30 de mai. de 2015

Obras feministas de animação e ficção

Enganam-se vocês que pensam que o feminismo e suas ideias são recentes. O movimento nasceu oficialmente no século passado, apesar da luta das mulheres por seus direitos, por liberdade e por empoderamento não sejam novidades da tal "era moderna". 

Atualmente existem obras feitas e baseadas nessa ideologia. Algumas podem até ter passado despercebidas, mas na maioria é evidente a mudança da retratação das figuras femininas. Essas obras apresentam essas figuras como poderosas, corajosas, independentes, íntegras e humanas, e estão cada vez mais explorando o senso de sororidade (a "irmandade feminina"). Todos esses atributos sempre pertenceram mais às figuras masculinas. Agora... Não pertencem mais :D.

Segue algumas obras mais famosas e conhecidas:



  • As Meninas Super Poderosas

Sempre gostei do desenho e nunca parei para pensar o quanto ele é feminista, o quanto ele quebra vários os padrões e regras estipulados pela sociedade. Primeiro de tudo, as Meninas são as heroínas e as personagens mais poderosas do desenho; isso coloca todas as figuras masculinas como dependentes delas. 

As três e o Professor Utonium quebram padrões de gênero e família: o Professor desempenha o papel de pai e mãe para elas, e as Meninas não poupam socos e chutes em todas as lutas. O Professor tinha uma mente tão aberta que até deixou as Meninas o vestirem de menina. Já as três costumavam fazer piadas e questionamentos sobre papeis de gênero e sobre masculinidade, como quando as três, curiosas sobre um novo vizinho, vão checar o quintal do mesmo. Lindinha vê um aparelho de levantamento de peso e conclui que deveria ser um homem, e Florzinha rebate afirmando que mulheres também levantam peso. Fantástico!


Uma vilã interessante foi a Femme Fatale, uma ladra que roubava apenas moedas de Susan B. Anthony (uma feminista do século 19), que questionou a escassez de super-heroínas autênticas na ficção (tanto que as Meninas só se lembraram da Mulher Maravilha). Apesar das ideias feministas, a personagem queria ficar livre dos crimes por ser uma das pouquíssimas vilãs da cidade. E, no final, as próprias Meninas deram uma lição de feminismo e a jogaram na cadeia.


As três também são muito diferentes: Florzinha é a líder e a mais inteligente, Lindinha é a mais sensível e dócil, e Docinho é a mais temperamental e uma menina-moleque. Lindinha é considerada como a mais feminina, enquanto Docinho é a mais masculina. E, apesar disso, elas lutam do mesmo jeito, e também já manifestaram lados mais brutos e mais sensíveis de suas personalidades.



  • Mulan

A Disney se baseou na lenda de Hua Mulan, uma mulher que se infiltrou no exército (exclusivamente masculino) para lutar. A ideia é fantástica, e a obra não é só feminista pelo fato de Mulan ser uma mulher e lutar com uma espada, mas também pela atitude da personagem e pelo fato de ela ter dado uma lição de que mulheres têm tanta capacidade quanto os homens. Na animação feita pela Disney sua motivação é tomar o lugar do pai, que mesmo doente teria que atender à convocação para a guerra contra os hunos. Ela supera todos os limites e se torna uma lutadora tão boa quanto seus parceiros. Um dos melhores desenhos da Disney na minha opinião.




  • Kill Bill

Alguns podem pensar: o que tem de feminista numa história sobre uma mulher matando geral? Bom, deixando a vingança e os litros de sangue de lado, Kill Bill apresenta um grupo de assassinos, as Víboras Mortais, composto por dois homens e quatro mulheres. A protagonista, Beatrix Kiddo, é uma dessas mulheres e sabe artes marciais e lutar com uma katana. Entre as outras três mulheres, duas pertencem a uma etnia diferente dos americanos: uma japonesa (sino-americana) e uma negra. Todas as mulheres do grupo são tão mortais e habilidosas quanto os homens, e se mostram independentes e imponentes em seus estilos de vida e atitudes.




  • Alice no País das Maravilhas

Alice retorna depois de anos ao País das Maravilhas (ou Mundo Subterrâneo) para enfrentar a Rainha Vermelha e seu monstro, Jabberwocky. No mundo de cima, Alice, insegura e pressionada pela sociedade, precisa enfrentar uma proposta de um casamento forçado. Ela foge e acaba novamente caindo num buraco que a leva para o outro mundo. Lá os acontecimentos e a expectativa dos personagens por seu heroísmo acabam tirando-a daquele estado de insegurança, fazendo-a acreditar em si mesma e que ela, somente ela, poderia traçar seu destino. Ela retorna renovada  ao mundo de cima, recusa o casamento, taca o foda-se pra todo mundo e decide navegar pelo mar em busca de novas descobertas, seguindo os passos do pai. O filme tem uma maravilhosa cena de luta com Alice vestida em armadura e vencendo o monstro da Rainha com estilo. Destruidora!




  • Once Upon a Time

Série maravilhosa que deu às histórias de fantasia um aspecto mais humano, e também feminista. A série contem uma variedade de personagens femininas fortes e independentes. É muito difícil ver uma personagem sendo discriminada apenas pela condição de mulher. A protagonista, Emma Swan, é a heroína principal da série, que vive ajudando e salvando as pessoas, sempre mostrando coragem, perseverança e força. Regina, a Rainha Má da Branca de Neve, é tida como uma das personagens mais poderosas da série, competindo apenas com Rumpelstiltskin, o homem mais poderoso da série. A Branca de Neve jogou fora seu lado princesinha e, para fugir de Regina, torna-se uma fugitiva revolucionária que consegue escapar sempre da Rainha e inspira a população do reino a se revoltar contra a bruxa.


Praticamente todas as personagens femininas, sejam heroínas ou vilãs, possuem personalidade e valores próprios, e lutam com unhas e dentes pelo que querem ou acreditam. Elas são persistentes e únicas e não deixam nenhum homem desvalorizá-las. E, claro, não posso deixar de elogiar todas as vilãs por serem as opressoras malvadas e divas que elas são! *---*


Há outros casos que vou citar. A avó de Ruby (Chapeuzinho Vermelho) não hesita em armar-se com sua besta para defender sua neta e as pessoas ao redor. Marian, esposa de Robin Hood, não permitiu que o marido a defendesse numa cena, dizendo que ela podia se defender sozinha. Já Belle (de A Bela e a Fera) é uma personagem criticada e tida como fraca, mas sua luta na verdade não requer magia, armas ou golpes; ela acredita que Rumpelstiltskin (a Fera) possa ainda ter bondade dentro dele, e por isso não desiste dele. Embora ela ainda seja a garota intelectual (cercada de gente burra menos intelectual) das fábulas, ela auxilia o elenco com pesquisas e investigações. Ela é tão importante quando as demais personagens, e tem sua própria luta para travar, mesmo que seja inteiramente emocional.



  • Avatar: A Lenda de Korra

A protagonista da nova série de Avatar é uma mulher negra e bissexual (essa parte foi revelada só no final). O mundo de Avatar mostra uma sociedade muito mais igualitária, com mulheres ocupando altos cargos e sendo amadas e admiradas por seus atributos, como força e inteligência. Korra, a nova Avatar, nunca é discriminada pelo fato de ser mulher. Até porque a existência de mulheres Avatares comprova que sexo e/ou gênero não significam nada. A dificuldade que Korra enfrenta é justamente seu dever como a nova Avatar, a mesma dificuldade que seus antepassados tiveram. Sem contar algumas cenas de batalha onde as personagens femininas lideram os demais.

No time Avatar, Korra, Mako, Bolin são dobradores, enquanto Asami não é. E mesmo assim ela auxilia nas batalhas com a mesma eficiência das demais pessoas, fazendo uso de artes marciais e tecnologia. A série pecou um pouco em (tentar) fazer um romance entre Korra e Mako, sendo que Mako, em duas temporadas, se envolve com ela e Asami. Mas um fator muito positivo foi o fato de elas não terem se tornado inimigas apenas por terem tido o mesmo namorado. Pelo contrário, a amizade delas foi cada vez mais se tornando mais sólida. Korra cometeu erros ao longo da série, mas isso faz parte da natureza humana. Quem não erra, né?


Para finalizar, o maior acontecimento, que serviu para fechar a série, foi a revelação do amor de Korra e Asami (sim, a amizade evoluiu para amor *---*). Os produtores da série confirmaram o envolvimento amoroso das duas (que já estava implícito desde a 3ª temporada). Além de tudo já mencionado, a série (dentro do possível) representou o amor lésbico. Fantástico!



  • Valente

Valente conta a história de Merida, que desafia o costume antigo de sua família de casá-la com um dos filhos de três famílias aliadas. Merida mostra que é uma garota de personalidade e vontade própria, exibindo seu talento com arco e flecha (que humilhou o "talento" de seus três pretendentes) e rebelando-se contra a obrigação de casar-se com alguém que nem conhece. Ela busca a ajuda de uma bruxa e acidentalmente transforma sua mãe, Elinor, num urso. A mãe tenta fazê-la aceitar o destino de ter que casar-se. E, agora transformada em urso, necessita da ajuda da filha para voltar ao normal. O filme mostrou a luta que Merida trava para salvar a própria mãe e o vínculo forte que elas criam após os acontecimentos. No fim ambas tornam-se inseparáveis e a mãe aceita a filha como ela é.




  • Frozen

Frozen fez sucesso pela mudança do padrão Disney de 'príncipe e princessa'. Embora Mulan tenha feito isso também, Frozen foca mais no amor fraterno das irmãs Elsa e Anna. O filme mostra a sororidade que quase nunca havia aparecido nas obras Disney. Anna teve um total de dois interesses amorosos, mas um deles, Príncipe Hans, ela tinha acabado de conhecer, enquanto com jovem Kristoff ela teve mais tempo de convivência. No fim o rapaz simples acaba ficando com ela, enquanto Elsa prova que não precisava de um príncipe para ter seu final feliz. No clímax da história, Anna salva sua irmã de ser morta por Hans, e esse ato de amor quebra a maldição (lançada acidentalmente por Elsa) que estava aos poucos a convertendo em gelo. Isso desafiou o clichê da fantasia de príncipe salvando princesa e a regra de que atos de amor só aconteciam entre um homem e uma mulher num envolvimento amoroso.


O filme ainda fez uma tirada ótima sobre os casamentos precoces dos contos de fada. Elsa diz para Anna que ela não poderia casar com um cara que acabou de conhecer (muitas princesas da Disney infartaram depois dessa XD). Além da sororidade, o filme também trouxe uma dose de realismo sobre relacionamentos.



  • Malévola

Seguindo a onda de Frozen, Malévola também apresenta o amor entre mulheres. A história mudou radicalmente, mostrando o passado de Malévola e alterando muito trajeto do enredo original. Malévola é uma fada de uma floresta que se apaixona por um garoto de um reino próximo. Na fase adulta, o garoto é enviado para matá-la. Ao invés disso, ele coloca sonífero na bebida e corta seu par de asas, como prova de sua morte. A cena em que ela acorda e percebe a falta das asas é forte, e até foi comparada a situação de um estupro. O garoto torna-se rei e Malévola segue um caminho sombrio, dominada pela decepção e pelo ódio contra seu antigo amor. Como vingança, ela amaldiçoa a filha do rei, Aurora, que é posta aos cuidados de três fadas.


As fadas são descuidadas e despreparadas demais para cuidar de Aurora. Então Malévola, querendo que a maldição seja devidamente cumprida, passa a cuidar da garota nas escondidas. Em uma cena Malévola tenta espantar a garota e no fim cede ao seu pedido de pegá-la no colo. Esse tempo de 16 anos fez Malévola criar sentimentos maternos por Aurora e até a fez repensar sobre suas ações. Para sua infelicidade, a maldição acaba se cumprindo, mas quem desperta Aurora é a própria Malévola, com um beijo materno em sua testa. O filme mostrou que duas mulheres, mesmo numa situação de inimizade, podem ter um vínculo fraterno, e também tentou passar uma mensagem de superação a respeito de traição (no caso, causada por um homem).



Espero que tenham gostado. Aguardemos cada vez mais obras que mostrem mais a humanidade das figuras femininas, igualdade de gêneros, sororidade e empoderamento feminino.