12 de set. de 2015

Conceito: protagonismo e aliança

Afinal qual a diferença de, dentro de um movimento social, ser protagonista ou ser aliado?

A diferença pode ser facilmente percebida por algumas pessoas, mas há outras que não compreendem bem por alguns motivos, incluindo ignorância e persistência no preconceito.

Um movimento social nasce quando uma classe de pessoas é oprimida socialmente. Essa opressão inclui: falta ou restrição de direitos civis, agressões físicas, morais ou verbais motivadas por ódio, silenciamento e invisibilidade em relação a liberdade de se expressar e se manifestar.

Quem protagoniza um movimento social é justamente quem sofre um determinado tipo de opressão e, portanto, quem tem a voz. Ter a voz significa que aquela pessoa é quem está lutando contra aquela determinada opressão, lutando para ser incluída na sociedade assim como a maioria (o lado opressor), lutando por igualitarismo.

Gays e lésbicas lutam contra a homolesbofobia, e logo protagonizam suas respectivas siglas do movimento LGBT. E assim funciona com as demais siglas e os demais movimentos sociais.

Agora, vamos propor os seguintes protagonismos:

1- Pessoa heterossexual e cisgênera protagonizando o movimento LGBT. 
2- Homem protagonizando o feminismo.
3- Pessoa branca protagonizando o movimento negro.

Isso faz algum sentido? Não, não faz, e a explicação é mais simples do que parece:

1- Pessoas hétero-cis não sofrem LGBTfobia.
2- Homem é beneficiado histórica e diariamente pelo machismo.
3- Não existe racismo contra gente branca.

Essas classes de pessoas não sofrem as opressões citadas e, portanto, não têm voz nos movimentos sociais mencionados. Se essas pessoas não são protagonistas, mas querem fazer parte ou já fazem parte de algum desses movimentos, o que elas são? Simples: essas pessoas são aliadas.

A aliança também faz sua parte na luta contra a opressão, mas ela, dentro de um movimento social, é mais o suporte ou um auxílio a mais. Pessoas aliadas são muito bem-vindas, e dentro dos movimentos elas aprendem a desconstruir os preconceitos internos e também externos. E, claro, lá elas não têm voz; estão lá mais para ouvir e mostrar apoio.

Vale ressaltar que ninguém tem obrigação de se aliar a um movimento. Porém, sinto dizer, atualmente não é mais possível "ficar em cima do muro". Ou você é contra ou você é a favor. Não tem essa de "ah, nada contra, mas também nada a favor". Se você é a favor dos movimentos, você é contra a opressão. Se é contra eles, você é a favor da opressão. E se você é "imparcial", ainda está cooperando com a opressão, pois está se calando diante dela e deixando que ela aconteça. Sim, pessoinhas, no fim não existe "imparcialidade" aqui.

Quem quiser aliar-se, fique à vontade. Procure os movimentos, saiba ouvir, e tenha a mente e o coração abertos. Contudo, aliar-se pensando que está fazendo um favor àquela classe oprimida é muita presunção, e nenhum movimento precisa de gente assim.