19 de nov. de 2016

Militância pós-moderna

Talvez esse texto gere certa revolta contra minha pessoa. Recomendo a todxs que leiam com mente aberta, imparcialidade e estando muito zen.

Entrar nos grupos virtuais de militância foi um enorme passo para mim. Não foi como seguir ou acompanhar páginas por aí ou algumas pessoas militantes. Foi algo maior e libertador. Naturalmente, afinal são grupos com uma quantidade enorme de gente, o que possibilita uma diversidade de personalidades, opiniões, pensamentos, ideias e relatos.

Aprendi muito com esses grupos. Eu não seria quem sou se não fosse por eles. Eu não seria o militante que sou sem eles. E continuo aprendendo enquanto faço minha parte de desconstruir o preconceito interno e externo.

Contudo, tenho minhas críticas e divergências sobre a conduta das militâncias que observo nesses grupos e de militantes de quase todos os movimentos sociais.

1- Militantes estão cada vez mais formando grupinhos restritos onde só discutem entre si e não levam debates para fora, para outros lugares e para pessoas de grupos majoritários. No fim todxs se isolam.

2- O radicalismo cria pessoas explosivas e grosseiras, que dão um show de raiva frente a qualquer mínima demonstração de ignorância vinda de alguém de um ou mais grupos majoritários, e que acham que podem distribuir patadas gratuitas. Há quem use o argumento do "reação do oprimido" como justificação.

3- Tem debates sobre preconceitos e discriminações que acabam virando uma competição bizarra de "quem sofre mais". Entendam que todo preconceito é ruim e que sofrimento é relativo e varia de pessoa em pessoa.

4- Acabam focando tempo e energia mais rechaçando uma pessoa que não entendeu algo do que esclarecendo e ajudando na desconstrução dela. Ninguém nasce desconstruído! Vejo com frequência as respostas clássicas "seje menas" ou "close errado" ou memes (da Inês Brasil, por exemplo). Sim, precisamos ter paciência para explicar e conscientizar!
Obs: não me refiro a pessoas que fazem discurso de ódio e só sabem xingar e tirar sarro.

5- Os próprios grupinhos restritos acabam excluindo seus membros quando não pensam igual a todxs ou pelo menos a maioria. E por fim recebem o mesmo tratamento que o item anterior.

6- Existe um grande número de militantes que age e fala como se qualquer pessoa dos grupos majoritários fosse incapaz de ter empatia e se desconstruir. Sem contar que não aprovam nem que mostrem apoio por suas causas, alegando "roubo de protagonismo". É importante pessoas da maioria passarem adiante o que aprenderam com a minoria! A aliança serve para isso!

Há alguns outros pontos, porém não vou abordá-los nesse artigo. São pontos que precisarão de uma discussão bem maior e elaborada.

Eu acabei aderindo a radicalismos e irracionalidades que aprendi nesses grupos. Após muito tempo comecei a me questionar sobre se meus pensamentos e minhas ações estavam realmente fazendo alguma revolução, contribuindo para a mudança. Percebi então que haviam certas falhas nesses grupos. E que há aspectos que podem ser melhorados.

Tudo que falei pode ser desconsiderado apenas por eu ser homem cisgênero branco de classe média. Pois estou numa posição privilegiada que pode me impedir de enxergar a necessidade e o sofrimento dos grupos minoritários os quais não pertenço. Ademais, nem falar com propriedade pelos gays posso, já que nunca sofri homofobia no mesmo nível que a maior parte.

Ainda assim, peço que pensem sobre tudo que escrevi. Analisem esses grupos e suas atitudes, reflitam sobre vocês mesmos, questionem-se. Façam isso antes de me xingarem e disserem "olha aí, o omi cis branquelo burguês querendo opinar na militância de todo mundo".

Mesmo com todas essas críticas apontadas, acredito que, de alguma forma, estamos caminhando a algum lugar. Do nosso jeito maluco, mas estamos. Creio que chegaremos na mudança, passando por fases mais pacíficas ou conturbadas.

Errar é humano, e quem milita são humanos. A militância deve continuar sua missão e deve procurar sempre o melhor caminho para cumpri-la.