9 de nov. de 2016

Enem 2016

O Enem desse ano foi a mesma coisa de sempre: pessoas atrasadas e um tema inevitavelmente político-social. Só acrescentou a ocupação de escolas, que poderiam dificultar a realização da prova e até causar o cancelamento da mesma. Não vou entrar no mérito de discutir isso.

Memes e polêmicas à parte, gostaria de comentar sobre o tema da redação desse ano: "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil".

A influência cristã no país é tão forte que no congresso temos uma bancada evangélica. Continuo sem entender como ela ainda existe, visto que pela Constituição somos um Estado Laico (um Estado em que a religião não pode intervir em questões políticas). 

Membros dessa mesma bancada deixam mais do que explícito que não sabem separar a própria religião da política. E não é incomum discriminarem as religiões africanas, publicamente ou em locais religiosos.

O maior alvo da intolerância religiosa é sem dúvida as religiões africanas; umbanda e candomblé, principalmente. A tendência da população cristã (em especial a evangélica) é agir com hostilidade com essas religiões, pois a maior parcela parte do pressuposto que o cristianismo é a verdadeira crença, e não abrem espaço para outras realidades. Isso, combinado ao racismo estrutural no Brasil, gera essa intolerância constante e diária. A cultura africana, preservada por descendentes dos imigrantes, é marginalizada. E também é apropriada pelas pessoas brancas.

Apesar das religiões africanas serem o maior foco quando a questão é intolerância, vale lembrar que outras crenças também são discriminadas socialmente, como o espiritismo, a wicca, e o islamismo. A ausência de crença, que é o caso do ateísmo, também está inclusa.

Afinal, quais seriam os caminhos para acabar com a intolerância religiosa? Resumidamente, bem resumidamente: educação religiosa. Ensinar sobre as religiões nas escolas, para assim fornecer informação, mostrar a diversidade religiosa e conscientizar sobre a importância de ser tolerante e aceitar essa diversidade. E também educar sobre laicidade! Não há ainda uma proposta dessas. A única proposta que já apareceu foi ensinar cristianismo apenas, outro delírio da bancada evangélica.

Num país verdadeiramente laico e tolerante, todas as religiões conviveriam em harmonia, sem interferir em questões do Estado. É assim que deveria ser. Infelizmente o Brasil vive uma quase teocracia com esses políticos criando leis e projetos absurdos. A tendência é piorar, sinto dizer.

O tema é necessário e reflete nossa situação atual. E não duvido que deve ter havido gente que escreveu sobre "cristofobia" na redação. Sim, há pessoas que acreditam que a população cristã é discriminada por sua religião! A mesma que prega ódio contra minorias sociais e as religiões africanas. Se existe alguma cristofobia, ela é praticada entre as próprias vertentes cristãs, como a evangélica faz com a católica.

Quem sabe o tema não possa ter aberto os olhos de quem ainda sofre da presunção de que sua religião é a única correta?