30 de mai. de 2015

Obras feministas de animação e ficção

Enganam-se vocês que pensam que o feminismo e suas ideias são recentes. O movimento nasceu oficialmente no século passado, apesar da luta das mulheres por seus direitos, por liberdade e por empoderamento não sejam novidades da tal "era moderna". 

Atualmente existem obras feitas e baseadas nessa ideologia. Algumas podem até ter passado despercebidas, mas na maioria é evidente a mudança da retratação das figuras femininas. Essas obras apresentam essas figuras como poderosas, corajosas, independentes, íntegras e humanas, e estão cada vez mais explorando o senso de sororidade (a "irmandade feminina"). Todos esses atributos sempre pertenceram mais às figuras masculinas. Agora... Não pertencem mais :D.

Segue algumas obras mais famosas e conhecidas:



  • As Meninas Super Poderosas

Sempre gostei do desenho e nunca parei para pensar o quanto ele é feminista, o quanto ele quebra vários os padrões e regras estipulados pela sociedade. Primeiro de tudo, as Meninas são as heroínas e as personagens mais poderosas do desenho; isso coloca todas as figuras masculinas como dependentes delas. 

As três e o Professor Utonium quebram padrões de gênero e família: o Professor desempenha o papel de pai e mãe para elas, e as Meninas não poupam socos e chutes em todas as lutas. O Professor tinha uma mente tão aberta que até deixou as Meninas o vestirem de menina. Já as três costumavam fazer piadas e questionamentos sobre papeis de gênero e sobre masculinidade, como quando as três, curiosas sobre um novo vizinho, vão checar o quintal do mesmo. Lindinha vê um aparelho de levantamento de peso e conclui que deveria ser um homem, e Florzinha rebate afirmando que mulheres também levantam peso. Fantástico!


Uma vilã interessante foi a Femme Fatale, uma ladra que roubava apenas moedas de Susan B. Anthony (uma feminista do século 19), que questionou a escassez de super-heroínas autênticas na ficção (tanto que as Meninas só se lembraram da Mulher Maravilha). Apesar das ideias feministas, a personagem queria ficar livre dos crimes por ser uma das pouquíssimas vilãs da cidade. E, no final, as próprias Meninas deram uma lição de feminismo e a jogaram na cadeia.


As três também são muito diferentes: Florzinha é a líder e a mais inteligente, Lindinha é a mais sensível e dócil, e Docinho é a mais temperamental e uma menina-moleque. Lindinha é considerada como a mais feminina, enquanto Docinho é a mais masculina. E, apesar disso, elas lutam do mesmo jeito, e também já manifestaram lados mais brutos e mais sensíveis de suas personalidades.



  • Mulan

A Disney se baseou na lenda de Hua Mulan, uma mulher que se infiltrou no exército (exclusivamente masculino) para lutar. A ideia é fantástica, e a obra não é só feminista pelo fato de Mulan ser uma mulher e lutar com uma espada, mas também pela atitude da personagem e pelo fato de ela ter dado uma lição de que mulheres têm tanta capacidade quanto os homens. Na animação feita pela Disney sua motivação é tomar o lugar do pai, que mesmo doente teria que atender à convocação para a guerra contra os hunos. Ela supera todos os limites e se torna uma lutadora tão boa quanto seus parceiros. Um dos melhores desenhos da Disney na minha opinião.




  • Kill Bill

Alguns podem pensar: o que tem de feminista numa história sobre uma mulher matando geral? Bom, deixando a vingança e os litros de sangue de lado, Kill Bill apresenta um grupo de assassinos, as Víboras Mortais, composto por dois homens e quatro mulheres. A protagonista, Beatrix Kiddo, é uma dessas mulheres e sabe artes marciais e lutar com uma katana. Entre as outras três mulheres, duas pertencem a uma etnia diferente dos americanos: uma japonesa (sino-americana) e uma negra. Todas as mulheres do grupo são tão mortais e habilidosas quanto os homens, e se mostram independentes e imponentes em seus estilos de vida e atitudes.




  • Alice no País das Maravilhas

Alice retorna depois de anos ao País das Maravilhas (ou Mundo Subterrâneo) para enfrentar a Rainha Vermelha e seu monstro, Jabberwocky. No mundo de cima, Alice, insegura e pressionada pela sociedade, precisa enfrentar uma proposta de um casamento forçado. Ela foge e acaba novamente caindo num buraco que a leva para o outro mundo. Lá os acontecimentos e a expectativa dos personagens por seu heroísmo acabam tirando-a daquele estado de insegurança, fazendo-a acreditar em si mesma e que ela, somente ela, poderia traçar seu destino. Ela retorna renovada  ao mundo de cima, recusa o casamento, taca o foda-se pra todo mundo e decide navegar pelo mar em busca de novas descobertas, seguindo os passos do pai. O filme tem uma maravilhosa cena de luta com Alice vestida em armadura e vencendo o monstro da Rainha com estilo. Destruidora!




  • Once Upon a Time

Série maravilhosa que deu às histórias de fantasia um aspecto mais humano, e também feminista. A série contem uma variedade de personagens femininas fortes e independentes. É muito difícil ver uma personagem sendo discriminada apenas pela condição de mulher. A protagonista, Emma Swan, é a heroína principal da série, que vive ajudando e salvando as pessoas, sempre mostrando coragem, perseverança e força. Regina, a Rainha Má da Branca de Neve, é tida como uma das personagens mais poderosas da série, competindo apenas com Rumpelstiltskin, o homem mais poderoso da série. A Branca de Neve jogou fora seu lado princesinha e, para fugir de Regina, torna-se uma fugitiva revolucionária que consegue escapar sempre da Rainha e inspira a população do reino a se revoltar contra a bruxa.


Praticamente todas as personagens femininas, sejam heroínas ou vilãs, possuem personalidade e valores próprios, e lutam com unhas e dentes pelo que querem ou acreditam. Elas são persistentes e únicas e não deixam nenhum homem desvalorizá-las. E, claro, não posso deixar de elogiar todas as vilãs por serem as opressoras malvadas e divas que elas são! *---*


Há outros casos que vou citar. A avó de Ruby (Chapeuzinho Vermelho) não hesita em armar-se com sua besta para defender sua neta e as pessoas ao redor. Marian, esposa de Robin Hood, não permitiu que o marido a defendesse numa cena, dizendo que ela podia se defender sozinha. Já Belle (de A Bela e a Fera) é uma personagem criticada e tida como fraca, mas sua luta na verdade não requer magia, armas ou golpes; ela acredita que Rumpelstiltskin (a Fera) possa ainda ter bondade dentro dele, e por isso não desiste dele. Embora ela ainda seja a garota intelectual (cercada de gente burra menos intelectual) das fábulas, ela auxilia o elenco com pesquisas e investigações. Ela é tão importante quando as demais personagens, e tem sua própria luta para travar, mesmo que seja inteiramente emocional.



  • Avatar: A Lenda de Korra

A protagonista da nova série de Avatar é uma mulher negra e bissexual (essa parte foi revelada só no final). O mundo de Avatar mostra uma sociedade muito mais igualitária, com mulheres ocupando altos cargos e sendo amadas e admiradas por seus atributos, como força e inteligência. Korra, a nova Avatar, nunca é discriminada pelo fato de ser mulher. Até porque a existência de mulheres Avatares comprova que sexo e/ou gênero não significam nada. A dificuldade que Korra enfrenta é justamente seu dever como a nova Avatar, a mesma dificuldade que seus antepassados tiveram. Sem contar algumas cenas de batalha onde as personagens femininas lideram os demais.

No time Avatar, Korra, Mako, Bolin são dobradores, enquanto Asami não é. E mesmo assim ela auxilia nas batalhas com a mesma eficiência das demais pessoas, fazendo uso de artes marciais e tecnologia. A série pecou um pouco em (tentar) fazer um romance entre Korra e Mako, sendo que Mako, em duas temporadas, se envolve com ela e Asami. Mas um fator muito positivo foi o fato de elas não terem se tornado inimigas apenas por terem tido o mesmo namorado. Pelo contrário, a amizade delas foi cada vez mais se tornando mais sólida. Korra cometeu erros ao longo da série, mas isso faz parte da natureza humana. Quem não erra, né?


Para finalizar, o maior acontecimento, que serviu para fechar a série, foi a revelação do amor de Korra e Asami (sim, a amizade evoluiu para amor *---*). Os produtores da série confirmaram o envolvimento amoroso das duas (que já estava implícito desde a 3ª temporada). Além de tudo já mencionado, a série (dentro do possível) representou o amor lésbico. Fantástico!



  • Valente

Valente conta a história de Merida, que desafia o costume antigo de sua família de casá-la com um dos filhos de três famílias aliadas. Merida mostra que é uma garota de personalidade e vontade própria, exibindo seu talento com arco e flecha (que humilhou o "talento" de seus três pretendentes) e rebelando-se contra a obrigação de casar-se com alguém que nem conhece. Ela busca a ajuda de uma bruxa e acidentalmente transforma sua mãe, Elinor, num urso. A mãe tenta fazê-la aceitar o destino de ter que casar-se. E, agora transformada em urso, necessita da ajuda da filha para voltar ao normal. O filme mostrou a luta que Merida trava para salvar a própria mãe e o vínculo forte que elas criam após os acontecimentos. No fim ambas tornam-se inseparáveis e a mãe aceita a filha como ela é.




  • Frozen

Frozen fez sucesso pela mudança do padrão Disney de 'príncipe e princessa'. Embora Mulan tenha feito isso também, Frozen foca mais no amor fraterno das irmãs Elsa e Anna. O filme mostra a sororidade que quase nunca havia aparecido nas obras Disney. Anna teve um total de dois interesses amorosos, mas um deles, Príncipe Hans, ela tinha acabado de conhecer, enquanto com jovem Kristoff ela teve mais tempo de convivência. No fim o rapaz simples acaba ficando com ela, enquanto Elsa prova que não precisava de um príncipe para ter seu final feliz. No clímax da história, Anna salva sua irmã de ser morta por Hans, e esse ato de amor quebra a maldição (lançada acidentalmente por Elsa) que estava aos poucos a convertendo em gelo. Isso desafiou o clichê da fantasia de príncipe salvando princesa e a regra de que atos de amor só aconteciam entre um homem e uma mulher num envolvimento amoroso.


O filme ainda fez uma tirada ótima sobre os casamentos precoces dos contos de fada. Elsa diz para Anna que ela não poderia casar com um cara que acabou de conhecer (muitas princesas da Disney infartaram depois dessa XD). Além da sororidade, o filme também trouxe uma dose de realismo sobre relacionamentos.



  • Malévola

Seguindo a onda de Frozen, Malévola também apresenta o amor entre mulheres. A história mudou radicalmente, mostrando o passado de Malévola e alterando muito trajeto do enredo original. Malévola é uma fada de uma floresta que se apaixona por um garoto de um reino próximo. Na fase adulta, o garoto é enviado para matá-la. Ao invés disso, ele coloca sonífero na bebida e corta seu par de asas, como prova de sua morte. A cena em que ela acorda e percebe a falta das asas é forte, e até foi comparada a situação de um estupro. O garoto torna-se rei e Malévola segue um caminho sombrio, dominada pela decepção e pelo ódio contra seu antigo amor. Como vingança, ela amaldiçoa a filha do rei, Aurora, que é posta aos cuidados de três fadas.


As fadas são descuidadas e despreparadas demais para cuidar de Aurora. Então Malévola, querendo que a maldição seja devidamente cumprida, passa a cuidar da garota nas escondidas. Em uma cena Malévola tenta espantar a garota e no fim cede ao seu pedido de pegá-la no colo. Esse tempo de 16 anos fez Malévola criar sentimentos maternos por Aurora e até a fez repensar sobre suas ações. Para sua infelicidade, a maldição acaba se cumprindo, mas quem desperta Aurora é a própria Malévola, com um beijo materno em sua testa. O filme mostrou que duas mulheres, mesmo numa situação de inimizade, podem ter um vínculo fraterno, e também tentou passar uma mensagem de superação a respeito de traição (no caso, causada por um homem).



Espero que tenham gostado. Aguardemos cada vez mais obras que mostrem mais a humanidade das figuras femininas, igualdade de gêneros, sororidade e empoderamento feminino.



23 de mai. de 2015

As vilãs mais opressoras dos games

Os personagens masculinos ainda dominam muito a categoria de antagonistas. Até que existe um número razoável de antagonistas femininas, mas nem todas fazem o mesmo sucesso. Aqui listarei as vilãs mais malvadas criadas até hoje, aquelas que botam qualquer machistinha pra correr XD.

Segue a lista:



Natla

Antagonista do primeiro Tomb Raider (e Anniversary) e de Tonb Raider: Underworld. Ela seria de fato a primeira personagem a ser mostrada nessa franquia. Ex-governante de Atlântida, foi banida pelos outros dois governantes por usar seus poderes de maneira indevida. Agora, em tempos modernos, ela conseguiu se libertar de sua prisão e se tornou a presidente de uma empresa desenvolvedora de tecnologia. Ela é quem manda Lara Croft para sua aventura, e faz isso para recuperar três partes de um artefato poderoso, o Scion, que contem todo poder que ela precisa para ser novamente uma governante e montar um exército de criaturas criadas geneticamente por ela. Em Underworld, ela retorna mais uma vez, e usa Lara novamente a fim de destruir o mundo e começar a "Sétima Era". E nesse jogo ela revela ter matado o pai de Lara. Que maldita! Mas Lara se vinga perfeitamente no final. Enfim, uma ótima vilã e eterna rainha atlante.


Alexia Ashford

Ela é a antagonista do jogo Resident Evil: Code Veronica, e também de Darkside Chronicles. No jogo original, sua personalidade é mais megalomaníaca e cruel, enquanto no novo jogo ela é mais infantil, e não mostra amor pelo irmão gêmeo. Ela hibernou por 15 anos para se assimilar ao vírus T-Veronica e dominar o mundo, escravizando todxs. No jogo original ela se mostra totalmente imponente e arrogante, até lutando de igual para igual com Albert Wesker, um dos personagens mais poderosos da franquia. No jogo mais recente, a personalidade está mais "adoçada", embora ela ainda trate os inimigos e suas vidas como brinquedos.


Alex Wesker

Ela é a antagonista de Resident Evil Revelations 2. Ela vive e administra uma ilha que serve para conduzir seus experimentos desumanos. Após anos e anos trabalhando com o sentimento do medo, ela desenvolve um vírus que causa mutações quando a vítima está com muito medo. Quando se comunica, ela adora recitar frases de obras de Franz Kafka, um escritor um tanto mórbido... E seu objetivo principal é ser imortal, tentando transferir sua consciência para outra pessoa. De longe uma das maiorias psicopatas da franquia. Pena que ela durou por apenas um jogo.


As Irmãs do Destino (Lahkesis, Atropos, Clotho)

São antagonistas presentes em God of War II. Kratos é confrontado diretamente por Lahkesis e Atropos, enquanto Clotho (por ser mais imóvel) oferece menos desafio. Atropos, sendo a deusa do passado, retorna para a batalha final entre Kratos e Ares e tenta impedir sua vitória contra o deus da guerra, tornando-a a mais impiedosa das três. Mas afinal o que há de tão opressor nelas? Elas são as deusas do destino! Nosso passado, presente e futuro estão nas mãos delas! Temam XD

 (Lahkesis)

 (Atropos)

(Clotho)

Diana

Mesmo não sendo a verdadeira antagonista de Rule of Rose, Diana é com certeza uma das personagens femininas mais cruéis dos games. Arrogante e autoritária, ela humilha e debocha constantemente a protagonista, Jennifer, e até pratica maldades contra outros personagens, incluindo até suas amigas mais íntimas. Por trás de toda sua maldade ela também tem suas inseguranças e tem medo de se tornar uma adulta. Mas isso não a impede de fazer o que quer.


Eve

A antagonista do clássico Parasite Eve com certeza é uma vilã terrível. Eve estava inicialmente adormecida dentro da atriz Melissa Pearce. E então, na cena inicial do jogo, a atriz está lá cantando sua opera e faz contato visual com a protagonista, Aya. Logo em seguida, os atores próximos a ela entram em combustão espontânea (parte dos poderes dela), o fogo se espalha, o local todo começa a pegar fogo, e mais e mais pessoas entram em combustão. E Eve lá, cantando sua opera. Cantar opera num lugar incendiado com pessoas espontaneamente se incendiando... Isso que é uma introdução digna de uma vilã como Eve, uma mitocôndria que evoluiu e quer dominar o mundo, exterminando a humanidade e gerando uma raça "superiora".


Brooke Augustine

Ela é a antagonista do jogo InFamous: Second Son, e na DLC. Ela tem o poder de manipular concreto e é a líder de um grupo que visa eliminar os Conduits (pessoas com poderes, como ela). Na verdade ela simpatiza com os Conduits e os recolhe para protegê-los. Seu bordão é "I'm told that hurts" (dizem que dói), referente a quando ela faz concreto "brotar" do corpo de suas vítimas. Em todas as cenas em que aparece ela se mostra como uma mulher forte e temível, tão confiante em si e em seus poderes ao ponto de estar sempre menosprezando o protagonista com seus sorrisos irônicos. Na minha opinião, ela tem o perfil de uma ditadora... adorei!




Oremos por mais vilãs opressoras nos futuros jogos! \o/



16 de mai. de 2015

A censura de alguns games

A censura é uma barreira para o conteúdo considerado ofensivo para um Estado. Embora os jogos listados aqui sejam de épocas diferentes (não muito distantes, mas diferentes), nota-se, além dos preconceitos típicos da "era moderna", certa hipocrisia. Será que algumas censuras não foram injustas e sem lógica quando analisamos os jogos em questão, mesmo para suas respectivas épocas?

Só para esclarecer, não vou discutir sobre games banidos. Posso falar disso em outro post futuro.

Vou começar por uma série de survival horror que gostei muito no passado: Resident Evil.

No primeiro jogo lançado da franquia, a cena (fodasticamente terrível) do primeiro zumbi gerou polêmica. Na versão original, o zumbi comia (literalmente!) um cara e, antes de ele mostrar sua face, a cabeça da vítima caía no chão e revelava metade do rosto comido. Esse detalhe da cabeça foi censurado em outras versões. O pessoal achava violento demais...



E vem cá: onde Resident Evil não é violento? Você mata zumbis canibais, explode a cabeça deles, mata criaturas e monstros (incluindo cachorros, tubarões, plantas gigantes etc), vê cenas horríveis de morte, o jogo apresenta sustos e ambientes de tensão, você fica pasmo com a brutalidade da cena do Tyrant atravessando as garras no Wesker... Mas não, não podemos ver uma cabeça meio comida. Traumatizante demais, né?

Outras censuras foram relacionadas ao sangue e a violência das cenas de morte dos personagens, tanto em RE 1 quanto em RE 2. Cai exatamente nessa mesma linha de raciocínio.

Outro caso (ainda mais hipócrita) foi a censura de duas cenas: uma apresentava os personagens de RE 1 usando atores reais e outra era o Bad Ending do Chris. Nessas cenas, originalmente, o ator do Chris acendia um cigarro (fazendo aquela pose sexy de bad boy *---*). As demais versões cortaram essa parte.



Vamos entender a lógica: num jogo de terror com zumbis, matança, morte, sangue, tiroteio, monstros e etc, um cara fumando um cigarro é mais ofensivo. Tá serto!

No clássico The Legend of Zelda: Ocarina of Time, originalmente Ganon cuspia sangue quando derrotado na primeira batalha; isso no Nintendo 64 NTSC-U/J versão 1.0 e 1.1. Nas versões seguintes, NTSC-U/J 1.2 e PAL, e no GameCube, a cor vermelha foi substituída por verde. E pronto! Disfarçaram a violência! ¬¬


Claro, né! A história conta sobre um menino, que nem chegou na puberdade, sendo colocado numa missão árdua de salvar o mundo, que mata inimigos diversos com uma espadinha, alguns inimigos (aranhas, Stalfos) se despedaçam quando morrem, com até uma princesa-peixe que exige casamento dele (Princesa Ruto), com aparição de zumbis e cenários tenebrosos (cemitério, poço, Templo da Sombra; principalmente esse templo!). Mas não, ofensivo é mostrar um pouco de sangue no final, na luta contra o chefão...

Ainda na mesma franquia, Majora's Mask, um dos capítulos mais "tenebrosos" da série, teve uma censura que supostamente relacionada a racismo. O personagem Skull Kid, na versão original do Japão, tem a cor da cabeça mais escura. Nas demais versões (essa eu tenho), sua cor é mais clara.



Há indícios de que isso tenha sido feito para evitar acusações de racismo. Eu, particularmente, não acharia racista manterem a cor mais escura do Skull Kid. Nem consigo enxergar algum racismo nisso. Porém, não é por que eu não vejo racismo que ele não possa existir. Vale lembrar que eu, por ser branco, posso não ter uma visão ampla. O mais apropriado seria perguntar a gamers negrxs o que elxs pensam sobre isso.

Meu amado Perfect Dark do Nintendo 64, também foi alvo de censura de sangue. A versão japonesa corta o sangue e faz os cadáveres dos inimigos desapareceram rapidamente. Nas demais versões (por sorte, eu tenho uma delas :D), o sangue é presente (bem presente!) e os cadáveres demoram mais tempo para sumir. Faz realmente alguma diferença eu atirar na cabeça de um inimigo, ele cair no chão, e sair ou não sair sangue? O ato de matar é menos pior do que sangue? Cadê a lógica?



Outro jogo de sucesso, Shenmue 2, apresentava Yuan, uma personagem travesti. Na versão japonesa, Yuan tinha uma voz masculina, e Dou Niu (um antagonista) diz que Yuan é "seu namorado". Mas a empresa Sega da Europa achou isso "inadequado" e colocou Yuan com voz feminina, e qualquer menção de seu "gênero masculino" foi retirada.



Há certa ignorância e um grande preconceito vindo tanto dos japoneses quanto dos europeus. Se Yuan é uma travesti, seu gênero é feminino. Sua identidade deve ser respeitada. E a sede europeia da Sega teve uma atitude muito transfóbica. Ah, pelamor! Ver uma mulher com voz masculina é tão ameaçador? Engraçado que nem os personagens do jogo fazem comentários transfóbicos (tirando aquela frase do Dou Niu). Se eles não fazem, então por que os jogadores deveriam?

Paper Mario: The Thousand-Year Door, também teve um caso de transfobia. A personagem Vivian, uma bruxinha feita de sombra, é declarada nas versões japonesa e algumas europeias (espanhola, francesa) como uma mulher trans. Embora alguns personagens afirmem (preconceituosamente) que ela é "na verdade" homem, Vivian se impõe e no final consegue que suas duas irmãs reconheçam sua identidade. Na versão americana do jogo, qualquer referência a transexualidade é retirada.



Visto que o jogo é mais moderno, vemos que a Europa até que melhorou. Mas os Estados Unidos mostraram-se transfóbicos. Não importa que seja um jogo mais infantil. Nenhuma criança ou adolescente vai sofrer um colapso ao descobrir que existem pessoas trans. Até quando as pessoas vão tentar esconder a diversidade? E só para constar, Vivian sempre foi e sempre será uma das minhas favoritas.

Descobri sobre a transexualidade anos depois, e mesmo ainda ignorante não tive problema em aceitar a personagem como ela é. Viu? Mente de criança consegue aceitar novas coisas. Ainda mais quando não é contaminada com preconceitos. ^^

O polêmico South Park: The Stick of Truth, baseado na polêmica série South Park, foi alvo de censura na Europa e Austrália por conter sondas anais alienígenas e uma cena de aborto. Ok... todo resto é permitido então, incluindo as piadas racistas de Cartman e uma cena de sexo explícita? Não faz muito sentido. Além disso, o jogo herda o humor negro presente na série, e entramos na discussão controversa sobre os limites do humor (não estou julgando o jogo e a série de forma alguma).






Censura é e sempre será um assunto polêmico e controverso, que pode variar de país em país, região em região. Embora tenhamos que respeitar as legislações de certos lugares, acredito que se for para censurar algo que ao menos tenha uma lógica. O objetivo aqui não foi mudar as leis da censura mundialmente, e sim apontar se há uma lógica nesses exemplos. 

Eu penso assim: se um jogo tem conteúdo racista e homofóbico, não foi aprovado, e só a parte homofóbica foi retirada, também deveriam tirar a parte racista. Censuras seletivas e baseadas em preconceitos só refletem dois dos maiores maus da humanidade: ignorância e hipocrisia. O mundo dos games não é tão diferente da realidade...



13 de mai. de 2015

Pensamento do dia

Quando eu entrei na faculdade pensei: "Será que minha turma será legal e unida? Será que vou encontrar meu amor aqui? Será que terei muitos amigos e diversão?"

Agora sempre que entro na faculdade penso: "Falta muito para acabar?"

Tenho certo receio de terminar o curso e não saber qual rumo tomar.

Deve ser um medo natural dos jovens.

A faculdade em si não é nada de diferente de qualquer outra. O diferencial são as pessoas, os estudantes.

Dentro da faculdade encontro todo tipo de gente. Gente que já quis ser, gente que ainda almejo ser, gente que não quero mais ser, gente que nunca quis ser, e gente que nunca serei.

Minha classe tem todo tipo de gente. Mas não é a turma legal e unida que eu sonhei em ter.

Amor? Acho que nunca encontrarei isso...

Amigos? Diversão? Tenho pouquíssimas pessoas que chamo de amigas. O problema é que boa parte delas me valoriza mais quando precisam de ajuda. Me divertir até já me divertir. Mas as diversões que tive na faculdade nunca me satisfizeram completamente.

Percebi após uma reflexão recente que minha visão de faculdade era uma filha bastarda do 'american dream'. Devo me lembrar todos os dias de parar de basear minha vida em séries americanas XD.

Meus sonhos foram sendo dissolvidos à medida que os anos avançavam. Ver minha classe, analisar minhas companhias, e presenciar as centenas de estudantes bêbados e chapados amontoados nas ruas e calçadas nas noites da semana me faz concluir o quanto sou um peixe fora da água.

Que graça a juventude de hoje vê em beber até cair? Eles realmente se acham fodas por fumar narguilé na calçada? Que raio de experiência de vida é essa de ficar com umas 20 pessoas numa noite? E o mais importante: por que todo mundo é tão babaca atualmente?

Sonhos destruídos e despedaçados pela espada do realismo.

Cadê meu aquário?

Agora eu fico me perguntando: "Será que eu exigi demais, tive expectativas demais? Será que eu não deveria me adaptar? Ou será que eu realmente estou na época errada ou no mundo errado?"



9 de mai. de 2015

Comentando uma notícia

Recentemente houve uma polêmica referente a um jogo de tiro chamado "Kill the Faggots" (tradução livre: “mate as bichas"). Foi lançado na Steam e retirado após diversas reclamações. 

Espero que estejam lendo isso antes de almoçar, jantar, que seja. 

O objetivo do jogo é matar homossexuais e transexuais, evitando matar heterossexuais. A descrição do jogo é a seguinte: "Você odeia gays? Quer descontar sua frustração com a comunidade 'LGBT'? Bem, agora você pode. Assassine gays e transgêneros e evite matar pessoas hétero. Faça pontos antes que o tempo acabe". Homossexuais dão 100 pontos, enquanto transexuais dão 150 pontos. 

Recuso-me a citar nome do grupo e dos criadores dessa... coisa. O estúdio que criou o jogo alega que a intenção não é incitar ódio ou violência contra a comunidade LGBT, e sim "questionar a onda politicamente correta" que estaria supostamente ganhando espaço nos games atuais, e pelo visto ficaram felizes por terem "provado" suas opiniões, deixando claro que não vão pedir desculpas, que atingiram o objetivo deles ao verem a quantidade de pessoas ofendidas, e que estão criando um jogo pior. 

Poxa... Ainda bem que não queriam incitar ódio ou violência. Ufa!

Vamos agora analisar e problematizar? 

1- Comecemos pela descrição. O jogo se diz clara e explicitamente feito para pessoas que odeiam gays. O engraçado é que logo em seguida fala sobre descontar a "frustração" em relação à comunidade LGBT. Pelo menos na segunda frase os criadores lembraram-se do resto da comunidade. É típico de gente como essa generalizar LGBTs como apenas gays. 

Afinal, o que seria essa "frustração"? A única frustração que pessoas héteros e cisgêneras têm em relação à LGBTs é o fato de, atualmente, não poderem mais praticar a opressão e de não poderem mais ser os babacas que sempre foram. 

Outro ponto interessante é a linguagem do jogo: héteros são chamados de pessoas (straight people), enquanto gays e trans são apenas gays e trans. Ademais, também definem gays como "portadores de HIV". 

2- Falando das declarações dos criadores após a polêmica, a "onda politicamente correta" a qual eles se referem é o mesmo mimimi que homens cis héteros brancos fazem diariamente em tempos atuais. A classe opressora está se sentindo ameaçada por haver pessoas tentando tirar o poder delas de praticar a opressão de sempre através de tudo, sejam piadas ou "jogos satíricos" (como esse). Só digo mais uma coisa: chorem mais! Muito mais! 

Esses idiotas mostraram-se a favor da permanência do conservadorismo no mundo dos games. Aconselho distância máxima desse tipo de gente. 

E, não surpreendentemente, após gerarem a polêmica que queriam e ficarem satisfeitos pela insatisfação de muitas pessoas, querem responder criando algo pior. Ui, que medo deles. Isso mesmo! Piorem! Piorem cada vez mais, pois a resistência será maior e a imagem de vocês ficará mais manchada ainda. 

O mais legal é que vejo comentários do tipo: o jogo é apenas uma sátira, não deve ser levado a sério. Ou também que o jogo é ofensivo, mas tem todo direito de existir. 

Pois bem. Fazendo bom uso da minha liberdade de expressão e liberdade de criar um jogo de qualquer natureza, posso criar um jogo de matar heterossexuais? Que tal? Gostaria muito de ver as ilustres opiniões dos criadores e dos defensores da existência do jogo se isso acontecesse. Seriam as mesmas opiniões? Ou a sátira continua sendo válida apenas quando o alvo são minorias? 

Para finalizar, eu não penso que jogos violentos podem criar assassinos. Mas não é contraditório um grupo criar um jogo para matar gays e trans, claramente feito para jogadores que odeiam esses grupos, e depois dizer que não querem incitar ódio ou violência?



6 de mai. de 2015

O gênero

O gênero representa apenas nosso papel social. Um gênero é definido por um conjunto de características, comportamentos, vestimentas etc, de acordo com padrões pré-estabelecidos socialmente. A maioria das pessoas no mundo pertence a dois gêneros: masculino e feminino.

O que torna alguém do gênero masculino ou feminino?

A sociedade impõe o gênero masculino àqueles que nascem do sexo masculino, e o feminino ao sexo feminino. Essa é a norma social. A maioria das pessoas aceita a norma.

E quem não aceita essa norma?

E então surge o grupo dos transgêneros, no qual estão incluídas pessoas transexuais, travestis e gêneros não binários.

Essa exceção à regra provou o quão errado era definirmos gênero e sexo biológico como sinônimos.

Muitos se perguntam: por que existe gente que não aceita a norma? 
E eu recentemente me perguntei: por que a grande maioria aceita a norma?

Não é de se surpreender que vivemos num mundo cheio de preconceitos contra aqueles que não seguem os padrões de sexualidade (hétero), sexo e gênero (masculino ou feminino). Afinal a base da Humanidade foram sempre pessoas héteros que determinaram como normal somente dois tipos de genitálias (diadismo) e determinaram que elas ditassem o gênero da pessoa (cissexualidade).

Nos dias atuais estamos tendo discussões político-sociais sobre o que é o gênero do ser humano. Natural? Imposto? Ou talvez um pouco dos dois?

Talvez seja realmente uma parte natural e outra construída pelo nosso meio. Ainda é um assunto controverso, até mesmo para a ciência.

A identidade de gênero tem sim um lado cerebral, vindo do berço. E essa identidade nos leva a buscar a melhor forma de criar nosso próprio 'eu', nossa individualidade. Mas o ser humano é também um animal conhecido por sua capacidade de adaptar-se ao meio. Então podemos eventualmente acrescentar ou retirar detalhes e elementos nossos, dependendo da nossa convivência e experiência em geral com uma sociedade.

Considerando que tenho pós-doutorados em antropologia e sociologia, posso garantir que meus estudos chegarem a conclusão definitiva de que gênero é parcialmente instintivo e parcialmente construído ao longo do desenvolvimento da pessoa. 

Agora voltando a dura realidade, minha conclusão é a mesma, sem base científica. Pesquisadores e meros civis podem pensar o mesmo ou chegar a outras conclusões.

Falando um pouco de mim mesmo, meu gênero é masculino. Todos os dias eu acordo me sentindo um homem e durmo assim. Sempre me senti à vontade com roupas masculinas. Não creio que eu seja um exemplo de macho viril que a maioria da sociedade aceita e respeita, visto que eu sempre quis brincar mais com coisas de meninas e sempre tive uns gestos mais femininos. Contudo, atualmente sou mais eu mesmo. Não chego a ser um homem afeminado, mas atualmente me aceito mais, com meus jeitinhos e meus momentos 'super gays' hahaha.

Faz algum tempo em que eu estava conversando com duas colegas de classe e falei sobre gêneros não binários. Eu disse que eu, por um binário masculino, tive dificuldade de entender no começo. De repente uma delas cismou que eu era masculino e feminino. A outra começou a apoiar essa ideia. O argumento delas era que gostar de homem era uma característica "feminina". Lógico que achei um absurdo aquilo, e a insistência delas começou a me irritar. A outra colega chegou até a usar a brincadeira do 'queria estar morta' como argumento. E depois acham que exagero quando digo que estou cercado de gente idiota.

Isso não apenas prova que sexualidade, sexo e gênero são ainda muito confundidos, como também mostra o quão forte e enraizado é a ideia do gênero construída desde sempre por pessoas cisgêneras, diádicas e heterossexuais.

Fomos ensinados na escolinha desde sempre que existiam homens e mulheres, pênis e vagina, músculos e peitos. Não existem exceções, misturas, intermediários, nulos, nada disso.

Felizmente uma das leis naturais da vida é que o mundo gira e os tempos mudam. Assim como fenômenos naturais (chuva, terremotos etc) já foram tidos como sobrenaturais e mulheres já foram proibidas de usar calças, o conhecimento mundial é atualizado e padrões arcaicos são quebrados. 

Acredito que podemos vencer também essa transição, para que algum dia questões de diversidade sexual e de gênero não sejam mais polêmicas ou vistas como loucura, e sejam tratadas com naturalidade.



2 de mai. de 2015

Historinha: Misandria

Era uma vez um homem adulto feliz e bem-sucedido.
Ele era casado com uma linda mulher loira e de seios grandes, típica modelo capa de revista.
Na adolescência, ele namorou várias meninas na escola e na faculdade.
Chegou a manter mais de um relacionamento. Coisa de homem.
Uma vez perdeu uma aposta e teve que ficar com uma garota feia. Ela descobriu. Mas já deve ter superado.
Mesmo casado e com filhos, ele sempre se reunia com os amigos no bar para falar de muitas coisas.
Na mesa rolavam piadas de loira, piadas de mulher motorista, piadas de empregada, entre outras.
Na mesa rolavam conversas sobre bundas e peitos, e de vez em quando todos olhavam para alguma beldade que passava na calçada.
O homem uma vez leu na internet sobre um estupro, e concordou que a roupa curta era a culpada.
O homem uma vez leu na internet sobre fotos íntimas que vazaram, e concordou que a moça não deveria ter tirado se não quisesse que elas vazassem.
Nos almoços de domingo, assim que acabava de comer, o homem ia assistir TV e deixava a esposa lavar toda a louça sozinha. Afinal isso era coisa de mulher.
Numa bela tarde de primavera, o homem estava andando pela calçada e viu uma manifestação de mulheres feministas. Ele não gostava de feministas.
Ele se aproximou de uma feminista e inocentemente disse que ela era feminista por falta de sexo.
A feminista malvada e louca, com desprezo, disse que ele merecia ter a piroca cortada.
O homem voltou para casa chorando e, daquele dia em diante, decidiu lutar pela libertação dos homens da opressão feminina e contra a misandria pregada por elas.

Fim