Vemos essas pessoas desde crianças. Elas estão por aí. Estão bem ali.
Aprendemos a ignorar. Aprendemos a evitar olhar. Aprendemos a ter medo. Aprendemos a ter receio. Aprendemos até a ter repulsa, nojo.
Quem são? Pouca gente sabe. Às vezes nem elas mesmas lembram de quem são ou quem foram num passado pouco ou muito distante.
São invisíveis. Mas visíveis. São inaudíveis. Mas falam. Ou gritam.
Acreditariam se eu dissesse que essas pessoas sentem as mesmas coisas que nós?
Como vieram parar nas ruas? Quem sabe? Quem se importa? Alguém realmente se importa?
Nunca temos o que dar a elas. Às vezes isso é verdade. Muitas vezes é mentira. Elas sabem disso? Talvez. Provavelmente. Muito provavelmente.
Quase todas pedem dinheiro. Qualquer moedinha basta. Outras pedem comida. É o que mais precisam, a fome é a maior das necessidades.
Muitos de vocês hoje deitarão ou estão deitados numa cama. O povo da rua dificilmente tem algo para deitar que não seja o concreto.
Se ao menos sente pena, parabéns, você ainda tem alma. Agora, como ainda permitimos que pessoas vivam numa condição dessas?
Onde elas erraram? Onde nós estamos errando? O sistema está errado?
Engraçado que na nossa Constituição está escrito com todas as letras que moradia é um direito de todas as pessoas do país. Livrinho mentiroso, hein.
Há gente que diz que essas pessoas são um problema. Não. A condição delas é um problema, para elas e para o resto do mundo.
O que fazemos para mudar isso?
Não adianta fazer sua expressão mais compadecedora e dizer "não". Não adianta orar por elas. Isso não muda nada.
Quem são? São pessoas.