24 de ago. de 2017

Questionando a orientação sexual

Muita gente já sabe decorado o conceito de orientação sexual: "atração sexual por um ou mais gêneros". Com exceção da pansexualidade, que é atração que independe de gênero, todas as demais identidades sexuais se prendem à presença de identidades de gênero.

Antigamente o conceito era "atração sexual por um sexo, seja o oposto, o mesmo ou ambos". Precisamos atualizar nossa concepção de sexualidade no momento em que percebemos que o ser humano poderia ir além da genitália. Além de que o conceito antigo excluía intersexos.

E então colocamos o gênero como o fator mais importante e o verdadeiro determinante de uma identidade sexual. Homens heterossexuais podem gostar de travestis e mulheres trans com pênis e manter sua identidade. Homens gays podem gostar de homens com vagina e manter sua identidade. E assim por diante.

No entanto, o conceito novo acaba excluindo um grupo transgênero: pessoas agênero. Isto é, pessoas sem uma identidade de gênero. Onde uma pessoa sem gênero pode ser incluída num conceito que depende de gênero?

Esse mesmo questionamento me faz refletir sobre uma outra questão paralela: gênero é apenas construção social? Existem ainda pessoas que afirmam isso, que gênero é uma criação humana e que nossa espécie não precisa realmente de gênero.

Talvez não precisemos mesmo. Mas agora vamos analisar: se gênero é socialmente construído, ele pode ser desconstruído. Se desconstruirmos, nos tornamos todxs pessoas agênero, o que, consequentemente, rompe todas as identidades sexuais. Não que isso seja um problema. Mas isso nos tornaria capazes de nos atrairmos por todas as pessoas?

Levantar essas questões me faz perceber que a sexualidade humana continua complexa. Aceitamos o novo conceito sem considerar a possibilidade de ele estar incompleto ou mesmo errado. Não estou dizendo que não existe atração por gênero. E sim que podemos ir além, considerando também a expressão, a aparência e a corporalidade da outra pessoa.

Comecei a levantar essa questão primeiramente por perceber a exclusão de agêneros. E também por me sentir atraído sexualmente por três pessoas transgênero - duas gênero neutro e uma agênero. As três são do sexo masculino e normalmente adotam uma aparência masculina. Isso tudo é suficiente para despertar minha atração. Como fica minha identidade agora? Bem, ainda me considero gay.

E aposto que outras pessoas devem ter passado pela mesma situação. Ouso dizer que as identidades não-binárias estão ampliando nossa visão sobre o que define nossa sexualidade, se é apenas gênero ou mais que isso.

Nos apegamos tanto ao conceito atual que situações como essa nos força, mesmo que involuntariamente, a questionar nossa própria identidade sexual. Mas isso não é realmente uma novidade. Pessoas com certa identidade podem experimentar a fluidez sexual e não precisam mudar de orientação por isso. Heterossexuais podem ser héteros mesmo tendo sentido atração por alguém do mesmo gênero. Homossexuais podem ser homos mesmo tendo sentido atração por um ou mais gêneros diferentes. E assim por diante.

Com tudo isso, o que posso afirmar com certeza é que nosso conceito atual de orientação sexual precisa ser revisto. Foi revisto antes e pode ser de novo. Independentemente de qual identidade sexual utilizamos, precisamos aceitar a fluidez sexual e aceitar que o gênero está se mostrando insuficiente para determinar as orientações sexuais.