27 de abr. de 2016

O racismo gay

Outro tema problemático a respeito dos gays atuais é o racismo que ainda perpetua entre eles, seja na vida social ou no mundo virtual. 

Quem já parou para observar nos aplicativos de relacionamento gay perceberá dois tipos de gays: os que dizem que não gostam de negros por questão de preferência e os que procuram negros para um sexo selvagem. No mundo real encontra-se a mesma situação. 

A rejeição e a objetificação são dois lados da mesma moeda. Tanto um lado quanto o outro desumaniza os homens negros. 

Há aquele famoso mito que homens cis negros têm pênis grande. E um pênis grande é associado a um prazer imenso, a um sexo mais do que satisfatório. Ideais puramente fantasiosas, pois nem todo homem cis negro possui um pênis considerado grande. Ademais, quem disse que um pênis grande é necessariamente prazeroso? Há muita gente que considera incômodo na prática, dependendo dos tamanhos das vias (boca, vagina e ânus).

De qualquer modo esse mito serve para normalizar a ideia de que o homem cis negro é uma fonte de prazer ilimitado, nada mais. E isso leva à hipersexualização do homem (similar à hipersexualização da mulher cis negra). Consequentemente ocorre a fetichização; o homem negro se torna fetiche para os gays. Isso é visível em sites pornográficos, onde existe uma categoria própria dos negros (black). E quando há relação entre branco e negro, chamam de "inter-racial". 

Até agora falei da objetificação. Por que há rejeição também? 

Existem gays que dizem não ter preferência por negros porque não conseguem sentir atração por eles. E isso é mais uma construção social. Nas mídias, quando o assunto é beleza, a beleza é sempre apontada e exaltada em pessoas brancas. Essa influência acaba fazendo a população a aprender a enxergar beleza mais em gente branca do que em gente negra. Nem todxs sofrem essa influência, mas a maioria sim. 

Se aquele homem gay cresceu aprendendo a apreciar somente a beleza branca, dificilmente ele enxergará beleza num negro. É a mesma coisa que ocorre com pessoas gordas, pessoas com corpos mais "comuns", ou até pessoas com deficiência. Nossas preferências podem ser moldadas! Isso é fato! Mas é possível desconstruir isso; é necessário mente aberta e força de vontade. Pois assim todxs nós nos abrimos para mais possibilidades de amar, de se relacionar, de viver ao lado de outra(s) pessoa(s). 

Com tudo isso, não há como não abordar racismo no movimento LGBT. É necessário abordar! É necessário dar voz aos negros, sejam eles do movimento ou não! As pessoas brancas dentro do movimento, especialmente os homens gays, devem se conscientizar dessa questão. 

O que os gays atuais mais precisam a respeito desse assunto é refletir, questionar, e desconstruir todas as ideias e padrões que lhes foram impostos desde sempre. O racismo tem que acabar, seja dentro ou fora do meio gay.