18 de mar. de 2015

Ser um trans num aplicativo

Recentemente decidi fazer um experimento particular sobre transfobia.

Instalei (novamente) o Grindr e criei um perfil totalmente falso;

Nome: Daniel
Idade: 19
Altura: 1,68m
Peso: 72kg
Etnia: Caucasiano
Tipo físico: Mediano
Estado civil: Solteiro
Outras informações: Estudante de Publicidade e Propaganda na Oswaldo Cruz, mora na Santa Cecília com mãe e irmão, transexual

Pois bem. Por apenas 3 dias fiquei interpretando o personagem. Peguei sem permissão fotos de um cara qualquer no Facebook (um loiro de olhos verdes).

Não posso dizer que eu esperava um resultado diferente. 

Muitos caras vieram falar comigo. Quando eu era eu mesmo, não lembro de ter tido tanta atenção como tive interpretando o Daniel. Aparência é tudo naquela merda de aplicativo. Enfim, muitos vieram falar comigo, mas foram poucos com quem o assunto fluiu. 

Falei com 7 caras; 3 mostraram aceitação e 4 mostraram transfobia explícita ou ignorância.

Ironicamente o primeiro cara com quem o assunto fluiu foi o mais receptivo possível. Falou até em imposição social. Pena que ele não quis mais conversa quando contei a verdade.

O segundo me deixou até com dó. Ele infelizmente está no lugar errado. O coitado me lembrou de quando eu usei esse app; eu era cheio de sonhos e boas expectativas, pensando que iria conhecer caras legais e encontrar um amor... Bullshit!

E o último foi receptivo também. Deixou de me responder assim que me confessei. Não o culpo por isso.

Agora vamos aos carinhas babacas:

- 2 me ignoraram assim que souberam que o Daniel era trans.
- 1 mostrou-se aberto a essa experiência, mas proferiu muita idiotice.
- 1 foi descaradamente transfóbico.

Vou chamar o cara idiota de A e o muito transfóbico de B. Segue prints das conversas:

A)
(Ah, que sono...)

(Tecnicamente você é um idiota. O que ser bi tem a ver com isso???)

(Que sono de novo. Impossível saber que você era tão idiota)

(Ok, desisto!)

B)
(Ok, esse foi o pior. Nem fiz questão de grifar as merdas)

Confesso que fiquei um pouco deprimido com esse experimento. Minha intenção foi aumentar mais minha empatia. Eu esperaria essas atitudes de homens héteros cisgêneros, mas vinda de homens gays... Acho o fim do mundo quando o G de LGBT esquece e menospreza as outras letras.

A pior parte foi que o cara B era um negro. E logo no início ele perguntou se o Daniel curtia homens negros. Ele respondeu: "gosto de homem", e em seguida falou de racismo. O cara não achava racismo a maioria dos gays não preferirem ele pela cor... Ok, né.

E como se não bastasse, esse homem, que é alvo de racismo e homofobia, pratica transfobia num nível absurdo. Triste isso...

O experimento serviu para enfatizar mais ainda a transfobia que existe entre os próprios homens gays cisgêneros. Eles pensam que ser gay significa gostar de pênis. Indo por essa lógica, eles poderiam se relacionar com travestis. Viu como é estranho?

Vale ressaltar também que isso não foi uma atitude correta de minha parte. Não por eu mentir para os caras do app (aliás, eles que se fodam!). O problema é que, bem... não sou trans! E eu, por ter interpretado um trans, estava de certo modo protagonizando uma luta que não é minha. Inclusive nunca mais farei um experimento dessa natureza.

Concluindo, o que realmente define nossa orientação sexual é a atração pelo gênero, não o genital!

(Entenderam agora? ^^)