23 de jan. de 2016

Por que não gostamos da escola?

Jovens e crianças sempre reclamam da escola. Por que será que isso acontece?

Claro que não são todxs que já reclamaram da escola. Mas com certeza não existe uma pessoa sequer que nunca tenha questionado o sistema ou o funcionamento da escola. Ainda há uma crença popular de que jovens e crianças nunca têm razão sobre apontar um aspecto negativo na instituição de ensino. Será mesmo?

O que mais há em escolas são burocracias. Contudo, não são apenas elas que cansam. O estresse pela exigência que você seja excelente em tudo, a competitividade negativa, as perguntas que nunca são respondidas, as respostas incompletas, a ausência ou pouca argumentação, a falta de direção que boa parte sente... tudo isso cansa.

A escola age mais como uma prisão do que como um centro de conhecimento. Temos a obrigação de assistir horas seguidas de aula em carteiras, com apenas um intervalo de menos de meia hora. Temos que obedecer às diversas regras, incluindo aquelas que não fazem sentido (exs: não mascar chiclete ou não usar boné). Não há muita liberdade, e isso sufoca as pessoas.

E não importa seu cansaço, insatisfação ou tédio; você tem que aprender! Mesmo aquela matéria que ninguém te explica o motivo de estar sendo ensinada. Vivemos mais de memorização do que de processamento de informação.

Nosso sistema de ensino se baseia em notas. E nossa tendência é acreditar que quem não tira a nota suficiente tem um "intelecto inferior". Óbvio que isso está longe de ser verdade. Temos exemplos de gênios que não eram bons na escola ou até que a abandonaram. E as provas só medem o preparo da pessoa para aquele dia.

E o ensino? Bom, o ensino brasileiro não é um dos melhores. Muita coisa falta. Algumas matérias importantes para o desenvolvimento infanto-juvenil estão excluídas (ex: música), aulas que deveriam ser divertidas acabam sendo chatas (ex: educação física), e a escola não faz questão de ensinar assuntos básicos - linguagem de trânsito, a estrutura do governo, como funciona uma nação, técnicas de primeiros-socorros, diversidade religiosa e respeito, entre outros. Sem contar que há adolescentes que começam a pensar no que farão na faculdade, porém encontram dificuldade devido as matérias não conseguirem lhes apontar um rumo.

É importante observar que falar sobre o governo poderia ser abordado em História. Entretanto, vivemos sob um governo corrupto demais, e é conveniente a população ser ignorante. Pelo menos a Internet compensa faltas como esta.

Como se não bastasse tudo isso, ainda há muitas famílias que não entendem que existem pessoas ruins em todo lugar, e que professores, diretores, e outras autoridades não fogem disso. Acham mesmo que não há por aí gente tomando uma advertência injusta, um esporro desnecessário, ou até passando por alguma humilhação? Eu já passei, colegas já passaram, e aposto que a maioria pode dizer também que passou e/ou conhece gente que passou.

Vou fazer um adendo sobre professores porque sei que a grande maioria leciona por gostar do que faz. É difícil para elxs também. Comecei a entender isso só no meu último ano de ensino médio; professores chegam a sofrer tanto quanto alunxs. Seja pelo salário, pela desvalorização diária e constante, ou por também questionarem o sistema.

Se nem pessoas hétero-cis conseguem ficar sem reclamar, imaginem LGBTs? Quem é LGBT sabe perfeitamente que a educação brasileira ou não aborda o tema ou aborda brevemente e de maneira errônea.

Não há quase nenhuma citação sobre nós na matéria de Ciência (Biologia). O ensino expõe o mundo como se houvesse apenas homens e mulheres cisgêneros e heterossexuais. Podemos até aparecer em Sociologia, mas em questões sobre "o que você pensa a respeito de gays?" ou "você acha que gays merecem os mesmos direitos que os héteros?" (sim, 'gays' ainda são sinônimo de LGBTs). Vale lembrar que o tabu feito sobre o tema também é culpa da forte influência cristã no país (embora sejamos um Estado Laico ¬¬).

Lembro-me de uma questão de Sociologia na minha classe que pedia para salvarmos apenas seis entre um grupo de pessoas. Uma das opções era um homem homossexual de 40 anos. Ninguém o salvou alegando que ele "não iria procriar". (wtf?)

Não vou dizer que um ensino falho é exclusividade do Brasil. Muitas escolas fora do país são assim também. Quem frequenta uma escola sempre acaba sentindo carência de algo. Há quem consiga aturar e seguir a vida escolar tranquilamente. E há quem se revolte e se torne rebelde (não é todo caso!).

Precisamos muito melhorar nossas escolas. Melhorando-as também podemos melhorar as futuras gerações. E no mundo atual precisamos muito de pessoas melhores - mais felizes, informadas, questionadoras e direcionadas.