3 de fev. de 2020

Questões geracionais

AC: etarismo.



Um conflito muito comum dentro de movimentos sociais e espaços de ativismo são perspectivas diferentes por causa das gerações. Nossa história - enquanto comunidade e movimento social - pode ser considerada recente; porém, temos aí diversas gerações da comunidade existindo juntas (e mais estão por vir).

Apesar de que atualmente a juventude esteve tendo uma ênfase nas discussões e conquistando voz e local crescentes, gerações "passadas" - em especial década de 1980 pra trás - ainda se fazem presentes em muitas organizações evidentes para o movimento e a comunidade, além de certos espaços também evidentes.

Gerações diferentes acabam tendo experiências diferentes principalmente em questão do quanto as discussões e os cenários político-sociais avançam (ou não).

A parte identitária, em especial, tem uma grande diferença. Enquanto ainda há pessoas que vieram da época em que a sigla era GLS e termos como homossexual e transexual eram descritores de "toda" diversidade, nos dias atuais nos deparamos com muitas siglas e inúmeras identidades que descrevem diversas experiências de orientação-gênero-sexo.

E então a juventude acaba tendo seus conflitos com a ignorância e o reacionarismo de pessoas de mais idade.

Por outro lado também, as gerações anteriores costumam sofrer muitos ataques de viés etarista. Estamos vivenciando uma espécie de culto à jovialidade (não só na área social), o que coloca pessoas mais velhas como "menos capazes" ou "menos mente aberta" ou mesmo desnecessárias para contribuir com avanços sociais.

Penso que a experiência e o conhecimento das gerações anteriores são muito importantes. Desconsiderar isso é desconsiderar vivências e tudo que aquelus que vieram "antes" construíram.

Da mesma forma que abrir-se para questões mais atuais é essencial para acompanhar as mudanças e se articular, por mais rápidas que sejam. E eu vejo uma grande resistência a isso pelas gerações anteriores.

As gerações precisam aprender a dialogar entre si, e isso envolveria largarem de seus reacionarismos e etarismos, procurarem encontrar afinidades, trocarem informação e conhecimento, e entrarem em acordos.

Dicisheterossexismo ainda é uma realidade, ainda existe, e ainda há grupos dispostos a manter e fortalecer essas opressões. Isso, acredito, já deveria ser um grande ponto em comum entre todas as gerações. Os retrocessos estão aí para todes nós.

Como exatamente criar esses diálogos entre as gerações, não tenho uma resposta definitiva. Mas começar por pontos em comum pode ser um bom caminho.