28 de mai. de 2019

Negatividades

Estive refletindo há muito tempo em relação a toda negatividade a qual me exponho e que acabo também expondo aqui.

E a toda negatividade que eu e outras pessoas conhecidas acabamos nos expondo mesmo em nossos próprios espaços, cujas propostas são serem espaços seguros.

O mundo não é flores e doces. O mundo é fudido mesmo. Não tem como fingir o contrário, a não ser que você queira ser totalmente alienade e viver na própria cabeça (o que não resolverá seus problemas).

Não vou fingir isso e meu objetivo aqui não é transmitir uma mensagem superficial a nível de "pense positivo" ou de livro de autoajuda.

Às vezes essa negatividade nos atinge ao ponto de vivermos pra ela e falarmos apenas nela. Precisamos ter esse cuidado nas militâncias! Não é de hoje que falo isso, mas preciso me relembrar disso constantemente.

Nossa cabeça fica cheia, nos sentimos estressades e cansades, começamos a perder esperança num futuro melhor, e, se não tivermos saúde mental nem perspectiva, então nosso trabalho perde valor e sentido.

Acho que não podemos nos esquecer desses dois itens: saúde mental e perspectiva. E acredito que termos mais contato com positividades seja uma boa maneira de preservá-los.

Vou propor para mim mesme e para quem mais quiser o seguinte: 

Vamos ler mais coisas positivas. 
Vamos divulgar mais notícias positivas. 
Vamos escrever e espalhar mais frases positivas. 
Se possível, vamos nos isolar numa bolha só com positividades por horas ou um dia inteiro.
Se necessário, vamos só ter contato com positividades por um longo período, como um repouso.

Olhe pra si e diga coisas positivas sobre si.
Olhe para as pessoas e diga coisas positivas para elas.

É isso. 

Que você tenha um dia maravilhoso! E lembre-se: você é válide!

21 de mai. de 2019

Pessoas trans em mídias

AC: cissexismo, exclusão trans do mercado de trabalho.



Personagens trans estão cada vez mais sendo retratades nas mídias. Aqui comentarei especificamente sobre novelas, séries e filmes; mídias que necessitam de atuação.

Um fato comum e polêmico que ainda acontece muito na indústria dessas mídias é pessoas cis sendo escaladas para interpretar pessoas trans.

Quando isso é criticado, surge todo tipo de justificativa. Uma que já vi sendo muito usada é que "precisa de alguém pra representar a pessoa antes da transição". Algo risível se pensarmos nas possibilidades tecnológicas atuais (isso que há vezes que uma ótima maquiagem faz o serviço). E sem contar o reforço da ideia que toda pessoa trans quer fazer transição física.

Ainda existe muita desinformação sobre o tema da transgeneridade. É questionável o quanto as representações em obras atuais são realmente boas; ainda mais quando insistem em colocar uma pessoa que "odeia" o próprio corpo. Mas mesmo que a representação seja boa, quando acontece a premiação o ator que interpretou a mulher trans vai de terno e barba.

A comunidade trans carece muito de empregabilidade. Quando conseguem atravessar a escola e fazer faculdade ou curso, o que para muites é algo sofrível, o emprego não aparece. Não é por falta de gente disponível, gente formada na área.

Como a produção dessas mídias insiste agora em retratar personagens trans, mas não escala pessoas trans no elenco? Afinal, essa representatividade está servindo a uma causa ou apenas aos bolsos da produção? Há de se pensar nisso.

Considerando esses contextos, pessoas trans interpretando pessoas trans é uma necessidade imensa. Felizmente, acredito que houve uma ligeira mudanças. Só que não é suficiente.

Não digo que nenhuma pessoa cis possa interpretar pessoa trans. Se for escalada, o mínimo que a pessoa pode fazer é uma atuação digna e questionar seu local de privilégios. Ou mesmo enfrentar e recusar o papel, defendendo a presença de pessoas trans. (sonhar não dói, né)

Mas o ideal seria dar oportunidade às pessoas trans para atuarem em algo dentro de suas vivências e oferecerem representatividade durante e também após a obra. Queremos muito ver premiações com pessoas trans sendo indicadas ou ganhando.

Precisamos sim de mais pessoas trans atuando. Isso não é favor, é obrigação.

11 de mai. de 2019

Gosto é pessoal

AC: gordemisia, racismo, outras possíveis exclusões.




Muita gente já deve ter ouvido e falado que gosto é pessoal, geralmente como defesa. Nossas preferências são particulares e como tais devem ser respeitadas e não questionadas.

Linda teoria. Mas há sim o que se questionar.

Já vou avisando com antecedência que não estou acusando ninguém e nem obrigando alguém a ter relações com determinado grupo. Isso é um artigo de reflexão.

É bem comum em aplicativos de relacionamento pessoas escrevendo em seus perfis: não curto gordo/negro/afeminado/velho/etc.

Tem gente que declara com todas as letras, sem pudor algum, que não se atrai por todes que possuem determinadas características, ou ao menos que a atração é rara/pouco frequente.

Primeiro de tudo, é interessante apontar que, "por um acaso", os grupos que são alvos dessas afirmações são sempre aqueles com todo um histórico de marginalização, colocados constantemente como ausentes ou carentes de "beleza", ou "charme", ou "encanto", ou qualquer outra coisa subjetiva considerada atrativa.

Segundo, essas constatações são muito fortes, não? Quero dizer, como podemos afirmar que pessoas de determinado grupo jamais vão nos atrair? Quem percorreu o mundo inteiro pra confirmar que não consegue se atrair por nenhuma pessoa gorda, negra, etc?

Estamos falando de grupos com milhões de pessoas no mundo. E mais, como exatamente funciona essa seleção de atração baseada nessas características? O quanto um corpo precisa ter de gordura ou de pigmentação na pele pra ser ou não ser atraente, visto que todas essas características estão dentro de espectros imensos de variação?

Gosto é pessoal? Muito bem, não vou discordar. Mas não é estranho uma maioria ter os mesmos gostos? Não é estranho esses corpos ditos atraentes estarem representados em tantos lugares? Não é estranho num país tão diversificado como o nosso apreciarmos tanto ideais de beleza que são mais comuns em outros países?

Temos que começar a considerar que nossos gostos podem ter sim um viés gordemisico, racista, entre outros preconceitos. Pois se tiramos a improbabilidade e a inconsistência de declarar que um grupo todo não te atrai, o que resta de justificativa?

Como falei, ninguém pode te obrigar a ficar com alguém, assim como ninguém pode comandar sua atração. Só peço que faça o exercício de repensar até que ponto você não teve influência de ideias externas que excluem determinados corpos, dizendo que não são merecedores de relações e afetos.

1 de mai. de 2019

Categorias de atrações

As orientações ou identidades de atração podem ter características ou especificidades que as colocam em posições diferentes entre si, seja por questões que entram no eixo privilégio-opressão (mono x multi) ou questões de vivências e demandas em comum (pessoas a-espectrais).

Podemos separar todas as identidades dentro de cinco categorias:

Mono: atrações por um gênero, de modo que a atração é estrita ou tem raríssimas exceções. Exemplos clássicos são gay, lésbica e hétero. Mas há outras identidades mono que são exclusivas de pessoas não-binárias, como vir e femina, ou que envolvem um espectro/grupo de gêneros com atributos em comum (min, neu, etc).

Multi: atrações por mais de um gênero, o que inclui quantidades conhecidas ou desconhecidas e mudanças de alvos. Há uma lista pronta de identidades multi aqui.

(Bandeira multi)

A-espectrais: atrações que envolvem ausência total ou parcial e/ou condições específicas para despertar atração. Há uma lista pronta de identidades a-espectrais aqui.

(Bandeira a-espectral)

Fluidas: atrações com alvos, condições e intensidades que mudam com certa frequência ou numa constância.

Podem parecer atrações multi, mas pessoas fluidas podem, na vida prática, alternar entre ter atrações por gêneros únicos e por gêneros múltiplos.

(Bandeira abro, um exemplo de atração fluida)

Indefinidas: atrações que são difíceis de especificar, complexas de serem entendidas, ou mesmo indescritíveis. Aqui cabe também pessoas que não desejam por algum motivo definir sua atração.

A primeira identidade de atração indefinida que se tem conhecimento e talvez a mais famosa é a pomo, que existe desde 1997 e serve para toda pessoa não-hétero.

(Bandeira pomo)


Ainda que muitas das identidades se encaixem perfeitamente em uma categoria, existem algumas que podem pertencer a mais de uma dependendo da pessoa. Alguns exemplos são: a identidade paro (que está na lista de atrações multi), se a pessoa em questão tem atração frequente por um gênero e atração condicional por outro; e a identidade com, que, mesmo sendo indefinida, pode denotar atrações mono, multi ou fluidas.

Pessoas a-espectrais podem também ter na vida prática atrações mono, multi ou fluidas (exs: demigay, acefluxo). E pessoas podem ser variorientadas e terem atrações de tipos diferentes dentro de categorias diferentes (ex: lésbica panromântica).

As categorias de fluidas e indefinidas são praticamente desconhecidas ainda no Brasil. É importante falar sobre elas, pois muita gente pode encontrar nelas validação e pertencimento. Atrações em mudanças constantes ou "complicadas" de explicar podem parecer bobagem, indecisão ou até "transtornos". Mas existem e devem ser respeitadas como são.