14 de jul. de 2018

Militância ou pink money?

A maior polêmica da semana talvez tenha sido o novo clipe do artista Nego do Borel, onde o mesmo aparece vestido com roupas tradicionalmente femininas e encena um beijo com outro homem. O clipe recebeu muitas críticas e teve recepção negativa tanto da comunidade LGBTQIAPN+ quanto do público geral.

Nem tenho muito que dizer. O clipe não tem contexto, não há representatividade e sim caricaturas e estereótipos, Nego havia dias antes postado foto com um político fascista famoso, e continua mostrando apoio. Até o beijo foi forçado. Enfim, um desserviço.

Não vou ficar promovendo boicote ao clipe, e inclusive defendo o direito das pessoas de o apreciarem. Você pode gostar da obra. Apenas tenha o senso crítico sobre o efeito dela.

Tudo isso reacendeu a grande discussão sobre o famoso pink money. Várias pessoas apontaram e gritaram aos quatro ventos o oportunismo evidente do artista, além de criticar como ele usou a comunidade na produção. Outras figuras também foram adicionadas às discussões.

Tudo isso nos leva a uma questão interessante: pink money é inevitável?

Bom, toda entidade que falar sobre ou mostrar a diversidade vai lucrar com isso, de alguma forma ou de outra. O capitalismo funciona assim, não se pode escapar dele visto que estamos todes inserides nele. E a diversidade esteve chamando muita atenção atualmente, o que consequentemente a tornou alvo desse sistema.

O que realmente importa nessa questão é se essa tal entidade tem um histórico de apoio à comunidade, seja uma declaração pública, postagens nas redes sociais, reversão dos lucros para instituições focadas em ajudar a comunidade, enfim. É aí que sabemos diferenciar o oportunismo do altruísmo. E isso vale tanto para artistas de fora quanto de dentro da comunidade.

Claro que existe um critério diferente para esses dois grupos.

Pessoas de dentro são de alguma forma cobradas de fazer algo pela causa, mas não é incomum que quase toda produção seja vista com bons olhos apenas pela pessoa ser da comunidade. E quando pessoas de fora decidem ser a favor da causa, são cobradas de um ativismo que vai além de sua limitação enquanto artistas e aliadas. Precisamos nos atentar a esses detalhes para assim não darmos brecha à apropriações e não acusar injustamente de apropriações.

Ademais, e detesto admitir isso, mas até mesmo atitudes como a de Nego do Borel trazem alguma visibilidade à comunidade, pois o assunto repercutiu e gerou discussões envolvendo a diversidade e o oportunismo de artistas em relação a ela. É positivo que o tema do pink money seja abordado, então a situação não foi inteiramente ruim. Achei necessário apontar isso.

E como toda história tem vários lados, vamos para um outro: já perceberam a diferença entre as críticas e cobranças feitas às figuras periféricas e às figuras brancas ou marcas? Precisamos nos atentar a isso. Nego do Borel foi muito citado junto com Jojo Toddynho, ambes sendo atacades com uma agressividade que não é igual com outras figuras e que chega a ser um tanto desproporcional aos erros que cometeram.

Classismo, racismo e misoginia ainda existem, e podem muito bem se mesclar com críticas válidas e necessárias. Cuidado. Se policiem. Tenham autocrítica até para falar de quem está errade.