6 de fev. de 2016

Vida de um jovem gay não assumido

Em tempos atuais em que a homossexualidade é tratada como um aspecto negativo, todo jovem gay brasileiro já teve sua fase no armário. Quem nunca, né? A maioria vive esse período até o final da escola. É depois da escola que os gays se libertam mais!

Apesar de ser sufocante ter que se esconder, confesso que às vezes era gostoso sentir aquela adrenalina do momento; você se sente um criminoso, e ainda assim é delicioso. E a tensão do pensamento de ser flagrado no ato só aumentava o êxtase. Já fiz coisas safadas em situações de risco apenas por esse capricho.

Desde pequeno eu observava os manequins masculinos das lojas. Mas nada se comparava às embalagens das marcas de cueca - com os corpos masculinos estampados -, ou com as fotos grandes de modelos seminus em algumas paredes. 

Mesmo crianças, para nós é notável que existe um interesse nosso pelo gênero masculino, apenas não entendemos o motivo. Fica confuso quando vemos que todos os meninos ao nosso redor se interessam pelo gênero feminino. Quase todos nós chegamos a fingir interesse apenas para nos sentirmos "normais". Mas não há como fugir desse interesse estranho que cresce a cada dia, mais e mais. Enquanto isso nos apaixonamos pelos amiguinhos ou primos, ficamos gamados num ator ou até mesmo um personagem fictício, e podemos expressar comportamentos considerados femininos. Faz parte.

Apesar disso tudo, mantemos ainda certa inocência. E então chega a puberdade... Aaah, a puberdade! Os hormônios nos revelam o que exatamente queremos com o gênero masculino. É nessa fase da vida que experimentamos as maiores safadezas.

Na puberdade temos o despertar pleno da sexualidade. Por isso é comum procurarmos pornografia na Internet ou fora dela, termos interesse naquele filme ou série que tem nudez masculina (mesmo que seja num frame de 1 segundo numa cena) ou cenas gays, ver os catálogos de roupa íntima, e até ter um súbito interesse por programas de natação. Espiar pelo buraco da fechadura do banheiro ou tocar no cara enquanto ele dorme também fazem parte (embora não sejam atitudes corretas).

Evidente que tudo era feito nas escondidas. Para ver pornô gay uma mão precisava ficar no mouse. E você tinha que ter agilidade para mudar rápido de página se alguém entrasse de repente no quarto (afinal, são nesses momentos que as pessoas entram no quarto, e ainda sem avisar!). Agora se estiver vendo algo na TV, o controle não pode sair de uma das mãos. Nunca se sabe quando era preciso mudar para o canal de desenho e disfarçar.

A masturbação deve ser o maior passo na puberdade. Em quem pensamos? Bom, a maioria deve fantasiar com uma celebridade, seja um ator adolescente ou mais maduro. Agora riem de mim; me lembro em quem pensei na minha primeira punheta: Zac Efron. Ademais, masturbação pode ser sofrida quando você não tem muita privacidade. E a gente pensa ingenuamente que nossas famílias não sabem o que fazemos no quarto trancado ou quando ficamos meia hora no banheiro.

Não apenas o armário, mas na puberdade somos todos pecadores, pecadores que adoram pecar, cada vez mais explorando os próprios corpos e descobrindo o Universo gay. Contudo, tudo feito no armário é feito no sigilo, e nunca sabemos qual será a reação das pessoas.

E claro que tudo isso acabou. Foi apenas um período, uma fase. Depois que nos libertamos do armário, tudo muda. Talvez a melhor parte seja o descobrimento da sexualidade. Porém, desfrutar dela, sem medos ou receios, não tem preço.