10 de dez. de 2014

Transexuais, travestis e andróginos em animes/mangás - Parte 2

Para quem ainda não viu, aqui está a Parte 1.

Continuando a lista.



  • Sailor Moon

Sailor Moon, assim como outras histórias do tipo shoujo, teve sua cota desses personagens, além dos homossexuais. A série mostra dois casos:

1- Olho de Peixe: ele faz parte de um trio antagônico de alguma temporada que roubava espelhos dos sonhos de civis. Enquanto seus outros dois parceiros faziam mulheres de alvo, ele sempre escolhia homens. E, para atrair seus alvos, ele sempre se vestia de mulher. Aliás, ele se travestiu até para conversar com uma das personagens.

(Olho de Peixe)

2- As Sailor Starlights: na versão anime, o grupo Sailor Starlights, um grupo extraterrestre de Sailors composto apenas por mulheres, tomam uma forma masculina quando disfarçadas de terráqueos. Elas se disfarçam de um trio de cantores pop: Seiya, Taiki e Yaten. Porém, quando ativam seus poderes e entram no modo Sailor, elas revertem para a forma feminina. Elas seriam como... como... hã... pessoas trans-reversíveis? Acho que seria um conceito assim hahaha.

E só um adendo: prefiro suas formas masculinas.

(Seiya)

(Taiki)

(Yaten)

  • Shingeki no Kyoujin

Hange Zoë, personagem importante na série, tem sexo e gênero ambíguos na versão mangá. O autor faz questão de referir-se a Hange com pronomes neutros, sem gênero definido. No anime, Hange tem um físico feminino, embora ainda haja o recurso dos pronomes neutros. Seu sexo e gênero são deixados para a imaginação fértil e curiosa dxs fãs. Mas, de qualquer jeito, Hange ainda é foda! E isso é o que realmente importa.

(Hange Zoë)

  • Tokyo Godfathers

Esse na verdade é um filme, mas não deixa de ser anime. Um anime-filme, se preferirem XD. A história conta sobre três mendigos em época natalina que encontram um bebê abandonado. Um dos integrantes chama-se Hana, uma transexual. Ela mesma afirma num momento que Deus havia cometido um erro por colocá-la num "corpo de homem".

Comentário pessoal: esse filme é lindo!!!

(Hana)

  • Umineko no Naku Koro ni

Eu comentei sobre essa série em outro post e também afirmei que voltaria a comentar. Para quem não conferiu essa série e pretende, ou quem acompanhou até certa parte, a informação a seguir é um spoiler gigantesco de toda a trama. Aí vai...

Para quem jogou toda a Visual Novel, sabe que Shannon, Kanon e Beatrice são a mesma pessoa, conhecida pelxs fãs como Yasu. A versão VN mostrou pouquíssimos detalhes sobre Yasu, não revelando seu sexo biológico. O autor, talvez cansado de segurar a verdade, decidiu falar tudo (tudo mesmo!) na versão mangá da série.

Primeiramente, Yasu nasceu do sexo masculino. A criança foi dada a uma personagem para ser cuidada, mas a mesma empurrou o bebê e a empregada que o carregava de uma colina. O bebê sobreviveu, porém teve severos danos na genitália, e os órgãos foram removidos. A criança foi nomeada Sayo Yasuda e foi criada como menina. Desde pequena, Sayo sofreu por não entender seu corpo. Mesmo como mulher, ela tinha diversos complexos, como a menstruação que nunca vinha ou os seios que nunca cresciam. O resto é sabido: Sayo criou a personalidade Shannon (a serva perfeita), depois Beatrice (a bruxa poderosa) e Kanon (o servo rabugento). A personalidade Kanon foi incorporada após Sayo ter descoberto a verdade, e foi uma forma de ela viver como um menino. Ela quase enlouqueceu. Ela sofria constantemente quando se lembrava de que nunca poderia ter filhos, fosse como mulher ou como homem; e isso somado com suas paixões pelos primos (Battler, George e Jéssica) e pelo fato de ela ser fruto de um incesto apenas a fez piorar. O mangá tem capítulos exclusivos em que Sayo narra todo seu sofrimento e conflitos internos.

Fiquei depressivo quando li esses spoilers. Parece até de mau gosto colocar uma trans como vilã, mas não vejamos por esse lado. Acredito que Sayo foi criada justamente como uma mensagem sobre o que é ser trans (embora ela não seja por vontade própria). Entre muitas histórias fudidas de personagens, essa é uma das piores. Mas a mensagem foi dada: transexuais são pessoas como todo mundo.

(Sayo Yasuda)

Além de Sayo, há personagens de aparência física andrógina. Dois deles são os demônios do amor, Zepar e Furfur, e o outro é Lion Ushiromiya, que na verdade é a versão de Sayo numa realidade alternativa onde ela não sofre o acidente. Zepar e Furfur possuem aparência feminina, mas o autor revelou que ambos são de sexos opostos. E Lion, assim como Sayo, nunca teve seu sexo ou gênero definidos, e os personagens se dirigem a ele com palavras neutras (porém fica implícito em alguns momentos que seu gênero é masculino). Mas após a revelação do sexo biológico de Sayo, Lion é aceito oficialmente como homem.

(Zepar)

(Furfur)

 (Lion Ushiromiya)

  • YuYu Hakusho
A demônio Miyuki é uma transexual. Inclusive, ela se incomoda profundamente quando não reconhecem seu gênero. Isso é um preconceito muito comum vivido por pessoas transgêneras (transfobia). Inclusive, em sua primeira aparição, que também é sua primeira cena de luta, o protagonista dá um terrível show de intolerância com a personagem. Ver essa cena dublada meu deu ânsia. Os produtores precisam melhorar...

(Miyuki)



Embora o povo japonês se mostre um tanto conservador, essas categorias de personagens sempre foram tratadas, a meu ver, com boa visibilidade (posso estar enganado). Embora ainda possa haver, como no caso de Miyuki, demonstrações desnecessárias de intolerância vinda de outros personagens. Alguns podem até ter aquele toque cômico, mas nós não vemos personagens que são puro alvo de deboche. Uns são meros civis, outros são superpoderosos. No fim, são pessoas com seu próprio histórico, personalidade, moral, seu modo de pensar e agir, enfim, nada diferente de qualquer outro personagem.

Acredito que a apresentação dessas pessoas, assim como homo/bissexuais, seja uma atitude positiva vinda dos japoneses. Apesar que eu ainda acho que a visibilidade LGBT poderia ser muito melhor, em todos os aspectos... Ao menos isso está melhorando com o andar da modernidade.

Lembro-me até hoje do primeiro personagem que vi na infância: Olho de Peixe, de Sailor Moon. Naquela época eu já sabia que existiam homens e mulheres, e que eles se atraiam um pelo outro. Mas quando vi um homem que se atraia por outros homens, e também se vestia de mulher, lembro-me de encarar aquilo com naturalidade. Não sei explicar, mas não julguei, não zoei, não pensei mal.

Creio que animes (e também mangás) consigam, apesar de muitas falhas, implantar nas pessoas, seja desde a infância ou adolescência, uma semente de tolerância e aceitação. Pena que em algumas pessoas a semente não germina... Infelizmente existem otakus reacionários. :(

Apesar de eu também ser "fora dos padrões", acredito que graças aos animes tive uma facilidade maior em ser tolerante com as diferenças e também tive desde sempre uma mente mais aberta. Precisei abri-la mais, sim, porém consegui abri-la num tempo menor do que muitos adolescentes que vejo atualmente, gente até da minha geração.

O que mais tenho a dizer? Japoneses, vocês são fodas!
Mas alguns de vocês precisam melhorar, viu??? Estamos de olho ^^