O mesmo sistema que impõe gêneros de acordo com o sexo biológico é o mesmo que impõe uma linguagem. Quem é homem usa o/ele/o, quem é mulher usa a/ela/a. Mesmo quando saímos desse binário ainda existe a imposição de que somente essas duas linguagens são válidas.
Quando se tem consciência disso, quando se questiona isso e por que não pode haver mais opções, nos vemos diante de uma oportunidade que quem não questiona o sistema não percebe ter: de escolher por si sua linguagem.
Não importa que você seja designade homem e ainda use o/ele/o, ou designade mulher e use a/ela/a. O que importa aqui - a ideia central desse texto - é você sair do modo automático e entender que a linguagem pode ser diversa e pode ter propósitos pessoais.
Ressaltando também que a linguagem não deve ser usada pra definir um gênero. Ela é antes de tudo algo que representa a pessoa. Vamos tirar da cabeça que só homem pode usar ele, só mulher pode usar ela, e que, sei lá, só gênero neutro pode usar elu.
Quais os critérios para se escolher ou montar sua linguagem? Depende de muitos fatores.
Pode ainda haver pessoas que discordem da neolinguagem e prefiram usar uma ou ambas as linguagens normalizadas. Isso é um direito delas. Só não é correto impor isso ou até usar contra quem usa neolinguagem!
A pessoa pode preferir uma das linguagens normalizadas por motivos de:
- ter se acostumado com ela;
- ser uma forma de rejeitar a outra linguagem;
- sentir-se em harmonia com a qualidade "masculina"/"feminina" transmitida;
- ou mesmo por ter uma leitura de um gênero binário e se "conformar" que a maioria vai tratá-la com essa linguagem (o que não acho tão saudável).
Há pessoas que podem utilizar ambas as linguagens, tendo ou não preferência, porque gostam de ambas, porque se identificam com as qualidades masculina e feminina, porque querem transgredir a ideia de que pessoas só podem ter uma linguagem, e qualquer outro motivo.
Agora quem usa neolinguagem pode ter outros fatores, como:
- apenas gostar da sonoridade do conjunto;
- querer transmitir uma qualidade neutra/andrógina/única/não associada com a binariedade;
- querer algo que se misture com as linguagens normalizadas (ex: a/ele/a, a/ela/o, o/elu/a, a/ile/o);
- querer algo semelhante às linguagens normalizadas (ex: artigo u, pronomes ilo, ila);
- querer transgredir as normas da língua como um ato político;
- criar uma linguagem nova, mas pronunciável;
- criar uma linguagem nova, mas impronunciável/sem pronúncia aparente (ex: x/elx/x);
- ter uma pronúncia comum, mas a forma escrita mostra ser diferente (ex: eli, ely);
- ser uma linguagem parecida com outro idioma (ex: alguém que queira usar artigo le);
- ser baseado no latim ou outro idioma antigo (pronome ilu, que veio de illud);
- ser uma linguagem "estranha" ou "fora do comum" (ex: pronomes els e eld, final de palavra é);
- ter uma linguagem restrita a certos lugares e espaços (como quem usa emojis como pronome);
- rejeitar o uso de conjuntos ou de suas partes (ex: quem não usa pronome ou artigo);
- e algum outro fator que a pessoa considere relevante.
Lembrando que todos os fatores citados devem ser considerados pela pessoa pensando nela mesma. Ou seja, cada critério é válido somente para ela.
Se uma pessoa opta pelo pronome elu para ser "neutro", tudo bem. Só é errado essa pessoa dizer que esse pronome é neutro e todes devem usá-lo com isso em mente. Outra pessoa pode querer usar apenas por não ser nem ele ou ela. Assim como há pessoas que podem usar a/ela/a ou o/ele/o apenas porque gostam e sem associarem às qualidades feminina e masculina.
E sobre pessoas que utilizam mais de uma linguagem, uma coisa que considero importante é priorizar as preferências. Mesmo que uma pessoa use uma neolinguagem e uma das linguagens normalizadas, se a mesma disser que prefere a neolinguagem, o mais ético a se fazer é usá-la. Muitas pessoas podem usar a/ela/a ou o/ele/o por causa da rejeição à neolinguagem e leituras cisnormativas do meio, e isso não deixa de ser opressivo mesmo quando a pessoa diz "não se incomodar" com as linguagens normalizadas.
Seja você NCL ou não, sendo pessoa não-binária ou mesmo binária, é importante entender o que é a linguagem para entender a si mesme e as outras pessoas. E você? Qual é a sua linguagem?
Quando se tem consciência disso, quando se questiona isso e por que não pode haver mais opções, nos vemos diante de uma oportunidade que quem não questiona o sistema não percebe ter: de escolher por si sua linguagem.
Não importa que você seja designade homem e ainda use o/ele/o, ou designade mulher e use a/ela/a. O que importa aqui - a ideia central desse texto - é você sair do modo automático e entender que a linguagem pode ser diversa e pode ter propósitos pessoais.
Ressaltando também que a linguagem não deve ser usada pra definir um gênero. Ela é antes de tudo algo que representa a pessoa. Vamos tirar da cabeça que só homem pode usar ele, só mulher pode usar ela, e que, sei lá, só gênero neutro pode usar elu.
Quais os critérios para se escolher ou montar sua linguagem? Depende de muitos fatores.
Pode ainda haver pessoas que discordem da neolinguagem e prefiram usar uma ou ambas as linguagens normalizadas. Isso é um direito delas. Só não é correto impor isso ou até usar contra quem usa neolinguagem!
A pessoa pode preferir uma das linguagens normalizadas por motivos de:
- ter se acostumado com ela;
- ser uma forma de rejeitar a outra linguagem;
- sentir-se em harmonia com a qualidade "masculina"/"feminina" transmitida;
- ou mesmo por ter uma leitura de um gênero binário e se "conformar" que a maioria vai tratá-la com essa linguagem (o que não acho tão saudável).
Há pessoas que podem utilizar ambas as linguagens, tendo ou não preferência, porque gostam de ambas, porque se identificam com as qualidades masculina e feminina, porque querem transgredir a ideia de que pessoas só podem ter uma linguagem, e qualquer outro motivo.
Agora quem usa neolinguagem pode ter outros fatores, como:
- apenas gostar da sonoridade do conjunto;
- querer transmitir uma qualidade neutra/andrógina/única/não associada com a binariedade;
- querer algo que se misture com as linguagens normalizadas (ex: a/ele/a, a/ela/o, o/elu/a, a/ile/o);
- querer algo semelhante às linguagens normalizadas (ex: artigo u, pronomes ilo, ila);
- querer transgredir as normas da língua como um ato político;
- criar uma linguagem nova, mas pronunciável;
- criar uma linguagem nova, mas impronunciável/sem pronúncia aparente (ex: x/elx/x);
- ter uma pronúncia comum, mas a forma escrita mostra ser diferente (ex: eli, ely);
- ser uma linguagem parecida com outro idioma (ex: alguém que queira usar artigo le);
- ser baseado no latim ou outro idioma antigo (pronome ilu, que veio de illud);
- ser uma linguagem "estranha" ou "fora do comum" (ex: pronomes els e eld, final de palavra é);
- ter uma linguagem restrita a certos lugares e espaços (como quem usa emojis como pronome);
- rejeitar o uso de conjuntos ou de suas partes (ex: quem não usa pronome ou artigo);
- e algum outro fator que a pessoa considere relevante.
Lembrando que todos os fatores citados devem ser considerados pela pessoa pensando nela mesma. Ou seja, cada critério é válido somente para ela.
Se uma pessoa opta pelo pronome elu para ser "neutro", tudo bem. Só é errado essa pessoa dizer que esse pronome é neutro e todes devem usá-lo com isso em mente. Outra pessoa pode querer usar apenas por não ser nem ele ou ela. Assim como há pessoas que podem usar a/ela/a ou o/ele/o apenas porque gostam e sem associarem às qualidades feminina e masculina.
E sobre pessoas que utilizam mais de uma linguagem, uma coisa que considero importante é priorizar as preferências. Mesmo que uma pessoa use uma neolinguagem e uma das linguagens normalizadas, se a mesma disser que prefere a neolinguagem, o mais ético a se fazer é usá-la. Muitas pessoas podem usar a/ela/a ou o/ele/o por causa da rejeição à neolinguagem e leituras cisnormativas do meio, e isso não deixa de ser opressivo mesmo quando a pessoa diz "não se incomodar" com as linguagens normalizadas.
Seja você NCL ou não, sendo pessoa não-binária ou mesmo binária, é importante entender o que é a linguagem para entender a si mesme e as outras pessoas. E você? Qual é a sua linguagem?