14 de fev. de 2018

Opressões interligadas

Por que falar de todas as opressões? É possível focar apenas em uma?

Bom, tendo isso em mente, vamos analisar os três sistemas opressivos que geram todas as discriminações sofridas pelas pessoas da comunidade LGBTQIAP+: a heteronormatividade (imposição da orientação e relação hétero), a cisnormatividade (imposição da cisgeneridade) e o diadismo (imposição dos corpos perissexo).

Como já falei num outro artigo, todos esses sistemas agem em conjunto no mundo inteiro, embora haja vezes em que podem agir individualmente. Mais do que isso, possuem fortes ligações entre si. Vou fazer três constatações que mostram melhor isso.

Toda pessoa cisnormativa é diadista, mas não necessariamente heteronormativa.

Dentro da cisnormatividade há a imposição de que sexo define gênero. E dentro dela também somente dois gêneros são válidos: homem e mulher.

Pois bem, se há um corpo que não é perissexo testiculado ou perissexo ovariado, dificultando que seja classificado como masculino ou feminino, esse corpo - intersexo - é definido como uma anomalia e que precisa ser corrigida. Se sexo define gênero e só existem dois gêneros, logicamente esse mesmo pensamento valida apenas os perissexos.

Toda pessoa heteronormativa é também cisnormativa e, com isso, diadista.

A identidade hétero foi historicamente construída para mulheres e homens cisgêneros e perissexos.

É praticamente impossível existir alguém que valida um casal hétero onde uma ou ambas as partes são trans ou intersexo enquanto discrimina casais do mesmo gênero ou heterodissidentes. Além disso, a heteronormatividade automaticamente excluí os gêneros não-binários, a opressão chamada exorsexismo, que está dentro da cisnormatividade.

É possível uma pessoa não ser heteronormativa e cisnormativa, mas ainda ser diadista.

Mesmo que haja tolerância com toda orientação não-hétero e a transgeneridade, a sociedade, majoritariamente composta por perissexos, ainda pode tratar os corpos intersexo como anomalias. A corporalidade é um aspecto separado de orientação e gênero e traz discussões específicas; como quais corpos/genitálias são atraentes e quais não são.

É possível também uma pessoa perissexo e trans (binária ou não-binária) ter pensamento diadista. No entanto, devido às semelhanças entre as vivências de transgêneros e intersexos, a opressão ocorre com frequência muito menor em comparação com pessoas cis.



Esse texto foi apenas uma análise minha para apontar que esses sistemas estão muito interligados. Não são construções separadas que depois se uniram, elas nasceram unidas. Logo, seguindo essa linha de raciocínio, devem ter a mesma origem, partir da mesma raiz. Qual? Não sei responder ainda. Há muito o que estudar.

Em todo caso, o conteúdo aqui apenas reforça a necessidade de se falar constantemente de todos os sistemas, pois no fim eles atingem todos os segmentos da comunidade de uma forma ou de outra. Nosso discurso e nossa militância precisam ser interseccionais ao máximo.