Em toda polêmica envolvendo pessoas negras e pessoas brancas procuro ficar sempre do lado da classe oprimida - no caso, a classe negra. No caso de hoje, meu posicionamento será diferente.
Uma moça caucasiana chamada Thauane Cordeiro relatou ter sido abordada dentro de um metrô por uma moça negra, que a repreendeu por estar usando turbante. Thauane reagiu ignorando-a e saindo do vagão. Em seu texto no Facebook, ela finalizou o relato com #VaiTerTodosDeTurbanteSim e foi infeliz ao se dizer uma "branca negra".
Há quem duvidou de sua história. Não vou entrar nesse mérito. Eu acho possível algo assim ocorrer, então vou dissertar sobre o caso como se fosse verdade.
Eu compreendo a ideia que o movimento negro quer passar quando fala sobre apropriação cultural. Sim, existe uma apropriação da cultura negra em nossa sociedade. As instituições pegam elementos da cultura negra (sem sequer apontar seu valor cultural) e os transformam em enfeites - e aceitáveis quando usados por pessoas brancas. Lucram com isso, e o povo negro continua sendo marginalizado graças ao racismo estrutural.
O verdadeiro problema não está numa pessoa branca usar um turbante. E sim como o turbante é representado por essas mesmas instituições. A questão não é individualizada e sim institucional. Empresas capitalistas comandadas por uma etnia privilegiada ganham à custa de uma etnia oprimida. Acho que dá para entender a extensão desse assunto até aqui.
Agora, vamos ser racionais e analisar a situação: impedir que as pessoas usem uma peça de roupa é impossível. E mesmo que fosse possível, pessoas brancas não usarem roupas da cultura negra não vai reduzir o racismo ou reformar o sistema. Mais uma coisa: essa repreensão contradiz a máxima "meu corpo, minhas regras", que é válida para todo mundo.
Sim, gostem ou não, todas as pessoas têm a liberdade de usarem o que quiserem, seja de sua cultura ou não. E isso é comum nesses tempos de globalização. E vale lembrar que turbante não é exclusivo de culturas africanas.
Falar da apropriação cultural é importante para a luta do movimento negro. Mas individualizar o problema não resolverá nada e mostra um radicalismo que pode afastar a população geral do movimento.