7 de nov. de 2018

Eu avisei mesmo?

AC: política, eleições, fascismo.



Não havia passado nem uma semana após o resultado horrível das eleições desse ano e já havia pessoas arrependidas pelo voto. Arrependidas de terem votado no fascista que venceu a eleição com mentiras, fake news, polêmicas, discursos de ódio, e sem nem ir aos debates do segundo turno.

Em resposta logo se iniciou uma espécie de movimento, "Eu Avisei". Fiquei aqui, apesar do meu medo e meu temor pelo futuro, contemplando e rindo mentalmente (porque não estive conseguindo rir de verdade) das muitas postagens de pessoas decepcionadas com as atitudes recentes do presidente.

Mas depois comecei a refletir. E também vi outras perspectivas sobre o assunto. Segui minha conduta de estar sempre pensando racionalmente, mesmo diante de uma catástrofe alarmante, e comecei a rever sobre o que levou ao resultado da eleição. Foi então que percebi que o movimento "Eu Avisei" não ajuda muito a melhorar a situação atual.

Antes de tudo, podemos realmente afirmar que avisamos? Avisamos mesmo? Vamos nos questionar até que ponto nossos avisos chegaram mesmo, ou até que ponto chegaram e foram ignorados. Porque se é possível acreditarem que um candidato iria permitir mamadeiras com bico em forma de pênis, é muito possível que até os avisos do mundo todo tenham sido desacreditados.

E outra, avisamos de verdade? Ou só ficamos bloqueando as pessoas, rotulando todas como fascistas, e entrando em discussões sem rumo? Encarem isso de forma construtiva. Ah, e não estou falando da parte do eleitorado que é realmente fascista, tá?

É duro até para mim admitir isso, mas essas pessoas decepcionadas comprovam que uma parte significativa do eleitorado do fascista não era gente fascista, era gente ignorante, alienada, com medo, e querendo um país melhor. Essas pessoas devem estar muito frustradas. E mesmo que tenham me jogado no abismo junto com elas, não acho nem útil ou empático só apontar o dedo pra elas e rir delas ou xingá-las.

Além disso, como posso rir das pessoas estarem na merda sendo que eu estou na mesma merda? Ainda mais eu que faço parte de grupos mais vulneráveis. E com certeza há muitas outras pessoas tão vulneráveis quanto eu ou até mais no meio dessa porção desiludida.

Temos uma enorme rede de fatores que levaram ao resultado da eleição. E essa rede não começou esse ano, começou muito antes, bem antes; meu palpite é no ano de 2014. Muita gente tem culpa nisso. E eu ouso dizer que a própria "esquerda" tem muito mais culpa do que o tiozinho analfabeto que só assiste TV e se informa pelo Whatsapp da família. Ainda escreverei mais sobre isso.

Concluindo, todes têm o direito de estar com medo e com raiva, e eu entendo que podemos sentir o impulso de culpar a outra parte mesmo quando ela está visivelmente arrependida. Mas peço que reflitam sobre tudo isso que falei. E, sinceramente, agora prefiro focar minha energia em ser resistência e de trabalhar para que um resultado como esse nunca mais se repita. E só vamos conseguir isso construindo pontes. Isso vai exigir acolhimento, não apontar dedos.