30 de out. de 2016

A casa espiritual que frequentei

Há quem acredite que casas de trabalhos espirituais são mais receptivas com LGBTs. Acreditei nisso durante muito tempo.

Minha ex-psicóloga e falecida amiga trabalhava numa casa espiritual. Eu sabia disso desde que passei nas consultas dela. Ela me convidou para receber tratamento espiritual e aceitei. Alguns meses depois, fui chamado para trabalhar lá, para assim poder desenvolver minha mediunidade.

Quando me tornei missionário, fiquei maravilhado com o local. Fiquei fascinado com a novidade, as pessoas, as entidades que ali atendiam, e os ensinamentos. A doutrina da casa combinava a Cabala com Umbanda.

Na época eu nem era militante LGBT, ainda me escondia.

Bom, a primeira coisa que achei estranha era homens não poderem incorporar entidades femininas. Diziam que dava um “choque de energia” e o homem ficava afeminado. Outros diziam que ele “virava gay”. Até agora nem sei se acredito mesmo nisso. Mesmo assim aceitei, não quis discutir.

A segunda coisa que percebi com o tempo, e que me incomodava, era que quando falavam de amor entre casais se referiam apenas aos casais héteros. Era como se homossexuais nem existissem. Para vocês terem uma ideia; casal lá era sempre homem e mulher. A linguagem heteronormativa daquela gente me incomodava, e meu incômodo só aumentou com o passar dos anos.

A terceira coisa que me irritou bastante foi nos e-mails escritos pela fundadora da casa. Em apenas dois e-mails vi alguma menção a homossexuais. Além de escrever “homossexualismo”, era sempre num contexto negativo. A prática é “espiritualmente negativa”.

Pouquíssimas vezes ouvi comentários alheios sobre homossexuais. E todos mostravam o conservadorismo e preconceito dos missionários. Mas essas coisas não incluo como defeitos da casa em si.

Minha amiga me apoiava, embora parecesse relevar essas coisas. Hoje a compreendo, mas não a desculpo.

No ano de 2015 teve dois eventos, novamente relacionados com a fundadora, que para mim, como LGBT, foram grandes motivos que me fizeram querer sair daquele lugar:

1- Em janeiro, essa senhora, fingindo que estava incorporada (no caso ela diz incorporar um espírito evoluído) decidiu falar de homossexuais. Se bem me lembro, o beijo gay numa novela estava gerando polêmica. Ela abordou o tema. Começou dizendo que era um karma que vinha de berço. Ao menos apontou um fato; nascemos assim. Porém, logo em seguida veio um show de ódio e mentiras. Disse que homossexuais foram infiéis em vidas passadas, que têm uma vida cheia de conflitos e que não são felizes “como a novela mostra”, que não existe mulher que larga o marido para ficar com outra mulher, até pediu para as famílias não deixarem crianças verem “isso”, e que podemos mudar fazendo a desobsessão (o ritual principal da casa, que afastava espíritos malignos).

Vamos analisar o discurso problemático dessa senhora tão medieval:

- Afinal, homossexualidade é mesmo um karma? Discuti isso aqui recentemente.

- Se infidelidade faz a pessoa nascer homossexual na próxima vida, então muita gente daquele lugar terá esse destino. Fiquei sabendo de cada caso de traição, cês nem têm ideia #polêmica.

- Homossexuais têm mesmo uma vida cheia de conflitos, e mesmo assim lutam e enfrentam. Conflitos causados por uma sociedade repleta de gente reacionária, como essa senhora. 

- Não existe mulher que larga o marido pra ficar com outra? Em que mundo ela vive? Quase ri quando ouvi isso.

- Hello, século 21! Nenhuma criança ficará traumatizada com um beijo gay. Parem de dizer isso, não faz nenhum sentido.

- Primeiro ela fala que nascemos homossexuais e logo em seguida fala que podemos “mudar” tirando espíritos obsessores? Homossexualidade é influência de obsessor? Afinal, é natural ou é influência espiritual? Contraditório isso. Mas tudo bem, essa senhora sempre foi contraditória.

Meus parabéns a "Dona Mestra" por ter espalhado mais preconceito e desinformação, é disso que o mundo precisa! Tenho convicção de que foi ela falou essas coisas, e não um espírito evoluído. Jamais um espírito iluminado faria um discurso de ódio como esse.

2- Em julho, o casamento igualitário foi aprovado em todos os estados dos EUA. Muita gente comemorou e celebrou. Houve pessoas da casa que devem ter se pronunciado contra, pois vi uma missionária postar algo no grupo oficial dos missionários, dizendo que “estava triste com o pensamento fechado de muitos de lá”.

Nossa digníssima senhora atacou mais uma vez. Fez um texto a respeito, falando uma história sem sentido que o casamento igualitário surgiu porque algumas patroas queriam deixar herança para as empregadas. Tipo, wtf?

Ela se dizia "indiferente", e falava que todos deveriam ser assim também. Ela é indiferente, mas o discurso é de contra. Falei que ela é muito contraditória. E só pra constar, se você é indiferente com um grupo de pessoas que sofrem violência todo dia por serem o que são, você está a favor da opressão. Aqui não existe “neutro”.

E, para finalizar, naquele mesmo dia ela e o marido (tão reacionário quanto ela) compartilharam aquele famoso trecho de levítico contra a prática homossexual. Mas vem cá, lá eles aplicavam Cabala, então seguiam a Torah. Afinal, ela segue a Bíblia ou a Torah? Justo naquele dia em que o amor venceu ela decidiu mais uma vez espalhar o ódio. Essa é a comandante do grupo espiritual que “vai abrir a Nova Era” (sim, são prepotentes assim).

Isso tudo poderia ter acontecido numa igreja evangélica. Mas não, foi numa casa espiritual. Ao invés de pregar a tolerância e aceitar a diversidade do mundo, preferem ser medievais, mascarados como “guerreiros da luz”. Sinto pena dos LGBTs que ainda estão naquele lugar. Ainda devem estar iludidos e ainda devem achar que somente lá podem cumprir a tal missão espiritual.

Tentei por muito tempo compreender minha amiga, mesmo após sua morte. E compreendi que ela, assim como muita gente que ainda trabalha lá (ou já trabalhou), estava iludida com o lugar. Provavelmente ela achava que apenas lá ela tinha uma base. Entendo o lado dela, entendo a razão de ela ter relevado tanta coisa errada e até a tirania do pessoal que administra a casa. Tenho pena dela por isso.

Em respeito a ela e em respeito às entidades espirituais que fazem a caridade de trabalhar lá, eu havia decidido não denunciar publicamente a casa espiritual. No entanto, pensei melhor e o máximo que farei é esse texto. Não sei se ele fará alguma diferença. Não sei se ele chegará ao conhecimento da casa. Prefiro deixar essas coisas no mundo das probabilidades. Mas deixo aqui minha imensa insatisfação com esse lugar, que tenho certeza que irá cair eventualmente.

A única coisa de que não posso reclamar é que ninguém teve a audácia de vir falar alguma merda pra mim durante esses cinco anos que trabalhei lá. Contudo, o discurso intolerante daquela gente alimenta a violência contra LGBTs. Prometi para mim mesmo que essa seria a última vez que eu deixaria o preconceito passar impune.

Parabéns a vocês dessa casa pelo desserviço à humanidade!
Quero ver vocês mudarem o mundo com preconceito!
Haja Luz!



27 de out. de 2016

Confissões

Eles são lindos, não são? Lindos juntos e lindos separados. Formam um casal tão fofo e doce. Conquistam a audiência, são comentados nas redes sociais, viram modelos para as pessoas reais.

Eles se conhecem ao acaso. Ou já se conhecem. Podem ser amigos ou apenas colegas da mesma escola. Trocam olhares e se apaixonam, um romance típico. Tão... lindos.

Mas eu não sou igual a eles. Eu não consigo ser como eles.

Não sou o garoto de corpo forte e malhado. Nem sou aquele de corpo magro, de barriga retinha. Quem dera ter aquele rostinho bonito e aquele charme natural. É do ator ou do personagem?

São lindos, ao contrário de mim... 

A paixão é bem mais intensa quando há beleza. E, claro, ficamos animados quando chega aquela cena mais... picante. Pode ser só um toque ou uma transa. Que sortudos! Sorte daqueles que são lindos, que são ícones da mídia, que aparecem nas revistas.

Eu não sou o garoto da obra. Eu sou aquele que consome a obra e fica desejando aquele romance. Almejo ser como os protagonistas.

A obra conta sua história. Praticamente todas seguem o mesmo estilo, como se todo romance gay fosse exatamente aquilo.

Cadê meu romance?

A obra condiz com a realidade? Condiz com a realidade de todos? É fácil assim ser flertado, desejado e viver uma aventura afetiva? É fácil para eles!

Eu queria ser lindo que nem eles. Olha, são tão felizes! Eu queria ter alguém lindo como eles! Veja, são inseparáveis!

A culpa é minha por não ser lindo como eles.

O problema sou eu? Ou é mídia?



23 de out. de 2016

Espiritualidade e Homossexualidade

Durante alguns anos pesquisei muitos textos falando da homossexualidade na visão de crenças e doutrinas espiritualistas. Atualmente é mais comum ver a mensagem de tolerância, que homossexuais merecem respeito, e que estão evoluindo como qualquer outra pessoa. Por isso mesmo vertentes espiritualistas são reconhecidas como mais acolhedoras para LGBTs.

Para mim não basta apenas a mensagem. A maioria desses textos não me ofereceu uma resposta ou explicação coerente. Entre textos que não falam nada entendível e textos que tentam explicar, vi muitos com discursos problemáticos.

Já vi alguns poucos seguimentos espiritualistas que diziam que homossexualidade era um distúrbio espiritual. Mas são seguimentos antigos, nem são mais relevados. Hoje em dia vemos explicações um pouco mais tolerantes, embora ainda problematizáveis.

Logo de início consigo detectar o primeiro defeito desses textos: eles têm uma visão simplista da sexualidade humana. Lendo-os é possível notar que eles separam as pessoas do mundo inteiro em héteros e homos. Bissexuais e outras sexualidades são ignoradas.

Finalmente pudemos nos alegrar quando pararam de dizer que homossexualidade é um distúrbio. Mas então muitos seguimentos passaram a dizer que é um carma, isto é, uma punição ou consequência por erros cometidos em vidas passadas.

Ser homossexual é um carma? De onde vem essa ideia? Bom, acredito que a ideia parta de dois princípios básicos: ou que é algo "antinatural" ou pelo fato de haver homofobia.

Se é por ser "antinatural" esse argumento já foi quebrado há muito tempo, pois na própria natureza existe comportamento homossexual. Agora, é carma por causa do preconceito? Seguindo essa lógica, nascer negro é carma, ser mulher é carma, ter um corpo gordo é carma, e por aí vai.

Aliás, como explicam as épocas de Roma e da Grécia Antiga, quando a prática homossexual era aceita? Era carma nesses tempos também? E em lugares mais tolerantes, onde homossexuais conseguem viver tranquilamente e dificilmente enfrentam a homofobia?

Por isso mesmo que é possível deduzir que o carma não é a homossexualidade em si, e sim a homofobia. Sofrer preconceito pode ser um carma. Mas simplesmente nascer fora do padrão heterossexual não.

Quando não falam que é carma, dão explicações mais ignorantes ainda. Já li textos dizendo que homossexuais são um "terceiro sexo", que são uma vida intermediária entre masculino e o feminino, ou que são homem/mulher em corpo de mulher/homem.

Nem vou falar do terceiro sexo. Vou focar nas outras explicações, que são muito parecidas. A ideia de que homossexuais vivem entre os mundos masculino e feminino parte do princípio de que "o corpo é de um jeito, mas agem de outro". Desmembrando essa ideia, esses textos declaram que: quem tem corpo de homem, tem que agir como homem - gostar de mulher. E vice-versa. Seguindo essa linha de pensamento também falam que o corpo e o espírito são de gêneros opostos.

Será que os autores desses textos já conversaram com homossexuais? Perguntaram se homossexuais queriam ser de outro gênero? E, afinal de contas, separar aspectos masculinos e femininos apenas pela sexualidade da pessoa é muito... babaca. Falando por mim mesmo, não me identifico como mulher. Sou homem e sou masculino mesmo beijando outro homem.

Mais uma coisa, os gêneros não vivem em clubinhos fechados. Todas as pessoas estão em contato com a realidade masculina e feminina praticamente o tempo todo.

A pergunta que não quer calar: em que parte entrariam bissexuais nisso? Se um homem homossexual é uma mulher por dentro, um homem bissexual seria o quê? "Meio-mulher"? Viu como essas explicações são furadas, e nem é necessário conhecimentos espirituais para apontar isso?

Não vou entrar no mérito de informações que supostamente vêm do plano espiritual. Entretanto, com tudo que aprendi e pela minha experiência pessoal, apoiado na minha própria espiritualidade, posso afirmar que existe uma lógica nessas questões espirituais, uma lógica que podemos compreender. E fiz toda essa análise aqui usando apenas a lógica.

A verdade é que os próprios autores acabam contaminando seus textos com suas visões simplistas e ignorantes, além de machismo e provavelmente homofobia internalizada. A maior parte deles, pelo que percebo, são homens hétero-cis (o que explica muita coisa).

Por minha própria experiência e minhas pesquisas, junto com meu conhecimento sobre a diversidade, concluí que homossexualidade não é carma, não é castigo, não é uma "vida anormal", não é um caminho de sofrimento por si só.

Nenhuma vertente espiritualista ainda me trouxe uma explicação completa e plausível sobre o tema. Muito menos sobre a própria diversidade sexual. Enquanto nenhuma alma sábia joga alguma luz nessas questões, que tal as pessoas pararem de tentar explicar coisas que nem elas entendem? Não adianta nada uma mensagem de tolerância se antes ou depois veio um parágrafo dizendo que homossexuais não são homens/mulheres.

Por esses e outros motivos que adoro o budismo, que prega basicamente que somos pessoas com estilos de vida e caminhos variados, tudo voltado para a evolução de cada um. O resto é detalhe.



20 de out. de 2016

Faz parte de ser militante

Quando alguém se torna militante de um ou mais movimentos sociais, sua realidade não muda, apenas se expande; sua visão aumenta, novos ângulos são enxergados. Ser militante não é apenas levantar uma bandeira e sair gritando. É mais que isso.

A militância se torna parte de sua vida, parte de quem você é, parte do seu cotidiano.

No começo é emocionante, empolgante, como toda novidade. Você sente aquela intensa vontade de lutar e melhorar o mundo. E então inicia o aprendizado. Problematização e desconstrução são dois conceitos cada vez mais presentes.

À medida que você se desconstrói e aprende com os movimentos sociais, você passa a enxergar todo preconceito em tudo ao seu redor. Não, não é frescura, não é exagero. O preconceito está em todo lugar mesmo, do nível mais agressivo ao mais sutil. Você enxerga até os preconceitos que você reproduzia (ou ainda reproduz)!

As piadas que antes você ria se tornam sem graça. Não é possível mais assistir TV, séries ou filmes sem problematizar. E, conforme sua militância vai se desenvolvendo, você percebe que a maior parte da sociedade percebe apenas a ponta do iceberg - a forma mais evidente do preconceito e a curto prazo. Detalhe: até mesmo essa ponta é ignorada ou relativizada.

Ter essa nova visão do mundo pode servir de combustível ao seu lado militante. Mas também te causa uma descrença sobre o mundo. "Porra, está tudo errado com o mundo!" É por isso que militantes precisam persistir.

Cada pessoa tem seu próprio jeito de militar. Afinal existem vários caminhos para isso. Há militantes que falam e agem com mais paciência e didática, outrxs com mais agressividade. Há quem releva certas coisas em prol de amizades, e há quem exerce a militância constantemente e com todas as pessoas.

Dedicar-se intensamente à militância é um tanto sofrível. Parentes não te convidam mais para as reuniões ou almoços de família (ou você se afasta). Você se torna a pessoa chata da rodinha de amizades. Nas redes sociais te dão likes em muitas postagens, menos naquelas que falam de preconceito. Tocar no assunto chega a te esgotar. Não ver resultado aparente te esgota ainda mais.

Solidão ou sentir-se "sem grupo" também faz parte da vida de militante. Se está se sentindo assim, bem-vindx ao clube. Não, não há nada de errado com você.

Tem dias que pode ficar insuportável militar e parecer que ninguém está te ouvindo ou que ninguém se importa, seja no mundo real ou virtual. Não se desanime! Tem sempre alguém te ouvindo, mesmo que não se manifeste. Apenas uma postagem "bobinha", mas com um questionamento pode abrir os olhos de alguém.

Não importa o tipo de militante que você é ou como você milita. Você terá que lidar com o preconceito e com pessoas preconceituosas. É difícil. Viver já não é fácil; ser uma minoria social é menos fácil.

É uma vida conflituosa, porém é uma reação à opressão, e surge na esperança em criar um mundo melhor para todxs. Mudar o mundo é um desafio. Faz parte.



12 de out. de 2016

2 ANOS

Quando vi o calendário no finalzinho do mês passado, pensei: Nossa, que coincidência dia 12 cair numa quarta-feira, dia de postar artigo!

Sim, hoje o blog faz 2 anos de idade!
Em dois anos, quase 200 artigos e quase 26 mil visualizações!
Além das expectativas!

Inclusive, comprei um bolo gigante de sete camadas, cada uma com cada cor da bandeira LGBT. Mentira, não comprei, apesar que essa data merecia isso (eu mereço um bolo!).

Todxs nós somos uma metamorfose ambulante. Nossa tendência é estar em constante mudança. E sim, eu mudei. Quando pego um tempinho de algum dia aleatório para reler meus artigos antigos, eu percebo que mudei sim.

Como já falei, eu não tinha grandes expectativas para o blog. Pelo menos não em apenas um ano, e nem dois. Mas devo admitir que meus artigos atingiram um número de pessoas muuuito maior do que eu esperava! Um número que, para minha gratificação, continua aumentando.

Eu evoluí como pessoa. Justamente para poder escrever coisas que, de alguma forma, ajudassem outras pessoas a evoluir. Fico feliz em saber que certos artigos meus ajudaram alguém.

E minha militância evoluiu também. Pude levá-la até para a universidade em que estudo; estou criando junto com um grupo um coletivo LGBT oficial e atuante. O que isso tem a ver com o blog? Bem, militar aqui foi gradativamente me preparando para algo maior. Escrever aqui me ajuda também!

O blog é um refúgio para mim, um palco onde posso expressar minhas ideias e pensamentos. Aqui não é um espaço unicamente de militância social; é o meu espaço, uma extensão do meu mundo. E a data de hoje me faz relembrar que faz dois anos que criei coragem para me expor completamente ao planeta todo (se bem que não é o planeta todo que aparece aqui).

Espero que o Universo me permita estar aqui por muito mais tempo.

Não sou bom com textos sentimentais hahaha. E esse artigo está menos colorido que o do ano passado (mas ainda é de coração <3). Então finalizo agradecendo a todxs que me acompanharam ou me acompanham.

Até a próxima! :D



8 de out. de 2016

Anime: Kindaichi Shōnen no Jikenbo

("In the name of my grandfather")

Um dado momento me interessei por gênero de mistério. Decidi então procurar algum anime com esse tema, com um detetive, assassinatos inexplicáveis, e revelações de truques que quase ninguém conseguiria pensar. Achei essa maravilha de anime!

Kindaichi é um estudante e neto de um famoso detetive falecido. Ele, junto com sua amiga, Miyuki, estão sempre se deparando com casos misteriosos que envolvem mortes feitas de formas improváveis. Nesse momento entra Kindaichi para reunir provas e formular uma explicação, e assim expor os fatos e quem matou.

A história é baseada num mangá de mesmo nome e enredo. O anime original lançou em 1997. E recentemente foi lançada uma versão mais moderna, com novos casos, separada em duas temporadas. Praticamente todos os episódios seguem o mesmo padrão. O que torna cada caso único são justamente as pessoas envolvidas, os truques usados nos assassinatos, e a motivação dos assassinos. Por mais que você seja fã de mistério e tente resolver o caso, você só entenderá tudo quando Kindaichi revelar. Contudo, isso não estraga a diversão e os casos conseguem prender a atenção de quem assiste através da tensão contínua. Talvez o único pecado da franquia seja a personagem Miyuki, que eu acho um pouco irritante.

Para quem gosta do gênero de mistério, esse anime é uma boa opção. E também uma ótima fonte para aprender métodos mirabolantes de matar alguém.





"This mystery is solved!"



6 de out. de 2016

Pensamento do dia

Se prender ao passado é bobagem.

Esquecemos do presente e estragamos nosso futuro.

O passado deveria nos ensinar, nos mostrar o que fazer e o que não fazer.

"E se eu tivesse feito isso?"
"E se tivesse acontecido isso?"
"E se aquilo nunca tivesse acontecido?"

Os "e se"s vivem no plano das inúmeras possibilidades. Mas agora vivem também no passado.

Ficar se lamentando pelo que aconteceu ou não aconteceu vai te levar a loucura.

Ficar pensando nesses mundos alternativos vai te estagnar.

Nossa realidade é essa. Vamos vivê-la então e deixar as possibilidades do passado para trás.

Deixe seus outros eus dessas realidades alternativas cuidaram de suas vidas.
Você nunca saberá se seria melhor tudo ter acontecido diferente.
Aceite: tudo acontece como deve acontecer.

Talvez seu outro eu de alguma realidade gostaria de estar no seu lugar por alguma razão...

Se prender ao passado é bobagem.



1 de out. de 2016

Legalização do aborto

Falar de aborto ainda é um tabu. Isso é compreensível levando em conta toda complexidade, tanto ética quanto religiosa, que acompanha discussões sobre a vida e o direito a ela.

Desde já esclareço que ninguém é realmente a favor do aborto. O que quero discutir aqui é a legalização do aborto, que é um direito da mulher e uma questão de saúde pública. 

Legalizar o aborto não é simplesmente dar o direito da mulher abortar quando bem quer. Existe toda uma legislação sobre isso, considerando as causas da gravidez, a condição da mulher e também o tempo de desenvolvimento do embrião, um conjunto de células.

E daí vem aquela discussão polêmica: esse conjunto de células, que sequer tem um cérebro formado, é uma vida? Muitas religiões defendem que a concepção - a fusão do espermatozoide com o óvulo - é o início da vida. A ética, apoiada na ciência, ainda não chegou a um consenso. Entretanto, mundialmente o aborto é aceito se realizado até a 12ª semana (3º mês) de gestação, visto que após esse tempo há um feto com pequena atividade neuronal (embora ainda um ser inconsciente).

Falando das causas da gravidez, devemos considerar os seguintes fatos:

1- Nem todas as camadas sociais têm acesso à informação; no caso, me refiro às mais periféricas. Pessoas sem a devida educação e assistência vão, naturalmente, viver mais pelos seus instintos mais básicos. Sim, elas vão sentir tesão e, naturalmente, vão transar. E como são ignorantes e marginalizadas, elas não têm alternativa a não ser ter o bebê, mesmo em condições miseráveis.

Sempre que você disser “abrir as pernas foi fácil”, que é uma maneira simplista de enxergar a situação, tente se colocar no lugar dessas pessoas. Elas não tiveram a mesma sorte que você, de nascer com acesso ao conhecimento e à educação.

2- Existem muitos métodos anticoncepcionais disponíveis no mundo. Se bem que nem todos os países podem adquiri-los e distribui-los para a população. Sabe o que todos eles têm em comum? Nenhum é 100% eficaz.

Sim, camisinhas estouram, pílulas podem falhar, e assim por diante. E não, não é culpa da mulher, nem do homem, que seja. Pode acontecer com qualquer pessoa. Você, pessoa hétero-cis, tenha sempre isso em mente.

3- Infelizmente, estupro contra a mulher ainda é uma realidade e recorrente pelo mundo. Talvez esse seja o ponto mais relevado até mesmo por quem se diz “contra o aborto”. Porém, há quem defenda (principalmente homens cis) que nem estupro é desculpa.

Já imaginou o que deve ser carregar o bebê de um homem que te estuprou? Pense nisso.

Obs: vale lembrar que nosso lindo governo fez um projeto chamado “Estatuto do Nascituro”, que impedia mulheres de abortarem em casos de estupro e até ofereciam direito à paternidade ao estuprador. Só um homem cis para pensar num projeto desses.

Eu acabo relevando muito com boa parte das pessoas que se dizem contra. Porque assim que elas expressão sua opinião, percebo que elas têm uma visão simplista, não enxergam toda a dimensão do tema. Elas mesmas são ignorantes.

Acho que muitas delas devem achar que legalizar o aborto é permitir que as mulheres saíssem engravidando e arrancando os fetos quando querem. E não é isso, nem passa perto disso. Aborto é um procedimento incômodo demais. E como foi dito, o procedimento deve ser feito antes da formação completa do feto.

Quem se diz contra deveria ao menos pesquisar sobre países que legalizaram o aborto. Em todos eles diminuiu-se a taxa de abortos clandestinos (que, por sinal, ameaçam a vida da mulher) e a taxa de natalidade permanece aceitável.

Mais uma coisa: percebe-se que membros da direita, esses que se autodeclaram “pró-vida”, protegem a todo custo a vida da criança... até ela nascer. Não adianta nada se dizer pró-vida se você não se importa com a vida da mulher e com que condições ela cuidará da criança (ou se vai simplesmente dá-la para adoção). Você não é pró-vida. Você é pró-nascimento. Ah, defender pena de morte também não é ser pró-vida, ok?

Convenhamos, o aborto teria sido sempre legalizado se os homens cis tivessem útero.