24 de nov. de 2018

O politicamente correto estragou tudo?

Faz pouquíssimo tempo que eu ouvi uma pessoa conhecida dizer isso. Não, não foi reaça, não foi pessoa ignorante e alienada, não foi a típica pessoa privilegiada que chora porque agora não pode ser mais preconceituosa.

Essa pessoa defendeu que o "politicamente correto" deixou as pessoas com medo de falar, o que as deixou com raiva e repulsa das minorias, assim afastando-as de possíveis debates produtivos e fazendo-as caminhar pra oposição a essas populações.

Entendi muito bem o que a pessoa apontou. Refleti muito e posso dizer com toda sinceridade que continuo acreditando que o "politicamente correto" não estragou nada. Eu vejo toda essa questão por outro lado.

Foi de extrema importância sim dar voz às minorias e permitir que apontassem o preconceito que impregnava diverses piadas e discursos. Nada disso foi apenas uma questão pessoal, foi também uma forma de barrar a continuidade das opressões. Questionar e apontar ideias que diminuem, rebaixam, desumanizam é o primeiro passo para acabar com elas.

O que chamam de politicamente correto, a meu ver, foi o efeito desse primeiro passo. Não foi ruim e continuarei defendendo. Acredito que o que faltou de verdade foi saber explicar as razões de tais piadas e discursos serem opressives, e deixar as pessoas expressarem suas dúvidas da maneira que conseguem, mesmo que usando palavras erradas ou reproduzindo ideias equivocadas.

Grupos marginalizados não têm poder pra oprimir pessoas mesmo quando rechaçam ou repreendem. Porém, mesmo assim, pessoas devem ter ficado com medo de falar coisas relacionadas a esses grupos por nunca estarem cientes se estão ou não discriminando. De que adianta falar tanto em desconstrução se as pessoas não conseguem chegar a ela devido ao medo?

Acho que nosso maior pecado foi o método, não a intenção. E não falo somente no âmbito de piadas num programa ou de discursos em geral. Falo no âmbito social mesmo.

Por um lado entendo o quanto é estressante para muita gente dos grupos marginalizados lerem/ouvirem besteira, terem que explicar tudo, precisarem repetir o mesmo para várias pessoas. Isso deveria ser levado muito em consideração. Por outro lado caímos naquele beco sem saída de que: nós temos a vivência, as pessoas não têm isso e nem informação, e ainda somos a melhor fonte de informação pra elas.

Deixo aqui como reflexão para todes: até que ponto precisamos deixar as pessoas falarem como quiserem, e assim aproveitar para instruir e desconstruir, e até que ponto não devemos aguentar certes perguntas e discursos que podem ser intolerantes e desencadear estresse e gatilhos? Há muito que se pensar e ser revisto.