4 de abr. de 2019

Parece que não aprendemos

AC: intolerância e opressões em redes sociais, eleição, capacitismo, menção a estupro e violência, menção à genitália.



Recentemente eu passei por uma situação de extremo estresse nas redes sociais. Não entrarei em detalhes. O ocorrido envolveu algo que vejo com certa frequência, que é como muitas pessoas dos grupos marginalizados não tem senso crítico com suas ações, e acabam tanto reproduzindo opressões quanto promovendo mais opressories.

Passamos tanto tempo falando e fazendo tantas postagens sobre misoginia, racismo, heterossexismo, cissexismo, etc etc etc, e no fim vemos reproduções disso vindo até de pessoas que têm acesso aos conteúdos.

Um monte de gente esquece que não praticar opressões não serve só para quem gostamos ou concordamos. Serve para todes, incluindo opositories.

Atacar a oposição com misoginia quando vem de uma mulher, atacar com racismo quando vem de ume negre, atacar com heterossexismo quando vem de um gay, tudo isso me causa uma sensação imensa de frustração. Parece inofensivo quando é com inimigues, mas não é.

Fica muito difícil nos defender contra a oposição porque ela vê isso, se aproveita disso, e consegue pegar um punhado de gente sem noção na Internet e torná-lo como regra geral para todos os grupos minoritários + galera progressista/esquerdista (porque são todes jogades no mesmo saco). Nós que viramos es intolerantes da história.

Estamos aprendendo?

Redes sociais como Facebook e Twitter se tornam palcos para figuras reacionárias e aliades dessas figuras que nem deveriam ter tanta atenção. Até figuras ridículas como uma moça privilegiada que tem milhões na conta recebe tamanha atenção que acaba se promovendo.

Isso foi um dos fatores de nosso país ter elegido um fascista declarado como presidente. Damos importância demais, deixamos essa gente tomar as rédeas de nossa vida, gastamos tempo e paciência criticando fervorosamente essa gente a ponto de divulgar mais e mais seus discursos e nomes e rostos.

Não pode mais criticar? Pode e deve. O problema é como fazemos. Atacamos muito a pessoa e não suas ideias. Críticas construtivas se misturam com críticas imaturas. É muito meme e muita zoeira, mesmo quando problemátiques, e discursos mais politizados se apagam nessa onda de risadas e escárnios porque são "sérios demais".

Estamos aprendendo?

E cada vez mais as redes sociais se tornam insuportáveis para os próprios grupos marginalizados, ainda mais os mais esquecidos, como as PCDs (vejam quantos termos capacitistas são usados para atacar a oposição).

Estamos expostes à toxicidade dos discursos dessas figuras mesmo quando as bloqueamos; porque tem gente ainda compartilhando seus conteúdos para respondê-las, e porque ainda temos que ver prints das malditas postagens.

Várias pessoas perdem tempo discutindo com robôs ou com gente que evidentemente não quer debater ou rever suas ideias, quando poderiam estar conversando com gente mais aberta ou mais ignorante, e se articulando com mais grupos progressistas pra espalhar informação e promover figuras progressistas.

E, novamente, fica difícil defender a galera quando a mesma se torna tão irracional e intolerante quanto fascistas, xingando ministra de termos misóginos e zoando o estupro que ela passou, torcendo para vereador gay de direita tomar lampadada, sabotando artistas negres que fizeram besteira com um ódio que nem é visto com artistas branques. Ah, e isso inclui querer tirar filho do fascista do suposto armário ou zoar com o tamanho do pênis do outro.

Mais uma vez me pergunto: estamos aprendendo? Muitas vezes parece que não. Nem as eleições parecem ter ensinado. E mais e mais nos vejo afundando num buraco que nem cavamos, mas estamos nos jogando nele tudo em prol do "lacre".