28 de jun. de 2015

Comentando uma notícia

No dia 26 de junho de 2015 foi anunciado que a Suprema Corte dos Estados Unidos havia aprovado, numa votação de 5 contra 4, a união homoafetiva em todos os estados do país. Antes a questão era dividida em estados que aprovavam e outros que não aprovavam. Agora isso acabou.

O mundo comemorou. O Brasil comemorou. Acompanhei toda a comemoração, e claro me juntei a ela. O que foi comemorado? Ora, um progresso! Os Estados Unidos, mesmo sendo um país predominantemente evangélico, nos ensinou a importância de não misturar religião e política. A bancada evangélica do nosso Congresso é a prova viva das consequências dessa mistura. Para um país, cuja influência repercute mundialmente, esse progresso poderá servir de exemplo para muitos outros países. O mundo precisa melhorar muito ainda... em alguns países a prática homossexual ainda é respondida com morte.

Aqui no Brasil vi muita festa. Fiquei feliz em ver o Facebook (entre outras redes) recheado de arco-íris para todos os lados. Foi maravilhoso!  Mas, como em toda comemoração a respeito do direito de minorias, tem aquela turminha chata e hipócrita para encher o saco. Muitos religiosos (como de costume) e muitos reacionários se opuseram a comemoração (muitos ainda alegavam que estávamos fazendo uma campanha!). Veremos qual foi a reação dessa vez (além dos xingamentos e da destilação gratuita de ódio irracional).

O maior "argumento" dessa turminha contra a comemoração foi que estávamos nos juntando nessa causa, mas que ninguém fazia nada sobre a fome no mundo. Rolou pelo Facebook uma imagem simplesmente repugnante, que era o de uma criança africana e esquelética coberta pelas cores do arco-íris. Ainda bem que tive a sorte de não ver essa imagem postada por alguém na minha TL. Se eu visse... ah, essa pessoa tomaria o maior esporro. Essa turminha (que além de hipócrita possui a capacidade de criar as máscaras mais escrotas para ocultar o preconceito velado) acha que não podemos lutar contra a LGBTfobia e contra a fome ao mesmo tempo. Ou se luta por uma, ou pela outra. Aliás, eu gostaria de saber qual a relação entre essas duas lutas! O engraçado é que bastou haver um progresso sobre direitos de minorias que a fome do mundo foi milagrosamente lembrada pelos setores reacionários, aqueles que são contra bolsa-família, que desviam de mendigos, sabe? Eu gostaria apenas de perguntar a esse pessoal que quer acabar com a fome do mundo onde eles estavam nos outros dias do ano? Por que só desde o dia 26 a fome do mundo se tornou uma questão urgente? Bem, vamos ver pelo lado positivo: a união homoafetiva é tão poderosa que fez os setores reacionários se lembrarem das crianças da África!

Como não gosto de bajular os Estados Unidos, quero esclarecer aqui e agora que o país não se tornou o país perfeito só por isso. É um país ainda muito racista, muito machista, e o apoio que pessoas transgêneras precisam ainda está faltando muito. A união homoafetiva apenas favoreceu gays e lésbicas, e talvez as pessoas bissexuais que optarem pelo mesmo gênero como cônjuge. É um país que ainda precisa melhorar, e muito. Imagina a gente, com esse retrocesso todo, com essa bancada maldita, com essa quantidade absurda de gente ignorante e intolerante!

Se o avanço em questão fosse em relação aos negros, ou qualquer outra classe de minorias, eu estaria celebrando, pulando e aplaudindo do mesmo jeito! Ainda seria um avanço maior do que nós brasileiros estivemos fazendo em pleno século XXI.

Deixa eu dizer outra coisa para a turminha: a nossa comemoração não apagou os demais problemas do mundo! A fome, o racismo, o machismo, a transfobia, a corrupção, etc etc etc ainda existem! Se essa turminha achou mesmo que pensávamos assim, então essas pessoas são de uma estupidez tão gigantesca que não encontro palavra na língua portuguesa para descrevê-la.

E essa mesma turminha também veio dizendo que virou "modinha" mostrar apoio à comunidade LGBT e ser tolerante. Caramba, que bom! Respeito e tolerância são modinhas que valem a pena seguir! Não tenha medo de seguir, viu? É libertador. E mesmo que algumas pessoas não sejam realmente tão a favor, pelo menos não está espalhando ódio.

Mas falando nisso, falando sobre as pessoas que não são muito a favor de verdade, não pude deixar de reparar em pessoas conservadoras colorindo a foto também. Não sei dizer se realmente apoiando ou apenas entrando na onda. Só um aviso para essas pessoas: colorir a foto do perfil do Facebook não reduz seu preconceito. Quem é conservador e não mudou a foto, eu dou parabéns: contudo e apesar de tudo, essa pessoa foi honesta. Agora para quem mudou... menos falsidade, ok? Não precisamos disso. Não mude apenas a foto, mude as atitudes também!

Novamente, parabéns aos Estados Unidos pelo progresso.
E que haja mais progressos para todos os movimentos sociais!
Não apenas nos Estados Unidos, mas no mundo inteiro!



25 de jun. de 2015

Igualdade e justiça

Atualmente a população vê e ouve inúmeras discussões sobre direitos civis de minorias e classes oprimidas. Direitos LGBTs, direitos das mulheres, direitos dos negros, enfim, diversos tipos de direitos. Como eu já abordei nesse blog, o que todos os movimentos sociais têm em comum é a luta pela igualdade.

Porém, muitas pessoas ainda não compreenderam plenamente o que é necessário para formarmos uma sociedade igualitária.

É difícil para a maioria da população entender as necessidades de outras classes sociais. Por exemplo, é difícil um homem hétero cisgênero entender perfeitamente o que um homem gay precisa para ser socialmente visto e tratado como ele. Quando crescemos numa posição social privilegiada, criamos em nós uma visão de mundo baseada naquela posição, sem incluir outras.

Talvez essa seja a parte mais abstrata de se compreender sobre o igualitarismo: precisamos dar mais para quem precisa de mais. Isso não é privilégio.

E aí entra o fator principal para atingirmos o verdadeiro igualitarismo: justiça. A justiça fornece a oportunidade na mesma proporção que a necessidade de uma pessoa. A justiça, como a própria palavra diz, é justa: quem precisa de mais, ganha mais; quem precisa de menos, ganha menos. Uma sociedade verdadeiramente justa saberia equilibrar os direitos de todas as classes e camadas sociais. Não há como haver igualdade sem justiça. Igualdade sem justiça é uma falsa igualdade, igualdade incompleta e vazia.

Essa imagem que encontrei nas redes sociais retrata de maneira simples e objetiva a ideia do texto.

(Esse é o equilíbrio de direitos mencionado anteriormente)

Quando LGBTs, mulheres, população negra, entre muitos outros pedem igualdade, não é apenas igualdade. Queremos justiça. Somente a justiça oferece a igualdade que precisamos para estarmos verdadeiramente no mesmo nível que a maioria da população, que sempre foi privilegiada.

Não é vitimismo, não é querer privilégios, não é uma busca por uma supremacia. 
É apenas a busca por uma sociedade inclusiva para todxs.



20 de jun. de 2015

O lado controverso dos contos de fada

Contos de fadas e clássicos infantis são vistos com bons olhos, mesmo nesses tempos modernos. Achamos as fábulas bonitinhas e divertidas, cheias de magia, aventura, e lições de moral. Mas quando tiramos a fantasia... Bem... Vemos o lado feio dessas histórias, ou melhor, o lado controverso.

Confiram:



Branca de Neve e os Sete Anões

- Escravidão praticada contra Branca de Neve pela madrasta.
- Relacionamento precoce; Branca de Neve e o Príncipe se apaixonam em questão de segundos.
- Assassinato por encomenda; o caçador é mandado para matar Branca de Neve.
- Branca de Neve fica sob o mesmo teto com sete homens... Polêmico.
- Beijo forçado. Vocês podem até dizer "ah, mas isso é uma história de fantasias, e os dois estavam apaixonados" ou também "ah, mas só o beijo de amor poderia acordá-la". Pela perspectiva fantasiosa, mágica e colorida é um ato bonito sim. Pela perspectiva humana e racional, não... Beijar alguém sem seu consentimento é um abuso.

Chapeuzinho Vermelho

- A história pode, implicitamente, ser associada a um pedófilo perseguindo uma menina.
- Negligência da mãe da Chapeuzinho em deixá-la andar sozinha por uma floresta.
- Invasão de domicílio; o lobo entra na casa da vovó.

A Bela e a Fera

- Assédio de Gastão com Bela (o cara não se toca que ela não quer nada com ele?).
- Invasão de domicílio; o pai de Bela invade o castelo da Fera.
- Síndrome de Stockholm: Bela se apaixona pelo homem que a mantem em cativeiro.

Cinderela

- Escravidão praticada contra Cinderela pela madrasta e as irmãs postiças.
- Machismo do príncipe em convocar todas as moças do reino para escolher uma noiva. Puxa, quem ele pensa que é? A última bolacha do pacote?
- Relacionamento precoce.

A Bela Adormecida

- Discriminação; Malévola (ou qualquer outro nome) não é convidada para a celebração do nascimento da filha do rei.
- Porém ela desconta a raiva na filha do rei. Vingança cega.
- Relacionamento precoce.
- Beijo forçado.

A Pequena Sereia

- Uma jovem fugindo de casa e renegando suas origens para ficar com um homem que acaba de conhecer. Se todas as jovens agissem assim...
- Relacionamento precoce.
- Ela tem pouco tempo para seduzir o Príncipe, e para assim permanecer humana. Boa lição amorosa...

Alice no País das Maravilhas

- A história toda pode ser comparada a uma viagem alucinógena (dorgas...).
- Negligência da irmã de Alice deixando-a sozinha por aí.
- Violência; a Rainha manda cortar as cabeças das pessoas.
- Abuso de autoridade da Rainha.

Peter Pan

- Um menino delinquente e sem limites que faz o que quer, e ainda cortou a mão do Capitão Gancho e a deu para um crocodilo comer. O ódio do Capitão é compreensível.
- Os personagens ganham a habilidade de voar com um pó mágico, o que pode ser comparado aos efeitos alucinógenos de uma droga.
- Violência entre crianças, a pior sendo a personagem Wendy levando uma flechada.

Cachinhos Dourados

- Invasão de domicílio; Cachinhos Dourados simplesmente invade a casa dos ursos em sua ausência.
- Danos à propriedade; Cachinhos Dourados quebra uma cadeira.

Pinóquio

- Esquizofrenia; Gepetto cria um boneco de madeira para ser seu filho.
- Menores de idade bebendo e fumando.

Rapunzel

- A bruxa mantem Rapunzel em cativeiro por anos.
- Abuso físico; a bruxa utiliza os cabelos de Rapunzel para subir e descer da torre.
- Violência, o Príncipe é atirado da torre pela bruxa e acaba cego quando cai sobre os espinheiros.

João e Maria

- Abandono de menores.
- Invasão de propriedade; João e Maria invadem o território da bruxa.
- Canibalismo; a bruxa devora crianças.
- Assassinato; Maria mata a bruxa.



E aí? Ainda conseguem enxergar os contos de fada com bons olhos?



17 de jun. de 2015

Pensamento do dia

O armário é um lugar escuro e empoeirado. 
Quando guardamos coisas, estamos apenas guardando. 
Quando nos guardamos, estamos nos escondendo.

Por que pessoas se escondem? Principalmente por medo.

Medo do que?

Rejeição, reprovação, escândalo, raiva, fofoca, todo tipo de violência verbal. Há quem diga que tudo que é apenas verbal não é preconceito. (ex: tem gente que pensa que homofobia é só quando um gay é fisicamente agredido)

Ah sim, medo também de ser agredido, de apanhar, de sofrer humilhação, bullying.

Talvez o maior medo de todos seja o medo da morte. Diariamente pessoas diferentes da maioria da população são mortas apenas por serem o que são.

Com quem as pessoas diferentes podem contar? Família; talvez a primeira que pensem. Amigxs, colegas, gente de confiança.

Uma das piores decepções da vida é uma pessoa que te inspira confiança simplesmente quebrá-la com um gesto ou uma frase infeliz. Sabe aquele parente que você sempre admirou, mas na mesa do almoço de domingo fez uma piada ou um comentário muito preconceituoso?

E o bullying que rola na escola? Ensino fundamental e ensino médio podem ser um inferno também... Os meninos zoam, as meninas fofocam, todo mundo querendo saber se aquele garoto mais recluso e calado gosta de homem, ou se aquela menina mais rebelde que usa boné gosta de mulher. Besteira, tudo besteira! Contudo, quem está na escola reflete apenas o preconceito de casa.

Para quem é imune ao preconceito diário, piadas são inofensivas, comentários recheados de intolerância são apenas opinião, e as zoeiras e fofocas da escola são culpa da pessoa. Sempre assim.

E tudo isso colabora para a permanência da pessoa no armário.

Um lugar escuro e sufocante, onde ela tem medo de falar, de se expressar, onde ela permanece até empoeirar. É uma morte lenta, uma morte emocional.

A pessoa do armário pode ainda tomar rumos na vida, como viver uma mentira. Ou, um belo dia, ela pode sair de uma vez do armário.

A saída é libertadora. Mas é triste quando feita sem companhia, sem apoio.

Ainda recentemente uma pessoa da minha casa perguntou se eu era gay. Eu não quis responder, afinal minha vida pessoal não é da conta dela. E ela me vem com a seguinte pérola: eu pergunto se você é gay da mesma forma que eu perguntaria se você é ladrão, puta. A pessoa linda e maravilhosa colocou homossexuais no mesmo nível que ladrão e puta...

Cuidado com o que diz para as pessoas que conhece. Você nunca sabe quando uma frase ou uma atitude pode ofender.

E você? Já refletiu sobre o que você faz e fala?

Você está ajudando alguém a sair do armário? Ou continuar nele?



13 de jun. de 2015

'S'

Sem sentimento, sem sofrimento, sendo seu, somente seu sonho sombrio.

Servindo sua solidão, sua sina, seguindo sempre seu senso sobre sacrifício.

Sim, satisfazendo seu sufoco sentimental, sentado sob sessenta sinos.

Sorvendo seu suco soporífero, sugando seu sabor seco sinistro.

Sanidade, sensatez, segurança... São sempre sentidas sem seduções?

Será sortilégio? Será serendipidade? Sussurros suaves, semblantes sutis, sociedade silenciosa.

Sol, Senhor sobrenatural, sortudos serão sempre seus subjugados.

Santos são seus sectários, suficientemente sábios sem serem subjetivos.

Surubas, sexo, safadezas, se safando sem sentença.

Sobrenomes, sinceridade, senhas, se sucumbindo sem sinfonia.

Sereias serpenteando serenas, seguindo sentido setentrional.

Sóbrio, sonhando sombras sambando sobre sua sepultura.

Seu sapato serviu.

Sem sentido...

9 de jun. de 2015

Parada LGBT 2015

("Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim: respeitem-me!")

Antes de tudo, eu gostaria de parabenizar a primeira Parada LGBT que fui. Vi que não é a putaria e algazarra que a televisão adora mostrar.

Como de costume, o evento causou polêmica nos setores mais conservadores ou ignorantes mesmo. E a própria comunidade, como de costume, cometeu seus erros.

Como sempre a notícia do evento é espalhada como Parada Gay, como se LGBT fosse sinônimo de gay. Mas beleza. Até eu já cometi essa gafe, e procuro sempre me corrigir.

Lembro-me de ter passado por um trio elétrico que tinha um cartaz que se dizia lutar contra a "homolesbotransfobia".
Ponto positivo: finalmente lembraram-se da existência de lésbicas e pessoas transgêneras.
Ponto negativo: esquecerem (de novo) as pessoas bissexuais. Cadê o 'bi' na palavra?

Agora a maior polêmica: uma travesti simulando uma crucificação.


Antes de tudo, vamos criticar a linda frase que estava escrita acima da cruz: "Basta de homofobia com GLBT". Hã? Oi? Não entendi... Basta de homofobia com gays, lésbicas, bissexuais e trans? Mais uma vez usamos homofobia e gay como genéricos de todo preconceito e de todos os grupos da comunidade LGBT. Lésbicas e pessoas transgêneras foram novamente apagadas. E as pessoas bissexuais? Duplamente apagadas. Bissexualidade é tratada como ficção...

Cadê as pessoas ativistas e militantes para apontar essas falhas???

Enfim... a polêmica. A travesti permaneceu crucificada durante todo o evento. O maior ponto positivo disso foi pela pessoa crucificada ser justamente uma travesti, visto que o grupo das pessoas trans ainda é muito invisibilizado dentro e fora da comunidade (a frase citada é a prova disso). Os religiosos, mais especificamente os evangélicos (como sempre), não gostaram da imagem e ficaram #xatiados. O repúdio esteve vindo até de pessoas que não seguem a religião.

Acredito que por um lado temos gente ignorante e sem senso crítico suficiente para interpretar a imagem, ou também sem empatia por todo sofrimento histórico e diário da comunidade LGBT. Por outro lado, temos gente hipócrita e irracional. Simples assim.

Para começo de conversa, o pessoal está pensando que a crucificação é monopólio do cristianismo. O ato da crucificação era praticado pelos romanos contra transgressores de suas leis. Isso existia bem antes da época de Cristo (considerando sua real existência). Aliás, o próprio Jesus foi crucificado por ser considerado um subversivo pela população (não vou discutir sobre a suposta vontade de Deus aqui, é subjetivo demais).

Desde o crescimento da influência judaico-cristã na História, a população LGBT vem sendo julgada e tratada como subversiva. Ora, não ocorreu o mesmo com Jesus Cristo? A imagem era justamente uma simbologia da perseguição, do ódio e da condenação cometidos contra as pessoas LGBTs. Atualmente não somos crucificados (alguns até gostariam que fôssemos), mas ainda somos estatísticas de morte e todo tipo de violência apenas por sermos o que somos. Sobre isso ninguém faz protesto na Internet, né? Enquanto morremos, e em silêncio, está tudo bem. O mundo é perfeito!

Percebe-se que há pesos diferentes quando a pessoa na cruz é um homem heterossexual e cisgênero e quando é uma travesti: um é aceito e o outro é repudiado. Nada diferente do cenário atual na sociedade.

E mais, analisemos a hipocrisia exacerbada de quem está criticando a imagem: um jogador famoso também apareceu crucificado na capa de uma revista nacional. Não houve repercussão. Dizem que houve críticas, mas a mesma repercussão não teve; nunca terá. Deve ser porque, além de homem heterossexual e cisgênero, estamos falando de um ícone nacional. Ícones são perdoados dos olhares super críticos da sociedade.

A visão crítica da população brasileira parece ser seletiva. Se houvesse concurso de hipocrisia e incoerência, o povo brasileiro ganharia quando o assunto é a comunidade LGBT.

O mais engraçado é ver essas pessoas religiosas dizendo: "ah, depois querem respeito". Pedimos respeito diariamente. Recebemos? Hm... Acho que não. O Brasil ainda é um país retrógrado e muito desinformado. Ainda escutamos "opção sexual", temos que engolir discurso preconceituoso de conservadores mascarado de """liberdade de expressão""", pessoas transexuais são vistas como uma "evolução" dos homossexuais, e ainda temos que aturar enquete no site da câmara discutindo se famílias homoafetivas podem ser ou não consideradas famílias! Recentemente não quiseram boicotar uma empresa de perfumes apenas por incluir casais homoafetivos na propaganda?

Muitas dessas pessoas ainda estão dizendo que acharam a imagem ofensiva, e que não é assim que deveríamos fazer as coisas. Primeiro, ofensivo são as estatísticas mencionadas; as mesmas que todos parecem gostar de ignorar. Segundo, pessoas heterossexuais e cisgêneras (especialmente os homens, porque homem adora opinar em tudo) não devem dar pitaco no movimento; só nós sabemos a cruz que carregamos, e é a mesma que carregamos há séculos.

Ainda não entendi porque uma 'imagem' chocou a população evangélica, conhecida por não cultuar imagem. Aliás, desgostam tanto de imagens que já tivemos pastor chutando e quebrando estátua de santa. Cadê o repúdio geral sobre esse desrespeito?

Triste também é ver alguns gays desaprovando o ato. Quero acreditar que estão no grupo dos ignorantes sem senso crítico suficiente. E claro, há membros da própria comunidade praticando a hipocrisia habitual. Li críticas feitas sobre a exposição do corpo das travestis, como se expor o corpo fosse um absurdo, um desrespeito. Ninguém reclama dos gogo boys de cueca rebolando no alto dos trios, né?

Faço minhas as palavras de uma maravilhosa mulher trans que sigo no Facebook:

"Num país em que homem cis pode andar seminu que está apenas com calor, considero que as mulheres (trans ou cis) e travestis expondo os seios estão protestando mesmo que estejam em silêncio. O corpo milita."

Ah, e esses mesmos gays estão falando sobre a Parada estar prejudicando a visão pública sobre a comunidade. Se militássemos de acordo com a vontade da sociedade, nem direito a manifestações teríamos. Continuaríamos sendo vistos como doentes mentais ou seres invisíveis, pois no mundo perfeito só existem homens e mulheres heterossexuais e cisgêneros.

E se acham que a luta da comunidade LGBT é exclusiva e unicamente dela estão muito enganadxs. Heterossexuais já sofrem agressão por serem confundidos com homossexuais (lembram-se do caso do pai e do filho?). O preconceito se espalha como uma doença, e sinto dizer, não é mais uma endemia, já se tornou pandemia.

Conclusão dessa porra toda: todxs precisam melhorar! População geral precisa largar a hipocrisia, a falta de empatia, e essa zona de conforto chamada ignorância. E comunidade LGBT precisa ser mais inclusiva sobre o L, o B, o T, e muito mais.
Como querem desfazer a desarmonia externa tendo desarmonia interna?
Melhorem, todxs vocês.

(Diversidade de afeto, gênero, sexo e sexualidade)



6 de jun. de 2015

Historinha: Racismo inverso

Era uma vez um rapaz branco, bem branco mesmo.
Ele vivia numa casa branca com pessoas brancas e um cachorro branco.
Ele estudou História na escola, principalmente História do Brasil. Ficou com pena da escravidão cometida contra a população negra.
Ele não se importava em apelidar os coleguinhas negros de "macaco" ou "carvão", e não via nenhum problema nisso, apesar da onda do politicamente correto que estava circulando na Internet. Afinal o preconceito está na cabeça das pessoas.
Como a escravidão já havia acabado, o rapaz concordou com a opinião de seu querido pai de que os negros atuais eram os mais racistas.
Ele associava toda crença africana com macumba ou vudu.
Toda manhã dos dias de semana ele acordava para trabalhar e dizia para si: hoje é dia de branco!
Ele era tão solidário com a população negra e tinha tanta empatia por ela que os considerava como iguais a ele; até dizia que não deveria existir Dia da Consciência Negra, e sim da Consciência Humana.
Ele adorava escrever longos textos no Facebook sobre meritocracia e sobre sua oposição às cotas, alegando que todas as pessoas negras tinham a mesma oportunidade que as brancas e que nos dias atuais eram vistas e tratadas com igualdade e justiça.
Numa bela tarde de outono, em sua roda de amigos, o único negro do grupo sugeriu que apelidassem o homem de palmito.
Foi nesse dia que o pobre rapaz branco percebeu que era possível existir racismo contra brancos.

Fim



3 de jun. de 2015

Perguntas e frases inocentes de minorias para maiorias

Já pensaram em quanta coisa é lida/ouvida por minorias? Perguntas e frases que, para quem faz, pode não parecer estúpida, tendenciosa ou preconceituosa num nível sutil, e na realidade são? Quanta besteira todxs nós falamos e escrevemos diariamente, coisas que reproduzem de uma forma ou de outra os preconceitos existentes. 

Hoje vamos inverter o quadro geral que presenciamos diariamente:



"O que você pensa sobre o casamento de pessoas do sexo oposto?"

"O que você acha da adoção de crianças por casais heteroafetivos?"

"Ah, eu sempre quis namorar um cara branco e ocidental"

"Você gosta dela? Mas ela é tão... magrinha, esbelta, olha aquelas curvas!"

"Nunca pensei que minha filha namoraria um branquinho"

"Você namoraria um cara macho e discreto?"

"Nossa, seu cabelo é tão lisinho. Já pensou em deixá-lo mais encaracolado?"

"Menina, você é moleca demais para uma hétero"

"Ele é um homem bonito, simpático, carinhoso. Mas ele tem um pênis lá embaixo... Como eu poderia transar com ele?"

"Você é bonito demais para um branco"

"Você concorda em deixar seus filhos terem aula com uma professora hétero?"

"Ah, você é cis? Nem dá pra reparar"

"Eu arriscaria ficar com você. Mesmo você sendo cisgênero"

"Gosto muito dele. Mas como eu poderia viver com ele, que não tem uma prótese que nem eu? Você me entende, né?"

"Como assim você não gosta de mulheres e homens? Ou gosta dos dois ou não gosta de nenhum, não existe isso de gostar de apenas um"



Viram só como tudo isso fica estranho e até ridículo quando invertemos os papeis?