7 de fev. de 2015

Preconceito em potencial

"Eu não tenho preconceito". Frase usada por muitas pessoas.

Na grande maioria das vezes não é verdade. Se bem que, no fundo, todxs nós somos preconceituosxs, por mais mínimo que seja. Acho que quando chegamos nesse mínimo podemos dizer essa frase sem receio. Eliminar um preconceito é algo difícil, um trabalho interno que requer tempo e mente aberta.

Mas vamos a outra perspectiva. Já parou para pensar no seu "preconceito em potencial"? Talvez você nunca tenha ouvidx falar nisso, ou ao menos ter pensadx nisso.

Primeiro de tudo quero ressaltar que ninguém tem culpa por isso. Vivemos numa sociedade muito preconceituosa que molda nossas mentes com intolerância e com a prepotência de que existe um conjunto de regras sobre o que é certo e errado. Isso é feito desde nosso nascimento.

Somos criadxs dentro de um poço escuro repleto de ideologias que condenam pessoas fora de um "padrão" e que ditam para nós como devemos ser. Nem sei se posso chama-las de ideologias, mas não deixam de ser ideias, apesar de preconceituosas. Quando abrimos a mente, vemos um foco de luz nesse poço. E quanto mais a abrimos, maior é a luz. (poético, não?)

Dito isso, e sinto informar, todxs estamos "contaminados" desde sempre. Principalmente a maior parte da população, que pertence a um "padrão". Esse "padrão" inclui a heterossexualidade,  a cissexualidade, a cor branca, entre outros.

Refletir sobre as facilidades da vida de maioria e sobre as dificuldades da vida de minorias é um exercício que precisa de uma boa vontade da pessoa.

O que quero dizer com isso? Bom, vamos a um exemplo simples: pessoas heterossexuais podem ser homofóbicos em potencial. Não são porque querem, mas o preconceito está enraizado. Elas, como pertencem a maioria, vivem uma vida plena de privilégios. E muitas vezes não conseguem enxergar que pessoas homossexuais não possuem os mesmos direitos que elas.

E aí está o medo: se refletirem e chegarem nessa conclusão, terão que largar o preconceito. Livrar-se da ignorância é um desafio, pois ela é uma zona de conforto. Especialmente para a maioria.

"Em potencial" não quer necessariamente que uma pessoa vai reproduzir determinado preconceito. Mas como dito anteriormente, vivemos numa sociedade que, desde nosso nascimento, nos implantam o preconceito. Logo, todxs estamos "contaminados".

Minorias estão excluídas disso? Claro que não! Todxs nós temos algum preconceito. E cabe a todxs nós refletirmos sobre nosso(s) preconceito(s) em potencial. Ninguém foge disso.

Vou me usar como exemplo. Vou listar seis características minhas.

1- Sou homem; meu sexo e gênero são masculinos. Logo, sou um machista em potencial. 
Nota: o que torna esse o pior dos preconceitos é tanto ser muito forte (pois está enraizado na Humanidade) quanto abrir porta para outros preconceitos.
2- Nem preciso falar, mas sou cisgênero. Logo, sou um transfóbico* em potencial. Além disso, também sou um binarista em potencial (pois posso desconsiderar pessoas não binárias).
3- Sou branco. Logo, sou um racista em potencial.
4- Sou magro. Logo, sou um gordofóbico em potencial.
5- Não tenho deficiências. Logo, sou um capacitista em potencial.
6- Em relação a meu corpo, sou diádico (minha genitália é a dita masculina). Logo, sou um diadista em potencial (pois posso desconsiderar pessoas intersexuais).
7- Sou homossexual.

Minha única característica de minoria é minha sexualidade. Se for parar para pensar, posso ser muito mais opressor do que oprimido. Doideira, não? Não, não é.

Isso significa que eu, apenas pela homossexualidade, não poderia ter um preconceito? Normalmente minorias não desenvolvem um preconceito (então "heterofobia", "racismo inverso" etc não existem, ok?).

Mas esse não é o caso. Já discuti isso em outros dois artigos. Embora eu seja minoria, eu sou um bifóbico em potencial. Por quê? Bem, não sei explicar ao certo, mas heterossexuais e homossexuais tendem a pensar que não existe uma sexualidade entre esses extremos. Negar a bissexualidade é negar a diversidade humana. Grave para héteros, e ainda mais grave para homos (afinal são quem deveriam ter mais empatia).

Outras coisas que eu poderia citar são minha posição social e minha crença particular. Sou de classe média (média baixa XD), então posso ser elitista. Sou de uma doutrina, então posso ser ateofóbico.

Vou mais além: combinando minhas condições de gênero, sexo e sexualidade, posso também ser um "panfóbico" em potencial. Posso até mesmo ter preconceito contra assexuais, ter "afobia". (ainda não existem termos definidos para essas fobias)

Imagine a dimensão que essa reflexão pode chegar! Confesso que é amedrontador você fazer isso e perceber que é muito mais preconceituoso do que imagina. Toda sua vida desaba, pois ela é construída de preconceitos. Por isso eu disse que a ignorância é uma zona de conforto. 

E você aí do outro lado, já refletiu sobre isso? Que tipo de preconceito em potencial você tem, e se você está atentx suficiente para não praticá-lo?

Acho que nunca estamos 100% livres desses preconceitos em potenciais. Contudo isso não é desculpa para não lutarmos internamente e também externamente contra eles. ^^

Fica aí um ótimo exercício para ampliar sua visão do mundo. Apenas esteja preparadx para encontrar milhares de coisas erradas em sua vida e determinadx a admitir o erro e mudar, mudar para melhor.

*Obs: transfobia se refere à transgêneros (travestis e transexuais).


Segue abaixo um vídeo excelente do Canal das Bee sobre o tema.




Beijo na alma de todxs!!!