17 de jun. de 2018

Exclusividades de gênero

Como falei num artigo anterior, dentro da não-binariedade existe uma diversidade imensa e talvez infinita de identidades. Em algumas estão explicadas condições específicas para acessa-las, o que pode parecer contraditório quando falei que a não-binariedade é "ausência de regras".

Mesmo dentro da diversidade de gênero existem questões restritas a outros grupos marginalizados por outros motivos. E por isso devem ser respeitadas.

Uma pessoa designada mulher não pode ser transfeminina. Pois esse rótulo foi feito para pessoas designadas homens que têm alguma identidade feminina e/ou queiram transitar para um corpo socialmente lido como feminino, pensando em todas as questões sociais e pessoais de quem tem essa experiência específica.

Uma pessoa designada homem não pode ser transmasculina. Esse rótulo foi criado pelos mesmos motivos que a identidade transfeminina, mas para pessoas que nasceram com vulva.

Uma pessoa perissexo não pode ser intergênero, pois intergênero é uma identidade influenciada pela própria condição intersexo da pessoa. Portanto faz sentido apenas para intersexos.

Uma pessoa neurotípica não pode ser neurogênero, pois as perspectivas de gênero de neurodivergentes podem ser variadas e não ser consideradas (devido ao capacitismo), e daí a necessidade de gêneros influenciados por neurodivergências.

Uma pessoa de uma cultura ocidental não pode ser de um gênero indígena/oriental. Essas identidades pertencem a essas culturas e só fazem sentido para quem pertence a elas. Pessoas de fora delas que queiram essas identidades estão praticando uma forma de apropriação cultural, além de desrespeitar uma forte questão que envolve a imposição dos gêneros binários pelo Ocidente.

Todas essas particularidades também entram em conflito com a definição errônea de pangênero como uma pessoa que tem "todos os gêneros existentes". Não, esses gêneros se limitam à cultura dela e sua experiência de vida.

Enfim, apenas quis trazer esse tópico para explicar melhor por que existem exclusividades dentro da não-binariedade e dos gêneros culturalmente restritos. Assim como as identidades devem ser respeitadas, essas exclusividades também devem.