9 de mai. de 2015

Comentando uma notícia

Recentemente houve uma polêmica referente a um jogo de tiro chamado "Kill the Faggots" (tradução livre: “mate as bichas"). Foi lançado na Steam e retirado após diversas reclamações. 

Espero que estejam lendo isso antes de almoçar, jantar, que seja. 

O objetivo do jogo é matar homossexuais e transexuais, evitando matar heterossexuais. A descrição do jogo é a seguinte: "Você odeia gays? Quer descontar sua frustração com a comunidade 'LGBT'? Bem, agora você pode. Assassine gays e transgêneros e evite matar pessoas hétero. Faça pontos antes que o tempo acabe". Homossexuais dão 100 pontos, enquanto transexuais dão 150 pontos. 

Recuso-me a citar nome do grupo e dos criadores dessa... coisa. O estúdio que criou o jogo alega que a intenção não é incitar ódio ou violência contra a comunidade LGBT, e sim "questionar a onda politicamente correta" que estaria supostamente ganhando espaço nos games atuais, e pelo visto ficaram felizes por terem "provado" suas opiniões, deixando claro que não vão pedir desculpas, que atingiram o objetivo deles ao verem a quantidade de pessoas ofendidas, e que estão criando um jogo pior. 

Poxa... Ainda bem que não queriam incitar ódio ou violência. Ufa!

Vamos agora analisar e problematizar? 

1- Comecemos pela descrição. O jogo se diz clara e explicitamente feito para pessoas que odeiam gays. O engraçado é que logo em seguida fala sobre descontar a "frustração" em relação à comunidade LGBT. Pelo menos na segunda frase os criadores lembraram-se do resto da comunidade. É típico de gente como essa generalizar LGBTs como apenas gays. 

Afinal, o que seria essa "frustração"? A única frustração que pessoas héteros e cisgêneras têm em relação à LGBTs é o fato de, atualmente, não poderem mais praticar a opressão e de não poderem mais ser os babacas que sempre foram. 

Outro ponto interessante é a linguagem do jogo: héteros são chamados de pessoas (straight people), enquanto gays e trans são apenas gays e trans. Ademais, também definem gays como "portadores de HIV". 

2- Falando das declarações dos criadores após a polêmica, a "onda politicamente correta" a qual eles se referem é o mesmo mimimi que homens cis héteros brancos fazem diariamente em tempos atuais. A classe opressora está se sentindo ameaçada por haver pessoas tentando tirar o poder delas de praticar a opressão de sempre através de tudo, sejam piadas ou "jogos satíricos" (como esse). Só digo mais uma coisa: chorem mais! Muito mais! 

Esses idiotas mostraram-se a favor da permanência do conservadorismo no mundo dos games. Aconselho distância máxima desse tipo de gente. 

E, não surpreendentemente, após gerarem a polêmica que queriam e ficarem satisfeitos pela insatisfação de muitas pessoas, querem responder criando algo pior. Ui, que medo deles. Isso mesmo! Piorem! Piorem cada vez mais, pois a resistência será maior e a imagem de vocês ficará mais manchada ainda. 

O mais legal é que vejo comentários do tipo: o jogo é apenas uma sátira, não deve ser levado a sério. Ou também que o jogo é ofensivo, mas tem todo direito de existir. 

Pois bem. Fazendo bom uso da minha liberdade de expressão e liberdade de criar um jogo de qualquer natureza, posso criar um jogo de matar heterossexuais? Que tal? Gostaria muito de ver as ilustres opiniões dos criadores e dos defensores da existência do jogo se isso acontecesse. Seriam as mesmas opiniões? Ou a sátira continua sendo válida apenas quando o alvo são minorias? 

Para finalizar, eu não penso que jogos violentos podem criar assassinos. Mas não é contraditório um grupo criar um jogo para matar gays e trans, claramente feito para jogadores que odeiam esses grupos, e depois dizer que não querem incitar ódio ou violência?