12 de ago. de 2017

O sucesso de Pabllo Vittar

Cada vez mais a cantora drag queen Pabllo Vittar conquista seu lugar na mídia nacional e também na internacional. Uma boa parcela da população, especialmente da comunidade LGBTQIAP+, está se sentindo representada e está apoiando a artista.

Não vou discutir aqui se a Pabllo tem mesmo talento ou não. Ela está fazendo sucesso, um sucesso que tende a crescer, então algum talento ela deve ter. Gosto dela, mas não sou fã suficiente para ser intitulado de vittarlover. No entanto, preciso falar sobre ela. E defendê-la.

Ninguém consegue agradar todo mundo. Pabllo esteve sendo criticada por sua voz, por ser superestimada, pelas letras de algumas músicas e por sua contribuição a longo prazo para a comunidade. Todas as pessoas são passíveis de críticas. Porém, o que estive vendo está me incomodando e vou explicar o motivo.

Vou comentar dois casos específicos sobre as (pseudo-)críticas contra ela:

Compararam ela com Freddy Mercury, geralmente exaltando-o como um homossexual melhor, mais talentoso e mais representativo. Bom, sem entrar no mérito se Freddy era de fato gay ou bissexual (o que era possível, bissexualidade sempre foi apagada), vamos aos seguintes fatos: são duas pessoas de tempos diferentes fazendo seus ativismos. Freddy contribuiu para a comunidade. Pabllo está contribuindo para a comunidade. Ninguém é mais ou menos aqui. Não é porque Freddy agiu de um jeito que todx artista LGBT deve seguir a mesma fórmula.

Compararam ela com figuras LGBTs nacionais, como Vera Verão, Nanny People e Rogéria. Antes de tudo, essas pessoas tiveram sim um papel importante na história da visibilidade LGBT nacional. Não vou negar. Agora, todas elas têm algo em comum: são personagens de entretenimento. Quando vi essa comparação, a única coisa que entendi foi "bons tempos quando LGBTs só apareciam na TV pra gente dar risada". Melhor ainda é ver a galera reacionária fazendo essa comparação (nem se importam com a comunidade!).

Tudo isso só tem um objetivo: desmerecer a Pabllo. Só. Mais nada. Duvido que essa mesma galera tenha imensa paixão e admiração por todas as personalidades citadas.

Agora, ninguém está dizendo que a Pabllo vai revolucionar o mundo apenas com músicas e clipes e acabar com as opressões sofridas pela comunidade. Não. Até porque uma pessoa só não faz uma revolução. Mas eu, como pessoa LGBT, estarei cobrando mais do ativismo dela.

E, além disso, a Pabllo ainda está inserida num sistema capitalista. Ela precisa tomar o mesmo cuidado que artistas que se dizem pró-LGBT (como Anitta), que é não cruzar o limite entre o ativismo verdadeiro e o lucro em cima da causa LGBT (o famoso pink money).

Talvez ela esteja sendo muito exaltada pelxs fãs. Talvez esteja sendo um pouco superestimada por seu talento. Agora, ter alguém como ela sendo reconhecida no mundo é positivo para a visibilidade e representatividade LGBT. Sem contar que ela também está representando o Brasil.

O clipe Sua Cara foi gravado no Marrocos, onde é crime por lei ser homossexual. Conseguem imaginar o que é um homossexual interpretando uma drag queen e uma artista pró-LGBT gravando um clipe num país desses? Isso não é um rompimento de barreiras?

Com tudo isso e vendo os ataques que Pabllo esteve sofrendo, só posso concluir uma coisa: o que incomoda de verdade é termos uma pessoa LGBT, nordestina e que rompe padrões tendo sucesso. Com certeza há gente que não gosta da voz e das letras. Mas o incômodo maior é a pessoa dela estar ganhando espaço num meio artístico ainda predominado por pessoas hétero-cis.

As críticas sobre Pabllo estar inserida no capitalismo e as cobranças do que ela pode fazer pela comunidade são válidas. Meu ponto principal foi a importância de ter uma drag fazendo sucesso, o que isso significa para a diversidade. Estarei acompanhando a Pabllo, torcendo por sua carreira e por sua contribuição para um mundo mais tolerante.