24 de jan. de 2018

Animais têm gênero?

Começarei com a resposta: não.

Mas tenha calma, o artigo ainda tem o que dissertar.

As concepções de gênero são construções da humanidade. A identidade de gênero é uma característica biopsicossocial e as noções sociais de homem e mulher estão impregnadas com muitas ideias normativas. Com tudo isso, é evidente que animais não têm gênero - são essencialmente agêneros.

Podem ter algum entendimento de seu sexo (principalmente nas espécies separadas em macho e fêmea) e seus papeis na reprodução, comportamento que fazem por instinto. E há casos de animais de um sexo, em determinadas circunstâncias, adotando a "posição" do outro sexo. Ainda assim, estamos falando de sexo, não de gênero.

E para verem como é falho impor gênero a espécies não-humanas, se colocamos "machos" e "fêmeas" nas caixinhas, respectivamente, masculina e feminina de acordo com seus sexos, como lidar com os seres hermafroditas? Não deveria haver uma linguagem ou classificação específica para eles?

Agora entramos numa questão polêmica: utilizar linguagem masculina para os machos e feminina para as fêmeas não é contribuir para cisnormatividade? Sim, contribui sim. Assim como nas pessoas estamos impondo um gênero de acordo com sexos definidos como masculino e feminino. A diferença é que animal não se importa, afinal não compreendem o que é gênero.

Afinal, qual seria a solução dessa questão? Bom, particularmente acharia ideal utilizar uma linguagem que transmita neutralidade ou ao menos não reflita gêneros. Um exemplo, poderiam utilizar neopronomes (como elu) para os animais.

Claro que é uma coisa difícil e que pode gerar controvérsias. Eu mesmo acho difícil chamar meus gatos e minhas gatas de um modo que não seja cisnormativo. Mas meu ponto aqui é que essas imposições cisnormativas aos animais são apenas mais uma forma de manter essa opressão.

E sinceramente, que ridículo a gente querer reforçar gênero nos animais colocando neles acessórios tradicionalmente masculinos ou femininos, achando isso uma coisa bonitinha, sendo que para o animal não faz sentido e ainda pode causar algum incômodo.

Independentemente da solução, com certeza ela terá as mesmas barreiras que a desconstrução da cisnormatividade na humanidade. Ao menos os animais têm a sorte de não sofrerem discriminações ou violências de gênero.