31 de ago. de 2016

Famílias alternativas dos desenhos

O mundo sempre apresentou uma diversidade de famílias. Setores mais conservadores da sociedade defendem que família é somente "homem, mulher e a prole". Felizmente, famílias alternativas são representadas em muitas obras infanto-juvenis, inclusive de décadas atrás, o que nos faz perceber que a representação dessas famílias não é exclusividade dos tempos atuais.



  • Jonny Quest

Um clássico da década de 60 produzido pelo estúdio Hanna-Barbera. O protagonista, Jonny, é cuidado pelo pai e um amigo do pai. Embora nunca tenha sido confirmado, há sugestões que ambos eram na verdade um casal gay. Com isso, seriam o primeiro casal homoafetivo numa animação ocidental.


  • As Meninas Super Poderosas 

As meninas foram criadas pelo Professor Utônio enquanto ele tentava criar "garotas perfeitas". Elas nasceram de um acidente, e desde então o Professor passa a cuidar delas como filhas. Ele é tão próximo a elas que chega até a desafiar papeis de gênero, deixando as meninas o vestirem com roupas femininas.


  • Esquadrão do Tempo

A dupla do futuro Abelardo e o robô Larry acabam viajando acidentalmente para um orfanato no século XXI, onde conhecem um garoto chamado Otto. Como a missão deles é manter a história como ela ocorreu e Otto conhece muito dessa matéria, eles o adotam. O trio então passa a viajar por diversos períodos do passado.


  • Disney

Os filmes da Disney mostram muitas famílias alternativas:

- Geppetto, um entalhador, cria um boneco de madeira chamado Pinnochio e deseja que ele se torne um menino de verdade. Quando a Fada Azul dá vida ao boneco, Geppeto passa a criá-lo como um filho.

- Dumbo é criado apenas por sua mãe, que desde sempre aceitou suas grandes orelhas e sempre mostrou apoio.

- Aurora de A Bela Adormecida foi criada pelas três fadas Flora, Fauna e Primavera, que para ela são figuras maternas (embora ela as chame de tias).

- Bela de A Bela e a Fera vive sozinha com o pai. A história de sua mãe não foi mostrada na versão final, mas originalmente seria mencionado que ela morreu quando Bela era criança.

- Quasimodo, o Corcunda de Notre Dame, foi criado pelo juiz Frollo (apesar que ele não é modelo de pai para ninguém).

- Simba de O Rei Leão, após a morte do pai, foge de sua terra e é encontrado por Timon e Pumbaa. A dupla então passa a cuidar dele até ele crescer e se tornar um leão. Eles também são muito usados como uma analogia a um casal gay que adota uma criança.

- Em Lilo & Stitch, a personagem Lilo é cuidada por sua irmã mais velha, Nani, que passa a ser sua guardiã legal após ambas ficaram órfãs.

- Em Procurando Nemo, uma barracuda ataca Marlin e com isso ele perde a esposa e todas suas ovas, menos uma. O filhote sobrevivente é Nemo, que foi criado apenas por seu pai.

- Na história de Enrolados, Gothel sequestra Rapunzel e passa a criá-la sozinha numa torre. Apesar de sua ambição pelo poder mágico do cabelo de Rapunzel, ambas têm uma relação sincera de mãe e filha.

- Após a morte do pai e da mãe, as irmãs Anna e Elsa de Frozen passam a cuidar uma da outra, e se tornam mais unidas após os conflitos do enredo.


  • Steven Universe

Uma animação mais moderna e pró-LGBT, Steven Universe apresenta uma família bem diversificada. O protagonista Steven é cuidado pelas três Jóias de Cristal; Garnet, Ametista e Pérola. Elas todas na verdade são agênero e têm relações afetivas entre si.




Parabenizo a todas essas animações pelas histórias que possam fazer alguma criança se identificar, toda criança que foi criada fora do padrão pai-mãe. 

É importante sempre mostrar os vários arranjos familiares e ressaltar que o essencial é sempre o amor, e são os laços que realmente formam as famílias.



24 de ago. de 2016

União LGBT-feminista

Entre todas as pautas dos movimentos sociais podemos encontrar semelhanças entre certos movimentos. A luta feminista existe devido a opressão de gênero. E a luta LGBT existe devido às opressões do padrão social hétero-cis.

Como não falar de gênero dentro do movimento LGBT?
Como não interligar as questões feministas com as de LGBTs?

Uma pauta que ambos os movimentos têm em comum é a quebra dos papéis de gênero. 

As feministas, sejam hétero-cis ou LGBTs, se defendem contra à opressão dos papéis impostos à mulher (ou ao sexo feminino) na sociedade. Buscam liberdade de escolha e de serem e fazerem o que bem quiserem com suas vidas, sem serem diminuídas em qualquer aspecto apenas por serem mulheres.

LGBTs defendem-se contra a opressão de terem que seguir os papéis impostos a homens e mulheres e contra a heterocisnormatividade. Gays e lésbicas já desviam das normas por se relacionarem com pessoas do mesmo gênero. E todas as pessoas trans lutam para ter sua identidade reconhecida.

Temos sim tantas semelhanças, temos pessoas que vivem as duas realidades, temos pensamentos e filosofias que visam desconstruções de normas impostas socialmente. Por que é tão difícil nos unirmos então?

Talvez haja um receio de que uma combinação poderia fazer os movimentos perderem suas identidades. Mas acredito que o grande problema é o preconceito que existe nesses movimentos; o machismo entre LGBTs e a LGBTfobia entre feministas.

Existe um movimento que une o mundo feminino com o LGBT. Entre os segmentos do movimento feminista há o transfeminismo, o feminismo específico das mulheres transexuais e travestis. Segmento que infelizmente tem que se defender também de feministas transfóbicas. Esses ataques reforçam a urgência que é combater a transfobia e discutirmos mais sobre gênero na sociedade. 

Contudo, não basta só o transfeminismo. Os dois movimentos deveriam ter uma união maior, uma parceria mútua entre seus protagonistas. No fim, os movimentos lutam pelos mesmos princípios: igualdade para todxs e liberdade de ser o que é. Todas as lutas por um mundo melhor são válidas e devem andar abraçadas.



20 de ago. de 2016

Minha opinião sobre Carlota Miranda

Essa semana começou uma polêmica nas redes sociais, especificamente nos grupos virtuais de militâncias dos movimentos sociais (LGBT e feminista). Faço questão de escrever esse texto por ter analisado todos os lados envolvidos e por ter certas críticas a fazer.

Tudo começou quando uma pessoa não-binária (que não se identifica nem como homem ou mulher) conseguiu adquirir o nome social de Carlota Miranda. Essa pessoa comemorou sua conquista e o fato de agora poder utilizar o banheiro feminino. 

Muita gente, principalmente as mulheres, protestou contra devido à aparência muito masculina de Carlota (que também é do sexo masculino) e por ter conseguido o direito ao nome social com certa facilidade em comparação às pessoas transexuais.

Primeiramente, achei muito problemático nessas discussões o pessoal desconsiderar o gênero de Carlota, alegando que elx é um homem cis fingindo ser pessoa n-b. Isso foi uma atitude transfóbica (sim, pessoas n-b são trans). Carlota pode ser um homem cis fingindo ser o que não é? Pode! Claro, sempre tentamos dar um voto de confiança e acreditar que a pessoa é o que diz ser. Mas sinceramente não creio que elx se prestaria ao trabalho de mudar o nome e ser alvo de ataques de todos os lados apenas por querer ser diferente ou só para aparecer.

Referente à aparência masculina de Carlota (sua barba e as roupas), com tudo que aprendi sobre gêneros não-binários, devo afirmar que não há nada de errado em Carlota ter uma aparência masculina e um nome feminino. Ser pessoa não-binária é também misturar características masculinas e femininas ou ter novas características. Nem toda pessoa n-b pinta o cabelo de azul, verde, que seja, e combina vestes masculinas e femininas. O problema não é a aparência, e sim como a sociedade a interpreta.

Sobre o nome social, antes de tudo, devo dizer que Carlota tinha todo o direito de mudar seu nome. Carlota não se apropriou da luta das pessoas trans, pois elx também é trans. Por outro lado, é inegável a dificuldade enorme que pessoas transexuais enfrentam apenas para mudar o nome e tê-lo reconhecido em qualquer lugar. Isso é culpa do nosso sistema transfóbico. Carlota teve alguma vantagem por ser um homem aos olhos da sociedade? Talvez, é bem possível. E até compreendo a péssima impressão que foi passada, tanto para pessoas trans quanto cis.

Agora, falando do desconforto que a grande maioria das mulheres demonstrou, é perfeitamente compreensível! Entendam, como foi dito logo acima, Carlota tem uma aparência socialmente interpretada como de homem. Se eu encontrasse elx na rua, também julgaria ser um homem! Nosso mundo ainda é muito binarista (separa as pessoas apenas em homens ou mulheres). E nós também não temos como adivinhar o gênero das pessoas, seja a aparência mais dentro dos padrões ou não.

Talvez ainda não seja o momento apropriado para fazer um afrontamento desses (não estou dizendo que não é válido). As mulheres têm diversos motivos para temer os homens, então não é irracional ou preconceituoso o medo e a repulsa que poderiam sentir ao encontrar alguém como Carlota num banheiro. 

Talvez Carlota possa abrir uma concessão nesse caso e continuar usando o banheiro masculino, onde ninguém vai estranhar elx. Mudar de nome já foi uma revolução a sua própria maneira. Seria o fim do mundo? Quanta concessão nós minorias não fazemos aqui e ali porque ainda não temos poder para mudar o sistema? E convenhamos: banheiro é banheiro.

Questões como essa me fazem lembrar do quanto defendo os banheiros unissex ou sem gênero. Porém, na sociedade em que vivemos e nesses tempos tão conturbados, a ideia ainda não sai muito da teoria para a prática. Todxs nós vamos ao banheiro por necessidades e não para checar o gênero/sexo de quem o usa. E ainda assim é complicado falar disso, mais ainda quando levamos em consideração o lado das mulheres.

Concordo que esse caso é bastante controverso. E também acredito que polêmicas como essa são construtivas quando abrem espaço para questionamentos e reflexões sobre as normas sociais e acabam nos direcionando para a desconstrução. Precisamos ainda falar muito sobre gêneros e aparências. Precisamos muito falar sobre mulheres e transgêneros.



18 de ago. de 2016

Minha viagem de ontem

[ATENÇÃO: Esse texto é grande!]

Eu e meu grupo da faculdade decidimos apresentar nosso TCC com antecedência num congresso na cidade de Araraquara. No fim fiquei encarregado de ir sozinho. Seria minha primeira viagem sozinho, uma longa viagem, e para um lugar totalmente desconhecido. Reclamei? Reclamei! Mas aceitei essa aventura como uma experiência de crescimento e independência.

Acordei mais cedo que de costume. Antes disso acordei algumas vezes na madrugada preocupado com o horário e a viagem. Não demorei em me levantar. Estava tudo pronto para mim. Tomei banho, me arrumei, tomei meu leite com Toddy e fui.

Fazia um tempinho que eu não sentia aquele friozinho da madrugada. O céu estava lindo e escuro ainda. São Paulo ainda dormia praticamente.

O metrô foi mais tranquilo do que imaginei. Cheguei na rodoviária, comprei minha passagem e em meia hora o ônibus partiu. Viagem de ônibus não era novidade. A diferença é que dessa vez eu não tinha companhia e seria uma viagem de quatro horas e meia. Tive a felicidade de pegar o assento da janela. Ajeitei minha mochila entre as pernas e coloquei o banner do TCC do meu lado.

Não consegui dormir na viagem; estava sem sono e me empolguei pela paisagem durante o percurso. Parei em alguns momentos para ler um livro, ouvir música e revisar o conteúdo da apresentação.

Passamos por Campinas. Fiquei fascinado com o shopping de lá. Passamos por Anhanguera. Vi uma mecânica chamada “Scalibur” (criativo?). Num momento tive a impressão de ver uma águia no céu. “Tem águias aqui no Brasil?” Fizemos uma pausa e continuamos. Chegamos em Limeira, uma cidade repleta de áreas rurais, aqueles terrenos que embaralharam partes de terra e partes verdes. Muito bonita. Foi a partir daí que comecei a reparar num garotinho sentado logo atrás de mim. E como “tenho sorte com criança”, ele me irritou muito, não parava de falar e fazer ruídos. Em São Calos consegui achar um wi-fi livre e aproveitei para atualizar minhas redes sociais, anunciar minha viagem e falar com meu grupo. O menino ficou mais chato, e chutou minha cadeira algumas vezes. Quase dei um esporro nele e na mãe. Para a sorte deles chegamos em Araraquara uma meia hora depois.

A rodoviária de lá era escura e muito vazia, parecia um filme de terror. Peguei um táxi ali perto e cheguei rápido na faculdade de ciências farmacêuticas. Era um dos poucos prédios no meio de todo aquele mato típico de cidade do interior.

O lugar é bonito e agradável, muito aberto mesmo no interior, com muitas áreas ao ar livre. Até passarinhos passeiam lá dentro. Como faltavam duas horas para a apresentação, aproveitei para visitar um pouco o local. Estava calor lá. Tive que aguentar, até porque eu estava de camiseta social de mangas compridas. Por sorte achei uns cantos frescos e com sombra.  A grande maioria das pessoas que vi eram meninas. E tinha uns meninos bonitos. Almocei, li um pouco mais, tomei um sorvete, apreciei a paisagem (e os meninos) e fui para a bendita apresentação, um pouco ansioso, mas determinado.

Pendurei meu banner com antecedência lá e fiquei o tempo todo parado ao lado dele. Minhas avaliadoras vieram rápido, quase que seguidas. Elas leram o banner, comentei sobre o trabalho e respondi suas perguntas. Elas adoraram! Fiz amizade com a moça que estava logo na minha frente. Ela também tem um nome incomum, igual ao meu, e descobri que está fazendo mestrado. Conversamos muito.

Não quis participar do “coffee” de lá. Terminou antes do esperado e eu queria ir para casa. Acompanhei minha amiguinha até a saída. Então ela teve a bondade de me oferecer carona de volta a rodoviária. Aceitei, lógico! Eu, ela e os dois amigos dela fomos para lá. Me despedi.

Infelizmente não cheguei a tempo do ônibus, que havia partido há uns minutos. Tive que enrolar lá uma hora e meia. Aguentei. Nem imaginam o alívio que senti ao entrar no ônibus. Alívio de estar voltando para casa e estar saindo de lá vitorioso. Araraquara me pareceu um lugar muito tranquilo de se viver. Pensei em como seria morar lá.

Peguei de novo o assento da janela. Um casal entrou no ônibus e sentaram separados; a moça do meu lado e o rapaz do outro lado, na outra dupla de cadeiras. Troquei de lugar com ele, assim ficavam juntos. Fiz uma boa ação! E eram um casal tão fofo! *-*

Tive que suportar um cara chato atrás de mim que falava alto no celular. Pelo menos eu sabia que ele não iria ficar falando por quatro horas e meia. Fiquei com o outro assento livre até São Carlos, onde entrou um homem e sentou ao meu lado. Interagimos minimamente, mas ele parecia ser interessante. Um senhor numa poltrona mais a frente começou a roncar, então nem ele ou eu tivemos sossego para ler nossos livros. Pelo menos a lua cheia estava maravilhosa! A viagem de volta me pareceu mais serena do que a ida.

Precisei ir no banheiro num dado momento, e para minha infelicidade a porta não fechava e nem trancava. Tive que ficar segurando ela para dentro enquanto mijava. Não tentem isso! É horrível!!! Por sorte paramos num lugar depois e pude mijar decentemente (o nervosismo não me deixou soltar tudo :P).

Depois de mais um tempo de viagem, eu e o homem ao lado começamos a conversar mais (nem lembro como). Ele veio de Fortaleza e é um ativista de esquerda. Teve diálogo? E como teve! Até o senhor que estava roncando participou. Só perdoei os roncos porque ele também é de esquerda hahaha. Que coincidência conhecer um esquerdista nordestino! Aquele dia foi cheio de surpresas.

Fomos juntos até o metrô. Desci na Sé. Nunca fiquei tão feliz em ver a linha vermelha! E não apenas isso, fiquei ainda fascinado com toda minha experiência daquele dia: viajar, o TCC, as pessoas que conheci. Foi tudo tão... mágico! Me senti diferente e renovado.

Ao chegar em casa, anunciei ao mundo todo o sucesso da apresentação. Me livrar do TCC agora foi muito bom! O dia de ontem foi tudo de bom. Foi um dia inusitado de todas as formas. Saí da zona de conforto, conheci o maravilhoso mundo da socialização, tive uma boa experiência e descobri um lado mais aberto que eu não tinha certeza se tinha.

Encerro esse longo texto declarando que essa viagem foi até agora uma das melhores experiências que tive.



13 de ago. de 2016

Comentando uma notícia

As Olimpíadas desse ano estão sendo marcadas pela presença de atletas LGBTs de muitos países, incluindo aqui do Brasil. Pessoas de todo lugar estão vindo visitar o país, e pelo que ouvi falar por aí, os gringos estão fazendo sucesso nos famosos aplicativos gays hahaha.

Entretanto, venho aqui com uma notícia revoltante que até agora está me revirando o estômago. Dessa vez não houve agressão física, xingamento ou morte contra LGBTs. O que ocorreu aqui foi exposição da vida particular de alguns atletas.

Um "jornalista" que trabalha para um jornal londrino foi para a Vila Olímpica, no Rio de Janeiro, usando os tais aplicativos. Lá ele encontrou alguns atletas, conversou com eles e até marcou encontro. Com isso ele fez sua preciosa matéria expondo os atletas, incluindo que esporte faziam e seus países de origem. A matéria teve uma repercussão negativa, depois foi retirada, e o abençoado até se desculpou... ¬¬

Ou esse "jornalista" é muito ignorante sobre direitos gays pelo mundo ou agiu na mais pura maldade. Muitos desses atletas não eram assumidos e alguns vieram de países em que práticas homossexuais são condenadas por lei! Eles correm o risco de terem sua carreira encerrada e inclusive risco de vida! Será que este ser não pensou nessas coisas???

Parece que não existe mais respeito e escrúpulos para se fazer uma matéria no meio jornalístico. É necessário rever essa tal "liberdade de imprensa" aí. Sinceramente, o que ele fez deveria ser considerado crime! No mínimo ele deveria ser demitido e perder permanentemente o direito de exercer a profissão!

E por favor, não me venha com "ah, ele se desculpou e tirou a matéria". A merda já foi feita! Publicou na Internet, esquece, não sai mais dela. As desculpas dele não vão mudar o passado e de nada servirão para os atletas que terão que enfrentar a discriminação em seus países ou nem poderão retornar para eles.

É difícil se assumir, ainda mais no meio esportivo? Sim! Especialmente em países LGBTfóbicos. Pior ainda é ser tirado à força do armário! Fico com muita pena desses atletas; precisam viver suas sexualidades de forma oculta, treinaram para os jogos, viajaram até aqui, e então recebem uma bomba dessas. Horrível!

E não venha também culpando as vítimas por "se exporem nos aplicativos". Eu não vejo aplicativos com bons olhos, mas defendo a liberdade total dos atletas (de qualquer pessoa) de usarem, se encontrarem com alguém, beijarem e transarem e gozarem muito, sem serem expostos dessa maneira, expostos ao mundo todo.

Contudo e apesar de tudo, espero do fundo da alma que esse acontecimento e a representatividade LGBT nas Olimpíadas atentem o mundo inteiro sobre os direitos LGBTs, principalmente aos países que ainda possuem uma conduta anti-LGBT.

Ser LGBT nesse mundo é um desafio diário, e nenhum jogo olímpico se compara a isso.



11 de ago. de 2016

Após os aplicativos

Já contei aqui minha experiência com os aplicativos. E, como alguns filmes, tem um "pós-créditos", um extra mesmo após o suposto final da trama.

Hoje, dois anos após ter começado a usá-los, faço uma retrospectiva sobre tudo que me aconteceu: minhas expectativas, meu aprendizado, as pessoas que conheci, o que me ocorreu internamente até o parar de usá-los, e as lições que guardei.

Dois anos é muito tempo. E eu mudei. Muito.

Eu mudei após essa experiência. Não logo após. Mudei após um longo período de conflitos internos, reflexões e pesquisas de relatos sobre as experiências de outras pessoas. Há quem tenha uma historinha de amor para contar ou muitas aventuras sexuais. E há quem não tem nada de bom para contar (meu caso).

Em muitos momentos de baixa-estima e carência a ideia de reinstalar os aplicativos flutuava na minha cabeça. Em duas ocasiões cheguei a pegar o celular e procurá-los, mas sem instalar.

Por que voltar com algo que sei que me fará apenas mal?

Porque ainda lembro do êxtase que era alguém me chamar para conversar. Mesmo que fossem poucos homens que me chamassem, e nenhum deles rendeu um diálogo ou um vínculo, eu amava saber que alguém se interessou por mim, mesmo que por apenas um minuto. Mesmo quando a conversa era superficial. Mesmo que a conversa não passasse do "oi, tudo bem?".

Utilizei os aplicativos na esperança de encontrar nesse imenso mar virtual alguém que enxergasse minhas qualidades e me desse a oportunidade de conhecê-lo para uma relação duradoura. No começo, em minha ingenuidade, pensei que poderia sair casado hahaha. Depois só queria conhecer alguém interessante, diferente.

Como achar isso num lugar onde a grande maioria só procura sexo e nada mais?

E mesmo após tudo que passei, me vinha na cabeça: 
"E se agora melhorou? E se agora há esse alguém por lá? E se agora tudo será diferente? E se agora terei a sorte que uma minoria teve em achar alguém?"
Sinceramente, não estou muito disposto a arriscar...

Também lembro do quanto era horrível ser ignorado. As conversas focadas apenas no aspecto sexual eram cansativas. Ainda sinto aquela amargura de ter achado alguém aparentemente diferente e ele perdia o interesse um dia depois (e eu até hoje fico sem saber o motivo!).

Falo para mim mesmo que aplicativos são para gente safada ou desesperada. Continuo achando que há uma verdade nisso. Digo isso para me sentir melhor comigo mesmo. "Não sou safado e nem desesperado". A autoestima retorna e a carência vai se afastando. 

"Não preciso de aplicativos", falo com toda integridade. Só espero manter esse pensamento mesmo após uma nova crise emocional.



7 de ago. de 2016

Pensamento do dia

Adoramos dizer que pensamos no futuro. Fazemos promessas de melhoras e prosperidade. As empresas prometem as mesmas coisas. Representantes da política também. Pensamos mesmo no futuro?

Para agirmos em prol de um futuro melhor, precisamos começar a mudança no presente. O presente é o agora. O agora pertence à juventude.

Naturalmente a juventude passa para a velhice. A velhice é o símbolo de nosso futuro após muitas vivências, muita luta, muita experiência. É a partir da juventude que garantimos uma velhice feliz e saudável.

O que podemos esperar de uma sociedade, de uma cultura que não valoriza os esforços das pessoas idosas? Ou que não oferece a elas condições dignas de vida?

Temos o péssimo hábito de associar velhice a doenças, fraqueza, vulnerabilidade, achamos que toda pessoa da terceira idade é chata, ranzinza ou dramática.

Parentes idosos se tornam um estorvo. Muitas vezes ficamos impacientes ao termos que repetir algo para a pessoa idosa quando esta não ouve ou esquece. Quase todo mundo já presenciou alguém sentando no banco preferencial mesmo com idosos presentes. Quantos casos no noticiário sobre violência contra gente idosa já não vimos por aí?

Odiar a velhice é odiar o futuro. Mesmo que você esbanje força e jovialidade, um dia essas coisas acabarão, e poderá ser você numa cama dependendo de parentes. Você gostaria de ser tratadx como apenas um fardo ou como um ser humano?

Tudo isso me faz questionar: Pensamos mesmo no futuro?

A juventude pode até pensar mesmo no que fazer amanhã, depois de manhã, daqui a 10 ou 20 anos. Ainda assim a maioria parece que esquece que vai envelhecer. Cuidar da população idosa é agradecer à vida que já passou e criar um futuro melhor.



3 de ago. de 2016

Sexualidade e identidade sexual

Pessoas LGBTs costumam se descobrir numa idade jovem - fase de criança ou de adolescente. Há quem diga que "sabia desde sempre". Porém às vezes encontramos jovens que "não têm certeza do que são". Não são pessoas confusas ou indecisas! O que está havendo aqui é apenas uma falta de esclarecimento.

Vou separar aqui dois conceitos muito atrelados: sexualidade e identidade sexual. Podem parecer a mesma coisa, mas devemos dissertar sobre eles para nos entendermos melhor.

Nossa sexualidade é basicamente nossa atração sexual por um ou mais gêneros. Pode até ser a mera atração por pessoas, no caso de pansexuais. Reunindo nosso conhecimento científico e empírico, concluímos que a sexualidade humana é muito fluída. Ninguém é 100% alguma coisa. Mesmo aquelas pessoas com uma sexualidade muito "fixa" tem uma minúscula porcentagem de uma atração diferente. Pode ser tão pequena que é apenas suficiente para aquela pessoa reconhecer beleza numa pessoa de um gênero que não lhe atrai.

Nós seres humanos somos assim. Isso não é motivo de vergonha. Isso é natural. Freud, o pai da psicanálise, dizia que nós nascemos bissexuais. Eu corrigiria dizendo que nascemos pansexuais. Mas então surgem diversos fatores, tanto internos quanto externos, que nos fazem construir nossa sexualidade ao longo da vida, mesmo que o produto final fuja dessa "essência pan".

Dito tudo isso, a sexualidade pode ser diversa. Ela não é essas caixinhas com o título de "hétero", "homo", "bi", "poli" etc. Ela é apenas nosso espectro de atração. A grande maioria dos homens héteros diz se atraírem apenas por mulheres. Há alguns héteros que se atraem por mulheres, mas algumas poucas vezes na vida se atraíram por homens. Há gays que em certas ocasiões se atraíram por mulheres. E por aí vai, um amplo espectro.

Vamos pegar o caso dos héteros que também gostam de homens. Algumas vezes na vida eles sentiram atração por alguém do mesmo gênero. Alguns chegam a transar. Quando vemos revelações como essa, imediatamente julgamos: "Não, ele é gay!" ou "Ah, ele é bi e não admite!". Está errado! Estamos definindo a identidade sexual da pessoa de acordo com o que acreditamos!

Nós sabemos melhor que ninguém nossa sexualidade. 
E somente nós podemos dizer nossa identidade sexual.

A identidade sexual é particular de cada pessoa. Algumas poucas pessoas pediram minha ajuda sobre como se definirem. E eu apenas respondi com base em tudo que aprendi com o movimento LGBT e em minhas pesquisas sobre o tema.

Normalmente as pessoas constroem sua identidade sexual de acordo com a frequência e intensidade de seus desejos sexuais. Podem fazer isso sem nem perceberem. O convívio, a socialização e "testes" também podem influenciar. Um teste que existe é a "escala de Kinsey", que serve para determinar seu comportamento sexual ao longo do tempo. Ela pode ser um bom guia, mas não precisa necessariamente te dar uma resposta definitiva.

Há pessoas que aumentam seu espectro após um tempo, por exemplo, na fase adulta. Quando perceberam que sentiam atração por mais de um gênero, mudaram sua identidade sexual. Não tenham medo disso! Como já foi falado, a sexualidade é fluída. Existem pessoas que se descobrem mais tarde, anos depois da adolescência. Mudar sua identidade por causa do espectro é válido!

Uma coisa que costuma confundir pessoas se descobrindo é o fato de elas sentirem prazer com pessoas que não lhe atraem. Isso é um tanto frequente e a explicação é mais biológica que psicológica. Prazer podemos sentir com qualquer pessoa. Qualquer pessoa pode nos despertar tesão apenas com estímulos físicos, como tocar nossa genitália ou colocá-las em certos lugares (tanto a vagina quanto o ânus são orifícios estimulantes).

Se você estiver com problemas em como se definir, reflita em seu interior utilizando toda essa informação passada nesse artigo. Ache uma identidade com a qual você se encaixe melhor. Aquela identidade é a sua, não importa o que a família, as escalas ou a sociedade digam!

Você pode ser heterossexual mesmo tendo transado com homens umas duas ou três vezes, pode ser homossexual mesmo gostando às vezes de pessoas de outro gênero, pode ser bissexual mesmo preferindo mais as mulheres do que os homens, você pode usar a denominação que te faz se sentir mais confortável. Não precisa se definir também! Você pode apenas dizer: "Gosto de pessoas". É perfeitamente válido.