Este é um tema que o movimento negro esteve abordando com intensidade nessa década. Já houve muita controvérsia e divisão entre quem concorde, discorde, ou não saiba o que pensar.
O que pode ter contribuído para que o assunto fosse muito rejeitado pela população geral é o modo como ativistas e militantes do movimento trataram o assunto.
Primeiro de tudo: apropriação cultural realmente existe? A resposta é: sim! Deixe-me explicar.
A apropriação abordada não é apenas uma cultura pegar o elemento de outra cultura. É uma questão mais complexa. Vivemos num mundo globalizado, consequentemente as culturas estão misturadas com outras. Sem contar os países colonizados por outros, como o Brasil.
Vamos analisar a seguinte questão:
Uma cultura dominante - social e historicamente privilegiada - pega elementos de uma cultura oprimida, coloca esses elementos em sua população, descarta o significado cultural desses elementos, e ainda recebe lucros ao vendê-los como moda, produto de beleza.
Essa é a verdadeira apropriação cultural que o movimento negro tanto aponta. A cultura branca pega elementos afroculturais, enfatiza que estes elementos só são admiráveis nas pessoas brancas, e as instituições (brancas) crescem economicamente com isso. Além de que aqui no Brasil temos o racismo estrutural, o preconceito em nosso sistema - que marginaliza e oprime a população negra.
Não acha um absurdo pessoas brancas aparecendo em revista de moda com turbante enquanto descendentes da cultura de onde veio o turbante são excluídos, discriminados, agredidos e mortos?
Por isso é importante falar sobre apropriação cultural! Ela existe! Mas está sendo mal-interpretada por todos os lados. Não devemos individualizar a questão, tentar combatê-la fazendo pessoas brancas pararem de usar elementos afroculturais. Os verdadeiros inimigos são as instituições. A luta é contra o sistema racista e apropriador.