24 de nov. de 2016

Minha faculdade

A graduação terminou e me vejo dando adeus ao lugar onde passei metade de uma década da minha vida. Não estou super emocionado, mas não posso negar o misto de felicidade e tristeza que estou tendo.

Sentirei saudades da instituição, de alguns professores e de poucas pessoas da minha turma. Manterei poucos contatos. O que levarei de lá não é apenas um diploma e formação acadêmica, e sim memórias e experiências.

Lembro até hoje do êxtase de começar a faculdade. Estava eu no vagão do metrô, de manhã, indo para meu primeiro dia de aula, sem saber ao certo se haveria aula ou não. "Estou dando um novo passo na vida, tudo vai mudar", pensei. Tive bons momentos, principalmente no primeiro ano, quando eu estava mais animado. Minha perspectiva do curso e das pessoas foi mudando com o passar do tempo.

Claro que nem tudo foram flores. Minha maior frustração foi achar que a faculdade seria um filme ou série estado-unidense. Pensei que logo no primeiro ano haveria: muitas festas, altas aventuras, histórias inusitadas de colegas, amores e um namoro (era o que eu mais queria!). Pensei que lá seria o local de encontrar grandes amizades e ter uma vida social.

Nada disso aconteceu, pelo menos não do jeito que eu esperava. Estou saindo do curso como uma nova pessoa, bem diferente daquela de 2012, mas estou saindo com minhas cicatrizes e desilusões. Então vou falar primeiro dessas coisas:

- Lá tive uma turma super desunida, cheia de gente infantil, e tivemos brigas que nem no Ensino Médio presenciei.
- Lá tive meu primeiro contato com um grupo LGBT e detestei a experiência. Não me identifiquei com a maioria, tive desentendimentos, e não consegui criar um grande vínculo com o grupo. Estou saindo de lá levando dois ou três colegas (no máximo).
- Lá conheci o homem que mais me feriu e cooperou com minha depressão desse ano. Felizmente ele recebeu o que merecia.
- Lá encontrei pessoas desagradáveis que fizeram questão de me ofender e tentar me prejudicar, como meu representante de sala do segundo ao quarto ano.

Talvez a maior decepção tenha sido o próprio grupo LGBT. Até ano passado não tive coragem de tentar ingressar num grupo desses. Tive bons momentos, mas poucos. Meus maiores desafios foram aceitar a moral do grupo (que contradizia muito com a minha) e perceber a realidade atual de grande parte das pessoas LGBTs - vivem mais relações superficiais e breves do que profundas. Isso se soma às outras coisas que critico, como a "cultura do desinteresse" ou a "lei do usar e descartar".

Bem, sinto informar a mim mesmo, isso se chama convivência. A faculdade me fez enxergar que a turminha feliz do Ensino Médio foi uma brincadeira e o mundo real é mais desafiador. Relacionar-se com as pessoas, com a sociedade, é desafiador. Tive que aprender a aceitar as pessoas, por mais que discordasse ou não suportasse elas. Posso não ter tido a vida social que sonhei, porém aprendi mais sobre o que é ser social. E preciso aprender mais ainda!

Chega de coisas ruins. Vamos falar das boas agora:

- Ser representante de sala no primeiro ano (mesmo não ter sido de total vontade) foi uma experiência que me fez aprender a ser responsável com pessoas que dependiam de mim e atendê-las com imparcialidade.
- Lembro até hoje do meu ânimo de apresentar meu primeiro trabalho acadêmico, no caso foi sobre Aloe vera e seu possível uso no tratamento de diabetes. Pesquisar, imprimir o banner e apresentar para os outros cursos foi muito empolgante.
- Só no segundo ano que fui pela primeira vez num bar com um grupo social, no caso meu clube do bolinha (que durou pouco). A sensação de ter uma vida social foi incomparável.
- Apesar das desavenças e conflitos iniciais com a junção da minha turma (manhã) com a da noite, foi uma experiência incrível de alguma forma. Lidar com pessoas desconhecidas, tentar unir as turmas e ter diplomacia até com as mais hostis (ex: meu representante) me ensinou muito.
- As aulas do terceiro ano foram as mais marcantes, especialmente Farmacologia e Farmacotécnica. Farmacologia por mostrar mais detalhadamente o mundo dos medicamentos. E Farmacotécnica pelas criações de produtos, como xampu, cremes, etc.
- Meu TCC deu dor de cabeça nos experimentos. Mas viajar sozinho para um congresso em Araraquara e apresentar lá foi uma experiência única e deliciosamente inusitada.
- Participar de palestras e reuniões fora da minha área foi uma novidade. Assisti apresentações com temas sociais e estive presente na formação (ressurreição) de um órgão que representa todos os estudantes, o DCE (Diretório Central dos Estudantes). Espero que dê tudo certo.
- O estágio que fiz na faculdade finalizou positivamente o ano e o curso. Trabalhar em equipe e realizar serviços para as pessoas me fez sentir algo que eu não sentia há uns dois anos: o prazer de ser farmacêutico.

Estar na faculdade é como estar em qualquer outro lugar: você vive e aprende, mesmo sem perceber. Não foi o curso de Farmácia que tornou a faculdade o que ela foi, e sim as pessoas que conheci. O curso só complementou. Acredito que nada é por um acaso; tudo que vivenciei tinha que acontecer.

Não, não saio da faculdade amando-a calorosamente e dizendo (pelo menos não agora) que foi a melhor fase da minha vida. Podia ter sido melhor. Mas o aprendizado que tive me fez ser quem sou agora. Levarei isso comigo para o resto da vida.