31 de out. de 2018

O que é sexo?

AC: menções a sexo e genitálias, descrição de atos sexuais, menção a abuso.



Ano passado participei de uma roda de conversa com pessoas não-binárias e a-espectrais. E chegamos a entrar no tópico sobre sexo e sexualidade. A princípio achei um pouco estranho pessoas assexuais e do espectro puxarem esse tema. Mas teve um diálogo fantástico.

Discutimos justamente a pergunta do título do artigo. O que torna o sexo sexo? O que é sexo de verdade? Existem critérios para determinar um ato como sexo ou somos nós que decidimos se nossos atos são sexo?

Uma das pessoas lá, que era demi e gris, disse que considerava um carinho na cabeça algo tão prazeroso que poderia ser comparado ao sexo descrito por alossexuais. E isso me fez pensar no quanto construímos uma noção tão limitada de sexo baseando-se numa perspectiva alossexual. Uma participante enriqueceu bem mais a conversa adicionando construções do patriarcado e todo o mecanismo da pornografia em padronizar o sexo.

Já sabemos o quanto é problemático considerar sexo apenas quando há penetração. Porque isso invalidaria as relações de praticantes de gouinage, principalmente pessoas com vagina. E poderia ser usado como argumento para invalidar certos casos de abuso. Mas então veio meu questionamento: precisamos tocar a pessoa?

Eu já havia feito sexo virtual duas vezes e eu senti como se tivesse transado "fisicamente" com a pessoa. Pra mim aquilo foi válido, foi real. Me conectei com a pessoa e gozamos através de estímulos visuais entre nós. Como isso não pode ser de verdade?

Foi refletindo sobre outras coisas que fiz antes da minha "primeira vez" (que aconteceria dois meses depois dessa roda) que me fizeram perceber que virgindade nem tem sentido. Eu não soube mais dizer quando foi a tal da primeira vez. Mas claro que isso não apaga o fato de que o que fiz dois meses depois foi algo marcante, pois foi bem diferente de sexo virtual ou masturbação mútua. O primeiro sexo oral e o primeiro sexo anal ainda têm um peso na memória.

Saí dessa conversa sem saber o que exatamente define sexo, mas saí dela com uma visão mais ampla que permite várias respostas à pergunta. Sexo não precisa ser físico, não precisa nem ter ejaculação. E se você quiser considerar que o sexo começou no beijo ou na simples troca de olhares, você pode. É a sua relação, é a sua vivência.

Mesmo agora acreditando que o sexo não necessita ser físico, não é todo flerte ou toda carícia que o considero como tal. É um tanto confuso, sinceramente. O que pude tirar da roda de conversa e reflexões posteriores é que precisamos redefinir nossa concepção de sexo. E precisamos estudar mais a assexualidade e o espectro assexual; assim explorando horizontes até então impensáveis sobre intimidade, prazer e o ato sexual em si.