14 de nov. de 2018

Binarismo: raça e gênero

AC: exorsexismo, racismo, colonização, violência.



O termo binarismo (de gênero) esteve sendo muito usado por aí ultimamente. Não é difícil encontrar sites, páginas e grupos definindo o binarismo como a imposição de dois gêneros, mulher e homem. É compreensível esse uso do termo por ele ser intuitivo, binário + ismo. Porém, esse termo já esteve sendo usado há muito tempo na anglosfera e num contexto mais específico.

Na anglosfera, binarismo é um tipo de opressão de gênero e racial. É um termo específico para a imposição binária de gênero que culturas "não-ocidentais" (indígenas/nativas/originárias da América, África e Ásia) sofreram com os processos de colonizações eurocêntricos.

Exatamente por isso que eu prefiro o termo exorsexismo para falar da opressão contra a não-binariedade de forma geral. Prefiro naturalizar o uso desse termo e deixar binarismo para uma questão racial que também é muito importante em discussões históricas sobre gênero. O uso desse termo por pessoas brancas tem o mesmo peso de uma apropriação cultural.

Nossas visões atuais de gênero estão construídas em cima de uma forte base ocidental. A mesma base trazida e imposta pelas colonizações. Os povos atacados pelas colonizações tinham mais de dois gêneros e todos faziam parte de sua própria cultura, assim como ritos, festas e tradições.

Pode parecer absurdo, mas negar a existência de mais gêneros além de mulher e homem é também uma atitude racista, pois está reforçando toda a ideia exorsexista que as colonizações trouxeram. A mesma ideia eurocêntrica que destruiu essas culturas, apagou seus costumes e histórias, e perseguiu e matou pessoas que estavam fora da concepção ocidental de gênero.

Binarismo foi cunhado para falar especificamente de pessoas racializadas. Por isso defendo que seja melhor deixar esse termo para esse tópico em particular. E, além disso, precisamos incluir mais discussões sobre binarismo nos estudos de gênero.

Falar na possibilidade de mais de dois gêneros é importante por si só. Mas falar sobre culturas com mais de dois gêneros e do quanto a construção binária atual é branca e eurocêntrica é essencial para revermos nossos conceitos de gênero. Não podemos separar raça de gênero.

(Bandeira de pessoas queer racializadas)