa, laranja, e amarela. Fim da descrição)

Simbolismo da bandeira:

Rosa: amor; em especial, o amor próprio.
Amarelo: a positividade (corporal).
Laranja: junção dessas qualidades, também motivação e encorajamento.
Círculo branco: unidade, perfeição, e totalidade; aqui representando também que todas essas qualidades estejam sempre infinitamente dentro das pessoas.

Recebi opiniões positivas. Estarei aguardando por mais opiniões, principalmente de outras pessoas gordas e do ativismo gordo/de positividade corporal. Era só isso.

Mesmo que não seja amplamente aceita, estou feliz com meu trabalho.

Quem tiver opiniões e sugestões, por favor comentar ou entrar em contato comigo.

6 de jul. de 2019

Em defesa da identidade abro

AC: exclusionismo, reacionarismo, discursos e ações contra fluidez de atração.



Essa semana o Twitter provou mais uma vez ser um espaço nada seguro e de reacionarismo contra as microcomunidades (aquelas com identidades mais incomuns ou bem específicas). A vítima dessa vez foi a abrossexualidade; a orientação abro.

(pra quem quiser conferir esse horror, apenas digite abrossexual na pesquisa do site)

Saí em defesa da identidade, apoiei pessoas sendo atacadas, fui atacade, bloqueei muites exclusionistas, enfim, uma semana bem estressante. Nem parece que semana passada era o tal mês do tal orgulho da tal comunidade LGBTQIAPN+.

Assim como no Twitter decidi escrever sobre essa identidade aqui também. Aqui é um espaço de respeito e tolerância às microcomunidades, afinal.

(Bandeira abro)

Primeiro de tudo, a definição (que muita gente não entendeu ou distorceu de propósito):

(definição com minhas palavras, mas ainda coerente)

"Uma atração muito fluída; a pessoa pode fluir entre orientações, sentir-se de orientações diferentes em períodos diferentes."

Em nenhum momento foi dito que a pessoa pode conscientemente escolher sua atração. A fluidez presente e característica dessa identidade é involuntária e natural; apenas acontece.

E, como foi dito, a pessoa se sente de orientações diferentes. Ora, não separamos as atrações por um, mais de um, e nenhum gênero por nomes? Não cria-se uma ideia clara de cada uma? Enquanto muita gente permanece em alguma dessas orientações, uma pessoa abro muda entre duas ou mais delas.

Como poderíamos resolver o impasse de alguém com uma atração assim? Deixá-la se dizer de orientações diferentes em tempos diferentes? Ou cunhar uma identidade focada nesse aspecto? 

Qualquer ume com bom senso suficiente saberia que na primeira opção haveria muitos ataques. Afinal a comunidade não aceitaria alguém se dizendo hétero, depois não-hétero, e hétero de novo, e assim por diante. Né?

Vi muita gente resumindo essa orientação em apenas bi ou pan. Principalmente, bi.

A questão é que uma pessoa abro teria períodos em que sua atração poderia sim ser descrita como bi ou pan. E, em outros períodos, não. Como exigir que a pessoa adote duas identidades tão bem definidas que, num dado momento, não a descrevem?

Já conheci uma pessoa que tinha períodos entre ter atração exclusiva por homens e ter atração exclusiva por mulheres. Poderia se dizer bi? Talvez. Se lhe fizesse sentido. Agora, sinceramente, nunca vi cogitarem incluir uma pessoa com esse tipo de atração na definição de bi. Até porque atrações fluídas - e percebi isso melhor essa semana -, ou nem são consideradas ou são atacadas fortemente.

E aliás, a Internet brasileira ainda nos faz o imenso desserviço de espalhar uma definição antiquada de que bi é atração por homem e mulher. E passam a ideia de ser algo constante. Como convencer uma pessoa que terá períodos de atração por muitos gêneros de que bi/pan a inclui? E como exigir isso quando a atração é inexistente?

Aquele velho discurso de a sexualidade humana é fluída foi... sabe-se lá pra onde foi.

O que realmente separa uma pessoa abro de pessoas das orientações mais "populares" é a constância da atração. Pessoas bi e pan se sentirão bi e pan o tempo todo, por mais que tenham preferência, por mais que a atração possa mudar a intensidade. Uma pessoa abro, não.

Está certo que microcomunidades não têm uma boa divulgação aqui no Brasil. Porém, mais uma vez, a maioria parece não querer sair de uma bolha e tentar ao menos compreender identidades menos conhecidas. E não é surpresa que os mesmos discursos feitos contra abro poderiam ser usados contra pessoas pan e a-espectrais. De fato, teve pessoas aproveitando a onda para fazer isso.

E pessoas abro podem adotar junto as orientações mais conhecidas, ou se apresentar com elas dependendo do espaço, considerando a orientação que identificam no momento, ou qual orientação costuma ser mais presente em suas vidas. Não é incomum as identidades menos conhecidas acompanharem as identidades populares.

Ainda acho que abro deveria ser também uma identidade popular, junto com a atração pomo. Creio que muita gente se encaixaria numa identidade fluída e numa identidade indefinida, já que nem todes têm uma atração constante e perfeitamente descritível nos conteúdos mais aceitos e divulgados.

Por isso também que o argumento de que confundiria pessoas se descobrindo é falho. Até parece que não existem pessoas fluídas desde sempre. E mais, se a pessoa depois vier a se descobrir melhor e não for abro, ela apenas deixa de se identificar como tal. Uau! Que simples, não?

Para finalizar: a orientação abro é válida, deve ser respeitada, não invalida orientações multi, e definitivamente não contribui com a opressão vivida pela comunidade LGBTQIAPN+. Quem quis entender ou rever seus conceitos, ótimo. Reaças da comunidade, queimem. Beijos de luz.