17 de out. de 2019

Onde está meu gênero?

Vocês já se perguntaram onde está o gênero de vocês? Ou já te perguntaram isso? Ou já viram essa pergunta ser feita a alguém?

É uma pergunta que pode parecer muito interessante ou só "falta do que fazer". Pode ter gente que a jogue na cara de pessoas trans/n-b como uma tentativa de invalidá-las ou confundi-las.

Para o cis-tema, o gênero é biológico e definido por uma genitália. E se alguém me disser que seu gênero está no meu das pernas, bem, eu seguro a risada e vou fazer alguma coisa útil.

Gráficos sobre identidade de gênero parecem ter entrado num acordo de que o gênero reside exclusivamente no cérebro, na mente. Hm, será?

Esse "senso comum" parece ter alguma coerência, pois as experiências trans revelaram ao mundo que o gênero, para esse grupo, sempre foi algo além da genitália e muito ligado à simples autoidentificação. Ainda assim, talvez esteja simplificando demais. Estudos de gênero compreendem gênero como algo influenciado também por cultura e questões sociais de época e região.

Bem, considerando as infinitas experiências e perspectivas e subjetividades que decidi responder sobre *meu* gênero. Por isso o título do artigo não é "Onde está o gênero?". Minha resposta pode parecer meio "acadêmica", mas é o que me faz sentido.

Talvez minha resposta seja a mesma de outras pessoas, talvez ela ofereça uma resposta a alguém, talvez ela inspire alguém que nem pensou nessa questão.

Eu vejo gênero como uma característica biopsicossocial. E para mim faz todo sentido dizer que meu gênero está nos meus corpos biológico, psicológico e social. Meu gênero reside simultaneamente nesses três aspectos, que são interligados e que se "misturam" em meu ser.

Meu corpo físico está de acordo com minha identidade; sendo assim, tudo no meu corpo é de um corpo trans não-binário, incluindo meu bigode e meu pênis.

No meu corpo psicológico está toda a subjetividade da minha identidade, toda construção dela, minha autoimagem, autopercepção.

E no meu corpo social estão minhas experiências de vida e meu posicionamento na sociedade, construída numa base ocidental que impõe dois gêneros a todas as pessoas.

Essa é minha resposta.

E você? Onde está seu gênero?