11 de jul. de 2018

O passado condena

Semana passada foi um daqueles episódios onde o karma ataca com tudo. Um youtuber que eu nem conhecia teve postagens racistas do Twitter expostas, e com isso houve uma repercussão negativa chegando a perda de patrocinadories.

Nisso começou uma discussão sobre se expor postagens antigas é justiça ou apenas revanchismo, se é algo necessário ou apenas tática para destruir carreiras.

Sinceramente, eu não sei até que ponto é válido jogar na cara de pessoas postagens antigas, de anos atrás, ainda mais postagens de 2010 para trás. Considero essa década como o marco das discussões sobre opressões perpetuadas sob formas de piadas e opiniões. Então, digamos, tudo que foi dito de oito anos pra trás deve ser considerado? Deve ser esfregado na cara da pessoa no presente? Fica aí o questionamento.

Ninguém da geração de 1990 e antes era uma pessoa crítica na adolescência e no começo da fase adulta. Não estou justificando piadas e opiniões escrotas, apenas apontando que se formos desenterrar toda merda que falamos e fizemos, teremos uma grande maioria da população jogada na fogueira. Isso é algo para se debater.

Voltando ao presente, no caso em específico, achei mais do que justo o que aconteceu. O sujeito em questão fazia piadas opressivas constantemente, não mostrava estar aberto a reconsiderar suas ações, e fez parte de sua carreira em cima das piadas. Além disso, ainda teve a coragem de fazer um vídeo ridículo pedindo desculpas de maneira bem porca, e ainda disse que sues amigues o conscientizaram sobre a violência contra a população negra e o racismo estrutural.

Calma, vamos analisar: a pessoa é uma figura pública, tem notoriedade, está frequentemente ligada às redes sociais, e só agora em julho de 2018 esse bendito ouviu falar na violência e no racismo? É sério isso? Ninguém antes na vida pessoal ou virtual dele havia falado nessas coisas? Sério mesmo que ele nunca viu esses temas sendo abordados? Pra mim tá muito estranho.

Ou a pessoa é alienada a um nível absurdo sobre questões das populações racializadas, ou apenas não se importou o suficiente até sentir no próprio bolso. E eu aposto mais na segunda opção.

Logo em seguida outras pessoas decidiram apagar suas postagens antigas das redes sociais. Algumas se pronunciaram ressaltando o quanto mudaram e que estão melhorando. Ótimo, não fazem mais que a obrigação. Mas apagar as postagens, depois que refleti muito, me pareceu uma atitude bem covarde.

Ficaram com medo das críticas? Depois de terem construído carreira e fama em cima de piadas misóginas, racistas, heterocissexistas, etc? Ora, as pessoas devem sim ser responsáveis pelo que falam, e aguentar um montão de críticas ao passado me parece ainda leve comparado ao que essas piadas causam a longo prazo.

Tudo bem, todes merecem uma chance de redenção. De novo, não fazem mais que a obrigação. Mas não podemos ser punitivistas e achar que pessoas não podem mudar. Se essas figuras realmente melhoraram, ótimo. Que então continuem o que estão fazendo agora, sem ficar tentando se reafirmar toda hora, sem forçar parecer desconstruíde e consciente, enfim.

Essa polêmica levantou muito bem sobre a grande responsabilidade que figuras públicas têm em relação à sociedade. No momento em que esses indivíduos são ouvidos por milhares de pessoas, e crescem em cima de uma ou mais parcelas marginalizadas da mesma sociedade em que vivem, isso cria um fardo. E esse fardo pesou quando essas parcelas decidiram reagir, quando também foram ouvidas.

Ninguém foi avisade de que um passado de piadas opressivas pesaria. Ninguém estava pronte. Não acho que existem culpades, porém as consequências estão aí. Que isso fiquei de lição para todes, sem exceção, afinal esse peso não é exclusividade de figuras públicas.