15 de jan. de 2017

Confissões

Eu era invisível. Eles não olhavam para mim. Talvez nem me ouviriam se eu falasse, ou mesmo gritasse. Nunca fui uma alternativa nem a vigésima opção. 

O milagre aconteceu: fui notado! Uma onda de alegria me inunda! "As coisas vão mudar?"

Alguém finalmente olhou para mim e percebeu que existo! Conseguiu ver alguma beleza em mim. Mostrou interesse em mim. Como não ficar feliz com isso?

Não é desespero. Só é algo surreal após tanto tempo sendo um... nada.

"Então chegou minha hora? A hora que falaram para eu esperar? O momento de viver um romance, andar de mãos dadas, ter uma companhia para o cinema?"

Eu quero ser esse garoto. Por que não? É errado querer isso?

Se há gente que consegue, por que não eu?

Porém o milagre se torna um fardo quando percebo que minha existência só serve para prazeres breves. Para curtição. Não me procuram para me conhecer, não se imaginam me namorando. Eu sou mera curtição.

Bateu o tesão e me enxergam. Não era isso que pedi! Não era essa atenção que eu queria!

"Só quero sexo casual." 
Sempre querem...
"Você parece ser bem legal, mas não procuro nada sério agora." 
Nunca procuram quando falam comigo.
"Curti você, Bora trocar nudes? Tem local?" 
Só meu corpo que importa aqui, né?
"Na verdade, eu namoro. Mas é relacionamento aberto." 
Oba, vou ser peguete de relação aberta!

Eu serei apenas um ficante, serei apenas um contatinho, serei aquela boca que beijou e na semana seguinte nem lembra o nome. Sexo. Eu só sirvo para sexo. Ou para nada.

Nessas horas acabo desejando que o milagre se desfaça, e eu volte a ser invisível. Porque ser visível também me mostrou que o amor não é para mim. Nunca me querem de verdade. 

Que inveja tenho desses garotos com sorte no amor! Continuem com os textos do Facebook e as lindas fotos do Instagram. Permanecerei aqui, na solidão do quarto, adorando e invejando tudo isso.

Por que nunca posso ser o garoto do romance, das mãos dadas, da companhia para o cinema?

Acho que mereço isso também. Não sirvo só para dar prazer, sabe.