Faz um mês que fui alvo de centenas de ataques virtuais no Twitter, uma de minhas redes sociais. Isso já havia acontecido ano passado, mas foi um episódio de proporção bem menor. E pensar que o Twitter é reconhecido como a rede dxs LGBTs.
Felizmente foi algo que durou apenas um dia. Ainda assim foi um evento inédito para mim. O que me aconteceu não foi azar, foi na verdade uma pequena parcela do que muitas outras pessoas LGBTs passam diariamente nas redes sociais, principalmente figuras públicas.
No Twitter, particularmente falando, consigo enxergar uma grande sociedade LGBT. Talvez a maioria não seja militante/ativista, mas existe uma diversidade grande que se sente livre e segura no site. Porém, assim como no Facebook e até mesmo no Instagram, existe também um esgoto virtual onde ficam as pessoas preconceituosas e reacionárias. E eu presenciei um pouco desse esgoto.
Um perfil que se diz comediante compartilhou um tweet meu e ainda me atacando. Então além de eu ter sido atacado no perfil, também me atacaram em meu próprio perfil. Alguns chegaram a me atacar em outras postagens.
Esses perfis e figuras públicas que se dizem comediantes são aqueles que fazem discurso de ódio e perpetuam preconceitos através das """piadas""", sempre atacando minorias. Podem até vir com o papo de que "fazem piada com tudo", mas os alvos são sempre minorias. E o perfil em questão que apontei é um dos maiores que vi no Twitter e seu conteúdo é astronomicamente nojento.
E milhares de pessoas seguem essa página. O esgoto virtual é bem maior do que eu imaginava. E essa gente precisa ser combatida. Não são apenas ignorantes e leigos, são pessoas movidas a ódio e sem qualquer empatia pelo ser humano. Mas não se enganem: quando se unem para atacar, parecem poderosos e invencíveis, mas são tudo pessoas covardes e fracassadas. No fundo sabem que são lixos e escória da humanidade.
Não tenho sangue frio. Fiquei com muita raiva dessa gente. Naquele dia fiquei pensando em como seria ótimo para a humanidade se essas pessoas morressem, caíssem mortas no chão, desaparecessem do mundo. Ainda penso essas coisas às vezes.
Aguentei com firmeza com ataques e tomei providências. Claro que eu não ia deixar me atacarem o dia inteiro e por dias. Bloqueei a página e todos que me atacaram. Fiquei mais chocado em ver um gay que apoia a página e até mulheres, sendo que uma ainda compartilhou uma foto minha para debochar de mim.
Depois dei uma pesquisada pelo site e vi que outras pessoas já criticaram a maldita página. Algumas foram atacadas, mas por pouca gente. Eu fui um alvo bem maior. E sabem o motivo? Porque sou gay, porque sou militante LGBT+, porque sou empoderado, porque sou muito melhor que esses lixos que só sabem sujar ainda mais esse mundo.
Esse acontecimento me abalou por um dia, mas depois ressurgi muito mais forte. Ah, e um detalhe importante é que tive que aguentar tudo sozinho. Mesmo com milhares de seguidores, ninguém foi me apoia ou me defender. Silêncio total. Duvido que ninguém viu aquilo tudo acontecendo. Dias depois um outro usuário foi atacado por outro e dezenas de usuários foram imediatamente ajudá-lo. Explicação? Bem, eu tenho umas ideias, mas não vou expô-las.
De qualquer maneira, eu sobrevivi. Foram apenas palavras de ódio de centenas de pessoas, nada que pudesse me matar. Eu sou uma pessoa forte. Solitária, mas forte, mais do que eu imaginava. E isso tudo também reafirmou a importância de ser militante e lutar pelas causas sociais.
Ódio tem que ser combatido. Eu não morri, mas há um grande número de pessoas que já tentaram ou cometeram suicídio por causa de ataques virtuais em massa. Infelizmente aqui no Brasil o cyberbullying não é tão levado a sério. Existem pouquíssimas delegacias específicas e as redes sociais se mostram na maioria das vezes incapazes de punir crimes virtuais de ódio. O próprio Twitter, a "rede social do arco-íris", não fez absolutamente nada.
Aliás, só para constar aqui, além das políticas e regras de conduta do Twitter não verem nada de errado em ataques preconceituosos e discursos de ódio, toda postagem denunciada desaparece apenas para você. Grande bosta! E se disserem que um perfil denunciado foi "bloqueado", não foi porcaria nenhuma.
O que nos resta? Abaixar a cabeça e aceitar? Não! Nós vamos lutar!
Vamos gritar, vamos discutir, vamos problematizar, vamos expor essas pessoas, vamos reafirmar nossas identidades, vamos conscientizar as pessoas que querem ouvir e mudar, vamos enfrentar o ódio e vamos também ser melhores que isso! Sim, vamos lotar as redes sociais de "mimimi"!
Se estamos incomodando é porque algum efeito está tendo. O ódio dessas pessoas é uma reação - elas se sentem ameaçadas! Nossas lutas, ações e palavras ameaçam os sistemas opressivos e todos que vivem deles. Deixem que vomitem mais ódio e apodreçam por dentro. Nós ficaremos mais fortes. E nós podemos mudar o mundo.