30 de out. de 2019

Série: Pose


Esta série estava na minha lista de "séries LGBT+ que preciso ver" há um bom tempo. E então a primeira temporada foi disponibilizada na Netflix. Não aguentei esperar e fui conferi-la. Foi uma ótima decisão minha.

Pose trata de váries personagens da comunidade e suas vivências, seja suas relações entre si, seja sob a marginalidade. Alguns exemplos marcantes são Damon, um rapaz gay expulso de casa; Blanca, uma mulher trans que decide criar sua própria família de pessoas à margem; e Elektra, outra mulher trans e soberana nos bailes noturnos. Falando nisso, os bailes são um grande destaque na trama. Em meio a tanto sofrimento e conflito, a comunidade local criou seu próprio espaço e evento, onde pessoas das várias Casas (famílias) competem em desfiles de roupas, performances e danças.

Posso dizer que a história deu uma ênfase maior nas vivências das mulheres trans, mostrando conflitos geracionais, questões internas e familiares, e a vida noturna da prostituição. As mulheres da história tomam muito o palco, e com toda razão. Outra questão que tem alguma atenção e influência é sobre a epidemia do HIV da época; não falando do tema de forma estereotipada e trágica, mas contextualizando e trazendo o olhar da comunidade.

Entre seus momentos tristes e as desavenças internas da comunidade, Pose também consegue mostrar lindamente a resistência da comunidade ao manter-se unida, ao se apoiar, e aprender a enfrentar as dificuldades. Podemos ver o crescimento de cada personagem, com seus altos e baixos, e toda complexidade dos corpos dissidentes vivendo entre si e numa sociedade hostil e normativa.

A série é uma ótima retratação e antologia sobre a comunidade LGBT+. Sua primeira temporada é fantástica do primeiro ao último episódio. Todes deveriam assistir, em especial a comunidade. Que a série mantenha essa qualidade por todas as temporadas que vierem.

27 de out. de 2019

Quinto aniversário

Bem, eu meio que esqueci do aniversário do blogue, que foi dia 12. Nesse dia o blogue chegou ao seus cinco anos.

Não tenho muito o que dizer além de que minha experiência com o blogue foi muito boa. O blogue me fez crescer como pessoa e como ativista também. E me dá certo orgulho em saber que pessoas vêm aqui para se informar ou mesmo se entender.

Claro que não fiz tudo sozinhe. Tive ajuda e orientação de muita gente pra chegar onde cheguei. Ainda darei todos os devidos créditos. Futuramente.

Estive meio distante, como podem ver pelo número de artigos que estive escrevendo de uns meses pra cá. Faz parte. Estive focando em outras coisas, como o novo blogue.

Pensei que deixaria o blogue acabar esse ano. Mas decidi que não. Ainda o manterei por um tempo. Ainda assim, sinto que a hora está próxima. Provavelmente manterei meus textos no novo blogue, no Medium, e mais algum outro espaço.

Enfim, parabéns ao blogue e a mim como sue criadore, autore e administradore.

E a todes que apreciam meu conteúdo, muito obrigade! ♥️

17 de out. de 2019

Onde está meu gênero?

Vocês já se perguntaram onde está o gênero de vocês? Ou já te perguntaram isso? Ou já viram essa pergunta ser feita a alguém?

É uma pergunta que pode parecer muito interessante ou só "falta do que fazer". Pode ter gente que a jogue na cara de pessoas trans/n-b como uma tentativa de invalidá-las ou confundi-las.

Para o cis-tema, o gênero é biológico e definido por uma genitália. E se alguém me disser que seu gênero está no meu das pernas, bem, eu seguro a risada e vou fazer alguma coisa útil.

Gráficos sobre identidade de gênero parecem ter entrado num acordo de que o gênero reside exclusivamente no cérebro, na mente. Hm, será?

Esse "senso comum" parece ter alguma coerência, pois as experiências trans revelaram ao mundo que o gênero, para esse grupo, sempre foi algo além da genitália e muito ligado à simples autoidentificação. Ainda assim, talvez esteja simplificando demais. Estudos de gênero compreendem gênero como algo influenciado também por cultura e questões sociais de época e região.

Bem, considerando as infinitas experiências e perspectivas e subjetividades que decidi responder sobre *meu* gênero. Por isso o título do artigo não é "Onde está o gênero?". Minha resposta pode parecer meio "acadêmica", mas é o que me faz sentido.

Talvez minha resposta seja a mesma de outras pessoas, talvez ela ofereça uma resposta a alguém, talvez ela inspire alguém que nem pensou nessa questão.

Eu vejo gênero como uma característica biopsicossocial. E para mim faz todo sentido dizer que meu gênero está nos meus corpos biológico, psicológico e social. Meu gênero reside simultaneamente nesses três aspectos, que são interligados e que se "misturam" em meu ser.

Meu corpo físico está de acordo com minha identidade; sendo assim, tudo no meu corpo é de um corpo trans não-binário, incluindo meu bigode e meu pênis.

No meu corpo psicológico está toda a subjetividade da minha identidade, toda construção dela, minha autoimagem, autopercepção.

E no meu corpo social estão minhas experiências de vida e meu posicionamento na sociedade, construída numa base ocidental que impõe dois gêneros a todas as pessoas.

Essa é minha resposta.

E você? Onde está seu gênero?