12 de jan. de 2019

Falhas dos movimentos sociais

Quando falo movimentos sociais, não falo só de ativistas e militantes, mas também de pessoas que não se consideram como tais e ainda participam de atos e protestos e/ou costumam se posicionar sobre causas sociais. Falo de pessoas em geral envolvidas em algum nível com justiça social.

É evidente que sou uma pessoa engajada e nunca vou desistir das causas sociais, ainda mais da causa LGBTQIAPN+. E por isso também desejo que as lutas por essas causas sejam travadas das melhores formas possíveis. Com isso, tenho muitas críticas a como as pessoas se manifestam.

Não vou falar de barulho, de exposição de corpo nu, nem de textão. Apoio tudo isso, inclusive. Vou fazer três pontuações principais que resumem muitos dos problemas que vejo atualmente.

Acho que o primeiro ponto que eu deveria fazer é: não estamos sabendo argumentar e nem debater. Não falo de ter diálogos com fascistas ou reaças ou trolls da Internet. Falo de diálogos com pessoas que, muitas vezes, são mais ignorantes do que intolerantes. 

Nós que temos acesso à Internet e estamos na bolha das causas sociais acabamos criando a ideia de que todo mundo tem acesso às mesmas informações ou que as pessoas não procuram informação por desinteresse. Muita gente não tem mesmo acesso. E quando têm, existe ainda a possibilidade de serem pessoas com uma rotina tão corrida ou num estado tão grande de alienação que elas não têm tempo de pesquisar ou nem sabem o que pesquisar, entre outros fatores.

Passou da hora de nos prepararmos para diálogos de verdade. Por isso também precisamos conhecer muito bem sobre as causas que defendemos e também como a oposição age. Assim temos na ponta da língua como rebater e informar as pessoas que podem estar abertas a ouvir, mesmo que não pareçam.

Meu segundo ponto é: há muito ataque contra as pessoas e pouco ataque às suas ideias e atitudes. Sim, existe muita gente escrota. Essa mesma gente faz e fala muita merda. E é isso que devemos apontar de verdade, é nisso que devemos focar.

E não, as pessoas parecem esquecer até princípios que as próprias defendem e preferem atacar características físicas ou ridicularizar ações que nada tem a ver com a escrotice da pessoa. Pra quem ainda não entendeu: zoar bolsa de colostomia, prótese peniana, suposto vídeo pornô da pessoa não prestam nenhum serviço às causas sociais. E ainda são ações contraditórias, visto que dentro da justiça social existem as bandeiras de positividade corporal e da quebra de tabus sexuais.

E meu terceiro ponto é: precisamos saber bem sobre pelo que estamos lutando. Muita gente ainda vai na onda, muita gente vai em protesto sem nem saber direito do que se trata, muita gente compra discurso pronto e não forma por si suas opiniões e seus posicionamentos.

Assim, é muito provável que nossas ideias irão coincidir com as ideias pregadas pelos movimentos sociais. Buscamos equidade, fim das violências, liberdades individuais, direitos iguais, enfim. Mas percebo que nós ainda caímos muito de cabeça nas coisas e seguimos no impulso. 

Vocês sabem exatamente por que o aumento da tarifa é abusivo? Sabem por que há gente pedindo o fim da PM? Conhecem mesmo esses tópicos a fundo? Não? Tudo bem. Conheçam então! Pesquisem, perguntem por aí, vejam mais de uma perspectiva, reflitam!

Acho que posso incluir como quarto ponto que há gente que só quer "lacrar". Não é proibido fazer memes e umas chacotas. O problema é que vejo gente focada só em rechaçar, o que passa a impressão de que nas causas sociais só tem gente escandalosa que responde com meme e palavras de ordem. E já vi pessoas sendo rechaçadas por muito pouco nas redes sociais. Isso é um desserviço. Isso afasta, assusta pessoas.

Não acho que esses pontos são a maior razão da justiça social não estar avançando. Porém com certeza desaceleram o progresso. Mesmo que a oposição use tudo isso contra nós, bem, que seja; sempre encontrarão motivos para deslegitimar as causas sociais. Escrevo para alertar que não devemos dar munição, pois vão mirar nas parcelas da população que precisam nos ouvir.

Seguimos resistindo.