[ATENÇÃO: Esse texto é grande!]
Eu e meu grupo da faculdade decidimos apresentar nosso TCC
com antecedência num congresso na cidade de Araraquara. No fim fiquei
encarregado de ir sozinho. Seria minha primeira viagem sozinho, uma longa
viagem, e para um lugar totalmente desconhecido. Reclamei? Reclamei! Mas
aceitei essa aventura como uma experiência de crescimento e independência.
Acordei mais cedo que de costume. Antes disso acordei
algumas vezes na madrugada preocupado com o horário e a viagem. Não demorei em
me levantar. Estava tudo pronto para mim. Tomei banho, me arrumei, tomei meu
leite com Toddy e fui.
Fazia um tempinho que eu não sentia aquele friozinho da
madrugada. O céu estava lindo e escuro ainda. São Paulo ainda dormia
praticamente.
O metrô foi mais tranquilo do que imaginei. Cheguei na
rodoviária, comprei minha passagem e em meia hora o ônibus partiu. Viagem de
ônibus não era novidade. A diferença é que dessa vez eu não tinha companhia e
seria uma viagem de quatro horas e meia. Tive a felicidade de pegar o assento
da janela. Ajeitei minha mochila entre as pernas e coloquei o banner do TCC do
meu lado.
Não consegui dormir na viagem; estava sem sono e me
empolguei pela paisagem durante o percurso. Parei em alguns momentos para ler
um livro, ouvir música e revisar o conteúdo da apresentação.
Passamos por Campinas. Fiquei fascinado com o shopping de
lá. Passamos por Anhanguera. Vi uma mecânica chamada “Scalibur” (criativo?).
Num momento tive a impressão de ver uma águia no céu. “Tem águias aqui no
Brasil?” Fizemos uma pausa e continuamos. Chegamos em Limeira, uma cidade
repleta de áreas rurais, aqueles terrenos que embaralharam partes de terra e
partes verdes. Muito bonita. Foi a partir daí que comecei a reparar num
garotinho sentado logo atrás de mim. E como “tenho sorte com criança”, ele me
irritou muito, não parava de falar e fazer ruídos. Em São Calos consegui achar
um wi-fi livre e aproveitei para atualizar minhas redes sociais, anunciar minha
viagem e falar com meu grupo. O menino ficou mais chato, e chutou minha cadeira
algumas vezes. Quase dei um esporro nele e na mãe. Para a sorte deles
chegamos em Araraquara uma meia hora depois.
A rodoviária de lá era escura e muito vazia, parecia um
filme de terror. Peguei um táxi ali perto e cheguei rápido na faculdade de
ciências farmacêuticas. Era um dos poucos prédios no meio de todo aquele mato
típico de cidade do interior.
O lugar é bonito e agradável, muito aberto mesmo no
interior, com muitas áreas ao ar livre. Até passarinhos passeiam lá dentro. Como
faltavam duas horas para a apresentação, aproveitei para visitar um pouco o
local. Estava calor lá. Tive que aguentar, até porque eu estava de camiseta
social de mangas compridas. Por sorte achei uns cantos frescos e com sombra. A grande maioria das pessoas que vi eram
meninas. E tinha uns meninos bonitos. Almocei, li um pouco mais, tomei um
sorvete, apreciei a paisagem (e os meninos) e fui para a bendita apresentação,
um pouco ansioso, mas determinado.
Pendurei meu banner com antecedência lá e fiquei o tempo
todo parado ao lado dele. Minhas avaliadoras vieram rápido, quase que seguidas.
Elas leram o banner, comentei sobre o trabalho e respondi suas perguntas. Elas
adoraram! Fiz amizade com a moça que estava logo na minha frente. Ela também
tem um nome incomum, igual ao meu, e descobri que está fazendo mestrado.
Conversamos muito.
Não quis participar do “coffee” de lá. Terminou antes do
esperado e eu queria ir para casa. Acompanhei minha amiguinha até a saída.
Então ela teve a bondade de me oferecer carona de volta a rodoviária. Aceitei,
lógico! Eu, ela e os dois amigos dela fomos para lá. Me despedi.
Infelizmente não cheguei a tempo do ônibus, que havia
partido há uns minutos. Tive que enrolar lá uma hora e meia. Aguentei. Nem
imaginam o alívio que senti ao entrar no ônibus. Alívio de estar voltando para
casa e estar saindo de lá vitorioso. Araraquara me pareceu um lugar muito
tranquilo de se viver. Pensei em como seria morar lá.
Peguei de novo o assento da janela. Um casal entrou no
ônibus e sentaram separados; a moça do meu lado e o rapaz do outro lado, na
outra dupla de cadeiras. Troquei de lugar com ele, assim ficavam juntos. Fiz
uma boa ação! E eram um casal tão fofo! *-*
Tive que suportar um cara chato atrás de mim que falava alto
no celular. Pelo menos eu sabia que ele não iria ficar falando por quatro horas
e meia. Fiquei com o outro assento livre até São Carlos, onde entrou um homem e
sentou ao meu lado. Interagimos minimamente, mas ele parecia ser interessante.
Um senhor numa poltrona mais a frente começou a roncar, então nem ele ou eu
tivemos sossego para ler nossos livros. Pelo menos a lua cheia estava
maravilhosa! A viagem de volta me pareceu mais serena do que a ida.
Precisei ir no banheiro num dado momento, e para minha
infelicidade a porta não fechava e nem trancava. Tive que ficar segurando ela
para dentro enquanto mijava. Não tentem isso! É horrível!!! Por sorte paramos
num lugar depois e pude mijar decentemente (o nervosismo não me deixou soltar
tudo :P).
Depois de mais um tempo de viagem, eu e o homem ao lado
começamos a conversar mais (nem lembro como). Ele veio de Fortaleza e é um
ativista de esquerda. Teve diálogo? E como teve! Até o senhor que estava
roncando participou. Só perdoei os roncos porque ele também é de esquerda
hahaha. Que coincidência conhecer um esquerdista nordestino! Aquele dia foi
cheio de surpresas.
Fomos juntos até o metrô. Desci na Sé. Nunca fiquei tão
feliz em ver a linha vermelha! E não apenas isso, fiquei ainda fascinado com
toda minha experiência daquele dia: viajar, o TCC, as pessoas que conheci. Foi
tudo tão... mágico! Me senti diferente e renovado.
Ao chegar em casa, anunciei ao mundo todo o sucesso da
apresentação. Me livrar do TCC agora foi muito bom! O dia de ontem foi tudo de
bom. Foi um dia inusitado de todas as formas. Saí da zona de conforto, conheci
o maravilhoso mundo da socialização, tive uma boa experiência e descobri um
lado mais aberto que eu não tinha certeza se tinha.
Encerro esse longo texto declarando que essa viagem foi até
agora uma das melhores experiências que tive.