29 de mar. de 2018

Os limites

Qual é a linha que traça o limite entre uma relação consentida e uma relação abusiva? Entre o flerte e o assédio? Entre o sexo e o estupro? Quem traça essa linha? Como traça?

Aqui estou falando de crimes contra a liberdade sexual e contra o corpo e a moral de pessoas. Parece pesado, né? Mas infelizmente tais crimes ainda são muito naturalizados e relativizados. E como já abordei sobre isso em redes sociais, decidi escrever algo mais elaborado.

Não é preciso estudo científico para ver que o ser humano tem todo um conjunto de linguagens corporais e expressões faciais que demonstram suas emoções do momento. Por isso que não desculpo nenhum assédio feito pessoalmente. É evidente quando as pessoas estão incomodadas, desconfortáveis, com medo, repulsa, enfim. 

Se a pessoa não consegue ler esses sinais, ela com certeza tem algum problema moral. E se ignora conscientemente os sinais, é gente da pior espécie.

As pessoas em geral têm uma ideia do que é um assédio. Como julgam isso? Pela reação de quem está recebendo o ato - seja um toque e/ou palavras. Porém, antes de olhares de terceiros, temos o olhar da própria pessoa.

Não importa qual seja o ato, ou se ele foi pedido ou não; se a pessoa aceita esse ato, ele foi consentido, logo, não fere a liberdade individual. Mas se a pessoa não o aceitar, sim, isso fere a liberdade individual. Simples, não? Sim, é simples assim.

E não importa o motivo que levou a pessoa a aceitar. Não importa se foi porque era parceire, amigue, colega; ou porque a pessoa era bonita; ou por algum interesse obscuro. É assim que funciona. Só nós mesmes decidimos quem feriu ou não a nossa liberdade.

Existem situações em que uma pessoa é invasiva. Ou seja, ela aborda a outra de uma maneira que é inconveniente, incômoda, enfim. Não dá para já apontar o dedo e acusar de assédio, porque muitas vezes as pessoas não percebem quando estão sendo invasivas. Então o que podemos fazer é alertar. Dizer o não. Ponto final.

Agora, se depois do não a outra parte persistir, sim, é um assédio declarado e com todas as letras. E como tal não deve ser relevado nem desculpado, tem que ser apontado e recriminado.

Resumindo, quem decide o que foi o ato é a própria pessoa. Somente ela. E o dever de todes nós é nos policiarmos para não desrespeitar a outra parte. Temos que saber parar e aprender a entender o não mesmo quando é dito de outra forma. É uma pena que o sistema educacional falha em abordar essa questão como deve ser abordada.

Para reforçar, aqui está o vídeo de uma analogia bem didática: https://www.youtube.com/watch?v=D5l3ks5O_Hw.



25 de mar. de 2018

Aquelas microagressões do cotidiano

Uma microagressão é entendida como frases, comportamentos e atitudes que demonstram um pensamento preconceituoso ou normativo numa escala considerada menor, quase sempre cometida sem a real intenção de discriminar.

Mas toda microagressão ainda é uma manifestação dos sistemas opressivos, e por isso precisam ser combatidas. Logo abaixo colocarei as mais comuns cometidas contra a comunidade LGBTQIAP+ (por pessoas de dentro e de fora dela).

- Presumir qualquer característica positiva de pessoas da comunidade.
Que gays são inteligentes, que pessoas bi têm "muitas opções" de parceires, que assexuais e arromântiques não sofrem por relacionamentos ou por amor, enfim, só parem. Enquanto algumas ideias são equivocadas e ofuscam opressões, há outras que mostram cobranças sociais para "compensar" o fato da pessoa estar fora dos padrões.

- Questionar por que a pessoa tem certo gosto ou faz tal coisa só por ela ser [insira o grupo].
Pessoas são pessoas, tá? Orientações, gêneros e sexos biológicos não vêm com um pacotinho de preferências, tendências, aptidões, etc. Isso é só reforçar estereótipos.

- Duvidar da orientação e/ou do gênero da pessoa por qualquer motivo.
Se a pessoa está afirmando que é de tal grupo ou identidade, só podemos dar um voto de confiança e acreditar. Não temos como saber orientação e gênero das pessoas, não temos como entrar na cabeça delas pra "confirmar". E garanto que pessoas não saem por aí afirmando serem de uma classe oprimida sem motivo.

- Falar que algo da comunidade virou "modinha".
Sim, é muita modinha pertencer a uma comunidade discriminada, ter sua existência apagada, sofrer agressão física, ser privade de direitos básicos, etc.

- Não aceitar determinada identidade por ser "desconhecida" ou "confusa" e exigir que a pessoa se identifique com algo mais comum.
As pessoas precisam urgentemente entender que identidades são criadas para descrever experiências. E que nem todes têm experiências que se encaixam em identidades "mais populares". Exigir que aceitem identidades já prontas é apagar a diversidade e um desrespeito imenso com a pessoa.

- Conversar com um homem ou uma mulher já pressupondo que são héteros ("tem namorada?" / "gosta que tipo de homem?").
Muito heteronormativo. Não existe só hétero no mundo. Supere. E não, não venha com as desculpas "a maioria ainda é hétero", "é mais provável que seja hétero", "a pessoa não vai se ofender por ser confundida com hétero", entre outras.

- Negar uma discriminação relatada por alguém ou achar que seu sofrimento é "exagerado" porque conhece uma pessoa que não passou por isso/não é atingida pelo preconceito.
Bom, vou começar admitindo uma coisa: não, nem toda pessoa LGBTQIAP+ do planeta Terra é discriminada todo santo dia e de uma forma violenta. Agora, vamos aos fatos: a) essas pessoas são uma minoria; b) cada pessoa lida com preconceito de formas diferentes e isso deve ser respeitado; c) pessoas discriminadas costumam omitir seu sofrimento ou parecer que nada as ofende para lidarem melhor com a opressão. E essa cartada de "amigue que não sofre preconceito" é uma das várias formas de invalidar opressões existentes. Pare, só pare.

- Perguntar para gays e lésbicas se já se relacionaram com, respectivamente, mulheres e homens para "ter certeza do que são".
Resquício daquela ideia bizarra de que a heterossexualidade é a sexualidade padrão e que o resto só se desvia dela. Por que não fazem a mesma pergunta para héteros?

- Achar que todo homem afeminado é gay e que toda mulher bofinho é lésbica.
Expressão de gênero não tem a ver com orientação sexual. E é muito normativo julgar as pessoas pela expressão delas.

- Afirmar que todo homem acompanhado de um homem gay ou toda mulher acompanhada de uma mulher lésbica são sues parceires/ficantes/namorades.
Sabiam que gays e lésbicas também fazem amizade com pessoas do mesmo gênero?

- Ficar perguntando para as pessoas, principalmente gays, como elas transam.
A vida íntima alheia não é pública!

- Separar gays (cis) em ativos ou passivos, e ainda de acordo com a expressão (masculino, ativo; feminino, passivo).
É tão normativo que nem sei por onde começar, e infelizmente é algo cometido entre gays com frequência. Além de nem considerar versatilidade e gouinage, esse pré-julgamento tem uma base heteronormativa, associando "homem" com "dominância" e "mulher" com "submissão". E esse mesmo princípio faz com que pessoas hétero-cis perguntem para casais de homens e de mulheres "quem é o homem e quem é a mulher da relação".

- Brincar com gays e lésbicas como se elus tivessem repulsa de, respectivamente, vagina/mulheres e pênis/homens.
Orientação sexual não implica em ter repulsa a um gênero e/ou uma corporalidade. E os "nojos" de certas genitálias vindo de gays e lésbicas cis revelam cisnormatividade e diadismo de suas partes.

- Presumir a orientação sexual das pessoas e só pensar nas opções: hétero ou homo.
Existem pessoas que sentem atração por mais de um gênero, tá?

- Perguntar para pessoas bi se elas são "mais homo" ou "mais hétero".
Elas são bi apenas. Parem de usar atração hétero ou homo pra medir bissexualidade!

- Duvidar da existência das atrações fluídas, principalmente a sexual.
Outra forma de contribuir com o monossexismo, como se não fosse possível existir atração por mais de um gênero, mesmo que essa atração seja temporária.

- Dizer que orientações multi são "basicamente bi" ou que "só existe hétero, homo e bi".
A maior opressão aqui é o exorsexismo, pois coloca pessoas não-binárias como homens e mulheres, e que, portanto, só existe atração por dois gêneros (e isso também porque ainda consideram bi como atração apenas por bináries). E apaga uma diversidade de experiências que saem do padrão binário.

- Ficar perguntando para mulheres e homens trans se elus já fizeram cirurgias genitais.
As virilhas alheias não são públicas!

- Dizer para mulheres e homens trans que "nem parecem trans".
Não é elogio. É agressivo, inclusive. É escroto. Coloca ser trans como um tipo de falsificação e que "parecer cis" é o objetivo das pessoas trans.

- Resumir pessoas com pênis a homens e pessoas com vagina a mulheres.
Isso é cisnormativo com homens e mulheres trans que não têm disforia com as genitálias, diadista com pessoas intersexo com genitálias diferentes de pênis e vagina, e exorsexista com todas as pessoas não-binárias.

- Perguntar sobre a genitália de pessoas intersexo.
Novamente, as virilhas alheias não são públicas. Além disso, nem toda intersexualidade tem variações na genitália.

- Perguntar para assexuais se já transaram ou tiveram interesse em sexo.
Isso é claramente a vida privada das pessoas. E mesmo que algumas possam responder tranquilamente, existem assexuais que não gostam nem de falar de sexo. Respeitem!

- Presumir que toda pessoa é alo.
Olha a pessoa e já imagina que ela deve ser alguém sexualmente ativa e/ou procurando o amor da vida dela. Não, nem toda pessoa é assim. Supere.

- Afirmar que "é bom" ser do espectro A porque a pessoa "não sofre por sexo, relacionamentos ou amor".
Pode não aparecer, mas é um pensamento normativo, pois presume que: assexuais não podem transar, arromântiques não se relacionam, e pessoas do espectro não amam por não sentirem atrações sexual e/ou romântica. Amor é um sentimento amplo e não acompanha necessariamente sexualidade e romanticidade. Pessoas A ainda têm sentimentos!

- Achar que viver sem sexo e/ou sem namoro é uma vida infeliz ou incompleta.
A vida é muito mais do que sexo e namoro. Pessoas A podem ser felizes e completas sem nada disso, sem nem ao menos experienciar essas coisas. Pergunte a elas ao invés de usar sua realidade como parâmetro para todes.

- Dizer que não-bináries são "basicamente homens/mulheres" por causa de suas corporalidades e/ou apresentações.
Genitálias e roupas não definem o gênero da pessoa! Não-bináries são basicamente não-bináries. Sempre. A todo momento. Com qualquer corpo e apresentação.

- Duvidar que é possível sentir atração por não-bináries sem encaixar essas pessoas em homem ou mulher.
É um pensamento extremamente exorsexista, pois continua apagando as identidades n-b e reafirma que as pessoas só conseguem enxergar dois gêneros.

- Ditar como pessoas não-binárias devem parecer.
Não, elas não são obrigadas a ter aparência andrógina. Elas não têm que parecer fora da norma, é a norma que tem que deixar de existir.

- Impor que não-bináries usem somente as linguagens o/ele/o ou a/ela/a.
A língua portuguesa foi moldada de uma forma exorsexista, feita apenas para homens e mulheres. E os dois conjuntos foram feitos para esses dois gêneros. Aceitar essa norma é contribuir com a cisnormatividade. Assim como muites transgridem as normas vestindo o que querem e mostrando afeto em público, questionar e desafiar a língua também é válido.

- Falar "todas e todos" como se incluísse todes.
De novo, nem todas as pessoas usam as duas linguagens normalizadas. E a questão não é resolvida dizendo "todas, todos e todes", pois a neolinguagem propõe justamente neutralidade e inclusão totais. Ou você usa só neolinguagem ou usa a língua normativa mesmo.

- Perguntar sobre o sexo biológico de pessoas trans binárias ou não-binárias para "entender" o que elas são.
É muito comum perguntarem isso para assim encaixarem a pessoa como "macho" ou "fêmea" ou confirmar se o corpo é "masculino" ou "feminino". Esse pensamento é cisnormativo e diadista também. E exorsexista, por ainda querer jogar a pessoa em um dos gêneros binários.

- Dizer para pessoas trans binárias ou não-binárias que elas estavam "melhor" sendo do gênero designado.
Elas estão melhor sendo quem são e não estão nesse mundo pra te agradar.



Bora parar de fazer essas coisas? ^-^



17 de mar. de 2018

Política está separando pessoas?

Vocês já devem ter ouvido que estamos todes cada vez mais isolades em nossas bolhas, que não devemos cortar contatos por causa de política, que posicionamento político não define caráter. Estive ouvindo esses discursos de pessoas de todos os lados.

Essa onda toda de polarizações e extremos e supostos radicalismos esteve incomodando muites, e há pessoas em meio a esse caos todo tentando ser mais racionais e promovendo alguma paz.

Por mais que a intenção seja boa - e eu gostaria muito que houvesse mais paz - essas questões são bem mais complexas. E eu vou explicar.

Estamos nos isolando em bolhas? Sim, estamos. As redes sociais e o sistema delas cooperam com isso também. Agora, isolar-se numa bolha é algo produtivo? Bom, a longo prazo, não muito. Conviver só com pessoas com opiniões e pensamentos muito similares ou iguais não nos acrescenta, apenas reafirma o que é sabido e entendido.

Contudo, isso não é aval para exigir que grupos minoritários convivam com gente que lhes ataca, fazendo discursos violentos de ódio, exclusão e discriminação. Se manter distância de gente tóxica e sem caráter é isolar-se numa bolha, pois que assim seja. É muito conveniente pessoas de grupos majoritários exigirem que minorias tenha "tolerância" com opressories.

E por isso há gente encontrando proteção e conforto em bolhas. A curto prazo é bom e necessário isolar-se. Porque há momentos que precisamos preservar nossa saúde mental, e discussões políticas na Internet são cansativas, mais ainda as minorias.

Mas admito que precisamos estar abertes a ideias contrárias, mesmo que possam até atacar nossos direitos (sem a real intenção disso). Conhecer ideias divergentes é essencial para entender como o "outro lado" enxerga as coisas, e assim pode-se formular estratégias para ou mudar o pensamento da outra parte ou mesmo chegar a um denominador comum. E para enfrentar opressories que não desejam o progresso.

Não devemos cortar contatos "só por causa de política"? Discordo totalmente! Ninguém é obrigade a manter relações com gente que apóia ideologias que pregam discriminação e exclusão, que firam os direitos humanos, que proponham retrocessos, enfim. A pessoa é uma amizade de longa data? Alguém da família? Foda-se. Já pensaram em priorizar sua saúde mental ao invés de desperdiçá-la enquanto tenta fingir tolerância com intolerantes?

E com isso já faço gancho com outro pensamento que discordo também: que posicionamento político não define caráter. Define! Define total!

Se a pessoa defende ume polítique cuja fama é centrada em ódio e polêmicas, que só reproduz preconceitos, que não apoia grupos oprimidos, sim, isso diz tudo sobre o caráter dessa pessoa. Recomendo distância. E um pouco de desprezo.

E não, não vem com as desculpas de que tal polítique é a "opção menos pior", ou inventar que "pelo menos é honeste", ou dizer que seus discursos são "distorcidos". Figuras escrotas atraem só gente escrota. Na dúvida confira você mesme; compare a figura e quem a apoia.

Eu sei que no fundo a maior parte das pessoas não quer mesmo brigar por causa de política. Mas isso é pessoal. Não adianta negar. Política está em todo lugar, ela molda nossa sociedade, e vivemos nessa mesma sociedade. E não é ela que está "separando" a população, são as ideologias das pessoas, sejam elas excludentes ou inclusivas.

Poderia existir harmonia entre todos os lados. Só que, infelizmente, no cenário atual isso não é possível considerando que um dos lados "disponíveis" segue um caminho reacionário e fascista. Precisamos escolher nosso lado, não existe imparcialidade aqui. E as pessoas estão fazendo isso muito bem, mesmo que se revelem escrotas.



10 de mar. de 2018

Não-binariedade: Identidades

Dentro da não-binariedade existem diversos rótulos de gênero criados com a intenção de descrever experiências e vivências com as quais pessoas podem se encaixar.

Podem ser identidades ligadas à masculinidade, feminilidade, androginidade, neutralidade, ou serem algo separado dessas qualidades. E podem ser independentes da corporalidade e da expressão da pessoa.

Mas pessoas não-binárias também podem querer ter um corpo e/ou uma aparência que demonstrem a não-binariedade delas. Ou seja, podem fazer alterações no corpo com o intuito de que ele não seja classificado como um dos perissexos, e também podem ter uma aparência fora do tradicional e classificá-la como quiserem.

Embora haja muitas identidades prontas, não-bináries podem apenas dizer que são não-binárie ou mesmo genderqueer, sem querer explicar ou revelar seu próprio gênero. E também pode haver não-bináries que não tenham acesso a toda essa informação desenvolvida até o momento, e que tenham criado identidades únicas dentro de seu entendimento.

Um exemplo dessa situação é o caso que ouvi de uma pessoa de uma tribo indígena no norte do país. Ela se diz "salobra", pois associou a água doce e a água salgada com os gêneros binários, e adotou essa palavra porque se identifica como uma mistura de ambos.

Há identidades que parecem iguais ou muito parecidas entre si. Isso não deve de forma alguma ser usado para impor determinada identidade ou invalidá-la por haver outras que "também servem". A autoidentificação é totalmente pessoal. As pessoas podem adotar quantas identidades quiserem, alternar entre elas, ou mesmo mudar após um tempo.

Segue abaixo identidades disponíveis para todes que se encaixarem e queiram usá-las:



Homem não-binárie: uma identidade bem ampla que considera o conceito de masculinidade ou de ser homem útil de alguma forma. Pode ser usada por pessoas que: sentem conexão com o gênero masculino (ou com hombridade); têm um gênero próximo a ele; são de qualquer gênero, mas têm uma apresentação socialmente lida como masculina; ou preferem adotá-la no cotidiano por terem um gênero que não é aceito.


Mulher não-binárie: uma identidade bem ampla que considera o conceito de feminilidade ou de ser mulher útil de alguma forma. Pode ser usada por pessoas que: sentem conexão com o gênero feminino (ou com mulheridade); têm um gênero próximo a ele; são de qualquer gênero, mas têm uma apresentação socialmente lida como feminina; ou preferem adotá-la no cotidiano por terem um gênero que não é aceito.


Transmasculine: pessoa designada mulher no nascimento, mas que tem uma identidade masculina. Homens trans estão dentro dessa identidade e podem utilizá-la. No caso de não-bináries, essa identidade pode ser adotada se a pessoa estiver fazendo transição para um corpo socialmente lido como masculino, tiver uma apresentação e expressão definidas como de homem, ou ser de algum gênero relacionado ao masculino ou à masculinidade.


Transfeminine: pessoa designada homem no nascimento, mas que tem uma identidade feminina. Mulheres trans estão dentro dessa identidade e podem utilizá-la. No caso de não-bináries, essa identidade pode ser adotada se a pessoa estiver fazendo transição para um corpo socialmente lido como feminino, tiver uma apresentação e expressão definidas como de mulher, ou ser de algum gênero relacionado ao feminino ou à feminilidade.


Transneutre: pessoa de qualquer gênero designado que tem uma identidade neutra. Pode ser adotada por pessoas de um gênero relacionado de alguma forma com neutralidade, de qualquer gênero e fazendo transição para um corpo socialmente lido como neutro, ou de qualquer gênero e tiver uma apresentação e expressão definidas como neutras.


Proxvir: um gênero relacionado ao masculino, mas totalmente único e separado dele.


Juxera: um gênero relacionado ao feminino, mas totalmente único e separado dele.


Mascugênero: uma identidade não-binária essencialmente masculina, relacionada com a masculinidade, não necessariamente ligada ao gênero masculino binário.


Femigênero: uma identidade não-binária essencialmente feminina, relacionada com a feminilidade, não necessariamente ligada ao gênero feminino binário.


Andrógine: geralmente é um gênero entre o masculino e feminino, uma mistura entre ambos. Essa mistura pode ser igualitária ou desigual. Pode ser também um gênero entre dois gêneros quaisquer.


Gênero neutro: um gênero que não é nem masculino ou feminino, ou que pode ser um equilíbrio entre ambos.


Neutrois: atualmente é usado para definir um gênero neutro. Mas pessoas neutrois também podem dizer que seu gênero é: separado dos binários, nulo, ou inexistente.


Ambonec: um gênero que é masculino e feminino, mas nenhum dos dois ao mesmo tempo.


Epicene: uma identidade ampla que sempre envolve uma qualidade andrógina não-especificada.


Ceterogênero: um gênero que tem uma relação específica com feminilidade, masculinidade ou neutralidade. Se a pessoa flui entre essas três qualidades, ela pode se identificar como ceterofluída.


Demigênero: um gênero parcial. Pode ser alguém que tem dois ou mais gêneros ao mesmo tempo; que tem um determinado gênero, mas não pertence inteiramente a ele; e quem é gênero-fluído, e passa um tempo sendo de certo gênero. Costuma ser descrita como demi[insira o gênero].

(Bandeira demimenino)

Magigênero: a maior parte de um gênero. Pode ser alguém com mais de um gênero, mas um deles é "maior" que os demais; alguém gênero-fluído, mas um gênero se manifesta por um período maior de tempo; e alguém que não tem inteiramente um gênero, apenas uma grande parte dele. Costuma ser descrita como magi[insira o gênero].

(Bandeira magimenina)

Nanogênero: uma pequena parte de um gênero. Pode ser alguém com mais de um gênero, mas um deles é "menor" que os demais; alguém gênero-fluído, mas um gênero se manifesta por um período curto de tempo; e alguém que não tem inteiramente um gênero, apenas uma pequena parte dele. Também pode ser usada para definir uma conexão muito fraca com um gênero. Costuma ser descrita como nano[insira o gênero].

(Bandeira nano-nb)

Bigênero: alguém que tem dois gêneros, podendo alternar entre eles ou vivenciando-os ao mesmo tempo. O tipo mais conhecido de bigênero é homem/mulher, mas pode haver tipos em que uma parte é um gênero binário ou ambas são não-binárias.


Trigênero: alguém que tem três gêneros, podendo alternar entre eles ou vivenciando-os ao mesmo tempo.


Poligênero: alguém que tem vários gêneros, podendo alternar entre eles ou vivenciando-os ao mesmo tempo.


Pangênero: alguém que experiencia uma grande multiplicidade de gêneros, mas dentro de seu entendimento, sua experiência de vida e sua(s) cultura(s); podendo incluir gêneros ainda desconhecidos ou mesmo infinitos gêneros. Os gêneros podem ser vivenciados ao mesmo tempo ou a pessoa pode fluir entre eles. Não é alguém com "todos os gêneros", pois isso não é possível (por exemplo, há gêneros específicos de neurodivergentes, de intersexos, e de culturas).


Gênero-fluído: pessoa que muda periodicamente entre dois ou mais gêneros. Pode ser uma identidade por si só ou uma categoria não-binária. Há incontáveis tipos de gêneros-fluídos.


Gênero-fluxo: pessoa que sente mudanças na intensidade do(s) seu(s) gênero(s), indo de presença à ausência de gênero. Há incontáveis tipos de gêneros-fluxos.


Fluxofluíde: pessoa cujos gêneros mudam periodicamente, assim como a intensidade deles.


Mascufluíde/Marfluíde: ume gênero-fluído que muda entre gêneros sempre ou quase sempre masculinos.


Femifluíde/Venufluíde: ume gênero-fluído que muda entre gêneros sempre ou quase sempre femininos.


Eafluide: ume gênero-fluído que muda entre gêneros que nunca são os binários.


Paragênero: uma identidade próxima de um gênero, mas não sendo exatamente esse gênero. Pode ser descrita como para[insira o gênero próximo].


Egogênero: um gênero único da própria pessoa, que não pode ser explicado.


Maverique: um gênero totalmente independente de masculinidade, feminilidade, androginidade ou neutralidade. Pessoas desse gênero compartilham sensos de autonomia (por ser um gênero independente) e convicção (por ser um gênero que existe).


Aporagênero: um gênero totalmente separado dos espectros e das variações de masculino, feminino, andrógino e neutro. É um gênero existente e único.


Aliagênero: um gênero fora das descrições e diretrizes comuns de gênero.


Pomogênero: uma identidade onde a pessoa rejeita ou não se encaixa em nenhum dos rótulos disponíveis. A pessoa apenas sabe que não é cis, optando em não se identificar ou não sabendo especificar seu gênero.


Agênero: ausência de gênero, ou por não se identificar com nenhum ou por rejeitar o conceito e a existência de gênero.


Libragênero: pessoa agênero que sente conexão com algum gênero, seja ela fixa ou fluída. A pessoa pode se apresentar como [gênero que sente conexão] agênero.

(Bandeira librandrógine)

Apogênero: pessoa agênero que também sente estar totalmente fora da concepção de gênero.


Antigênero: um gênero que só existe porque está em oposição a um gênero existente (não inclui a ideia de "gêneros opostos"; por exemplo: um anti-homem não é uma mulher). Geralmente é descrito como anti-[insira o gênero ao qual se opõe].

(Bandeiras antimenino e antimenina)

Intergênero: um gênero influenciado por intersexualidade. Pode ser uma identidade por si só ou uma descrição de que a pessoa é de tal gênero por ser intersexo.


Neurogênero: um gênero influenciado por neurodivergência. Pode ser uma identidade por si só ou uma categoria não-binária. Existem vários neurogêneros.




Ainda há muitas outras identidades disponíveis. Falarei mais sobre elas no futuro. Aguardem!



7 de mar. de 2018

Passabilidade hétero

Dentro e fora da comunidade bi se fala em passabilidade hétero. Embora seja um tanto autoexplicativo, vou definir o que é: esse termo se refere a quando homens ou mulheres bi conseguem ser lides como héteros, e com isso têm acesso aos "privilégios hétero".

Monossexistas argumentam muito que essa passabilidade desmente a existência do monossexismo. Não é apenas um argumento furado como também nem todes bissexuais têm essa passabilidade.

A simples existência dessa passabilidade comprova o monossexismo violento na sociedade, que até tem uma conexão com a cisnormatividade. Vou explicar.

É muito comum pressuporem que um homem é hétero por ter uma expressão de gênero masculina ou bem normativa. O mesmo ocorre com a mulher. Essa ideia cisnormativa combinada com o apagamento bi faz com o que a população geral divida, mesmo que em pensamento, as pessoas em: hétero ou homo.

Então a passabilidade hétero só existe porque as atrações multi são apagadas. Onde está o privilégio em ter sua atração invalidada, desconsiderada? É mesmo um privilégio ser confundide com hétero enquanto sua própria orientação é discriminada? Opressão também atinge os corpos psicológico e emocional das pessoas.

Temos índices altos de depressão e suicídio em jovens bi justamente por esse apagamento todo, e mais as outras discriminações, incluindo rejeição e acusações de promiscuidade - feitas em função da bissexualidade. Mas bimisia não existe, né?

E enquanto essas discriminações ocorrem tanto com homens quanto com mulheres, as mulheres ainda têm de enfrentar relações abusivas com parceiros, namorados, maridos etc; o que torna o tal privilégio de parecer hétero mais absurdo.

Passabilidade hétero até existe. Mas não é um privilégio. Não é algo bom. É mais uma forma de apagamento, portanto uma discriminação.

O mesmo raciocínio serve para a passabilidade cis, ou qualquer outra passabilidade que possa existir. Não é privilégio ume oprimide parecer ser de um grupo opressor. Talvez seja até bom essu oprimide ter uma segurança física (coisa que todes deveriam ter, né), mas opressão não é só física. E assim que a pessoa é "descoberta", essa segurança acaba imediatamente.

Além disso tudo, precisamos muito falar de homens afeminados e mulheres bofinhos que são bissexuais, e que são invalidades principalmente por causa da não-conformidade de gênero. A tal passabilidade não se aplica a elus - afinal se homem e mulher normatives são hétero, não-normatives são o quê? O "contrário" de hétero, né?

No fim essa história toda de passabilidade é mais um esforço para diminuir uma opressão existente. Poderíamos até apontar essa mesma passabilidade sobre gays e lésbicas mais normatives. Mas é evidente que o problema aqui é só com as pessoas bi/multi mesmo.



3 de mar. de 2018

Espectro multi

Falar sobre atrações multi - atrações direcionadas a mais de um gênero - é falar sobre uma imensa diversidade, não apenas de identidades, mas de experiências também. Enquanto há orientações multi mais fixas e constantes, há orientações mais fluídas e orientações com condições específicas.

Já abordei sobre as diferenças entre bi, poli e pan e sobre terminologias usadas pela comunidade bi. Hoje vou falar sobre mais identidades multi.



Bi: a definição mais atual é atração por mais de um gênero. Atualmente bi é uma identidade bem ampla, e só deve ser escolhida por quem a quiser.


Poli: geralmente a definição é atração por muitos gêneros. A pessoa pode escolher essa identidade se identificar atração por três gêneros ou mais.


Pan: a definição mais usada é atração independente de gênero. Algumas pessoas pan falam ter atração por todos os gêneros.


Oni: atração por todos os gêneros. Como há pessoas pan que usam essa definição, por isso podem se dizer oni também. No entanto, há pessoas que preferem oni do que pan por motivos de: a) não encaixam na definição de "atração independente de gênero" e valorizam a atração por gêneros em sua identidade; b) há onis que defendem que sua atração não se limita a humanes, e que poderiam se atrair por outras raças (ex: alienígenas).


Penúlti: atração por todos os gêneros, menos seu próprio gênero.


Paro: atração por múltiplos gêneros, porém a atração funciona de forma diferente para os gêneros lhe atraem (por exemplo: a pessoa sente atração forte por um gênero, uma atração condicional por outro, uma atração menos frequente por outro etc).


Abro: uma atração muito fluída ou sentimentos em relação a ela que mudam constantemente, por isso não pode ser especificada. Há pessoas abro que dizem que sua orientação às vezes é bi, às vezes é homo, às vezes é pan, e etc. Há pessoas abro que não conseguem se definir, pois sua atração muda de forma muito rápida e confusa. E há pessoas abro que passam por esses dois estados.


Duo: ter duas ou mais orientações específicas e trocar entre elas. Tem alguma semelhança com abro, mas a experiência é mais bem definida e compreendida. 


Sans: uma orientação muito fluída que não segue linhas de atração. Geralmente é definida também como "sem orientação".


Ambi: atração exclusiva por homens e mulheres ou também atração por pessoas do mesmo gênero e de um gênero diferente.


Tri: atração por três gêneros. Às vezes definida como fluir entre bi, poli e pan.


Quade: atração por quatro gêneros, podendo ser fixa ou fluída.


Quinte: atração por cinco gêneros, podendo ser fixa ou fluída.


*Nota: em relação às atrações tri, quade e quinte, deve-se respeitar o fato da pessoa querer quantificar suas atrações. Querer jogar essas identidades como "basicamente poli" é errado.

Multi: geralmente é um termo guarda-chuva para todas as orientações que definem atrações por mais de um gênero. Mas também pode ser uma identidade por si só, atração por múltiplos gêneros, sem uma especificação ou mais explicações.


Min: atração por pessoas masculinas - que associam seu gênero ou sua aparência com masculinidade.


Fin: atração por pessoas femininas - que associam seu gênero ou sua aparência com feminilidade.


Nin: atração por pessoas neutras ou mesmo andróginas - que associam seu gênero ou sua aparência com neutralidade ou androginidade.


Lin: atração por androginia ou pessoas de aparência andrógina, embora não necessariamente por pessoas de gêneros andróginos.


Neu: atração exclusiva por pessoas agênero.


*Obs: as atrações min, fin, nin, lin e neu podem ser consideradas como atrações mono dependendo das experiências e perspectivas da própria pessoa.

Netúnique: atração por mulheres, agêneros, e todes não-bináries que não são de identidades masculinas ou conectades com masculinidade.


Urânique: atração por homens, agêneros, e todes não-bináries que não são de identidades femininas ou conectades com feminilidade.


Outras orientações fluídas e que utilizam sufixos específicos incluem:

- fluxos: esse sufixo é utilizado para especificar que a orientação da pessoa é fluída dentro dela mesma. Orientações fluxo são caracterizadas pelas mudanças na intensidade das atrações; há períodos que a pessoa sente maior atração por um gênero, em outros sente atração igual por todos que lhe atraem, e em outros pode ter uma atração fraca pelos mesmos.

Abaixo estão as bandeiras bifluxo e panfluxo.


- flexíveis: as duas orientações flexíveis são controversas nas comunidades multi, principalmente na bi, pois essas identidades são frequentemente utilizadas propositalmente por pessoas mono para apagar ou de zombar das atrações multi. Vamos levar em conta que a diversidade é imensa, e que pode sim existir uma atração entre mono e multi.

Heteroflexível ou Ela: uma pessoa hétero que sente essa atração na maior parte do tempo, mas às vezes pode abrir exceções. Recentemente criou-se "ela" como uma alternativa para o termo.

Abaixo estão a bandeira heteroflexível e a bandeira ela.


Homoflexível ou Aniso: uma pessoa homo que sente essa atração na maior parte do tempo, mas às vezes pode abrir exceções. Recentemente criou-se "aniso" como uma alternativa para o termo.

Abaixo estão a bandeira homoflexível e a bandeira aniso.




Existem algumas outras identidades multi além dessas. Quem não conseguir se encaixar e quiser outra identidade, pode falar comigo e ajudarei nisso.

Para quem entende inglês, aqui está o site Pride-Flags, que foi de onde tirei a maioria das identidades: https://pride-flags.deviantart.com/gallery/.